Encerramento escrita por Chloe Less


Capítulo 1
Encerramento


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá! Olha só quem apareceu do nada! A loirinha lançou o 3am e depois de escutar essa música algumas vezes, essa história caiu no meu colo e eu escrevi a primeira versão em um dia. Relutei um pouco em postar, porque drama não é muito a minha especialidade, mas depois de três revisões e alguns puxões de orelha, decidi compartilhar com vocês.

Quero agradecer a minha beta-friend, Lola, que escutou Midnights comigo, que sempre segura a minha mão, que me incentivou a escrever e a postar. Um beijo pra Lou, que também leu e me incentivou muito.

AVISO: Assim como eu falei nas notas da história, a história pode despertar gatilhos de depressão, suicídio e relacionamento abusivo.

Para quem mesmo assim quiser ler, boa leitura!



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Encerramento

º

— Bella, os outros já estão te esperando, mais 10 minutos? — questionou Rose, entrando no camarim improvisado, que na realidade era a sala dos professores da Forks High School. O olhar era preocupado, mas a sua voz mantinha um tom suave.

— Claro, só preciso achar meus brincos — expliquei.

— Bolsinho de dentro da necessaire número 3.

— Você sempre me salva, Rose.

Ela deu uma piscadinha e fechou a porta, me dando os últimos minutos de privacidade que eu precisava.

Rosalie tinha cruzado o nosso caminho e nos guiou até o estrelato, mesmo sem experiência, mas com contatos importantes e um carisma surpreendente. Ela era nossa empresária desde o começo, mas assim como os outros três integrantes da Mad Hour, eu sentia que ela era mais do que alguém que trabalhava comigo, Rose era família. Ela tinha sido uma das últimas a fazer parte de algum jeito da banda, e não tinha me visto exatamente no fundo do poço, mas ela sabia de tudo e eu sabia que ela estava pronta pra me tirar dali a qualquer momento. Só que eu precisava de um ponto final e aquele era o momento.

Encontrei os brincos prateados que estavam exatamente onde Rose disse que estariam e olhei no espelho enquanto os colocava, porque eu era incapaz de fazer isso de outra maneira.

A adolescente que tinha sido jogada naquela cidade depois que os pais morreram me olhava de volta no espelho. Os cabelos castanhos, que na época estavam pretos, tinham voltado para a sua cor natural. As espinhas tinham desaparecido, mas o batom escuro e os olhos esfumados continuavam ali. Algumas marcas de expressão tinham aparecido e minha conta bancária estava muito melhor, mas eu ainda era a mesma garota com meu all star sujo, jeans skinny e camiseta surrada.

Levantei da cadeira e agradeci mentalmente por todos terem se arrumado primeiro, principalmente Alice, me deixando sozinha pela última meia hora. A baixista era uma garota elétrica, preocupada com os outros, e que costumava se atrasar com frequência, pois vivia ocupada fiscalizando se as coisas estavam certas, mesmo que hoje em dia tivéssemos pessoas para cuidar disso.

Ajeitei a regata branca mais uma vez e sai do camarim, onde Rose me esperava na porta para me guiar pelo auditório, — como se eu não tivesse passado toda minha adolescência andando por aqueles corredores —, seguindo o barulho que vinha daquela direção.

Antes da porta lateral do auditório, Alice, Emmett e Edward me esperavam em um semicírculo. Em um show normal, uma equipe maior estaria com a gente naquele momento, andando de um lado para o outro, mas aquele pequeno grupo me lembrava do começo, de tocar em qualquer bar, sem nenhum suporte.

Me aproximei o suficiente, dando a mão pra Edward, fechando o círculo e quando Rose tentou se afastar para nos dar espaço, para um último minuto só nosso, eu segurei a sua mão e não a deixei ir.

