Mirrorball escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 1
And when I break, it's in a million pieces




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O ruído da porta sendo batida secamente foi ouvido por toda a enorme sala quando ele a fechou de maneira estridente, ressaltando toda a tensão que percorria o casal adentrando o hall de pisos e paredes marmóreos de maneira abrupta e estressada. 

As palavras que disseram um para o outro, no caminho do Ministério até ali, ressoavam como veneno em seus interiores, rodeando a si mesmos como neblina tóxica e ricocheteando na bagagem que carregavam. Hermione imediatamente levou as mãos ao longo e brilhante par de brincos, os dedos trêmulos lutando contra o fecho dourado, até esgotar a paciência e se virar para o espelho mais próximo - comprido e totalmente floreado nas bordas acima do pesado aparador de madeira que ladeava o hall - para terminar o serviço. 

Só então pode notar como suas feições, já marcadas pela maturidade dos trinta e poucos anos, com bochechas mais estreitas e um semblante superior, se encontravam completamente fechadas. Sabia que era assim sempre que brigavam, pois qualquer discussão chegava a níveis estratosféricos, mas essa rotina a estava cansando cada vez mais. Os motivos ficavam mais fúteis e as consequências mais dolorosas. 

Seus olhos rodeados por bolsas escuras por todo o estresse estavam injetados, tanto de raiva como de desapontamento, segurando o cansaço e a quase inexplicável necessidade de chorar de frustração pelo fim daquela terrível noite. A pior parte: ele tinha alguma razão; e ela também. 

— Só estou dizendo, Hermione… - Ele recomeçou e Hermione teve que respirar fundo. - Que você sempre fecha os olhos para o que os seus preciosos colegas insinuam sobre mim… Sobre nós… Com medo de que seu maravilhoso futuro no Ministério seja comprometido. 

Seu desejo era desviar os olhos para o teto de pé direito alto e gritar, pois, talvez, assim Draco parasse. Desviou a atenção para o loiro, pelo reflexo do espelho, observando como terminava de tirar a gravata borboleta sem qualquer cuidado e desabotoava os primeiros botões da camisa social branca, na altura do pescoço, onde sabia que a pele se encontrava quente e manchada de vermelho, toda a irritação concentrada ali. 

O viu se dirigir à bancada repleta de bebidas, taças e copos que ficava próxima à extensa lareira de pedra clara e brilhante sob a luz amarelada do ambiente e se servir de uma dose generosa de hidromel, a qual engoliu de uma só vez enquanto Hermione estreitava os olhos e se virava para o marido. 

— É claro que tenho medo! - Seu tom saiu mais alto do que tinha calculado, depois de tanto se conter enquanto estava em público. - Lá é o único lugar onde minha estabilidade depende apenas de mim, do meu trabalho, das decisões que eu tomo, sozinha! Porque toda semana você faz com que eu me pergunte até quando isso vai durar. 

Os olhos acinzentados se voltaram à ela como lâminas. 

— Isso?! - Ele sorria, da maneira fria e distante que sempre fazia quando queria atingi-la, também subindo o tom. - Estamos casados há sete anos, Hermione. Não são sete dias. Nada justifica como você está sempre colocando panos quentes, como se todos eles fossem mais importantes do que eu, que acordo com você, durmo com você e ouço seus gritos quando você não aceita ouvir a verdade. 

— Oh meu deus! - Hermione bufou levando as mãos a cabeça antes de se apoiar no espaldar alto de uma das poltronas para retirar os próprios sapatos, enquanto falava. - Seu ego está preenchendo toda a sala, Draco. Nem tudo é sobre você ou sobre como se sente, às vezes as pessoas têm que ser práticas, têm que fingir, têm que dissimular… Você me disse isso!

Jogou o último par do sapato no chão, mal se importando com os possíveis arranhões no couro caríssimo ou em quebrar o salto adornado de vermelho, para combinar com o vestido inteiramente brilhante no tom mais escuro do sangue, que se arrastava pelo chão em uma curta cauda enquanto andava pela sala, deixando à mostra metade da coxa esguia. 

Havia se acostumado àquele tipo de ocasião organizada pelo Ministério, àquele tipo de postura e àquele estilo de vida mais fútil. Sim, o que mais importava era o que poderia fazer com seu nome, seu cérebro e seu esforço, mas as convenções sociais eram importantes, como Draco a havia ensinado há muito tempo atrás, quando costumavam combinar ainda mais, se dar muito melhor em todos os sentidos, se esforçar mais um pelo outro. 

Nos últimos tempos, no entanto, todo jantar, comemoração, reunião ou simples conversas onde se esforçavam para aparecerem juntos se transformavam naquele cenário caótico que, olhando em retrospecto, parecia possível de prever, mas impossível de impedir. 

