Quase um mês escrita por annaoneannatwo


Capítulo 3
Capítulo 3




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— Ah, o senhor Kawagami da fornecedora ligou, ele falou que as amostras já estão separadas, é só ir buscar. —  Ochako informa quando coloca a xícara de café na mesa.

— Certo, vou deixar o dinheiro para o metrô e o táxi, amanhã à tarde você vai buscar.

— Sim, senhora.

—  Depois disso, você também vai passar no escritório e pegar os documentos que eu preciso assinar. O contador tá me enchendo o saco desde ontem pra mandar essa papelada, que inferno.

— Pode deixar. — Ochako acena cordialmente antes de olhar para o relógio na parede — São 4 e meia, Mitsuki-san.

— Já? Droga, ainda nem terminei esses aqui. — ela suspira e estende a mão sem tirar os olhos da máquina de costura, pegando o comprimido que Ochako lhe entrega e levando-o à boca, logo em seguida aceitando o copo de água que ela segura.

— O próximo é à meia noite e meia.

— Uhum, já programei o alarme. Obrigada, Oc- Uraraka-chan.

— Sem problemas. A senhora tá precisando de mais alguma coisa?

— Por ora, não. Pode fazer um intervalinho.

— Ok, obrigada. —  Ochako sorri mesmo que sua chefe não esteja lhe olhando e se afasta, sentando-se em uma banqueta que fica aos fundos do ateliê, puxando seu celular do bolso da calça e checando as mensagens.

Tem uma da mãe e algumas que o Iida mandou no chat em grupo que tem com ela, a Tsu, o Deku e o Todoroki. Ochako responde à mãe, que está perguntando o que ela almoçou hoje e dá uma risadinha enquanto observa o itinerário que o Iida mandou para o passeio que eles farão no próximo sábado, é tão detalhado que tem até a quantidade estimada de tempo que eles passarão em cada barraquinha! Ela duvida muito que eles seguirão isso à risca, mas fica contente em saber que isso é o amigo mostrando empolgação, ele tava tão tenso com as provas trimestrais, fazer o Iida se divertir é uma de suas missões pessoais.

Eles vão a um festival de verão, é insano pensar como em três anos que convive com seus amigos, eles nunca pensaram em se organizar para ir a um, Ochako chegou a ir com as meninas ano passado e foi super legal, mas ela queria que os meninos tivessem ido também, o Deku comentou que nem sabia que elas tinham combinado, se não com certeza teria ido, ambos já deixaram decidido que iriam no ano seguinte, nenhum deles querendo apontar o tom melancólico que adotaram ao se darem conta de que seria seu último ano escolar, então melhor aproveitarem. Isso já tem um ano, nossa, passa muito rápido!

— Ué, você não foi fazer o intervalo?

— Hum? Tô fazendo.

— Ah… achei que você ia dar uma saidinha.

— Não, não, não precisa. Vou ficar por aqui mesmo.

— Isso é por causa do Katsuki? Pode sair, ele não vai te encher o saco. Se ele encher, me fala que eu dou uma coça nele.

— N-não, não, Mitsuki-san! Eu só… só não tenho porque sair mesmo, bom que fico aqui caso surja algo que a senhora precise.

Não é de todo mentira, uma vez que a senhora Mitsuki realmente disse uns dias atrás que Ochako podia fazer um intervalo, mas então lhe chamou do nada, por sorte a garota estava saindo do banheiro e pôde ir rápido.

Só que também não é de todo verdade, e Ochako está sim meio envergonhada de dar de cara com o Bakugou, especificamente num cenário que ele está sem camisa de novo. É meio ridículo isso, nem tinha porque ela ficar tão constrangida, a garota já viu praticamente todos os meninos da sala sem camisa em treinamentos e até em combates reais, uniformes rasgados devido a lutas não são exatamente uma novidade, é bem provável que ela já tenha visto o Bakugou assim, mesmo que não esteja se lembrando, então não deveria ser nada demais.

Mas vai ver é por isso mesmo, porque é um ambiente completamente diferente, não tem adrenalina de combate ou a necessidade de lutar pela própria vida e pelas de outras pessoas, é só… um garoto de sua idade completamente à vontade na própria casa onde ela por acaso trabalha, é tão bobo que faz parecer algo de outro mundo, e bom… quando não se há mais nada ao redor pra prestar muita atenção, um par de ombros largos e fortes e um peitoral torneado cheio de cicatrizes com certeza roubam todo o foco, é isso que ela vem dizendo a si mesma para se convencer de que toda sua surpresa é justificável.

