Perto das quatro horas da tarde me levantei, tomei um banho e comecei a me arrumar para o festival. Minha barriga ainda estava cheia do almoço e meu estômago estava doendo um pouco, então decidi passar em uma farmácia para comprar algum remédio. Após o banho, coloquei uma camisa xadrez com calça jeans e uma bota, bem country girl. Passei uma maquiagem bem leve, apenas ressaltando os olhos e a boca, e fiz uma trança com caimento para o lado. Chequei o relógio e notei que já estava quase começando, peguei minha bolsa com um batom, carteira e celular e me direcionei até a praça. Eu sei que é difícil pegar sinal de operadora aqui, mas eu me sinto mais confortável com o aparelho comigo.

Desci as escadas checando o conteúdo da minha bolsa, queria ter certeza que havia trazido dinheiro para ir à drogaria, quando trombei em alguém. 

― Duas vezes no mesmo dia! ― Edward falou, dando uma risadinha. Senti minhas bochechas corando. 

― Me desculpe! ― Mordi os lábios e desviei o olhar. Eu não costumava ser tão desastrada assim. Como não obtive resposta, resolvi espiá-lo e vi que ele me encarava de um jeito diferente. 

― Você está muito bonita. ― disse baixinho, e tive a impressão de que seus olhos fitavam minha boca. Meu coração parou por um instante e as borboletas se reviraram na minha barriga. Subitamente uma vontade gritante de me inclinar em sua direção e provar o gosto de seus lábios tomou conta de mim. Obedeci ao meu desejo e prendi a respiração aguardando o toque com expectativa, quando ouvimos: 

― Edward, preciso de ajuda para levar as tortas para a… ― a mulher interrompeu a fala assim que nos viu ao pé da escada. ― Ah, você está aí.

Nos afastamos rapidamente, meu rosto queimava de vergonha, e o rapaz respondeu:

― Oi mãe, sim, já vou te ajudar. Essa é aquela hóspede que chegou ontem a noite, Isabella Swan. Bella, essa é minha mãe, Esme Cullen.

Percebi uma expressão de reconhecimento e surpresa no rosto de Esme. Ela me conhece. Droga. Agora que eu estava curtindo ser anônima por uns dias… 

― Prazer, senhora Cullen ― dei um sorriso sem graça e fechei os olhos por uns segundos, esperando do fundo da minha alma que ela não falasse nada.

― Prazer! Você não é a… ― Interrompi sua frase no meio.

― Posso levar as tortas com você? Adoraria ser útil. ― Praticamente supliquei com os olhos e Esme aceitou.

― Claro, querida, obrigada! Filho, por que você não vai na frente ajudar seu pai lá na barraca?

― Certo, já estou indo. Vejo vocês daqui a pouco! ― Edward deu uma piscadinha pra gente e saiu, fechando a porta atrás de si. Segui Esme até a cozinha e quando chegamos lá, ela comentou animada:

― Você é a Isabella Swan! A super-modelo de Topália, não é? ― Seu rosto possuía uma expressão genuinamente feliz. Eu assenti e sussurrei:

― Sim, sou eu! Por favor, não diga para ninguém que eu estou aqui! ― Supliquei juntando as duas mãos. ― Nenhuma pessoa me reconheceu até agora além da senhora, todos estão me tratando normalmente, sem bajulação e nem segundas intenções, e fazia muito tempo que eu não sabia o que era isso.

Esme me deu um sorriso de compreensão e respondeu:

― Pode deixar, querida. Seu segredo está seguro comigo! ― Sorri e lhe dei um abraço em agradecimento. Ela me lembrava muito a minha mãe. 

― Agora, as tortas! ― falei e peguei duas em cima do balcão. ― Hum… Pelo cheiro, parece delicioso!

― Obrigada!  

A praça não era longe da pousada, então chegamos lá em poucos minutos. Havia seis barracas posicionadas em uma fila, acompanhando o design arredondado da praça, como uma meia-lua. Nos aproximamos da que possuía a placa com o nome da pousada, e colocamos as tortas em cima da mesa. Cumprimentei um senhor que estava em pé com o Edward, creio que seja seu pai, pois a semelhança era incrível. Senti um desconforto novamente e lembrei que precisava de um remédio, então me dirigi até a farmácia rapidamente para comprar algo, pois eu planejava comer muito hoje a noite e precisava estar bem!

Retornei ao local e fiquei próxima ao Edward, enquanto Esme e seu marido se posicionavam na barraca para iniciar a competição. O prefeito da cidade, senhor Timothy, anunciava oficialmente o início do outono, próximo a uma fogueira, bem no centro do evento. A praça estava lotada, e minha atenção ficou dividida entre ouvir o discurso e observar as pessoas em busca da Alice. Quando terminou de falar, todos aplaudiram e assobiaram, enquanto o Timothy se sentava em uma cadeira posicionada ao seu lado e colocava uma venda nos olhos. Ele iria provar um pedaço de cada torta e declarar um vencedor no final. De forma aleatória, um ajudante levava uma fatia por vez, e a plateia aguardava ansiosa para saber quem ganharia. Até eu já me encontrava aflita, querendo que a senhora Esme vencesse, e só estou aqui por um dia!

Após provar uma porção de cada concorrente, o prefeito tirou a venda e declarou que a melhor torta dessa estação era a de número quatro. O assistente pegou a lista para checar o dono da fatia vencedora, e a mostrou para o senhor Timothy, que anunciou:

― E a barraca vencedora desse ano é… Pousada Cullen! ― Uma chuva de aplausos acompanharam a sua frase, e todos se abraçaram se cumprimentando. Não parecia haver rivalidade nem inveja, as pessoas aparentavam estar muito felizes com a vitória da senhora Esme.

Edward vibrou, comemorando, e eu o parabenizei com um abraço apertado. É estranho, como se já nos conhecêssemos há anos! Enquanto estava com os braços em volta de seu pescoço, fechei os olhos e senti o perfume que emanava dele, toques fortes amadeirados envolveram minhas narinas e fiquei inebriada, curtindo o momento. Edward pareceu notar que estávamos naquela posição há muito tempo, e me soltou devagar, um pouco sem jeito. Tentando disfarçar o embaraço, pegou rapidamente uma fatia de torta e me ofereceu. Meu estômago, sob efeito dos remédios, aceitou com prazer, então provei a porção que o rapaz me entregou e comprovei o quão deliciosa era. Alguns moradores também vieram experimentar e aproveitei para questionar sobre a Alice, mas todos respondiam que só conheciam uma tal de Alice Hale. 

Uma leve tristeza me invadiu quando constatei que ela provavelmente não morava mais em Vila Aurora. Mas, ao mesmo tempo, me senti realizada, pois nesses dois dias pude experimentar sensações que há muito tempo não vivia. Ali, sentada em um dos bancos, observei as pessoas do local, elas pareciam estar genuinamente alegres e contentes umas com as outras. A vitória de um era a vitória de todos. Notei Edward mais ao fundo papeando com alguns rapazes, rindo provavelmente de alguma piada, e tive a maior inspiração de todos os tempos. 

Peguei meu celular na minha bolsa e abri o bloco de notas para não esquecer: amizade, família, paz, interior, festival… Edward. Bom, espero que com isso eu consiga pôr em prática. Estava pensando nos meus próximos passos quando escuto uma voz fina e angelical:

― Isabella Swan??! ― Levanto meus olhos, sobressaltada, e vejo uma mulher de cabelos pretos curtos me encarando surpresa. 

― Alice?