A lei do amor Especial escrita por Kaline Bogard


Capítulo 2
Parte 02 de 02


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ♥



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Naquela manhã, ao voltar da reunião escolar, Kiba passou por um dos piores momentos desde que se tornou pai. Era impressionante quando tantas coisas convergiam para dar errado. Lidava com uma época delicada da gestação, mal aguentava as pernas inchadas e as costas doloridas, o lado Ômega ainda estava afetado e recolhido pela intimidação de Masako, o filho caçula continuava agarrado em si, aos prantos e a primogênita ia fugida para algum canto. Queria correr atrás da menina, mas faltavam condições.

O ataque mental foi direcionado ao pequeno Beta, mas a presença de um Alpha não é como um tiro de revólver que disparado acerta o alvo mirado. Então não apenas Kaoru, mas Kiba e algumas pessoas que passavam por perto foram atingidas. A rua ficou quase deserta, exceto por pai e filho tremulando na calçada. Alguém veio espiar da porta de um comércio, voltando para dentro depressa ao reconhecer resquícios de uma intimidação Alpha no ar.

O Omega não saberia dizer quanto tempo se passou, o suficiente para a rua ser tomada por transeuntes outra vez, poucos dando atenção à cena atípica. E Kiba não saberia dizer quanto tempo se passaria até conseguir sair dali não fosse a chegada de Sasuke, por puro acaso. Preferia que a sorte tivesse trazido Shino, até mesmo Naruto. Mas aceitaria qualquer interferência amigável. O embotamento já havia desaparecido de si, mas seu filhote continuava afetado demais.

Sasuke logo notou ambos e se aproximou com aquela máscara de desagrado, tentando dar a impressão de que preferia estar em outro lugar.

— Problemas no paraíso? — provocou, pronto para a usual troca de farpas.

— Sim. Preciso de ajuda.

A resposta honesta veio baixa e desfez a atitude defesa do Beta de cabelos pretos. Mantinha uma postura distante, camuflando os reais sentimentos. Gostava da família, nutria estima pelo casal e pelas crianças. Era hora de Sasuke abandonar as máscaras, sabia disso. Destarte abaixou-se para ficar no mesmo nível de Kaoru e acariciou os cabelos bagunçados.

— Ei, garoto. Vamos para casa? — perguntou com delicadeza, pegando Kaoru no colo sem se preocupar com a roupa molhada de urina. Tão logo o aconchegou contra o peito, sentiu os bracinhos agarrem seu pescoço com força, embora o pranto amainasse um pouco.

Kiba respirou fundo duas vezes. Tentou reunir coragem, pois o ataque mental finalizou, mas as pernas e as costas continuavam incomodando um bocado. 

— Obrigado.

— O que aconteceu?

Enquanto caminhavam no ritmo que o Omega conseguia acompanhar, Kiba foi explicando, tentando ele próprio assimilar o lastimável episódio.

oOo

Chegando em casa, Kiba foi levar Kaoru para tomar um banho rápido no banheiro do piso de baixo, enquanto Sasuke foi preparar um pouco de arroz na panela elétrica e grelhar alguns filés de salmão. Não era um cozinheiro exímio como Naruto, mas sabia se virar. Já passava da hora do almoço, Kiba e Kaoru eram glutões natos. Talvez a refeição fresca ajudasse com os ânimos.

Ele era um Beta adulto. Sofreu uma intimidação Alpha durante a guerra e quase perdeu a vida como consequência. Fato que o uniu a Naruto e mudou a vida dos dois. Era um jovem de dezessete anos na época, guardava o terror de ser intimidado como uma das piores lembranças. Conseguia imaginar que para uma criança tão pequena o efeito era infinitamente pior. E, ainda que fosse adulto, Kiba era um Omega. Praticamente não possuía defesas contra ataques da casta mais forte. O único ponto positivo, se é que poderia chamá-lo assim, era a idade de Masako. Se ela fosse mais velha as consequências... 

Sasuke cortou os pensamentos nada agradáveis de manter.

Quando pai e filho saíram do banheiro, o menino parecia mais refeito. Apesar disso, recusou comer qualquer coisa. Não sentia fome, continuando agarrado nas roupas de Kiba. O adulto compreendia o medo. Se o ataque mental o paralisou, imagina o efeito que causou em uma criança de oito anos...

— Vou fazer um jutsu de comunicação, para quando Shino chegar. Estou preocupado com Masako, e ainda tem Hikaru e Arashi — acariciou o cabelo de Kaoru com carinho — Mas primeiro vou colocá-lo na cama. Esse menino está muito assustado.

— Eu pego as crianças no Jardim da Infância. Eles podem passar a noite lá em casa, o traste do Naruto vai adorar.

Esperou uma alfinetada do tipo “só ele...?”, mas recebeu apenas um olhar cheio de alívio.

— Obrigado, Sasuke.

— Tsc. Posso pedir que Naruto olhe por aí e tente encontrar Masako.

— Não, tudo bem. Kisemaru está com ela, não tem perigo. Aposto que foram pro Monumento Hokage. Quando Shino chegar irá atrás dela.

— Precisa de ajuda com mais alguma coisa?

— Para subir as escadas. Não faço isso quando Shino está fora — Tsume passou a noite com ele, por causa da viagem do marido ao Congresso. Com a mãe por perto sentia segurança de subir as escadas apesar das pernas inchadas e do barrigão.

