As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas escrita por Aldemir94


Capítulo 29
O Imperador e a Feiticeira




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807901/chapter/29

Naquela manhã, passados dois dias após o encontro de Aethel com Mael, rei de todos os dragões, a batalha nos Campos Alexandrinos se intensificou.

Devido ao ferimento de flecha, Felipe ficou febril e, para piorar, Juba III finalmente recebeu um novo reforço militar; dessa vez, vindo de seu aliado: a república de URSI havia enviado quatro unidades compostas por dois mil soldados cada, totalizando oito mil militares de uniformes verdes e armados com baionetas.

URSI desejava enviar mais tropas, porém, como enfrentava uma guerra civil (mais uma das inúmeras enfrentadas, desde sua independência, vinte anos atrás), precisou priorizar a ordem interna de sua nação.

É verdade que Ghalary sofreu com instabilidade desde a queda de Antônio, porém, a devastação da malfadada república não tinha paralelos na história daquele mundo: em vinte anos, o país havia sofrido com guerras civis intermináveis, corrupção imparável e, para coroar o “sucesso” da nova república, nada menos que dezessete golpes de Estado! Por essa razão, seus detratores se referiam a ela como “a república dos golpes”.

A única razão para a referida nação não ter desaparecido foi o apoio do maior dos aproveitadores: Juba III, que desejava transformar URSI em um protetorado franco-armaniano.

De qualquer forma, os soldados enviados pela república estavam prontos para destruir a “demoníaca” monarquia ghalaryano, junta de seu maligno imperador (URSI gostava de exagerar em suas propagandas anti-Ghalary).

Felizmente, o exército imperial de Aethel ainda contava com a ajuda de Jake Long e Danny Phantom, cujos poderes conseguiam, de forma quase milagrosa, equilibrar os combates diários; graças aos dois heróis, Atreu (agora o substituto de Felipe) conseguiu compensar um pouco a escassa munição que, às 14:27h daquele dia fatídico, chegou ao fim.

Os únicos disparos que se ouviu desde então no campo de batalha, foram aqueles vindos das baionetas dos soldados revolucionários de URSI.

A chuva de flechas continuava caindo, com poucos intervalos, enquanto os legionários ghalaryanos resistiam em formação tartaruga, com seus escudos erguidos para defender os ataques franco-armanianos.

Os combates ficavam cada vez mais agressivos, com a disciplina ghalaryana fazendo frente a superioridade numérica do exército de Juba.

Para quebrar um pouco o equilíbrio e conquistar a área do rio (dessa forma, privando as tropas de Juba da preciosa água), Atreu ordenou que sua cavalaria avançasse do flanco direito e corressem até o esquerdo, disparando flechas para enfraquecer as unidades montadas franco-armanianas; deu certo, e o rei de Franco-Armânia foi forçado a, mais uma vez, recuar.

As tropas revolucionárias de URSI poderiam ter segurado o ataque de Atreu, mas careciam de boa disciplina; apesar disso, os tiros de baioneta ainda traziam dor para as tropas do senador de Ghalary.

O avanço dos legionários provocou boas baixas no inimigo, graças à formação tartaruga somada ao apoio dos arqueiros, porém, o exército ghalaryano já estava se esgotando dos dias de batalha.

Voando com rapidez e avançando contra os inimigos, Jack continuava a fazer chover fogo sobre as tropas de Juba, enquanto Danny alternava seus raios fantasmas com socos e chutes.

No auge da bagunça, surgiu o Cavaleiro Verde, montado em um cavalo negro com olhos vermelhos: o homem de armadura esmeralda, escudo redondo, lança de ferro e espada longa viera de seu castelo, para cumprir a promessa feita a Aethel.

Junto do cavaleiro haviam centenas de lobos ferozes, com presas brancas, pelagem negra e uma aura verde sinistra, que denunciava a origem mística das criaturas.