— Esse lugar é o lar da maioria das minhas piores memórias. Não posso dizer que quando cheguei aqui estava bem, mas posso dizer que esse lugar tornou tudo pior. Quando eu conheci vocês, estava no fundo do poço, não via mais pra onde ir e vocês estenderam a mão pra mim — falei olhando para Alice. — Me apoiaram enquanto eu me curava e dividiram o sonho de vocês comigo. E quando eu decidi que precisava de um encerramento, vocês estavam dispostos a segurar minha mão mais uma vez.

Parei de falar quando senti minha voz começando a ficar embargada, milhões de emoções dentro de mim, mas eu tinha prometido a mim mesma que não ia chorar naquele lugar, então respirei fundo e continuei em uma voz mais divertida:

— Caso não tenha ficado claro, isso é um agradecimento.

Rose e Edward apertaram minhas mãos com mais firmeza e eu olhei pra cada um de nossa pequena roda, sorrisos confiáveis e carinhosos em seus rostos. Eu não precisava dizer, mas eu os amava e eles sabiam.

Quando Rose abriu a porta, o barulho que do camarim parecia um murmúrio, ali se mostrou uma mistura de muitas conversas animadas, que ficaram ainda mais intensas com o som da porta se abrindo.

Emmett passou pela porta primeiro, sendo recebido por gritos enquanto andava até a bateria. Alice subiu em seguida e recebeu a mesma reação, já com seu baixo pendurado no corpo, se posicionando na frente de um microfone no canto. Edward afagou meu rosto e me deu um beijo rápido, antes de ir para o palco e se posicionar na frente de seu teclado.

Eu respirei fundo mais uma vez, menos nervosa do que a primeira vez que tinha subido naquele palco. Depois de tanto tempo, eu tinha perdido o medo de multidões, mas ainda estava nervosa por voltar, então coloquei um sorriso no rosto e subi no palco.

— Boa noite, Forks High! — gritei, acostumada a conduzir o público. A resposta foi instantânea, o público gritando de volta.

O auditório da FHS tinha sido o primeiro lugar onde eu tinha me apresentado, mas agora o palco que tanto me apavorou, se mostrou pequeno em comparação aos lugares que eu costumava me apresentar agora.

Eu passei os olhos pelo público no auditório sem procurar ninguém exatamente e tive dificuldade para reconhecer algumas pessoas, os adolescentes que estavam ali eram apenas crianças quando fui embora. Porém os adultos continuavam os mesmos e foi fácil reconhecer cada um sem precisar me esforçar muito, tanto os professores, quanto outras pessoas da cidade que também estavam ali.

— Faz muito tempo desde a primeira vez que subi nesse palco e com certeza não tinha tanta gente interessada em mim — brinquei com eles.  — Eu era só uma garota qualquer com um violão e uma música que eu tinha escrito no banheiro da casa dos meus tios. Éramos só nós dois, eu e meu violão e eu me diverti, mas dessa vez eu troquei o violão por uma guitarra e trouxe alguns amigos, então por favor tratem eles bem — brinquei novamente. — Espero que a gente também se divirta essa noite.

A luz do auditório baixou, assim como tínhamos ensaiado, fazendo com que a maioria das pessoas desaparecesse da minha visão. Nós começamos com o nosso primeiro hit, Mad Hour, que tinha sido uma das primeiras músicas que eu e Edward tínhamos escrito juntos, uma música que falava sobre a madrugada, pensamentos inquietantes e decisões impulsivas.

Enquanto cantávamos e eu ouvia as pessoas cantando comigo, de olhos fechados ou olhando para a parte escura da plateia, eu quase conseguia esquecer que estávamos na minha antiga escola e não em um bar sujo como no começo da nossa carreira.

Na quarta música, eu não consegui evitar e o procurei na multidão.

Ele estava na terceira fileira, exatamente como eu me lembrava, o cabelo loiro despojado um pouco abaixo da orelha, camisa xadrez, com aquele ar jovial que fazia ele parecer mais um amigo do que um professor. Ele não cantava junto, mas tinha a sombra de um sorriso enquanto se mexia na cadeira no ritmo da música.

