We're all fugitives look at the way we live escrita por Starkholme


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oie :) voltei com o encontro desses dois pombinhos!
Aliás, alguns países mencionados como opostos ao Tratado de Sokovia são apenas headcanons que eu tenho (com exceção a Noruega e Romenia que já foram mencionados no MCU)

Me perodem por qualquer erro e espero que gostem ♥

PS: sou *completamente* rendida pela série Agente Carter e vai ter referência aqui SIM



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22 de Outubro — Arnhem, Holanda

Os países aliados ao tratado tomaram quase toda a extensão da Europa, transitar de um país para o outro passou a ser cada vez mais trabalhoso, ainda mais quando o fornecedor de Nat — de quem ela se recusava a deixar qualquer pista sobre o nome ou aparência do homem — passou a demorar mais do que o usual para trazer as novas identidades. Natasha sugeriu que ambas seguissem para Holanda ao invés de acompanhar Sam e Steve para Dinamarca, Wanda queria poder ter escolhido Amsterdã como cidade residente e arranjar um emprego em um lugar turístico interessante, só que antes mesmo que pudesse sugerir, ouviu Nat cortar todos os sonhos dela: Vamos para Arnhem e sem mais.

À pedido de Nat, deixou o cabelo cor de mel ainda mais loiro. Se olhando no espelho notou que a cor não causou tanto desgosto quanto pensou inicialmente, as mechas mais vívidas acentuaram os olhos esverdeados, e o rosto dela se tornava quase como uma luz direta brilhando em direção a ela. Aquela combinação não se assemelhava em nada do que aparentou nos últimos anos, se mostrou longe de ser a temida Wanda Maximoff, ex-Vingadora e procurada pelo governo americano, ela pensou em agradecer Natasha pela sugestão mas soube que cada elemento da fuga era quase inteiramente calculado. referencia

Sem demais questionamentos sobre a própria aparência, seguiu para encontrar a amiga no sofá-cama na minúscula sala do quarto que alugaram.

— Você sempre consegue trabalhos em padarias ou floriculturas? — questionou sem tirar os olhos do laptop.

— São mais fáceis, geralmente em cidades pequenas algumas dessas vendas são familiares — Wanda deu uma garfada no macarrão instantâneo — e sempre acaba tendo lugares que idosos não conseguem controlar tudo sozinhos, nem sempre os filhos ajudam.

— Quanto tempo acha que consegue arrumar um por aqui?

— Vou ter que conhecer melhor o bairro.

— Quem sabe podemos tirar uma folga amanhã, dar uma volta por aí.

— Descobrir quem é Anna Finch e Mewling Quin — brincou.

— Nem me lembre desse nome terrível… — bufou ao revirar os olhos, Wanda deu uma risada.



A capital da província de Guéldria não passava de uma pequena surpresa para turistas, dono de um dos lugares mais aconchegantes que Wanda presenciou em toda a vida dela. O Parque Sonsbeek exibia a mais linda coloração de outono, o laranja das árvores se destacava ruas antes de chegar de fato ao lugar, e para manhã de sábado, diversas crianças corriam em torno das árvores e no campo livre à frente da grande mansão do restaurante Stadsvilla Sonsbeek.

Os carrinhos de comida espalhados pela praça vendiam os mais diversos petiscos exóticos que Wanda viu em toda sua vida, era mais variado do que todo o cardápio oferecido na América e com um pouco mais diversidade de temperos quando comparado com Sokovia, uma mistura perfeita. Ela escolheu um dos mais apimentados do cardápio, o atendente chegou a levantar as sobrancelhas surpreso de que alguém se atreveria a escolher o prato mas não a questionou.

Natasha prometeu que a encontraria mais tarde no apartamento, justificou sua ausência dizendo que precisava entrar em contato com alguém próximo, mas garantiu que Wanda deveria olhar aos arredores da cidade para saber cada ponto crucial, desde as câmeras de segurança espalhadas até o número de policiais e se espiões poderiam estar atrás das duas. Uma tarefa que teve de fazer intermináveis vezes quando estava em Vaasa, e que, naquela altura, tinha se tornado um segundo instinto olhar por cima do ombro — assim como Nat disse que seria.