— Bem… Eu sinto muito, Hermione, se não previ que isso a tornaria uma vadia insensível. - Ele foi deliberadamente irônico, daquela forma que Hermione detestava a ponto de sentir a ira subir por seu tronco em velocidade recorde. - Não conte comigo para te acompanhar e fingir que somos um belo casal feliz e realizado, porque sempre que isso acontece você age como se o que eles estão dizendo fosse minha culpa e eu tivesse que me conter. 

— Porque é a verdade!

Hermione gritou, sentindo os cachos escorrerem pelas costas em longas ondas, assim que soltou todos os grampos dali com magia. Draco, por outro lado, havia aberto os punhos da camisa e agora os dobrava, embora essa não fosse a palavra mais adequada para a forma como simplesmente enrolava a manga nos braços. 

— Muito diferente deles e, aparentemente, do que você pensa, eu não sou um selvagem e sei me defender muito bem sem partir para o ridículo. 

Ele continuava a usar da ironia para atacá-la, o único motivo para ter abaixado o tom e cessado os gritos, o que não tornava a situação melhor, porque era sempre assim que se machucavam mais. Respirando fundo ao vê-lo se virar mais uma vez para o bar, preparando outra dose, dessa vez mais generosa, de hidromel, apenas revirou os olhos e começou a subir as largas escadas de mármore, segurando a barra do vestido. 

— Faça como quiser, Draco. 

Anuiu estressada, enquanto o ouvia bufar, claramente observando como queria deixá-lo falando sozinho, pois não aguentava mais rodear o mesmo tópico sem chegar a qualquer solução. Sequer era a primeira vez que discutiam aquilo. Se perguntava se ele também não estava cansado de como vinham se atacando tão constantemente, depois de ter imaginado que isso nunca mais voltaria a acontecer. Diferente de antes, quando mal se toleravam em razão de rixas infantis, agora tudo o que diziam parecia mais inevitavelmente pesado. 

— Eu apenas me pergunto. - O loiro percorreu a sala, como se falasse para uma plateia, embora só houvesse os dois ali. - Porquê você nunca abriu essa boca, que tanto se orgulha de ser afiada, para retrucar as insinuações de Booth ou as piadas daquele inútil do Edgecombe… 

— E o que você queria que eu dissesse?! 

Se voltou à Draco antes que pudesse conter a própria língua, percebendo o que acabara de falar no exato segundo seguinte, ao firmar os dedos no corrimão de ferro gelado da escada, ao sentir ele fincar os pés no chão mais perto para evitar recuar. Sabia que o brilho machucado e até surpreso perpassante nos olhos muito claros não duraria mais do que aqueles três segundos que usou para assimilar sua fala.

No mesmo instante, quis refazer todo o caminho de volta pelos degraus e pedir perdão, mas conseguiu se refrear, pois, pela forma como a mandíbula se apertou, tornando os lábios uma fina linha desgostosa e os olhos se firmaram nos seus mais duros e frios do que se lembrava de vê-los em muito tempo, soube que seria inútil. 

E também soube que não conseguiria encará-lo por muito tempo mais, pois, de repente, se viu envergonhada e aprisionada pela própria atitude. Aquele era seu marido, não um estranho. Hermione jamais diria algo do tipo sequer ao estranho - Draco tinha certeza disso, tanto quanto ela. E, além de tudo, sabia tudo sobre o que ele vivera. 

Por isso doía mais, a fazendo enjoar e recuar em si mesma, notando como seu próprio rosto esquentava, chocada demais até para derrubar as lágrimas que antes segurava com tanto esforço e percebendo como apertava sem contenção o corrimão antes de segurar o vestido para subir praticamente correndo os últimos degraus da escada. 

And when I break, it’s in a million pieces


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Notas finais do capítulo

Olá!

Já faz algum tempo desde a última dramione que postei e confesso que sofri um bloqueio enorme para escrever sobre esse casal novamente porque eu queria explorar todo o potencial deles, como antigamente, mas, aos poucos, essa fic começou a crescer na minha mente com base na música de Taylor Swift, mirrorball.

Eu queria explorar como eles podem ser caóticos juntos, mas, ao mesmo tempo, ainda ter muito sentimento dentro disso, e nos próximos capítulos vamos adentrar um pouco mais nisso, apesar de não ser uma long. Pra quem leu She Used to Love me A Lot, será naquele modelo, mais ou menos.

Se você gostou, deixe seu comentário pra eu saber sua opinião e a gente poder discutir sobre. Como eu sempre digo, o feedback é muito importante.



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