Os dias se passaram mais rápido do que eu gostaria. Meu tempo foi dividido entre várias conversas e risadas com Alice, e muitos momentos de qualidade com o Edward. Alice tornava a convivência muito fácil, ela era gentil, atenciosa e engraçada, e se importava genuinamente com as pessoas a sua volta. A melancolia sempre me invadia quando lembrava que precisava retornar para a minha casa, para a minha rotina, e ficaria novamente longe da minha amiga. Meu peito também apertava brevemente ao pensar que não veria mais o Ed, eu realmente me apeguei a ele.

Em uma de nossas tardes juntas, conversando sobre como decidi largar tudo e vir para Vila Aurora para procurar por ela, questionei-a:

― Amiga, você não tem um perfil no Crowdpic? 

― Ai, até tenho, mas você sabe que a internet aqui é praticamente inexistente! 

― Verdade… Eu estou gostando desse tempo sem as redes. E, claro, morrendo de curiosidade de checar meu perfil e as manchetes ― confessei e recebi uma risada em resposta. ― Falando nisso, eu procurei por você no aplicativo e não encontrei.

― Você digitou o mesmo nome que usou para me procurar aqui, não é?

― Ah, sim! O seu perfil está com Hale no nome, então ― Nem foi uma pergunta, foi uma afirmação mesmo, e constatei ser verdade quando a mulher confirmou com a cabeça. ― Eu nem cogitei que você poderia ter se casado e trocado o sobrenome ― comentei, dando um tapinha na testa em frustração.

Alice gargalhou e respondeu:

― Você não poderia imaginar, né… Olha há quanto tempo a gente não se via.

― Verdade. Mas estou contente que você ainda mora aqui, pelo menos. Já pensou se eu faço isso tudo e você se mudou para outro lugar? ― Estremeci com a ideia.

Em outra de nossas tardes, Alice me levou para rever seus pais. A mulher me buscou na pousada com um veículo mais antigo, e eu achei uma graça assistir a baixinha barriguda dirigindo. O senhor e a senhora Brandon nem acreditaram quando me viram, expressavam o tempo todo o quanto eu estava crescida e linda, bem coisa de “tios”. Prometeram retomar o contato com meus pais e nos fazer uma visita em Toledo assim que possível. Eles ficaram chocados quando contei que larguei tudo para vir procurar pela Alice, e comentaram que eu sempre fui determinada, desde criança.

Por fim, descobri o motivo de ninguém reconhecer o sobrenome Brandon! A fazenda que eles administravam se chamava Sítio Miller, sobrenome do avô materno da Alice, então o povo da vila acaba conhecendo a família por esse nome. Nunca iria imaginar! O momento foi muito agradável, a senhora Brandon fez bolinho de chuva para o café da tarde, pois a grávida estava com desejo, e conversamos por horas, relembrando de momentos da nossa infância. 

Ao me levar de volta para a pousada, Alice inventou um piquenique para o dia seguinte. A mulher parecia ter um sexto sentido, pois na primeira vez que nos vimos após minha noite com Edward, ela apenas me olhou por alguns segundos antes de dizer “vocês dormiram juntos, né?”, deixando-me completamente sem palavras com a sua forte percepção. Ela queria fazer uma programação em casal, portanto prometi que falaria com o Edward e daria um jeito de nos encontrarmos no parque Forks na parte da tarde. Quando entrei na pousada, esbarrei com a dona Esme.

― Ah, oi, querida! Você mesmo que eu queria!

― Oi, senhora Esme ― respondi com um sorriso. ― Em que posso ajudar?

― Hoje é a “sexta do filme”, eu, Carlisle e Edward sempre nos reunimos para assistir a algum filme no DemandFlix, para passarmos algum tempo juntos. Eu sei que vocês dois estão… próximos ― Corei nesse momento, e ela continuou. ―, então, gostaria de convidá-la para se juntar a nós.

Pisquei algumas vezes, surpresa com o convite.

― Eu adoraria. Obrigada! ― Esme sorriu, contente, e foi se encaminhando para a cozinha. 

― Que legal! Vou fazer um brownie e amendoim doce e salgado para comermos mais tarde.

― Hummm, que delícia! Quer ajuda? Não sou uma cozinheira muito boa, mas posso auxiliar no que precisar ― comentei caminhando em direção ao cômodo.

― Oh, não se preocupe, querida! Pode ir descansar.

― Do que, dona Esme? Eu já estou descansando há quase uma semana ― respondi dando uma risada, sendo acompanhada pela mulher.

― Então tá bom, vamos lá cuidar do nosso lanchinho.

Segui-a até a cozinha e começamos os preparativos. Enquanto ela batia a massa do bolo, deu-me as instruções para fazer o amendoim doce: 400 gramas de amendoim, duas xícaras de açúcar e duas xícaras de água. Fiquei no fogão mexendo os ingredientes até desgrudar, depois despejamos em um recipiente para esfriar e endurecer de forma natural. Esme colocou o bolo em um forno e preparou o amendoim salgado para assar em outro. Aproveitei para subir, tomar um banho e vestir uma roupa confortável.

