A lei do amor Especial escrita por Kaline Bogard


Capítulo 1
Parte 01 de 02


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808214/chapter/1

O comportamento de Kaoru não poderia ter escolhido uma hora mais complicada para ficar pior. Aburame Shino estava voltando de um Congresso Educacional, devendo chegar em Konoha àquela tarde mesmo. Mas a direção da Academia exigiu a presença de um dos pais para uma reunião urgente pela manhã.

E lá se foi Kiba com aquele barrigão de fim de gestação ouvir sermão por um bom tempo. Quando terminou era quase hora do almoço! Ele tinha fome, cansaço, vergonha, nervoso, tristeza, decepção...

Seu menino era irrequieto, indisciplinado e hiperativo como Kiba nunca foi na vida! Ainda que a semelhança entre eles fosse inacreditável, o filho não conhecia a palavra “limite”. Já Kiba sabia que o “limite” estava nos tapas de Tsume...

No dia anterior Kaoru aprontou alguma coisa com jutsu explosivo, fezes de cavalo e os armários da escola. Kiba ouviu só a primeira parte da reclamação. Os pés inchados latejavam e as costas doíam demais, só foi à reunião para evitar o pior: expulsão.

Kaoru era o segundo filho de uma família numerosa. Kiba amava cada um daqueles pirralhos, não conseguia imaginar a vida sem eles, mas não negava que era um desafio gigantesco cuidar de todos. Masako, Hikaru e o pequeno Arashi juntos não davam uma fração do trabalho que Kaoru sozinho costumava dar. Era exaustivo.

E tinham um novo filhotinho vindo aí. Menino ou menina, seria igualmente amado. Kiba só pedia aos deuses todas as noites, secretamente, que fosse uma criança tão calma quanto os três. Outro Kaorinhu seria difícil de lidar!

Agora voltava para casa a passos sofridos, desesperado querendo chegar logo e se jogar no sofá para colocar as pernas para cima, tendo atrás de si um ninken animado, um pequeno Beta cabisbaixo e uma Alpha jovenzinha irritadiça. A traquinagem acabou pegando em Masako, não eram bons tempos para ter o sobrenome Inuzuka-Aburame... por sorte Hikaru e Arashi frequentavam o Jardim de Infância e estavam a salvo da fama ruim. Kiba tinha certeza que era pura implicância com a primogênita. Acusá-la de brigar com os coleguinhas era um absurdo! Logo Masako que era a calma em pessoa, carregando em si muito do autocontrole Aburame... mas estava tão incomodado com as pernas e as costas que desistiu de tirar a história a limpo. Quando o caçula viesse ao mundo, ah, a escola que se preparasse.

Até lá...

E o pensamento de Kiba em ser uma hora ruim era muito mais amplo como ele viria a sentir na pele antes mesmo de chegar em casa. Não estivesse tão apressado desejando alcançar o lar, teria notado o clima tenso. Ele era apenas um Ômega, seu instinto de sobrevivência escolhia prioridades ligadas ao bem estar alheio, inclusive os não nascidos. No momento seu lado animal queria oferecer repouso ao bebê, que parecia agitado.

Sendo assim deixou de notar como a raiva ia se acumulando no coração de Masako, que mal completou dez anos no mês passado, enquanto a menina caminhava de cabeça baixa. Só foi notar algo quando a sensação ficou forte demais para incomodar até um adulto como ele. Segundos antes de Kaoru correr para alcançá-lo e abraçar-lhe a perna.

— Kaoru... — interrompeu a marcha e olhou para baixo, observando rápido o menininho trêmulo agarrado a ele.

Então foi atingido por uma intenção selvagem, agressiva e quase violenta; que pegou direto no lado Omega, fazendo-o se recolher assustado. Por instantes o próprio Kiba ficou paralisado de medo, diante da presença intensa, animalesca.

— A culpa é sua Kaoru! — Masako explodiu — Kiba-tou está sofrendo! BAKA!

— Ma... Masako... — custou para encontrar a própria voz, chocado em ver a raiva que emanava da filha, as mãozinhas fechadas em punho tremiam e os olhos escuros estavam lacrimejantes. Apesar de ter apenas dez anos, a jovenzinha pareceu uma gigante. Assustadora.

Algo no tom de voz de Kiba tocou a menina. A cólera abrandou ao notar o pai e o irmãozinho abraçados, congelados de medo dela.

— Kiba-tou! — exclamou antes de dar meia volta e sair correndo para longe da dupla. Kisemaru latiu e correu atrás dela.

O coração de Kiba se partiu, mas ele não tinha condições de correr atrás da primogênita. Não apenas pela gestação avançada e penosa, mas por ter Kaoru em prantos segurando sua perna, com um lado animal tão intimidado e aterrorizado pelo ataque mental que o garotinho havia urinado na calça.

oOo

Shino recebeu a mensagem de Kiba através de um jutsu de comunicação tão logo chegou a Konoha. Nem foi em casa, pagou ao motorista do táxi para que levasse suas coisas e foi procurar a filha. Ele era o Alpha chefe da família, tinha um vínculo diferenciado com os filhos. Graças a isso não seria complicado encontrar a Alpha. E nem precisaria da ligação sobrenatural para saber onde ela estaria: o Monumento Hokage, esconderijo solitário e perfeito.