Assim que pegou sua comida, aproveitou para caminhar em busca de um lugar silencioso e longe dos grupos extensos de pessoas, do canto do olho percebeu a presença de uma vibração diferente, um pensamento ecoando tão alto que captou com clareza o bastante para reconhecer no mesmo instante. A mente dele, uma assinatura tão singular, tão organizada, tão única…Tão insólita de todos os humanos comuns, o que de se esperar, no fim das contas, ele não era um humano comum.

Ela se virou, a curiosidade cada vez mais alarmante em desvendar e se deleitar cada mínimo detalhe de uma aparência desconhecida. O rosto se mostrou parcial ao que imaginou, uma extensão direta da pele avermelhada, as íris azuladas escondendo as linhas mecânicas e um adicional que seria engraçado para quem não o conhecesse em sua forma original: cabelo. Era uma surpresa e tanto, cabelo loiro, mas também Wanda não o imaginaria sendo ruivo e muito menos com uma cor tão escura, analisando pelo todo, a combinação se mostrou agradável aos olhos dela.

— Visão — o cumprimentou antes de sentar ao lado dele, a distância poderia parecer respeitável aos olhos alheios, ambos sentiram o peso de cada milímetro os separando — veio aqui para me prender?

— Wanda, — Céus, como ela estava com saudades da voz dele — nós dois sabemos que não tenho jurisdição aqui.

— O que veio fazer? — Wanda não desejava soar tão grosseira, mas precisava garantir que estava em segurança, garantir que podia confiar nele.

— Você está segura? Nenhum dos homens do Ross…

— Estamos despistando. Por que você se importa, não foi você que deixou que me prendessem na Balsa?

— Essa não é a verdade, tudo acabou se tornando mais complicado do que imagina.

— Então qual é a verdade? Ou pretende escondê-la de mim assim como fez na Base? — apesar de não desejar revelar mais do que deveria, se permitiu continuar tentando arrancar respostas dele.

— Leia minha mente novamente, saberá a verdade.

Mais uma vez, me deixando olhar livremente sem que eu ao menos tenha que pedir Wanda pensou para si. Uma permissão tão franca que ela se sentiria suja de se intrometer em cada pensamento que ele teve nos últimos meses, no entanto, Visão jamais a rejeitaria. Olhando aos arredores, nenhuma das famílias pareceu se importar com a presença dos dois sentados no banco, as mentes falando alto o bastante para que ela reconhecesse que nenhum perigo os rondava, levantou uma das mãos com cautela, os raios vermelhos rapidamente se infiltraram na mente de Visão.

As memórias vieram como um flash na mente dela.

 

"Todos mencionaram o nome dela nos jornais, como se ela tivesse sido a culpada por jogar a bomba no primeiro instante. Lagos foi um acidente, e apenas isso.

Wanda necessitava de mais do que um conforto, ele não hesitou por um instante de que ela deveria ser protegida da mídia e todos os paparazzis que a perseguiriam na rua se ela ousasse pisar em um lugar fora da Base. Além de que excesso de ódio vindo da população poderia agravar ainda mais a situação, e se ela machucasse não intencionalmente as pessoas ao redor dela? O risco era grande demais. Por isso, concordou com o Sr. Stark para a manter em segurança na base dos Vingadores.

Uma tarefa inútil: fazer um prato típico de um lugar que nunca teve interação e vindo de alguém jamais teria um paladar culinário. Ainda se colocou a posto de fazer com que ela se sentisse à vontade. Uma comida que lembrasse Sokovia, o lugar que ela nasceu e passou toda parte da adolescência, e para acompanhar ele separou o episódio piloto de A Feiticeira que ela tanto amava, não que ele tivesse gravado, Wanda mencionou apenas uma vez qual o favorito dela.

Um olhar, o dela.

Uma felicidade ao contar uma piada ridícula, a risada dela.

Um gesto que ele estragou em meros segundos usando um discurso metódico, tentou fugir das palavras 'mecânicas, robotizadas, programadas' só para perceber que apenas reproduziu um texto pronto.