Perto das oito da noite, retornei à cozinha e ajudei Esme a levar as guloseimas para a sala reservada à família. Edward e seu pai já estavam lá escolhendo o filme que assistiríamos. Quando entramos, Ed me olhou confuso, e eu apenas dei de ombros, mas Esme comentou:

― Convidei a Bella para assistir algo com a gente hoje, espero que não se importem.

― Claro que não, meu amor. Bem-vinda, Bella ― o senhor Carlisle disse brevemente com um sorriso gentil. 

― Obrigada ― falei, um pouco envergonhada por estar me intrometendo numa reunião familiar. Edward piscou com um dos olhos para mim, e deu uma batidinha no espaço vago ao seu lado no sofá de dois lugares. Esme depositou a comida na mesinha de centro e foi se sentar ao lado de seu marido, no outro sofá.

O filme logo começou, e vi que seria bom quando apareceu o ator Denzel Washington. Nunca assisti nada ruim que ele tenha feito! Logo nos primeiros minutos, Edward comeu alguns amendoins doces e comentou:

― Nossa, mãe, esse amendoim está delicioso.

― Que bom, querido! Pode parabenizar a Bella.

Edward parou de mastigar e me olhou.

― Foi você que fez?!

― Sim. Que bom que gostou, porque eu sou uma cozinheira terrível! 

Os três deram risada e continuamos assistindo à programação. Ed puxou o cobertor, tapando nós dois, e me envolveu com um dos braços. Olhei um pouco desconfortável para o lado, mas Esme e Carlisle não pareceram notar. Se perceberam, não se importaram, então logo relaxei e foquei na televisão. O tempo todo, Edward fazia um carinho gentil, ora no meu braço e mãos, ora na minha perna, e aproveitei o momento, cada segundo.

Ao final do filme, ajudei a família Cullen a arrumar a bagunça, mesmo contra os protestos de que eu era convidada. Com tudo pronto, subi para o meu quarto para descansar, mas estava muito desperta por algum motivo. Peguei meu caderno de desenhos e comecei a rabiscar algumas ideias. O tempo voava sempre que eu desenhava, incrível como a gente se distrai quando faz algo que realmente gosta.

Amanheci com um lápis na mão e o caderno em cima da barriga, uma posição não muito agradável, mas me sentindo revigorada. Olhei o relógio, já era quase o horário do final do café da manhã, então me aprontei correndo para poder tomar meu desjejum. Ao terminar a refeição, fui direto ao mercadinho comprar ingredientes para montar uns sanduíches de atum, essa será minha contribuição para o nosso piquenique. Alice vai levar os copos, pratos e talheres; Jasper, o suco e café; e Edward prometeu que faria o seu brownie delicioso de chocolate.

Estava terminando de cortar os sanduíches para colocá-los na vasilha quando Edward apareceu na cozinha. Dona Esme havia me dado permissão para utilizar o local, apesar de dizer que eu nem precisava pedir, e achei muito gentil da sua parte. Ed prensou seu corpo contra as minhas costas, plantando um beijo no meu pescoço. Imediatamente, meu braço respondeu arrepiando os pelos.

― Oi.

― Oi ― disse, fechando os olhos por um instante, apreciando o contato.

― Precisa de ajuda?

― Não, já está tudo pronto. E você?

― Tudo certo, dentro da cesta ― Apontou para o objeto em cima da bancada. Incrível, era igual aquelas cestas de piquenique que a gente vê nos filmes. ― Sabe ― Edward falou e continuou dando alguns beijos no meu pescoço. ―, ainda temos um tempo livre antes de nos encontrarmos com a Alice e Jasper.

― Ah é? E o que passa na sua mente? 

Como resposta, Edward me virou lentamente até nossos corpos estarem de frente um para o outro, quase colados, pegou meu queixo entre seu polegar e indicador direito e olhou dentro dos meus olhos, como se quisesse declarar algo, mas sem possuir a coragem. Ao invés disso, curvou a cabeça até nossos lábios se unirem.

― Para, Jazz!! ― Alice gritava em meio às gargalhadas enquanto Jasper se empenhava para sujar seu rosto com chocolate.

Contribuindo para o nosso momento especial, o sol iluminava toda a praça, deixando a tarde agradável e atraindo as famílias para desfrutá-la. Aparentemente, piqueniques eram comuns por aqui. Nos encontramos bem no centro do local, havia algumas mesas e bancos embaixo da sombra de árvores. Alice continuava rindo, tentando segurar as mãos de Jasper, porém sem sucesso, e eu aproveitei para registrar a cena com meu celular. Tirei algumas fotos dos dois, e claro, fiz alguns cliques do Ed sem ele perceber.

Respirei fundo e sorri, genuinamente feliz. Mal sabia eu que a calmaria estava prestes a terminar. 

― Olha ela ali! ― Ouvi uma voz ao fundo, e me virei a tempo de ver um mar de fotógrafos correndo em nossa direção.