Manchas no Natal escrita por Decepcionista


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Chegando nos últimos capítulos desse "natal manchado", queria deixar meus (sim, outra vez) agradecimentos à Mandy e ao Leitor de uma autora só (coxinha).
Sem vocês, não teria tido motivos suficientes pra continuar a escrever.
Muito obrigada por todo apoio! ♥
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Cada palavra desse conto é especial pra mim, mas nada disso seria possível sem alguém pra ler e compartilhar. Não seria possível sem vocês, em especial essas duas figuras que carrego no coração.
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Boa leitura!



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A casa parecia diferente em todos os sentidos existentes, o próprio ar que circulava, gélido, adentrando pela porta da varanda, tinha cheiro de “lar”.

Quando terminamos de preparar tudo para a noite de natal já estávamos ansiosos. Eu estava ansioso.

Nay demorou pouco no banheiro, seguida pelo Zion, o qual parecia uma patricinha de tanto enrolar por lá. Aproveitei pra usar o banheiro do meu quarto calmamente. Tê-los por aqui não era alarmante ou preocupante, arriscaria dizer que sempre estiveram aqui. Que nunca estive sozinho.

A mesa farta na qual nos sentamos, comemos e conversamos era agradável, as palavras soltas se forçavam a encaixar em uma tentativa de nos completarmos naturalmente, como se aquela ocasião não fosse uma raridade, mas sim uma certeza.

Meus olhos não optavam pelos dela ou pelos dele, contentavam-se igualmente com ambos sem deixar minhas obsessões me guiarem na jornada do nosso estranho encontro naquele natal.

Depois de comermos, resolvemos nos atirar no sofá e assistir algum filme natalino, entretanto...

— Não quero ver porcarias de natal. — Zion cruzou os braços, irritado com a ideia de fazer aquele natal “comum”, como os demais.

— Vamos ver filmes de ação. — Sugeriu Nay, aconchegando-se entre eu e ele.

— Filmes de investigação policial são mais divertidos. — Contrapôs Zion, seus fios avermelhados pouco chamativos diante da ausência de luz da sala.

Nay se encolhia no sofá, espremendo-se entre nós. O cobertor nos protegia do frio externo, no entanto a proximidade que criamos nos protegia de nós mesmos. O frio não significa uma ameaça.

— Vamos ver terror. — Peguei o controle da mesa e escolhi “O chamado”. Os olhos da Nay se arregalaram em protesto. Ela abriu mão de seu conforto e me escalou abruptamente, tomando o controle remoto de meus dedos.

— Terror não! Que sejam os desenhos. — Trocou de canal, jogando-se novamente entre nós. Zion a recebeu, acariciando seus fios castanhos opacos com zelo.

— Por que não misturamos tudo, então? Terror, ação e investigação? — Propôs ele, olhando-me tão fundo que senti me revirar por dentro. Um gosto frio na boca. Uma batida fraca no peito.

— Misturar os três? — Perguntou Nay, ajeitando-se mais próxima a ele. — Não vai ficar muita bagunça? Pode ser que não faça sentido esse tipo de composição.

 

Talvez nós três não façamos sentido, mas o que importa?

 

Joguei-me próximo a ela, encaixando minha cabeça no pequeno espaço que sobrava. Zion me observou de cima, sereno.

— Cabeçudo. — Ela cochichou, provocando-me.

— Chega pra lá, baixinha. Sua marra tá quase me jogando no chão. — Rebati esbanjando meu sorriso sardônico.

— Tenho certeza de que é o teu orgulho ter só a cabeça de cima grande. — Zion riu baixinho, quase em um murmúrio, feliz ao me sacanear.

— Pelo menos tenho uma das cabeças grandes. — Refutei, gargalhando de mim mesmo. Nay ajeitou meu corpo próximo ao seu, alisando meu cabelo lentamente. Seus dedos pequenos passavam por meus fios, me descobrindo a cada movimento sutil.

Zion colocou no canal e ficamos à espera do início do filme, que seria após curtos trinta minutos. A hora se esvaía com velocidade. A sala escura se fazia aconchegante, o cheiro dela próximo a mim me forçava a lembrar se alguma outra vez me senti tão feliz. O programa atual era irritante, o volume baixo nos permitia ouvir com nitidez o timbre um do outro.

