Pokémon: Jardim Jirachi escrita por Maya


Capítulo 8
Unova Parte I - Coração Inquieto




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Unova, cinco anos atrás

A noite já tinha caído e Akemi permanecia esperando sentada em um banco da área central de Castelia City. Seu Blitzle também já estava a postos, e o Darumaka finamente tinha aceitado ficar quieto dentro da pokébola, agora só faltava o suspeito aparecer.

E ele apareceu bem quando as ruas já começavam a ficar movimentadas: saindo do shopping, usando aquele gorro cinza, a mochila nas costas, o Stoutland o acompanhando.

— Ali, Pablo, vamos.

Pablo, o Bliztle, se prontificou feito um soldado, e os dois foram andando a passos rápidos atrás do suspeito a uma distância segura. Quando ele virou na rua do ginásio, Akemi o perdeu de vista no meio do monte de gente indo e vindo. Apressou o passo, e quando o localizou de novo, bem mais perto agora, já tinha perdido a paciência.

— Ei, cara do gorro! Ladrão!

Todo mundo ao redor se assustou, enquanto o suspeito virou o rosto, percebeu que uma menina de treze anos corria em sua direção, montou em cima do Stoutland e fugiu às pressas. Akemi xingou — tia Diantha não teria gostada nada de saber quantos palavrões tinha aprendido nos últimos meses —, subiu em cima de Pablo e o seguiu gritando para as pessoas saírem da frente, só não a tempo de evitar trombar em todas elas.

Fizeram uma virada brusca na esquina para a rua dos píeres. As pessoas continuavam gritando de susto ao invés de saírem da frente.

— Merda, ele tá indo pra ponte! Mais rápido, Pablo!

O Bliztle grunhiu, provavelmente xingando também, mas acelerou.

Subiram para a Skyarrow Bridge. Akemi só via o ladrão e seu Stoutland a sua frente, mais nada, e sabia que se não fizesse alguma coisa mais rápido ele chegaria na Pinwheel Forest e seria muito mais difícil de encontrá-lo.

— Agora, Shock Wave!

Pablo deu um impulso e pisoteou forte o chão soltando da pata uma onda elétrica crescente. O alvo, porém, notou rápido e deu um salto com seu Pokémon para escapar, e foi só aí que Akemi percebeu os três treinadores que vinham do outro lado, caminhando na direção da cidade. Stoutland passou atrás deles enquanto olhavam admirados e a onda elétrica chegava aos pés da garota do trio.

— AI!

— Ei, que merda é essa?!

O ladrão continuou fugindo, mas com uma garota machucada e dois rapazes nervosos no caminho, Akemi não teve como não parar ali. Bufou; bem, estava ferrada.

— Da próxima vez que você for brincar de justiceira por aí eu te mando de volta pra Kalos, entendeu?!

Acabou indo parar na delegacia de Castelia — pior, na sala da chefe Hilda. Ela andava de um lado para o outro, as mãos na cintura e aquele olhar furioso que parecia capaz de comer alguém vivo.

— Aquele cara estava sempre roubando as lojas do shopping e ninguém via nada.

— Se você desconfia que tem alguém roubando alguma coisa, você chama a polícia!

— Só queria ajudar!

— Bela ajuda, uma criança machucada e um suspeito à solta.

Akemi olhou para Hibert, que estava parado de braços cruzados na porta, tentando pedir ajuda, mas ele só balançou a cabeça.

— Eu não vou limpar sua barra só porque veio do Jardim Jirachi...

— Eu não quero isso.

— Mas não quero ter que ligar pra Lenora. —  Hilda continuou. Lenora era a tutora de Akemi em Unova. — Se você causar problemas em qualquer lugar em Unova de novo, eu faço questão de tomar conta de você pessoalmente onde quer que esteja. Já conseguiu a insígnia daqui?

— Já.

— Ótimo. É melhor seguir sua jornada o mais rápido possível.

— E se eu quiser que minha jornada seja aqui na polícia, ao invés de enfrentar a Liga?

Hilda soltou um longo suspiro, finamente se sentou e olhou para a menina de um jeito mais calmo.

— De novo? Akemi, você é muito jovem pra isso ainda.

