Whispers in Silence escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Essa fanfic é sobre o passado de Granny Rags, quando ela ainda era uma aristocrata de Morley, e sobre o início da ruína dos Moray.
Boa leitura.



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Lorde Preston Moray tinha poucos arrependimentos em sua vida. Ele era o chefe de uma das maiores famílias das Ilhas, e tinha tanto dinheiro quanto nobreza. Ainda assim, o maior orgulho de sua vida era ter sido escolhido por sua esposa, Vera, que havia rejeitado os pedidos do Imperador para se casar com ele.

Preston encontrou em Vera mais do que uma mulher para o papel boa esposa. Eles eram irmãos de alma, um casal que compartilhava as mesmas paixões. Na época, era algo raro entre marido e mulher. Todas as belezas de sua vida adulta tinham surgido por causa dela; parecia adequado que ela também fosse a razão de seus arrependimentos.

Talvez o erro fosse tê-la amado demais. Na viagem a Pandyssia, a aproximação de Vera com o culto sombrio dos povos do continente o deixara desconfortável; mas como proibi-la pela primeira vez de algo, principalmente quando os olhos dela brilhavam com interesse e expectativa por todo aquele conhecimento perdido? Tolo, era o que o amor fizera a ele. Pois deveria ter percebido a compreensão no rosto dela quando os membros da tripulação começaram a morrer. Pior ainda, ele mentia para si mesmo ao dizer que não percebera.

Os modos dela começaram a mudar na viagem de volta, depois que ela mesma superou o estado febril que vitimara tantos outros. Ele acordava no meio da noite e a encontrava sentada na cama, aguardando para compartilhar com ele os sonhos que tivera; um lugar sem em cima ou embaixo, leviatãs pelo céu como se fossem leves como plumas, um jovem de olhos inteiramente pretos com um toque feito fogo que deixara uma queimadura em sua mão.

O amor de sua vida parecia não ter retornado de Pandyssia. Quem era aquela mulher distante, que desprezava a futilidade da corte da qual ela mesma tinha feito parte? Uma mulher que entalhava ossos de baleia com a mesma marca da queimadura em sua mão, sem se importar com a terra e o sangue seco que se acumulavam sob suas unhas mal cuidadas. Uma mulher que suspirava apaixonadamente pela escuridão da noite, e ria sozinha, sem piscar, quando alguém lamentava a imperatividade das leis da natureza.

Uma outra vez ele acordou sozinho na cama deles, no meio da noite. Seguiu a luz de velas até o salão de sua mansão que, sem os empregados que ele achara melhor demitir, começava a parecer um sepulcro abandonado. No meio do salão, Vera estava diante de uma tela de pintura, desferindo movimentos precisos e lentos com um pincel. Preston se aproximou em silêncio até estar perto o bastante para ver o quadro que a havia tirado da cama. Um retrato incompleto do Estranho olhava para eles, com todo o pecado e malícia em seus olhos pretos. A Abadia poderia queimá-la por heresia se visse aquilo.

— Vera... Eu estou perdendo você?

Ela não se assustou com sua voz, mesmo sem ter visto sua aproximação. Ao menos não com seus próprios olhos. Quando se virou para ele, Preston não soube entender seu olhar. Parecia ter achado a pergunta absurda, mas não como alguém que feria a confiança da própria família. Outra vez ele mentiu para si mesmo ao fingir que o olhar dela não significou nada.

— Não se preocupe com isso – respondeu, enlaçando os braços em seu pescoço. O hálito dela cheirava a vinho barato em vez dos que eles importavam de Tyvia. – Toda a minha lealdade e amor são devotos a um único objeto nesse mundo.

Dito isso, ela o puxou para um beijo que há muito ele não recebia; apaixonado e longo, voraz e devotado. Depois de toda a ausência que ele vinha sentindo, um beijo como aquele era inebriante. Por um instante, Preston quis esquecer todas as dúvidas. Embora ele tivesse a tendência de mentir para si mesmo, Vera mentia cada vez menos. Não tinha por que desacreditar de suas palavras. Mas algo dentro de si ainda gritava, e por mais que ele fechasse os olhos com força, perdido na saudade do beijo e das carícias da esposa, por fim ele não aguentou e abriu os olhos.

Vera não percebeu. Ainda com os lábios dele colados aos seus, ela olhava com seriedade e desejo para outro. Para o retrato do Estranho, para os olhos inteiramente pretos daquele que era o único objeto de toda a sua lealdade e amor.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da leitura. Comentários são bem-vindos.



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