— Quando a diretora Webber mandou um e-mail perguntando se podíamos cantar aqui na escola, eu não pude dizer não — falei depois de beber um gole de água. — Depois da última turnê, de rodar o mundo fazendo o que gosto, voltar pra casa era necessário.

Casa. A palavra saiu com um gosto amargo da minha boca. Forks nunca tinha sido minha casa.

— Então como esse é um show especial, resolvemos sair um pouco da rotina e cantar uma música diferente. Vocês aceitam? — perguntei e fui respondida positivamente — A música é de uma amiga minha e pode surpreender vocês, mas é uma canção que eu tenho uma história, então nós fizemos algumas pequenas alterações no arranjo. Quem souber, cante com a gente.

Eu dei mais uma olhada para ele e sorri, querendo que ele prestasse atenção na letra, mas não fixei muito o olhar.

Edward começou a música, as notas sintéticas tão características da música. Alice veio em seguida com notas dramáticas no baixo, no original eram notas de guitarra, mas aquilo era uma das coisas que tínhamos mudado. Emmett entrou junto comigo.

If you would've blinked, then I would've. Looked away at the first glance. If you tasted poison, you could've. Spit me out at the first chance.

Eu comecei olhando para frente, para a multidão escondida na escuridão, sem fixar o olhar em ninguém. Minha mente me levou rapidamente para anos antes, para a Isabella adolescente que tinha subido naquele palco em um show de talentos, com um violão a tiracolo e uma música de amor, querendo que ele prestasse atenção em mim.

And if I was some paint, did it splatter. On a promising grown man? And if I was a child, did it matter. If you got to wash your hands?

Não consegui evitar olhar para ele novamente, mas na realidade não queria evitar. Precisava ver se o sorriso continuava ali, a expressão despreocupada. Depois de tudo que ele tinha feito, como ele podia não sentir nenhuma culpa?

Eu tinha sido mandada para Forks quando meus pais faleceram, em um acidente de carro quando eu tinha quinze anos. Meus tios paternos, Sue e Harry me aceitaram em sua casa, mas com 5 filhos e empregos que exigiam demais, uma adolescente orfã, que nunca tinha sido realmente próxima deles, era muito pra lidar.

Eu tinha comida, roupas e um quarto – que eu dividia com Leah e Rachel — mas eu me sentia sozinha o tempo inteiro, como se fosse um fardo.

Menos com ele.

James dava aula de literatura e era o membro mais jovem do corpo docente, era o professor favorito dos adolescentes, membro assíduo da única igreja de Forks, não tinha quem não gostasse dele.

Quando cheguei na escola, de luto pela morte dos meus pais, assustada pela mudança repentina, com meu cabelo preto em um corte desastroso, jeans escuros e lápis de olho, foi difícil fazer amizades. Eu era uma nerd no coração, acreditava em Deus, ia para a igreja aos domingos, tirava notas boas, assistia filmes românticos, gostava de tudo que outros adolescentes gostavam, mas o jeito alternativo que eu gostava de me vestir, fazia com que as pessoas não se aproximassem facilmente. Sempre precisei me esforçar para que as pessoas me enxergassem além das minhas roupas, mas quando cheguei em Forks estava triste demais para me esforçar. Mas ele se aproximou mesmo assim.

Ele começou elogiando a minha opinião sobre os livros que éramos obrigados a ler, então minhas redações e outros textos. Ele dizia o quanto eu era inteligente, como eu captava as coisas de uma maneira diferente. Dizia que eu tinha alma de artista.

Em um ato de coragem, mostrei para ele um poema que escrevi e estava pensando em musicalizar, sobre a morte dos meus pais e o luto. Ele achou o texto genial, disse que eu era especial e se ofereceu para me mentorear depois das aulas.