— Mas aqui vou ser muito mais útil do que colecionando insígnias! Quero poder ajudar de verdade.

A chefe deu uma respirada funda, trocou um olhar com Hilbert, batucou um pouco na mesa.

— Termine sua aventura de agora, ganhe mais experiência, depois conversamos.

Akemi até abriu um sorriso com a ideia.

— Mas se fizer bagunça de novo...

— Eu sei, eu sei. Obrigada, Hilda.

— Antes de sair, a garota que você e o Pablo machucaram está ali fora. — Hilbert abriu a porta quando Hilda a dispensou. — Peça desculpas, tá?

— Tá bom.

Não só ela, como os dois amigos esperavam no lado de fora. Akemi olhou para a menina primeiro porque o cabelo comprido dela, preso com um lenço preto, era brilhoso, e os olhos tinham um formato lindo, e o sorriso era tão meigo que prendeu sua atenção ali de um jeito que Akemi parou.

— Oi?

Então se tocou de que já era a segunda vez que menina a chamava.

— Oi! — Respondeu alto demais, que vergonha. — Você tá bem? Desculpe por aquilo.

— Imagina, o senhor Hilbert explicou. Minhas pernas ainda estão meio dormentes, mas tá tudo bem.

— Ah, que bom.

Atrás dela, os rapazes encaravam Akemi de cara fechada.

— Desculpa, tá? — Disse a eles também.

— A gente não desculpa, não.

— Não liga pros meus amigos, eles são superprotetores. Me chamo Ravena, e você?

— A... Akemi.

— Que nome bonito! Adorei seu cabelo também.

Akemi passou a mão pela sua mecha roxa, meio tímida.

— Obrigada. Também gostei do seu nome.

As duas ficaram um momento quietas só se olhando, o sorriso de Ravena crescendo de pouco em pouco.

— Você tá enfrentando os ginásios também?

— Estou, vou partir pra Nimbasa amanhã de manhã.

— A gente logo se encontra de novo então! Assim que pegar a insígnia daqui eu vou logo atrás. — Um dos amigos tossiu. — Nós vamos logo atrás.

— Legal!

— É! Então, nós temos que ir descansar. Até mais, Akemi. Manda um beijo pro Blitzle.

— É Pablo.

Ravena já estava de saída, mas virou o rosto de novo.

— Hein?

— Meu... Meu Blitzle se chama Pablo.

— Ah é? — Ravena abriu o sorriso daquele jeito devagar novamente. — Manda um beijo pro Pablo, então.

Quando os três saíram de vez, Akemi respirou fundo, porque sentia o rosto quente e algo dançando na região do umbigo. Que sensação engraçada.

Unova, quatro anos atrás

O topo da Liga Pokémon de Unova tremia com a batalha da desafiante atual; a campeã Iris acabava de trazer para batalha o último Pokémon, seu icônico Haxorus, enquanto Akemi ainda tinha o Beartic, já enfraquecido do último confronto, e mais um intacto.

— Você ficou forte mesmo, né? Nem parece que faz só um ano que está aqui.

— É só o começo, tia Iris! Depois daqui é que vou começar de verdade!

Iris mudou a expressão para um sorriso desafiador, que Akemi já conhecia e soube que devia ser preparar.

— Isso se me derrotar aqui. Haxorus, vamos encerrar! Close Combat!

— Espere, Cornelius — Akemi pediu ao Beartic. — É o seu gran finale.

Cornelius rugiu: estava enfraquecido, porém determinado. Mantend o-se no mesmo lugar, ajeitou a posição, se preparando para a chegada da investida avassaladora do Haxorus. Assim que ele chegou e começou o combo veloz, Akemi gritou o comando:

— Agora! Blizzard!

Uma nevasca violenta foi invocada bem em cima do tipo Dragão; Cornelius continuou fazendo-a rugir enquanto suportava os golpes rápidos e contínuos. Ao último deles, o Beartic foi nocauteado, mas ao menos a marca de seu último movimento ficou visível na tremedeira do Haxorus.

— Você foi incrível, Cornelius. — Akemi retornou o parceiro para sua Great Ball e tirou do bolso a Pokébola do último companheiro da batalha. — Vamos fazer uma boa batalha, Daru!