Com a mão direita, o guerreiro verde do norte ordenou que seus lobos avançassem contra as tropas de URSI, impiedosamente, enquanto ele próprio avançava em direção a Juba, com sua poderosa lança.

Era engraçado ver o rei dos franco-armanianos no meio daquela guerra: o homem era, em suma, um peso morto! Além de se sentar em sua confortável biga adornada com ouro e dar comandos ao seu exército (algumas vezes contraditórios ou inúteis para o desenrolar das batalhas), o monarca não fazia mais nada.

Entre mordidas e perseguições, os animais rapidamente dispersaram as unidades próximas ao monarca inimigo que, de forma patética, encolheu o corpo e sacou a espada, tentando afastar as feras.

Montado em seu cavalo, o Cavaleiro Verde golpeou dezenas de soldados com sua espada, enquanto aproximava-se de Juba como um mensageiro da morte, prestes a conduzir a alma do rei para a pior região do outro mundo.

Enquanto os revolucionários recarregavam suas baionetas, enormes chamas esverdeadas surgiram ao centro dos Campos Alexandrinos: Nealie, com sua preciosa armadura, finalmente havia chegado para combater o ambicioso rei de Franco-Armânia.

Em desespero, o monarca ordenou:

— Cláudio, acabe com essa mulher estranha! Arqueiros! Lançar flechas incendiadas! Depressa!

O ex-general de Ghalary recusou a ordem; já havia testemunhado o quanto o sobrenatural podia ser incômodo, além do mais, temia que mais surpresas surgissem, o que motivou o homem a dialogar com seu novo rei:

— Meu senhor Juba, devemos recuar. Esses revolucionários não passam de uns inúteis que já estão se dispersando! Além disso, nossos números não estão conseguindo romper as forças de Felipe; recuemos agora e avancemos depois.

O olhar de fúria do rei deixou claro o que ele pensava sobre a sugestão de Cláudio: suas tropas só partiriam dali após a vitória completa sobre o inimigo.

O general ainda tentou convencer o rei da loucura de insistir naquele combate, mas a rainha das bruxas logo atraiu sua atenção: movendo as mãos para o céu, a mulher criou um escudo de fogo verde que reduziu as flechas incendiárias a cinzas, como se não fossem nada.

Com a mão direita, Nealie levantou a lança de Maeve e a atirou em direção às tropas revolucionárias, gerando explosões de luz e fogo: “então é esse o poder da deusa da guerra?”, perguntava-se a rainha.

Após cravar a lança no chão, Nealie sacou a espada e apontou-a em direção aos soldados franco-armanianos; e o que testemunhou deixou até mesmo a mulher apreensiva: espíritos dos bosques e das montanhas, armados com espadins e montando cavalos alados, saíram da espada de Maeve e avançaram contra os inimigos, atacando de forma cruel.

Não havia como impedi-los, pois as criaturas moviam-se velozmente e, sempre que tocadas por lâminas ou disparos de baionetas, mostravam-se intangíveis!

Cláudio recomendou a Juba que se rendesse, mas isso nem passou pela cabeça do rei: continuariam a lutar até o último homem!

Divertindo-se a valer, a feiticeira tocou a terra com o escudo da deusa e, de forma espetacular, a grama cresceu e assumiu a forma de homens e mulheres feitos de vegetação, que logo correram em direção aos militares do rei e os açoitaram com golpes de cipós e galhos finos.

Embora terríveis, seus semblantes eram até simpáticos, com sorrisos alegres, cabelos feitos de folhas, corpos de madeira e vestes de vegetação.

Com fúria, Juba gritou para os seus homens:

— Mil vezes seu peso em ouro para o soldado que matar aquele cavaleiro verde ou a bruxa!

Tentando proteger o rei, sua guarda pessoal avançou em direção a feiticeira, porém, surgindo no céu em meio a nuvens negras, como se trazido por alguma força sobrenatural além da compreensão daqueles soldados assustados, surgiu um grande dragão negro soprando chamas pela grande boca: finalmente Mael havia chegado, trazendo nas costas Aethel, Mabel, Rosa e Dipper.