— É uma questão de segurança.

— Acho que posso me proteger.

— Não da sua. O Senhor Stark deseja evitar a possibilidade de outro incidente público.

Culpa.

Jamais deveria ter a subestimado e a ter colocado em um espaço do qual ela não tinha vontade, ele foi um idiota — segundo o google e qualquer outra rede de pesquisa que usou naquele meio tempo — mas sua intenção foi a mais genuína possível.

A percepção de que ele nunca se importaria se ela tomasse controle sobre o corpo dele, o assustou. De fato, era uma sensação estranha que o colocou em um patamar de poder que nunca esperou. Ele queria aprender com Wanda toda a realidade do mundo, os sentimentos mais genuínos que uma pessoa poderia ter e quando ela dedilhou com todas as letras sua raiva sob ele — com 5 chãos da Base dos Vingadores nas costas dele — ele soube que era uma idiotice ter assinado um Tratado que tinha lhe custado a única pessoa que ele se importava.

Vê-la partir para uma prisão designada pelo governo doeu tanto quanto ter destruído a vida do Capitão Rhodey.

Tentou contornar a situação, explicar a Ross que poderiam manter Wanda novamente na Base sem que tivessem demasiadas distrações. “Saiba seu lugar, sintozóide" aquela palavra — a própria designação dele — foi usada como um veneno saindo da boca de Ross, era um lembrete do erro que cometeu.

Culpa, culpa e mais culpa.

Ninguém ao redor se importava com a presença dele, nem mesmo os funcionários da Base que passavam diariamente nos corredores. Quase como um déjà vu, a memória dele a levou para um fato que se mostrou desatualizado, 'Eu nunca vivenciei a perda porque eu nunca tive uma pessoa amada para perder'. Luto não era equivalente a ausência, contudo, sua breve experiência com a palavra 'saudade' — termo quase inexistente na língua inglesa, mas com um peso imensurável em línguas derivadas do latim — o fez perceber que ela era uma chave essencial em sua vida.

Por isso, sua solidão resultou em vigiar a única pessoa que ele se importava: Wanda.

Encontrá-la em um estado decadente ao espiar as câmeras foi quase um fardo para ele, Visão nunca entendeu seus sentimentos por ela, só que naquele momento ele soube que todo o governo estadunidense se contradizia quando se tratava dela. E claro, dos colegas dele. Wanda sempre foi excepcional e sensacional — em cada mínimo sentido que as palavras poderiam ser definidas — e em nenhuma circunstância colocaria outras pessoas em perigo se não fosse uma extrema necessidade dos poderes dela, ele necessitava tomar uma atitude.

Mentir para os demais foi fácil.

Em tempo algum questionou sua decisão de mandar as coordenadas para o jato roubado de Natasha Romanoff, Visão quis o bem de Wanda. Nada em troca, apenas que ela estivesse sã e salva."

 

Ofegante pelo excesso de sentimentos tão diretos, Wanda se desconectou no mesmo instante da mente dele. Com uma voz quase perdida em um sussurro, se pronunciou:

— Você traiu os Acordos.

— E farei quantas vezes mais eu precisar — Visão completou sem ao menos pensar duas vezes, Então essa é a sensação de se expressar com o coração, ele ponderou em silêncio — Sua prisão… E dos nossos colegas foi o ponto chave para que eu questionasse a execução do Tratado no solo americano.

— Sinto que há um “mas” nessa incógnita.

— Não posso negar, ainda precisamos de leis específicas, — ele franziu as sobrancelhas — só que entre te manter segura e seguir uma lei da qual te feriu, sempre vou preferir a primeira opção.

— Por isso me manteve na Base — comentou sem olhar diretamente para ele.

— Peço perdão por não ter lhe perguntado antes, e ainda peço perdão por…

Vizh, nosso encontro no aeroporto foi o suficiente para entender que você sente culpa.