O Darmanitan entrou em campo já expressando a empolgação com um rugido flamejante. O adversário estava enfraquecido e com a defesa mais vulnerável devido ao efeito do Close Combat. Mesmo sabendo que não podia baixar a guarda, Akemi estava confiante com a vantagem, e, mais ainda, queria se divertir.

Work Up!

— Não vamos ficar para trás também. Dragon Dance!

De um lado, Darmanitan começou a bater as patas no chão com força, do outro, Haxorus iniciou uma dança de movimentos elegantes ao redor de si mesmo; a aura vermelha de um e a roxa do outro cresceram entorno de seus corpos com o crescimento dos respectivos status, e então se dissiparam. O próximo movimento foi de Iris:

Dual Chop!

Com as presas brilhando, Haxorus partiu para uma nova investida.

Flamethrower!

Daru disparou sua rajada de fogo pela boca enquanto o Dragão corria em sua direção, porém, sem se deixar parar, o oponente seguiu e logo surgiu de dentro das chamas. O primeiro golpe acertou em cheio, só que no segundo o Darmanitan conseguiu agarrar uma das presas.

— Boa! Hammer Arm!

Levantou o outro braço, o qual ganhou um novo brilho que se expandiu como se aumentando o tamanho do braço em si, e o girou em cima do adversário. Haxorus recebeu o dano, mas ainda assim conseguiu usar o segundo movimento do Dual Chop para se soltar.

Dual Chop de novo!

Dessa vez não deu para segurar ou esquivar, e os dois golpes acertaram Daru. Ele foi ao chão e, antes mesmo de se levantar, Iris já ordenava o próximo movimento:

Earthquake!

Haxorus bateu o pé com toda a força no chão, o fez se quebrar e começou o próprio terremoto dentro do campo de batalha. Como um ataque tipo Terrestre, seria praticamente fatal para Darmanitan.

Mas ele e Akemi já sabiam que isso viria.

Flamethrower no chão.

Assim que um dos primeiros impactos do terremoto lançou Daru para o ar, o Pokémon virou o corpo de forma a mirar seu lança-chamas no solo. O disparo lhe deu um impulso para subir ainda mais e se manter a uma distância segura.

— Agora, Flare Blitz!

— Que? Haxorus, segure firme!

Daru girou cobrindo o corpo com o próprio fogo do movimento anterior, então se lançou contra Haxorus novamente. Este pulou para trás e conseguiu desviar de início, mas chegando no chão Daru conseguiu um novo impulso para prosseguir o ataque. Haxorus só pôde tentar amenizar o impacto colocando os braços a frente do corpo.

Estrondo e fumaça. Cada Pokémon recuou para seu lado: Darmanitan ofegando, ferido com o dano colateral do Flare Blitz, e Haxorus sentindo o efeito de queimadura.

— Daru, precisamos fechar agora. Flamethrower!

— Nós também vamos até o fim — Iris declarou do outro lado, ao que seu parceiro concordou com um rugido. — Earthquake!

As chamas foram disparadas pouco antes do chão começar a tremer. O tipo Fogo se esforçou para continuar no lugar suportando a instabilidade do solo e os danos, da mesma forma que o tipo Dragão lutava para manter o terremoto enquanto sentia o calor em cima de si.

— Mais forte, Daru!

Daaarmaaa!!

Haxorus cedeu, e no instante seguinte, Daru também. Porém, ambos continuavam de pé, por mais alguns segundos.

Superpower.

 Em um último ato de resistência, com a última gota de estamina, o Darumaka, com uma faixa vermelha e laranja rodeando seu corpo, afundou os pés no chão para se impulsionar para frente — praticamente um chute no chão que o empurrou —, voou até o dragão e desferiu um gancho bem no peito. Iris não teve tempo de reagir, tampouco o Pokémon teve tempo para tentar por mais algum segundo; quando Daru pousou, ele já estava caído em nocaute.

Mesmo com seu parceiro comemorando, Akemi tratou de retorná-lo logo para a Pokébola antes que desmaiasse também.