Com um bater de asas poderoso, o draconídeo derrubou dezenas de guerreiros franco-armanianos, que começaram a largar as armas e fugir.

Juba tentou resistir, mas sua guarda pessoal se amotinou e o prendeu, encerrando a já esfrangalhada unidade do poderoso rei.

Ainda montado em Male, Aethel ergueu a Excalibur e, com a voz de um verdadeiro imperador, disse:

— Soldados de Ghalary, URSI e Franco-Armânia, já chega dessa guerra inútil! O Senhor Deus escolheu a vida; soldados da república e do reino oriental, escolham agora! Vida ou morte?!

Neste momento, Cláudio caminhou até o centro dos campos verdes e largou sua espada:

— A vida… sire. Por isso, em nome das regras da guerra nobre, peço piedade para meus homens… e também para meu senhor, Juba III, de Franco-Armânia.

— Não existe guerra nobre, general – respondeu Aethel, de forma séria – Guerra é uma invenção estúpida dos seres humanos; porém, pela honra de meu povo, prometo que não haverá retaliação contra os derrotados. Com o fim deste conflito, declaro a paz mundial!

As palavras do rapaz fizeram os soldados ghalaryanos guardarem as armas e baterem os pés no chão, enquanto davam gritos de alegria.

Apesar da felicidade geral, Aethel ainda tinha assuntos a tratar com Nealie, de modo que desceu das costas de Mael e caminhou até a bela feiticeira.

Cabelos negros, olhos verdes que reluziam como esmeraldas, lábios vermelhos…

Sim, Nealie era de uma beleza estonteante, o que fez Aethel lamentar estender a Excalibur contra ela:

— Bela feiticeira, você já foi derrotada. Por favor, largue suas armas e se curve diante de seu rei. Não permito que use a armadura de Maeve.

Ainda montada no dragão, Mabel empalideceu; era assim que seu amado esperava derrotar a rainha das bruxas? Sem conseguir entender, a garota questionou o jovem rei:

— Aethel! Mas o que foi isso?! Não fica de zoação com a bruxa! Tá deixando ela zangada!

— “Zoação”, o que é isso? – perguntou o rapaz, inocente.

— Ela quer dizer que você está ridicularizando a bruxa, sacou? – explicou Dipper.

— Entendi – sorriu o jovem rei – E sim, eu saquei a Excalibur, não está vendo?

Dipper colocou a mão direita na testa e riu; não valia a pena falar sobre mais uma gíria que Aethel não conhecia, tanto por ser inadequado no momento, quanto por ser inútil para um ghalaryano tão formal.

Em respeito, o imperador pediu que Nealie desse o primeiro ataque, o que ela fez atirando sua lança contra o garoto.

“É o fim” pensou a mulher, de olhos fechados, à espera de uma explosão com raios e fogo, que não veio: para seu choque, o garoto segurava a lança com a mão direita.

Com fúria, a rainha firmou seu escudo no braço e sacou a espada, enquanto sussurrava sortilégios contra o adversário.

Após cravar a lança no chão, Aethel avançou, como uma águia, em direção a exuberante mulher e golpeou o escudo lendário de Maeve, fazendo a terra estremecer.

A Excalibur brilhava, enquanto bloqueava os cortes vindos da lâmina da deusa guerreira, para extremo desgosto da rainha das bruxas.

Em um movimento rápido, Aethel atacou a mulher com um corte partindo de baixo, que acertou o escudo com tal força, que Nealie o levantou em demasia, expondo sua armadura.

Sem aguardar que a inimiga se recuperasse, o garoto acertou o braço da mulher, causando a ela grande dor.