— Não gosto de zumbis. — Comentei, sem compromisso, em um resmungo.

— Gostaria de poder estudar os zumbis se existissem de verdade. Seria interessante avaliar e descobrir como a morte pode manipular a vida mesmo depois do fim. Me faz pensar que nunca estivemos no controle de nada. — Para a minha surpresa, ela continuou a estranha conversa que iniciei. Aquelas palavras só me fizeram mais apaixonado.

— Estudar os zumbis... Adoraria te ajudar. Poderia te manter longe de confusão se estiver por perto. Você sempre gostou de confusão. — Disse Zion, me cutucando abruptamente. — Você seria o primeiro a morrer em um apocalipse.

— Eu seria o último homem vivo. — Brinquei, descrente daquelas palavras. — Não faço ideia de como se sobrevive nessas situações, mas imagino que ficaria entediado com facilidade e me apegaria a qualquer coisa que julgasse interessante, só pela diversão. — Lidar com o tédio e deixar os pensamentos tóxicos se acumularem sempre foi um medo, medo de pensar em demasia. De me deixar levar pela minha própria loucura.

— Infelizmente não teria nada muito divertido por lá. — Respondeu ele, completando meu raciocínio: enlouqueceria no fim do mundo facilmente.

— Ainda falta muito tempo. O que vamos fazer? — Perguntou Nay, indisposta a ficar na conversa sem sentido por muito tempo.

— Comprei uma garrafa de vinho. Quer beber? — Zion perguntou.

— Nunca bebi antes. — Assumiu ela. O fato de nunca ter bebido apenas me motivou a vê-la ébria.

— Perguntei pro Roberto. Você não vai beber. — Ele me pegou desprevenido. Beber com o Zion? Me senti instigado o suficiente pra ceder ao convite.

— Seria ótimo te ver cair no chão com uma taça de vinho. Se for tão bom bêbado como é em mentir, deve acontecer no primeiro gole. Talvez só com o cheiro. — Zombei na tentativa de irritá-lo, no entanto, para a minha surpresa, o marmanjo continuou a me encarar.

— Vou acabar tendo que te carregar igual uma criança. — Rebateu ele, sério.

— Eu quero beber também. — Contestou Nay, erguendo-se e se virando pro Zion. — Não vão beber e me ignorar. Não tô nem aí se não quer que eu beba.

— Deixa a baixinha beber. Quero ver como ela fala depois que a língua começar a enrolar. — Me levantei em um pulo, indo em direção a cozinha e tirando o vinho da geladeira, ainda coberto pelo escuro da sala. — Vem, pirralha. Deixa esse bundão aí!

Nay se levantou tão rápida quanto eu e se sentou na bancada, exultada pela experiência que viveria. Zion veio logo depois, paciente e fechado, como se reprovasse a ideia.

— Sabe, Zion — Disse calmamente, olhando-o de relance antes de lhe entregar uma taça. — Esqueça o mundo lá fora por hoje. — Os olhos verdes pareciam sucumbir ao meu pedido, a camada de resistência se desfazendo em alívio gradualmente. — Tenho certeza de que podemos esquecer todas as merdas do mundo às vezes, mas talvez jamais se esqueça da noite que tivemos aqui.

— Eu me sinto feliz com vocês aqui. — Comentou Nay, cabisbaixa, escondendo o rosto entre os cabelos corridos. Ela estava envergonhada?

— Deixa eu ver essa carinha, vai. — Provoquei, erguendo seu queixo com o dedo.

— Espero que ela te morda. — A ideia do Zion me fez provocá-la mais um pouco. É óbvio que adoraria que me mordesse. Puta que pariu. Senti a ereção entorpecer meus desejos com a sensação que ela provocaria em mim com seus lábios, entregando-me às lembranças de sua boca úmida, tão chamativa quanto água no deserto. Um oásis no meu peito seco. — Pervertido. Que cara é essa? — Zion me socou, me arrancando de meus pensamentos.

Eu deveria matá-lo por isso.


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Notas finais do capítulo

É aqui deixo o convite pra visitarem (sim, vou aproveitar) o perfil da Mandy e conhecerem o trabalho dela como escritora.

Além de atenciosa, a danada também tem talento! ♥
Um abraço, Vampirinha. Sabe te adoro!