— Você foi incrível, Daru. Eu te amo.

— Uau, Akemi! Parabéns!

Os olhos de Iris não tinham nada além de orgulho. Ela acariciou um pouco o Haxorus, sussurrou-lhe algumas palavras e o retornou também para a Pokébola.

— Não esperava nada menos, e ainda assim você me surpreendeu. Bem que a Lenora disse que já tinha crescido bastante... Estou orgulhosa, foi uma ótima batalha.

— Obrigada, tia Iris, adorei batalhar com você.

— Tem certeza de que não assumir o posto de Campeã da Liga de Unova?

Akemi já havia conversado com Iris sobre seus planos um mês antes, quando se encontraram em Humilau City depois de a garota conseguir sua oitava insígnia.

— Tenho, sim. Meu caminho é na Polícia de Unova mesmo. Quero dizer, agora...  — Disse olhando para baixo. — A tia Hilda deve me aceitar.

Iris a fitou daquele jeito carinhoso, mas que parecia analisá-la, que Akemi não sabia se a deixava aquecida ou assustada, embora certamente fosse algo que admirasse na campeã. Era como se sua conexão com os Pokémon tivesse se estendido até as pessoas também.

— Sabe que a Hilda gosta de você independente disso, né?

— É... Acho que sim.

Todo mundo lhe dizia isso. Menos a Hilda.

— Venha aqui. — Iris pegou a mão de Akemi e a segurou entre as suas. — Mais importante que isso, agora, é você se orgulhar de si mesma. Mesmo não se tornando a Campeã, guarde com carinho a memória de sua vitória, tá?

Quando Iris soltou, deixou na palma da garota um broche de dragão.

Ravena estava esperando, encostada em uma das pilastras na entrada da torre. Abriu um sorriso assim que cruzou o olhar com Akemi.

— Não acredito que você veio.

— Como assim? Eu te disse que viria! Me conta, como foi?

— Olha, foi bem difícil. Eles são muito fortes.

— É?

— Não estão nem aí mesmo pra nossa idade. Usei todos os meus itens!

— Mas você comprou tantos!

— Pois é!

— Mas e aí?

Akemi começou a rir.

— Que foi? — Ravena perguntou, embora estivesse rindo também.

— Você fica muito empolgada.

— Para de enrolar! Você ganhou?

— Aham. Ganhamos.

Sua amiga deu um grito, jogou os braços para cima e a abraçou bem apertado. Akemi retribuiu o abraço, se deixou afundar o rosto no ombro dela. Gostava de ficar perto de Ravena, era divertido conversar com ela, compartilhavam tudo uma com a outra, sem falar que, em sua companhia, quase não pensava em Hilda. Era a melhor pessoa para estar ali naquele momento.

— Parabéns!! Nossa, a gente precisa comemorar — elas soltaram o abraço aos poucos. — Vamos tomar sorvete? Eu pago.

— Vamos! Abriu uma barraquinha muito boa em Humilau.

— Combinado, então.

Ravena chamou para fora das Pokébolas sua Swanna e seu Unfezant. Os dois alados grunhiram cumprimentando Akemi.

— Podem nos ajudar a chegar em Humilau City, amigos? Aliás, Akemi, você ainda precisa me ajudar a dar apelido pros meus Pokémons, lembra?

— Ravena, você... Você com certeza vai vencer também, quando desafiar a Liga.

— Hã? Por que tá dizendo isso do nada?

— Só queria que soubesse que também torço por você.

Ela ficou olhando para a amiga, com cara de confusa, a ponto de Akemi se questionar se havia falado algo errado.

— Obrigada... Mas você não precisa achar que precisa me dizer essas coisas, tá? Pelo menos não pra mim.

A sensação de Akemi era que sempre precisara ter a aprovação de alguém que gostava ou admirava. Por isso, a confiança que Ravena lhe passava apenas com essa frase era até um pouco assustadora. Não se sentia daquele jeito desde... Os irmãos do Jardim Jirachi? Não, talvez nem com eles.

Tão simples como sempre, Ravena retomou o sorriso e continuou falando sobre outros assuntos enquanto viajavam para Himulau City tomar um sorvete. Só isso.


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