Antes que a lâmina de Arthur descesse contra o pescoço da feiticeira, essa bloqueou o novo ataque, ajeitando o escudo como pôde; a peça de defesa tornava-se cada vez mais pesada, embora Nealie não entendesse a razão; as armas de Maeve deviam ser muito mais poderosas! O que estava acontecendo?

Enquanto seu coração se enchia de dúvidas, a rainha foi acertada pelo cabo da Excalibur na região do estômago.

Foi um golpe leve bloqueado pela armadura, porém, Nealie o sentiu como se não houvesse proteção alguma. Era como se, ao invés de couro mágico e ferro, a feiticeira estivesse trajando folhas de papel.

Largando o escudo pesado, a mulher convocou uma grande tempestade, cujos raios verdes e ventos fortes sacudiram a terra, assim como tudo ao redor, porém, Aethel não se intimidou.

O semblante do rapaz encheu-se de compaixão, e ele teve pena da linda mulher:

— Por favor, já basta. Você não é a rainha das bruxas, não nasceu para isso.

— Silêncio, moleque tolo! – vociferou a feiticeira, enquanto usava a espada de Maeve para canalizar os raios verdes e lançá-los contra o menino.

Com a espada de Arthur, Aethel segurou o ataque, para grande surpresa de todos, inclusive Mael, rei de todos os dragões:

— Criança Ryu, mas o quê… – sussurrou o draconídeo – Então… é isso? Sinto pena de Nealie. – Encerrou a fera, cuja mente aguçada já havia entendido o que estava acontecendo.

A mulher estendeu a mão direita, ordenando que a lança retornasse, no entanto, a arma permaneceu cravada no chão, como Aethel a havia deixado.

Estendendo a lâmina de Maeve, a poderosa rainha das bruxas enviou os espíritos das florestas, esperando que esses trucidassem o imperador de Ghalary:

— Morra, jovem príncipe – disse a mulher, sentindo certa apreensão.

Inexplicavelmente, Aethel cravou a Excalibur no chão e, com as duas mãos em seu cabo, admirou os inimigos que voavam em sua direção, montados em cavalos alados.

Quando se aproximaram do garoto, as criaturas fitaram seus olhos castanhos e baixaram as cabeças, enquanto tentavam proteger-se com as mãos e pernas, como demônios tremendo diante de um anjo.

“Ajoelhem”, pedia o garoto, sendo prontamente obedecido pelos espíritos de Nealie que, estupefata, assistia a tudo:

— Criança… o que você fez?! – Perguntou a mulher, furiosa.

— Não fiz nada – respondeu, humilde – Mas você perdeu, só isso.

A feiticeira ficava cada vez mais instável, sua ira crescia perigosamente e terríveis trovoadas assolavam os Campos Alexandrinos, impressionando o poderoso Mael.

“O que ele está fazendo?” perguntava Mabel, enquanto Dipper e Rosa observavam tudo atentas, a ponto de nem perceberem a aproximação de Jake e Danny.

Curioso, o sino-americano perguntou o que eles haviam feito para Aethel estar tão poderoso:

— Fala sério! O que aconteceu com ele? O cara voltou todo-poderoso!

— Está enganado, humano, a criança Ryu não está mais forte que a feiticeira… Espere, não nos conhecemos, menininho – disse Mael – no entanto… Que estranho, mas sinto cheiro de dragão em você.

Jack não teve tempo de falar, pois Nealie acabava de convocar mais raios e ventanias contra Aethel que, sem mudar sua expressão calma, defendia tudo com a Excalibur.

Cansada daquele jogo, a rainha das bruxas envolveu-se em energia verde e, passados poucos instantes, fez surgir dez cópias suas, que já carregavam chamas crepitantes para lançarem contra Aethel.

Dessa vez, o garoto não poderia bloquear tantos ataques de uma só vez, apenas usando a Excalibur, de forma que fechou os olhos, tentando esboçar uma estratégia rápida.

De repente, como se movido por alguma inspiração superior, Aethel segurou a espada de Arthur com a mão direita e, ainda de olhos fechados, estendeu a esquerda para o céu.