Sasuke concordou. Em pouco tempo Kiba estava no quarto do casal, aconchegado na cama e recostado em almofadas, com Kaoru deitado muito perto de si. Queria ter tomado um banho rápido, mas o cuidado com o filhote era prioridade.

— Vou guardar a comida na geladeira — o Beta afirmou como forma de despedida. Não esperou Kiba agradecer, saindo do quarto em seguida.

O rapaz observou o filho sob o lençol, segurando firme em suas roupas. Pensou em falar alguma coisa, explicar o que Masako fez sem querer. Uma intuição o manteve quieto. Compreendeu que Kaoru estava sendo acalentado pela “coisa de Omegas”, que atingia e acalmava o lado animal. Em momentos assim, esse acalento era melhor do que qualquer palavra.

Respirou fundo, preocupado com o rumo que aquela manhã tomou.

oOo

Apesar da cama confortável, nem pai nem filho conseguiram dormir. Por isso captaram através do vínculo familiar o momento em que Shino e Masako chegaram ao lar, as inconfundíveis presenças Alphas alcançando-os no quarto.

O que foi um alívio para Kiba, teve efeito negativo em Kaoru, que se agarrou ao pai Omega, tremendo. Os dentinhos batiam um contra o outro, causando um som que partiu o coração do adulto.

Menos de um minuto depois a porta do quarto se abriu e a silhueta de Shino entrecortou a claridade, Masako estava junto a ele, segurando no longo casaco cinza. Antes que o casal pudesse se pronunciar, a menina praticamente gritou:

— KIBA-TOU! KAORU! EU SINTO MUITO! ME PERDOEM!! EU SINTO... MUITO! — o arroubo terminou com a menina fechando os olhos e soluçando, envergonhada por saber que machucou pessoas que amava.

Masako veio conversando com o pai Alpha pelo caminho, estruturando a confissão que faria antes de pedir o perdão. Ao ver o pai Ômega e o irmão num meio abraço, e farejar o cheiro de medo que vinha de Kaoru, toda a linda preleção se desfez e a menina gritou o que a alma mandou.

O coração do Omega mal se recuperou do primeiro golpe e levou o segundo. Ele moveu os olhos e mirou Shino, sentindo que o Alpha estava igualmente emocionado. A tristeza de Masako era real, honesta. Chegou até a parte animal compartilhando arrependimento e pesar.

Kaoru moveu a cabeça e espiou por cima do ombro, conferindo se era mesmo a irmã mais velha ou aquele... não conseguia pensar em outra palavra a não ser “animal”. Durante a manhã, recebeu um sermão por aprontar, o que não era nada de novo. Captou o mau humor de Kiba-tou, que também era usual. Porém, não tão rotineiro assim foi a decepção e a tristeza do homem, que mostraram ao menino que ele cruzou algum limite. Além disso, o pai parecia desconfortável andando na rua, com passos lentos e pesados. Mesmo não sendo Alpha, notava o quão penoso foi para ele ter que andar tanto para resolver o problema. Mas sequer teve tempo de se arrepender e garantir que o comportamento melhoraria. Sem qualquer aviso prévio sentiu uma espécie de fúria silente, embora selvagem e agressiva... todos os seus sentidos ficaram em alerta e de repente foi como se uma fera indômita entrasse em sua mente e atacasse um lado que Kaoru sabia ter, um lado de si que chamavam de Beta, e que não compreendia bem... um lado que se recolheu assustado, apavorado. Paralisado.

Foi tão horrível quanto ter um pesadelo no quarto à noite, passando por coisas que o amedrontavam sem conseguir controlar o próprio corpo para enfrentá-las. E foi a irmã que amava e admirava que o atacou assim.

Mesma irmã que chorava sofrida na porta do quarto, receosa de chegar perto do irmão e do pai. Envergonhada e arrependida.

Mesma irmã ainda amada. Ainda admirada.

Kaoru ficou de joelhos sobre a cama, o pranto vindo tão padecido quanto o de Masako.

— Masako-nee... não faz mais isso!

A pequena Alpha concordou com um aceno de cabeça e correu pelo quarto para abraçar o irmãozinho. Ambos perderam o equilíbrio e recostaram-se contra o corpo de Kiba que passou um braço trazendo os dois filhos contra si. A outra mão foi cobrir os olhos para esconder as lágrimas, embora a emoção fluísse em ondas de alívio, felicidade e conforto para acalmar a todos que estavam ali. Shino ajeitou o óculos no rosto antes de avançar alguns passos para sentar-se na cama e unir-se ao abraço molhado de lágrimas reconciliadoras.

— Eu prometo, Kaoru! Eu prometo! Me desculpa!

E Masako teve certeza de que cumpriria o pedido. Lutaria com as mãos, brigaria com as pernas, usaria até armas se preciso. Mas aquele prisma animal, aquela fera poderosa e indomável que levava na alma jamais seria libertada outra vez.

Pois a promessa foi selada com as lágrimas das pessoas que amava.


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Notas finais do capítulo

E é isso. Cinco anos passaram voando e a gente ainda não conheceu o caçulinha da família! Quem sabe no especial de 10 anos?

Espero que estejam por aqui. E que tenham gostado dessa história tanto quanto eu ♥ obrigada pela companhia!



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