— E foi o suficiente? Quando eu vi suas imagens na Prisão, eu não…

— Foi o suficiente — Wanda colocou a mão livre por cima da mão estranhamente quente de Visão, um calor que ela se lembrava nitidamente das vezes em que o sintozóide esquentou propositalmente o corpo para a aquecer nas noites mais frias da Base — nós já pedimos nossos perdões.

Como um segundo instinto, ela parou por um momento para analisar a situação: a presença dele implicava em toda sua negação dos últimos meses, ao passo que também confirmava um sentimento do qual ela nunca se permitiu sentir. Wanda continuou olhando para frente sem deixar suas emoções transparecerem, o que ela levaria daquele encontro? As mãos ainda estavam interligadas, quase como se Visão intencionalmente quisesse provar que não tinha nenhum medo dos poderes dela, e se aquela fosse mesmo a intenção, Wanda pensou que seria impossível não se apegar mais ao simples gesto.

Vocêaceitariaalmoçarcomigo? 

— Hm? — a pergunta a tirou do transe.

— Você quase não tocou na sua comida, deve estar fria — constatou ao desviar o indicar para os quase não tocados bitterballen na caixinha de papel — E é quase horário de almoço, tem um restaurante com avaliações medianas aqui perto, então nós poderíamos… — as palavras saíram tão rápido que ela teve de apertar levemente a mão dele para poder chamar a atenção dele.

— Eu aceito, só não podemos ficar até muito tarde.

— Natasha?

— Não quero enfrentar o lado ruim dela.

— Para ser sincero, nem eu.

Os dois atravessaram toda a extensão do parque em silêncio, Visão ocasionalmente olhava para o lado garantindo que ela não teria se arrependido de ter aceitado o convite. Ele deixou que Wanda escolhesse o lugar, o pequeno restaurante de esquina era especializado em especiarias e aromas variados — o sinal gigante dizendo "Comida tailandesa autêntica!" era o suficiente para chamar a atenção do público — enquanto olhavam o cardápio, o sintozóide sentiu que todo seu nervosismo deve ter sido captado por Wanda. Tentando fugir de uma má impressão, ele limpou a garganta e finalmente perguntou:

— Enquanto estivermos aqui, como devo te chamar?

— Prefere meu nome falso? — levantou uma das sobrancelhas.

— Creio que se nos questionarem sobre nossas vidas, eu devo ter a mínima consciência de com quem estou.

— Como o quê? “De onde vocês vieram?”, “O que trouxe vocês para a Holanda?”  “Há quanto tempo se conhecem?"

— Questões como essas — Visão colocou um sorriso quase tímido no rosto, os olhos escaneando o cardápio — esse prato, phanang, é picante. Você ainda gosta de comidas picantes?

— É uma ótima opção, e você poderia pedir essa entrada — Wanda indicou no cardápio nas mãos dele — só para não acharem que você não vai pedir nada. A não ser que…

— Não, ainda não consegui

— Ah, tudo bem — tentando prosseguir com o assunto, perguntou: — Por que escolheu cabelo loiro?

— Creio que eu poderia fazer a mesma pergunta — rebateu em um tom amigável — porém, é mais fácil produzir uma aparência que não requer muita melanina.

— Você pode mudar mais suas feições?

— Ainda estou testando, esse visual é o menos revelador, ter 1,89 é atenção o suficiente. Por isso tenho que aparentar ser uma pessoa sem qualquer traço de personalidade.

Wanda logo notou que ele colocou um sorriso para amenizar a resposta, ela acabou rindo da piada, a primeira risada genuína em meses depois da Balsa. Visão sempre teve um senso de humor quase peculiar quando comparado ao Sam — a única pessoa que conseguia fazer piada de tudo e todos sem nunca parecer maldoso — é evidente que o sintozóide nunca tentava fazer piadas quando estavam ao redor do resto dos Vingadores, reservando toda aquela parte apenas para ela.

— Meu nome é Anna Finch — revelou de súbito.

— Anna? Esse nome não é incomum… — murmurou como se fosse uma lembrança de uma pessoa distante, uma pessoa da qual Wanda não conseguiu desvendar o porquê de Visão ter usado um tom tão saudoso.

— Você conheceu uma Anna?