Tudo começou devagar.

Primeiro uma mão no meu ombro por tempo demais, depois um carinho pelo meu braço em um dia que eu me sentia particularmente triste, outro dia ele disse que eu era bonita e que os outros eram tolos por não me enxergarem como ele. O primeiro contato foi estranho, aquele toque demorado quando estávamos sozinhos, mas eu fui me acostumando, torcendo por cada contato e migalha de atenção.

Alguém gostava de mim, alguém prestava atenção.

Lembrava com clareza da voz dele, mansa, sussurrando no meu ouvido que eu era grande demais para aquele lugar. Que eu não devia ficar chateada por não ter/ amigos, porque eu era artista, como ele, e os artistas nunca eram compreendidos. Às vezes eu não entendia isso, porque ele era uma pessoa querida por todos, então imaginava que ele era como eu quando mais novo e talvez quando eu fosse adulta, as pessoas gostariam de mim, como gostavam dele.

Dos pequenos toques e palavras, ele passou para contatos mais íntimos. Lembrava de suas mãos demoradamente em meus ombros, para carinhos pelos meus braços, incentivos sussurrados ao pé do ouvido, até que ele me beijou pela primeira vez. Eu era madura demais para minha idade, eu o entendia como ninguém. Mas ninguém poderia saber daquilo, porque os outros não nos entenderiam.

Lembrava das reuniões depois da aula, de projetos inexistentes como desculpa pra eu ficar ali sozinha com ele, dos cafés escondidos, das voltas perto da floresta, das idas até a cidade vizinha, de todos os momentos em seu carro. Das mãos dele por baixo das minhas roupas, explorando aonde mais ninguém tinha ido.

Aos domingos, eu ia para a igreja com os meus tios e enquanto os observava de mãos dadas ouvindo a pregação, eu questionava por que eu não podia segurar a mão dele no culto também, se quando estávamos sozinhos, ele me segurava como alguém apaixonado.

Oh, all I used to do was pray. Would've, could've, should've. If you'd never looked my way.

O pré coro saia sem muito esforço, as lembranças daquela época e de todos os meus questionamentos pareciam estar todas ali naquela canção que não tinha sido escrita por mim, mas que naquele momento parecia que tinha sido, com as minhas emoções entrelaçadas em cada nota.

I would've stayed on my knees. And I damn sure never would've danced with the devil. At sixteen. And the God's honest truth is that the pain was heaven — o refrão era alto na versão original, a voz suave de Swift dava um ar quase animado, mas com o nosso arranjo e a minha voz rouca, a música ficava mais dramática. — And now that I'm grown. I'm scared of ghosts. Memories feel like weapons. And now that I know. I wish you'd left me wondering.

As pessoas cantavam junto com a gente, a música era realmente popular, mesmo naquela versão ainda mais puxada para o rock do que a original. Mas mesmo a voz das pessoas fazendo coro com a minha, eu não conseguia afastar as minhas memórias.

Em um domingo, James apareceu com Victória na igreja, uma mulher ruiva, que tinha a idade próxima aos 32 que ele tinha. Não foi difícil descobrir que eles eram noivos, mas estavam em um relacionamento a distância enquanto Victória terminava a faculdade de medicina.

Descobrir foi como abrir um buraco em uma ferida que não tinha começado a cicatrizar.

Eu ainda era a adolescente que tinha acabado de perder ambos os pais. A garota estranha que morava com os tios amorosos, mas que estavam ocupados demais para prestar atenção. A menina que era nerd e esquisita demais para fazer amigos.

Tentei conversar com ele, entender por que ele nunca tinha falado para mim que era noivo e porque ele tinha começado com tudo.

Primeiro ele culpou a solidão que sentia com a noiva distante, mas mesmo a parte inocente que ainda existia em mim, não acreditava naquilo. Com a minha insistência, ele transferiu a culpa para mim, ele apenas tentou me ajudar, porque eu estava sozinha, mas eu o seduzi, eu o tentei, a culpa era minha. E ele precisava dar um basta nisso, então ele me afastou. E eu realmente acreditei que a culpa era minha.

