Um papel em cada mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 36
Partes de um todo




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Depois dos reencontros, restou à família de Neteyam descansar um pouco. Ele e Lay'ti adormeceram sem problemas, mas Nimwey ainda tinha muito que processar. Estava de fato no lugar que só ouvia das histórias, que só tinha visto até então pelas fotografias. Ele tinha gostado de conhecer os parentes que não conhecia, dava para ver o quanto seus pais tinham ficado felizes com isso. Mas o menino pensava em qual seria seu papel ali. Era um Omaticaya de nascimento, com as mesmas características físicas dele, mas criado como um Metkayina, com as duas culturas, mas nunca tinha visto tão de perto a cultura dos seus pais. 

Agora, enquanto tentava dormir, dava para entender porque sua mãe vivia tanto em conflito, ela sentia saudade de quem tinha sido até então, e ainda tentava lidar com quem tinha se tornado, com quem precisou se tornar vivendo em Awa'atlu. Ainda assim, mesmo sentindo a ansiedade de explorar aquele lugar novo, Nimwey tinha certeza que seu lar ficava nas ilhas do oceano de Pandora. Eventualmente, o menino adormeceu, deixando suas preocupações e pensamentos para o dia seguinte. 

Ao acordar, Neteyam deu um longo suspiro, sentado com as pernas dobradas, segurando os joelhos, mantendo os olhos fechados, sentindo profundamente os cheiros ao seu redor. O orvalho da chuva entre as folhas das árvores, a terra molhada, era um cheiro que pensava não poder sentir nunca mais e ali estava ele. Agradeceu a Eywa por isso e saiu com seu ikran para um voo, reconhecendo os lugares do seu velho lar, checando como eles estavam, se tinham mudado. Infelizmente, alguns pontos tinham sido claramente modificados pela ação humana.

Perceber isso deixou o coração de Neteyam apertado, mas ele não deixou se abalar, ainda estava muito grato por poder estar ali de volta, e aproveitaria o máximo seu tempo ali.

Lay'ti acordou um pouco depois, notando a falta do marido, mas sabendo em seu coração onde ele poderia estar, não era só ele que sentia saudades da floresta. Ela se aventurou atrás de ervas e outros ingredientes que conhecia tão bem e sabia exatamente onde encontrar e preparou a refeição com alegria, esperando que o filho acordasse para compartilhar com ela. Um pouco depois, antes que Nimwey acordasse, Neteyam retornou para o lugar onde eles tinham passado a noite.

—Bom dia, eu acabei saindo cedo, me desculpe por isso - ele achou melhor se desculpar com a esposa.

—Eu não vejo problema, eu sabia onde você poderia estar, voando, não é? - Lay'ti deduziu corretamente.

—Sim, eu só queria ter certeza que ainda conhecia tudo por aqui - ele se explicou um pouco mais - poder rever tudo me deixou aliviado, apesar das mudanças, mas ainda é o nosso velho lar, eu não posso acreditar que estamos mesmo aqui.

—Pois é, por um momento parece até mesmo como um sonho - Lay'ti concordou - eu também fiz minhas próprias explorações, busquei algumas coisas pra cozinhar, aliás, você deve estar faminto.  

—Eu estou - ele acabou rindo, entendendo o convite não dito para se sentar e aproveitar a refeição, assim que fez isso, notou a ausência do filho - Nimwey ainda está dormindo?

—Está sim, o que está me deixando um pouco preocupada, na verdade - comentou a mãe do menino.

—Por que? - Neteyam procurou saber.

—É a primeira vez que ele vem até aqui, coisas novas podem assustar e eu sei o quanto ele pode estar sentindo falta do recife - ela explicou de vez o que pensava.

—Eu sei que se ficarmos por mais tempo essa falta que ele sente pode sim aumentar, mas nós entendemos que temos que ficar tempo suficiente aqui - Neteyam compreendeu a situação dessa maneira - nós só temos que ter paciência com ele, sabemos o quanto estar em um lugar novo pode ser difícil.