— Jarvis se casou com uma mulher chamada Anna.

— Acho que eu nunca cheguei a perguntar se você tinha algum rastro das memórias do Jarvis.

— Não, não — comentou com as sobrancelhas franzidas — a Senhorita Potts enviou uma caixa com antigos pertences de Howard Stark e Edwin Jarvis para o Tony algumas semanas atrás. Fotos, cartas, uma coleira de cachorro, entre outros pertences estavam arquivados por quase 40 anos.

— E como ele era?

— Completamente devoto a esposa, e digamos que honrável o bastante para nunca sair do lado de Howard Stark, nem mesmo quando todos ao redor abandonaram o pai de Tony. Uma dívida de uma vida.

— Dívida? — curiosa, Wanda indagou.

— Jarvis conheceu Anna em Budapeste, alguns meses antes da Hungria se aliar a Alemanha nazista e ela era mulher judia. O General que ele servia não quis assinar a carta de transição, então Jarvis forjou a assinatura do seu superior. Por isso, ele foi considerado traidor da nação e seria executado se Howard não tivesse encontrado um jeito de salvar os dois, ambos viveram ao lado dos Starks por décadas — Visão explicou com cautela — Uma curiosidade é que o nome da IA criada para o traje do Homem Aranha é nomeada em homenagem a Anna Jarvis.

— O Aranha faz parte dos Vingadores agora?

— Não, rejeitou a proposta do Sr. Stark.

— Não posso negar que ele está certo. Como estão as coisas na Base?

— Solitário — respondeu depois de fazer o pedido para uma das garçonetes, ele deixou de lado o assunto de — Capitão Rhodey passa maior parte do tempo na academia.

— Ele ainda está magoado?

— Ele disse que me perdoou, que no final foi um acidente. No entanto, sei que é culpa minha — antes que ela pudesse se pronunciar novamente, ele continuou: — Não devemos falar sobre o que está nos separando, podemos focar em outros aspectos.

Wanda hesitou, se manter em segredo das vidas longe do Tratado, uma falsa utopia. A mente vagou pelo pensamento que a impactou na mente dele, “Nada em troca, apenas que ela estivesse sã e salva." e talvez, a utopia — ou cegueira — seria o bastante para os dois.

— Você está certo, vamos focar em outros aspectos.

 

Horas mais tarde, Wanda se encontrou parada na frente do apartamento alugado, o vento gélido se contrapondo a todo o conforto do pequeno café de ruas atrás, ela envolveu o cachecol vermelho em volta do pescoço tomando cuidado para não deixar a bolsa com um pedaço de torta de maçã cair no chão. Não se pode negar que as refeições foram as melhores que teve em meses, nem os próprios dotes culinários eram páreos para o cansaço de uma jornada dupla, “se é que fugir pelo globo é considerado jornada dupla…”

— Aqui estamos — anunciou.

— Você está bem aqui? — ele levantou os olhos para analisar a estrutura do lugar.

— É melhor do que muitos lugares que estive quando morava em Sokovia.

— Estarei na cidade por pelo menos uma semana.

— Turistando?

— É, quase isso.

— Tem algum motivo a mais? — se permitiu ter uma esperança na voz.

— Você me permitiria te visitar novamente? — a pausa breve fez com que um questionamento maior viesse a mente dele, seus sentimentos mais íntimos foram revelados horas atrás, ele não deveria ser tão envergonhado em expressar seus desejos — meu localizador está desligado, meramente estou de férias dos meu trabalho como Vingador. Podemos ligar de telefones descartáveis, caso algo vá à tona, você ainda tem a opção de se livrar da forma mais rápida possível.

Wanda sorriu, não era surpresa que Visão teria pensado em uma maneira de a encontrar sem a colocar em perigo, como se toda a situação estivesse calculada assim como Natasha faria. O esforço a fez querer que ele ficasse por mais tempo, a presença dele a acalmava, Wanda quis poder estar mais tempo ao lado de Visão, quis poder convidá-lo para o apartamento e fingir que era apenas mais uma noite que ele lhe fazia companhia assistindo o que quer que estivesse passando na TV, mas eles não eram os mesmos de três meses atrás.