O último ano foi um inferno.

Eu ficava ansiosa o tempo inteiro, querendo que ele voltasse a me olhar como antes, que me elogiasse, que me procurasse, mesmo que continuasse escondido. Mas ele fugia de todas as maneiras e as migalhas de atenção que ele me dava antes, foram varridas para debaixo do tapete. Eu sempre estive sozinha, mas sem ele parecia pior.

God rest my soul. I miss who I used to be. The tomb won't close. Stained glass windows in my mind. I regret you all the time.

Com o fim dos falsos projetos de mentoria, minha mente ociosa ganhou tempo para viajar entre o luto e o fim de um relacionamento que nunca tinha acontecido de verdade. Passava meu tempo na floresta no final de Forks, com meu violão, um caderno e algum livro, pensando em tudo que tinha ido embora.

Eu sentia falta dos meus pais, da minha vida antiga, dos amigos que eu tinha na outra cidade, sentia falta dele.

Em uma tentativa desesperada, me inscrevi no show de talentos da escola, que acontecia logo após o fim do ano letivo. Com uma música de amor que eu mesma tinha escrito, coragem e meu violão a tiracolo, eu tentei chamar a atenção dele mais uma vez.

Ele passou o tempo inteiro conversando com a professora de biologia ao lado dele e nas poucas vezes em que olhou para mim, tinha uma expressão que eu nunca tinha visto antes, entre a diversão e o deboche. Foi a mesma expressão que ele manteve, quando minutos depois eu o escutei comentando com outra professora sobre como a minha música era deprimente e patética.

Eu lembrava exatamente do tom de voz dele enquanto dizia “Nós devíamos dar o primeiro lugar para ela, fazer a garotinha depressiva um pouco feliz”.

Mas aquela não era a mesma expressão que ele tinha agora. Um sorriso distante, congelado e sobrancelhas franzidas de preocupação.

If clarity's in death, then why won't this die? Years of tearing down our banners, you and I. Living for the thrill of hitting you where it hurts. Give me back my girlhood, it was mine first.

Eu não fiquei na escola para pegar minha medalha de segundo lugar, não fui ao baile. Também não fui para a escola pegar meu diploma, só o pensamento de voltar para aquele lugar novamente me sufocava. Não fazia ideia se alguém chegou a sentir a minha falta, mas se sentiram, nunca fiquei sabendo.

Dias depois embalei minhas coisas e disse aos meus tios que ia voltar para a casa dos meus pais, já que ela era minha por direito, depois de agradecer pela estadia.  Eles nunca notaram como eu estava, acho que estavam aliviados acreditando que eu estava bem o suficiente, quando peguei a estrada na minha velha picape.

Quando cheguei em Seattle, ao invés de ir para a casa dos meus pais, aluguei um quarto em uma pousada e tomei uma quantidade absurda de antidepressivos.

Alice foi a pessoa que me encontrou, a dona da pousada tinha mandado ela me oferecer uma sopa e ela invadiu o quarto quando não respondi seu chamado. Ela não era uma pessoa que invadia o espaço pessoal alheio, mas naquele dia sua intuição gritou e ela foi rápida o suficiente para me salvar.

Ela me levou ao hospital e ficou ao meu lado enquanto eu me recuperava. Então quando tive alta, ela me levou para a casa dela dizendo que precisava de companhia, mesmo que eu tivesse a casa dos meus pais para voltar. Alice me acompanhou na terapia e me introduziu em sua vida, como se me quisesse ali de verdade.

Através dela, eu conheci Edward e Emmett, que eram seus amigos de longa data e me trataram tão bem como ela. Cada um deles tinha uma história, pais complicados, corações partidos, rejeição na adolescência e pela primeira vez eu me senti aceita sem precisar me esforçar.