—Eu sei sim, e eu vou - ela assentiu, compreendendo o que era melhor para o filho.

Um pouco depois, finalmente Nimwey acordou, encontrando os pais sorrindo para ele, o que era reconfortante por si só, ainda parecia sonolento e fora de órbita, mas conseguiu sentar-se e começar a comer.

—Está tudo bem com você, filho? - Neteyam perguntou primeiro.

—Eu estou bem sim, só acho que dormi demais - ele se justificou, refletindo sobre seu próprio estado de espírito no momento.

—E o que achou de ontem? Gostou de conhecer seus avós e sua bisavó? - Lay'ti quis saber.

—Eu gostei, eles fizeram bastante perguntas, mas eu também fiz - disse o menino - eu perguntei muito sobre como as coisas são por aqui, é tudo bem diferente, mas é tudo interessante, aqui tem coisas que não tem no recife.

—Você quer conhecer essas coisas de perto? Tem muito que eu queria te mostrar =-o pai dele ofereceu.

—Sim, eu quero - respondeu Nimwey, voltando a ter a mesma energia de sempre, o que tranquilizou seus pais.

Terminando a refeição, toda a família fez um voo juntos, Nimwey com Neteyam e Lay'ti os acompanhando bem em seu encalço. Eles passaram pelas Montanhas Aleluia, Ikinimaya, sentindo a umidade das nuvens que se formavam ao redor delas, observando sua magnitude flutuando no céu, o que deixou o menino impressionado. 

Quando voltaram à terra firme, foi a vez de Lay'ti guiar o caminho até a Árvore das Almas, mostrando ao filho que era ali que o povo da floresta tinha o seu contato com Eywa. Nimwey estranhou a árvore não estar submersa, mas o fato de ela estar na superfície não deixava de ser interessante. Ele pôde se conectar e ouvir pessoas de sua família que ainda não tinha conhecido, tantos outros que há tanto tempo tinham se conectado ali naquele mesmo lugar.

Por fim, Neteyam lhe mostrou o rio onde costumava pescar, a imagem do lugar ao vivo era muito melhor do que qualquer fotografia. Sem muita cerimônia, Nimwey pulou para dentro d'água, percebendo o quanto era muito mais raso que o mar. Mais uma coisa diferente comparado ao recife.

Ali, seu pai lhe mostrou como usar um arco e eles tentaram pescar juntos, o que depois de alguma diversão e paciência, foi bem sucedido. Eles conseguiram três peixes, que Lay'ti preparou para o jantar, compartilhado com os pais dela e Mo'at.

Na manhã seguinte, o tempo de partir tinha chegado, o coração de Neteyam e Lay'ti ficou apertado, porém, certamente mais aliviado do que antes. Agora tinham a certeza que estava tudo bem com o lar que tinham deixado para trás. Eles se despediram dos parentes e Nimwey, por sua vez, deu um abraço apertado nos avós e bisavó, como que para deixar algo forte dele, para que se lembrasse que agora ele também os conhecia e os amava.

Alcançaram os céus montados nos ikrans, na longa e difícil jornada de volta para casa. Ao avistarem de longe a costa do recife e as tendas formando a vila, o sentimento surpresa de alívio tomou o coração de Neteyam e Lay'ti. Aquele era um lar também, se lembraram de todas as coisas boas que tinham vivido ali e o que e quem esperavam por eles. Encontraram paz ali, no lugar que era o lar de Nimwey, a pessoa que mais amavam. Ficariam ali por ele, pelo menino que observava sua casa com um grande sorriso de alegria no rosto. O menino compreendia que a floresta fazia parte de quem era e o mar era seu lar. Ali era o lugar de seu pai, de sua mãe e o dele no mundo.


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Notas finais do capítulo

Bom, pessoal, esse é o final da história, espero que tenham gostado dela e do desfecho. Muito obrigada por lerem e acompanharem e até a próxima!



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