— Bem, eu não sei o que a Nat vai pensar mas… É claro que podemos nos encontrar.

— Ótimo, ótimo — a satisfação no rosto dele era contagiante, ela sorriu novamente.

— É melhor eu entrar.

Os olhos dele não deixavam os dela, as mãos ainda entrelaçadas expondo uma vontade irracional de não querer serem separadas. Por um impulso ela sentiu ser puxada para os braços dele, e fechou os braços em torno do peito dele, o conforto finalmente se tornando palpável.

— Vizh… 

— Por favor, se cuida, Wanda.

— Eu vou ficar bem — prometeu ao se despedaçar por completo no abraço.

 

— Quando ia me contar que o Vizh te ajudou na fuga da Balsa? — Wanda não esperou que Nat entrasse no apartamento para perguntar.

— Como pode ver, não é assim que eu esperava ter essa conversa — Nat cerrou os dentes — vejo que o Visão passou mais cedo do que esperava, enviei a localização essa manhã.

A Viúva puxou uma cerveja do peck que carregava, garantir que Steve e Sam estivessem seguros — mesmo que ela estivesse na Holanda enquanto os dois tentavam ultrapassar a fronteira da Líbia para entrar no Egito, — se mostrou tão desgastante quando libertou as Viúvas da Sala Vermelha. Ao menos, com a chegada dos dois até o Cairo facilitaria a missão, só que ela não esperava ter o baque de ter que se explicar para a companheira de viagem logo no único instante de paz que teve no dia.

— Estávamos na Alemanha quando decidimos o que faríamos no ano seguinte e eu não poderia deixar que você arriscasse nosso disfarce por conta do seu namorado.

— Nat, ele não…

— Eu, Sam e Steve temos outros trabalhos para resolver, e nenhum de nós deseja que você esteja encarcerada de novo — cortou o pensamento da mais nova — seu tempo em Sokovia foi ao redor do seu irmão, você precisava aprender a se virar sozinha. Nossas viagens foram mais uma série de aprendizados do que uma proteção de fato, o Visão ter nos ajudado foi só um fator extra.

— Então você é só minha professora? — brincou tentando amenizar a dor que seria não a ter como companheira de viagem.

— Acha que posso ganhar um cargo de amiga, não acha?

— Claro que sim — Wanda sorriu.

— Montei um esquema para te auxiliar na próxima parada, tenho apenas uma regra para vocês dois seguirem caso continuem se encontrando: Não vá para países longe dos que eu e os meninos estamos — afirmou com uma autoridade na voz que ela sentiu que teria consequências caso fizesse o contrário do proposto por Nat — Fique na Holanda até Dezembro, depois siga para o próximo país, e não se esqueça que…

— Diga onde está, não se arrisque e fique por perto — para o orgulho de Natasha, Wanda repetiu o mantra sem pensar duas vezes. 

— Pelo visto você entendeu.

23 de Dezembro — Alba Iulia, Romênia

O anúncio de que o trem atrasaria 10 minutos a deixou mais apreensiva do que o esperado, ela afastou a franja dos olhos sem ter para onde olhar e com medo de que a ansiedade a traísse naquele momento. Nos dois meses que se passaram, ela e Vizh passaram mais tempo do que deveriam ligando um para o outro, ele sempre sabia o fuso horário do lugar onde ela estava e mesmo que fosse arriscado, ligava para mandar “Boa noite, durma bem, Wanda”, Natasha a provocou diversas vezes quando a visitou alguns dias depois da partida do companheiro secreto de Wanda.

 

“— Como foi o encontro com o Visão?

— Não foi um encontro, — protestou — nós só saímos, aproveitamos uma boa comida…

— Ele pagou por tudo e vocês se beijaram no final? — o grunhido vindo da mais nova fez com Natasha sorrisse  — Você é muito previsível, Wanda.

 — Não nos beijamos, Nat — rebateu na defensiva — E foi ótimo.”