Quando percebi, estava tão envolvida com eles que acabei ganhando o lugar de vocalista da banda deles.

And now that I'm grown. I'm scared of ghosts. Memories feel like weapons. And now that I know.I wish you'd left me wondering.

Quando fiquei boa o suficiente, consegui um emprego de babá para não ser um fardo completo. Então nós começamos a tocar em bares e casamentos aos finais de semana.

Foi em um bar que conhecemos Rose, que tinha alguns contatos e acabou nos levando para uma gravadora. Surpreendendo a todos nós, fomos caindo na graça do público, até chegarmos ao nível internacional.

Tínhamos finalizado nossa primeira turnê mundial, fazia 2 semanas.

I can't let this go. I fight with you in my sleep. The wound won't close. I keep on waiting for a sign. I regret you all the time.

Finalizei a canção olhando diretamente para ele, sem me importar realmente se alguém notaria ou se entenderiam o que meu olhar significava. Eu não tinha falado para ninguém na época, primeiro porque estava tão presa em sua narrativa, que não conseguia desobedecer, depois porque sabia que ninguém acreditaria em mim, mas se me perguntassem agora eu não esconderia o que ele tinha feito. Tinha sido um processo muito longo com a minha terapeuta e eu não chorava mais ao pensar no assunto, ou naquela época. Mas as marcas estavam ali.

Eu não era mais aquela adolescente que tinha ido para Forks. Sozinha, triste, desesperada por um pouco de atenção. Eu tinha encontrado amigos, que de alguma forma também se tornaram minha família. Eu tinha recuperado minha fé. Eu tinha uma carreira de sucesso em uma banda que eu amava.

E mesmo que olhando no espelho parecesse a mesma pessoa, eu não era.

Eu me arrependia de ter cruzado com ele. Me arrependia de nunca ter contado pra ninguém. Me arrependia de implorar e me arrependia pela culpa que senti, quando eu tinha sido a vítima.

Eu não sabia o que eu seria se nunca tivesse cruzado o caminho dele, se ele nunca tivesse me dado atenção, se ele nunca tivesse tirado a minha inocência.

E eu amava quem eu era, disso eu não me arrependia, mas não havia um pingo de gratidão a ele por isso.

Peguei minha garrafa de água novamente e tomei um gole, olhei para ele mais uma vez, sorrindo em sua direção antes de dizer.

— A música que acabamos de cantar fala sobre um relacionamento abusivo e existem várias maneiras de interpretá-la, acredito que fazemos isso de acordo com nossas vivencias. Eu mesma tenho uma interpretação, que talvez não seja a mesma de vocês, mas independente disso, eu quero falar com você que passou por um relacionamento abusivo — falei, afastando meu olhar de James. — A culpa não é sua, a culpa nunca foi sua. É muito difícil notar quando estamos vivendo, mas quando você conseguir sair dessa situação, não leve a culpa com você. Procure ajuda, converse com outras pessoas, faça terapia. Você é incrível e você não está sozinho.

Quando terminei de falar, Emmett contou até três com as baquetas e Alice e Edward iniciaram Lonely, que apesar do nome, era uma música animada que eu tinha escrito sobre como eu não me sentia mais sozinha.

A transição da música de Taylor Swift para a minha, parecia a coisa certa. Apesar de tudo que eu vivi, das marcas que ele tinha deixado, eu tinha encontrado companhia e motivos para viver. Vê-lo depois de tantos anos, não doía mais. Aquele era o encerramento que eu precisava.


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Notas finais do capítulo

* a música que a Bella canta no capítulo, é would've could've should've da artista Taylor Swift. Todos os direitos reservados a loirinha.

E aí, o que acharam? Me contem nos comentários.

p.s: se você passou pela mesma situação que a Bella, ou parecida, faço das palavras dela as minhas, a culpa não é sua.



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