“Quando golpear a terra com a mão curada", alguém sussurrou para o rapaz, “impedirás o ataque da menina de olhos verdes”.

Seguindo a orientação misteriosa, Aethel cerrou o punho esquerdo e golpeou o chão, com força, produzindo com isso uma poderosa onda de choque, cercada por chamas azuis, que atingiram as réplicas da bruxa, desfazendo-as.

Durante séculos a mulher sonhara com o dia em que, depois de muito esforço, vestiria o traje de batalha de Mdb e venceria seus inimigos; definitivamente, as coisas não estavam indo como Nealie esperava.

Mais uma vez a feiticeira avançou contra o garoto, mantendo firme a espada da deusa guerreira, entretanto, segurou seu ataque no último segundo, como se temesse mais uma decepção.

Enquanto pensava em opções, a exuberante mulher olhou ao redor e cerrou os olhos: próximo ao grande dragão, flutuando como uma nuvem, estava Gael, o todo-poderoso mago sombrio.

“Maldito Gael, veio zombar de mim?”, pensava Nealie, enquanto Aethel permanecia imóvel, buscando ler as expressões de sua adversária.

Tirando a poeira da roupa, o garoto perguntou:

— Qual o problema, feiticeira? Viu outro fantasma, além de Danny?

A inimiga apenas ignorou, pois considerava o mago sombrio mais terrível que o jovem rei.

Com um sorriso, Gael se aproximou, caminhando do céu até o chão gramado, cantando uma antiga canção folclórica e segurando um pequeno livro: o diário de Nealie.

Provavelmente o mago tirou o caderno dos amigos de Aethel, quando esses estavam distraídos, mas porque ele se preocupava com anotações tão sem importância?

Sorrindo, como se houvesse obtido mais uma grande vitória, o homem se divertiu um pouco às custas da feiticeira:

— Séculos em busca dessas armas… E você ainda fracassa, Nealie. Já entendeu o porquê? O garoto sabe, ele leu seu diário.

— Maldito Gael! – berrou a bruxa – Roubou meu diário e depois entregou para esses fedelhos, não foi?! Continue zombando de mim e vou…

— O quê? – perguntou o mago, em tom sério – O quê vai fazer? Nunca mais me faça ameaças, feiticeira: não se levanta a voz contra alguém maior que você.

Aquilo foi o cúmulo para a auto-proclamada rainha das bruxas, que levantou a espada de Maeve e tentou golpear o poderoso mago.

Porém, Gael a rechaçou facilmente com um simples raio de energia branca, fazendo-a se ajoelhar devido à dor.

Não importava o quanto a armadura de Maeve parecesse poderosa; na prática, Nealie sentia como se não usasse nada mais que um vestido fino de seda.

Segurando o riso, o mago perguntou:

— Já entendeu a razão de sua queda, feiticeira? Você se descuidou, velha amiga. A armadura de Maeve só protegerá o dono legítimo, não uma usurpadora insignificante como você.

Não aceitando tamanha petulância, a mulher se levantou e, mais uma vez, segurou a espada de Maeve.

Em um movimento rápido, a bruxa tentou acertar Aethel na cabeça, porém, o garoto disse “pare!” e a lâmina obedeceu, como se bloqueada por uma parede invisível.

Nealie ficou muda. 

Aquilo não podia estar acontecendo, de forma que ela questionou:

— Não, não, não! O que você fez com as armas da senhora Mdb?! O que você fez?!

— Não fiz nada, Nealie – respondeu o rapaz, com pena – Você apenas se esqueceu de um detalhe sobre a lenda das armas de Maeve… e do pomo de ouro das hespérides.

— A maçã de ouro? O que tem ela? – perguntou a feiticeira.

Guardando a Excalibur na bainha, Aethel pegou o diário de Nealie e o abriu em certa página, onde ela, ainda criança, fazia suas considerações sobre  o pomo de ouro.