Seguiu o instinto que o guiou até a menina, encontrando-a encolhidinha atrás de uma proteção natural de pedras. Kisemaru estava deitado aos seus pés.

— Filha — Shino falou ao sentar-se ao lado dela.

Era final de tarde e Masako ainda estava chorando, os olhos inchados e o nariz vermelho eram de dar pena.

— Kiba-tou me odeia?

— Não, claro que não.

— Shino-tou — por fim ela ergueu o rosto e Shino viu toda a confusão por baixo das lágrimas. Ele planejava ter aquela conversa em breve, mas pelo jeito a vida antecipou sua decisão.

— Você sabe o que aconteceu?

— Eu fiquei com muita raiva do Kaoru — ela fungou — Eu... eu... o Kiba-tou...

— Você sentiu que ele estava triste, chateado? Por culpa do Kaoru? E por isso brigou com seu irmão?

Masako concordou com um aceno. Ela tinha sentido. De um jeito... esquisito! De repente ficou tão difícil se controlar e segurar a raiva! Tudo fluiu dela sem que pudesse evitar.

Shino suspirou de leve. Era a puberdade chegando enfim. Alphas eram naturalmente suscetíveis ao sofrimento de um Omega, sobretudo se tivessem um vínculo. Shino notou que a ligação entre Kiba e Masako era ainda mais forte do que o natural. Às vezes se pegava pensando naqueles dias terríveis, dez anos passados, quando Kiba e a filhotinha estiveram com a vida por um fio, e ele só podia assistir inerte após perder a criança gêmea.  A experiência pareceu tornar Masako ainda mais sensível aos humores de Kiba, sobretudo quando achava que o pai estava em apuros, sem Shino por perto para ajudar.

E à medida que os hormônios mudavam, a reação instintiva animalesca também mudava. O lado Alpha de Masako seria cada vez mais reativo, obrigando-a a aprender com os pais e na escola a controlar o Alpha que tinha na alma. Para evitar descontroles como os daquela manhã.

— Nós somos Alphas, Masako.

— Sim, eu sei. Somos mais fortes do que Betas e Omegas.

— E não só isso. Temos outras características que eles não têm. Hoje você descobriu uma delas: intimidação. Nós usamos isso contra os inimigos, nunca contra pessoas que amamos.

Os olhos cálidos brilharam ameaçando transbordar novas lágrimas. Kisemaru aproximou-se dela, tentando aquecê-la com o pelo macio.

— Eu sinto muito...

— Não é culpa sua. Você está crescendo e vai precisar aprender a lidar com essa parte sua. Eu também tive descontroles quando era criança.

— Shino-tou?! — a menina pareceu incrédula.

O adulto apenas balançou a cabeça. Controlar o instinto era algo aprendido, não nascia com os Alphas. A diferença estava no alvo de seu desgoverno, que acabou vitimando Torune que, por sorte, era mais um Alpha da família Aburame e recebeu a agressão com pouco dano. A raiva de Shino foi causada pelo laço com o pai, ferido sem querer durante o treino com Kikaichuu.

Mas ele ainda se lembrava como foi quando descobriram a gestação daquela filhote sentada ao lado. Como uma amiga próxima fez tanto mal e colocou em risco a vida de Kiba. Por um segundo ele foi tomado por uma raiva tão fria que quase se descontrolou. E já tinha dezoito anos na época. Só um gesto empático de Tsume o ajudou a manter a calma.

Sentir o mal feito ao Omega que amava e que devia proteger quase o fez esquecer anos de treinamento e permitir que o lado animal viesse à tona para o bem ou para o mal.

Masako era uma criança cuja puberdade dava sinais prematuros de estar próxima. O lado animal aflorado era apenas a primeira das inúmeras mudanças que viriam para a menininha.

— Eu treinei desde muito jovem e acabei me descontrolando também. Ter um lado Alpha forte não é ruim, Masako. Tudo depende do que vai escolher fazer com essa força. Proteger ou machucar. Daqui para frente precisa aprender a controlar-se. Eu vou ajudá-la, os professores também.

Ela abraçou as perninhas e recostou o queixo sobre os joelhos.

— Sinto vergonha de Kiba-tou. E de Kaoru — confessou e ficou em um silêncio expectante. Como Shino continuou calado, completou: — Preciso pedir desculpas.

— Você não fez de propósito, mas pedir desculpas é uma boa forma de mostrar que não pretende agir daquele jeito de novo. Nós lutamos contra instintos, filha, que nasceram com a gente. Às vezes parece tentador ceder e usar esse lado Alpha. Quando sentir-se assim, lembre-se do dia de hoje. Vai ficar mais fácil manter o controle.

Masako concordou com um aceno de cabeça. Com certeza jamais esqueceria a cena tão triste que foi um divisor em sua vida e marcaria a infância que chegava ao fim. Teria como uma cicatriz, a imagem de Kiba-tou e Kaoru abraçados, olhando-a com surpresa e pavor. Não era um olhar que queria receber nunca mais. Nem de pessoas amadas, nem de ninguém.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Semana que vem trago o desfecho dessa cena!

Vejo vocês lá ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A lei do amor Especial" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.