Nada no mundo conseguia a deixar mais feliz do que poder encontrá-lo depois de semanas separados, a felicidade no rosto dele valeu por cada ligação que tiveram naquele meio tempo. “Não importa para onde você for, eu estarei lá”, a promessa feita por telefone no início de Novembro era o que mais a confortava nos momentos em que sentia falta dele e de Nat. 

Visão estendeu um vaso de hortênsias em um tom de rosa tão escuro que simulava o vermelho, ela agradeceu o presente com um o sorriso gigante no rosto e logo percebeu que os olhos dele analisaram o rosto dela em um gesto quase involuntário, no final Vizh sorriu e decidiu começar a conversar sobre como Wanda estava se ajustando no novo país. A fugitiva contou os demais detalhes ao passo que os dois caminharam para fora da estação, novamente ela agradeceu pela ajuda dele por conseguido ter acesso a parte do dinheiro que estava em sua conta como Vingadora, ela não questionou como ele conseguiu driblar as suspeitas de Ross ou como Tony não notou parte do dinheiro faltando, mas estava mais do que agradecida pela quantia extra e finalmente ela poderia comprar mais do que macarrão instantâneo e biscoitos.

Apesar dos encontros nem sempre estarem restritos ao apartamento dela, Visão sempre se certificava de levar um dos DVDs da mala escondida no fundo do antigo armário da Base dos Vingadores, jamais trouxe o episódio 21 da segunda temporada de Dick Van Dyke em respeito à ela e Wanda agradecia a consideração. Dessa vez, por conta do frio bárbaro da Romênia em pleno Dezembro, eles se prepararam para uma maratona de A Família Addams, e assistiriam também os filmes dos anos 90.

— A Família Addams? O quão clichê é isso… — deixou a bacia de pipoca na mesa de centro da sala — O que mais você trouxe? Dracula? Frankenstein? Van Helsing? — brincou.

— É mais do que justo, nada mais monstruoso do que nós dois assistirmos a essa série, afinal, estamos perto da Transilvânia.

— Está me chamando de monstro, Vizh? – ela inclinou a cabeça para o lado do jeito que poderia amedrontar qualquer outro ser humano.

— Jamais! Jamais eu diria algo assim sobre você — rapidamente Visão tentou consertar a situação, Wanda acabou rindo do eminente desespero dele.

— Só estou brincando, — afundou nos braços do sintozóide procurando aconchego e sentiu ele regular a temperatura do corpo para a manter mais aquecida — se nós fôssemos representar os monstros dos filmes, quem eu seria?

— Você poderia ser uma feiticeira.

— É só um nome bonito para "bruxa", todas sempre acabam horrendas nas histórias infantis.

— Samantha Stephens era uma feiticeira, só que você é infinitamente mais esplêndida.

Wanda agradeceu que poderia culpar o frio caso o rosto estivesse vermelho, seria vergonhoso ter de explicar que o elogio a afetou. Em certas ocasiões ele era muito direito, em outras tropeçava nas palavras e em momentos como aquele, ela reconhecia que o comentário foi tão natural que nem sequer percebeu o peso das próprias palavras.

Wednesday Addams deve ter feito alguma observação muito além de sua capacidade para ouvir uma risada franca vinda de Vizh. O olhar dele não saiu da tela, ela se virou para notar o quanto a pele avermelhada se destacava na imensidão cinza do apartamento temporário, o vermelho se revelando mais que o poder destrutivo que possuía em mãos. A ordem em meio a todo o caos que ela trazia, o sentimento que até então não se materializou por completo, agora em plena nitidez…

— Wanda, você quer mais pipoca? — uma pergunta mundana.

— Claro — afirmou ao balançar positivamente a cabeça.

…Wanda havia se apaixonado.


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Notas finais do capítulo

Uma nota diferente da que postei no site vizinho: não sei quando postar a parte 2 dessa história (que foca nos sentimentos do Visão e ele se declarando de fato para a Wanda), o primeiro capítulo está pronto mas ainda vai demorar mais um tantinho para sair o segundo então até lá...
Beijinhos e até a próxima! Obrigada para quem leu e favoritou! ♥



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