Com paciência, o jovem rei explicou sobre tudo que havia entendido sobre a mulher, enquanto se aventurava pelas páginas antigas do caderno:

— Segundo seu livrinho – começou Aethel –, você acreditava que, tendo a maçã de ouro, teria o mundo inteiro. Pelo que entendi, Gael lhe falou sobre o mito de Maeve e de suas armas invencíveis. Você falou algumas vezes sobre sua mãe doente… Presumo que a ambição por poder deva ter brotado da esperança de salvar sua genitora, além de se libertar da pobreza e também da opressão dos tiranos da Bretanha. Em respeito a você, não vou falar muito dessas coisas, mas… Mesmo se usasse o coracor, não traria sua mãe de volta, Nealie; sinto muito, mas ela morreu.

A mulher segurou a espada com mais firmeza, ignorando a presença de Gael, mas algo a impedia de atacar, como se ela desejasse saber o desfecho de tudo aquilo.

Estudando a fisionomia da bruxa, Aethel prosseguiu:

— Desde que você me ameaçou no palácio e enfeitiçou Mabel, tenho refletido sobre quais eram suas reais intenções; eu te odiava, Nealie com todas as minhas forças. Eu queria te matar por tudo que fez, desde me afrontar a ferir minha amiga… Mas isso não mudaria nada. Eu pensei muito nessas coisas, entende? logo percebi que não sabia nada sobre você, então seu diário foi bastante “exclarecedor”. Pelo que entendi, Gael escondeu a maçã dourada e disse que, um dia, ela ressurgiria para revelar a verdadeira rainha das bruxas; me diga, bela feiticeira, para quem a maçã apareceu? Para você?

— Então… como você a encontrou, ela lhe pertence? Quer dizer que eu não sou a rainha das bruxas, mas você é o rei?! – Nealie ficou possessa e tentou acertar o rapaz na cabeça, porém, a lâmina ainda se recusava a dar o golpe fatal.

— Você acertou, mas só a metade – respondeu Aethel – sou o rei de todos os magos, ainda que não saiba nem tirar um coelho da cartola, pois “rei ou rainha das bruxas” independe de poder: é apenas um título passado adiante, de geração em geração. No entanto, o que você não entendeu é que o pomo dourado só se revelaria quando encontrasse o herdeiro legítimo; você não sabe, mas o pomo já fez sua escolha, a muito tempo…

Cansada daquela conversa, Nealie recuou e convocou mais tempestades com raios que, pouco a pouco, acertavam a armadura e a carregavam com eletricidade.

Antes, porém, que o ataque de energia fosse desferido, Aethel se dirigiu a Mabel, sua querida amiga:

— Mabel, pelos próximos minutos, acaba de ser promovida a rainha das bruxas!

Assim que o imperador terminou de falar, a armadura de Maeve deixou o corpo de Nealie e voou em direção a gêmea, logo ajeitando-se em seu corpo: a partir daquele instante, Mabel seria a provisória “rainha das bruxas”; e Gael não poderia ter rido mais alto do que naquele instante.

Com paciência, Aethel continuou:

— Nealie, o pomo de ouro das hespérides, se revelou para Sophia, a imperatriz… Ela morreu a muito tempo, mas deixou descendência: um menino, que conseguiu sobreviver aquele massacre dos revolu… meu Deus, como puderam? – Nesse momento, o garoto segurou uma lágrima, mas continuou suas palavras – Como a “rainha das bruxas” não está mais viva, o título passou para seu filho: eu.

Enquanto Mabel e os outros olhavam, chocados, para o amigo imperial, a exuberante mulher desabou, como se os sonhos houvessem sido roubados dela.

Ainda haveriam mais assuntos a tratar e problemas a resolver, no entanto, a caminhada de Nealie em busca do poder dos deuses parecia ter chegado ao fim…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Crônicas de Aethel (II): O Livro das Bruxas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.