Agora só falta arranjar uma explicação plausível sobre o porquê flashes do Bakugou sem camisa ficam voltando à sua mente nos momentos mais aleatórios. Enquanto isso não acontece, Ochako acha por bem evitar interagir com o garoto. Não é particularmente difícil, já faz três dias desde aquele momento, e ela só o viu (usando camiseta) por um segundinho na cozinha quando estava chegando para seu expediente, eles trocaram um “oi”, mas logo ele subiu pro quarto. É provável que ele tenha ido fazer outras coisas, Ochako duvida muito que ele seja mesmo do tipo que fica enfurnado no quarto o dia inteiro, mas se foi ou não foi, ela não viu, muito ocupada com seu trabalho. Mesmo sabendo que é bobeira, Ochako ficou um pouco aliviada por não ter que se preocupar com seu rosto se avermelhando todo ao encará-lo quando a imagem dele sem camisa inevitavelmente invadisse sua cabeça mais uma vez, além disso, também foi bom para evitar quaisquer preocupações para o senhor Bakugou, que claramente foi quem mais ficou desconcertado com toda a situação.

A senhora Mitsuki não disse nada, e provavelmente nem diria porque esse não é o tipo de coisa que se comenta, mas Ochako tem certeza de que houve alguma discussão nesse sentido, ela consegue sentir uma diferença de tratamento pros primeiros dois dias do trabalho até aqui, a senhora Mitsuki ainda é muito gentil e a trata de maneira amistosa e bem casual, mas… um pouco menos casual, tanto é que agora pouco quase a chamou pelo primeiro nome, mas se corrigiu rapidamente, e Ochako só pode presumir que isso é por causa da cena que o senhor Bakugou presenciou, seu filho sem camisa conversando com a funcionária de sua esposa deve ter causado um grande desconforto nele como profissional, ou vai ver até como pai mesmo. Ele e a senhora Mitsuki devem ter conversado, e agora ela está se esforçando para manter o ambiente mais sério e apropriado para trabalho. Ochako compreende e está se esforçando para não sair da linha, mesmo que ninguém tenha pedido ou orientado que ela fizesse isso. É melhor assim, ela e o Bakugou não são super amigos, nunca tiveram muita intimidade, e não é porque ela está na casa dele que agora terão, ela é funcionária da mãe dele e só.

Provavelmente compreendendo tudo isso, a senhora Mitsuki não volta a questionar-lhe sobre o porquê de permanecer no ateliê, concentrada nas peças que costura com destreza e eficácia. Ela é tão rápida! É uma coisa que todas as pessoas com quem Ochako teve contato nos últimos dias — os fornecedores de tecidos, o pessoal que cuida da administração da marca de roupas que ela produz, a secretária — apontam, todos têm plena certeza de que a coleção de outono/inverno ficará pronta até o fim do mês porque a senhora Mitsuki é sempre muito rápida, mesmo que esteja indo mais devagar pelo bem da própria saúde, e olha que ela nem tem assistentes de costura trabalhando diretamente no mesmo espaço, eles só conversam por telefone aqui e ali, é bastante impressionante.

— Você gostou desse? Não é muito pra sua idade. — a mulher loira lhe traz de volta ao inclinar a cabeça e observar Ochako que, sem perceber, estava encarando o vestido de lã cinza escuro com uma gola elaborada e mangas que se alargam na altura do pulso.

— Ah, eu… sim, achei lindo! Não usaria, mas… minha mãe iria gostar. —  ela provavelmente não poderia comprar, mas com certeza apreciaria a qualidade da peça.

— Que bom, sua mãe deve ter minha idade, então ela com certeza é o público-alvo. —  ela suspira — Tenho saudades de trabalhar com coleções mais juvenis, quem sabe na de verão do ano que vem.

— A senhora não escolhe quais linhas vai produzir?

—  Escolho, sim. Optei por uma linha pra senhoras justamente porque é menos pressão. As marcas não esperam muita criatividade em roupas de mulheres mais velhas, é como se vestir-se deixasse de ser divertido e servisse só pra cobrir as partes caídas e murchas que vêm com a idade.

— E a senhora quer mostrar que não precisa ser assim.

— Não que não existam roupas muito bonitas para mulheres de meia idade, mas… falta aquele frescor, é… difícil de explicar, eu quero que as pessoas se divirtam quando vão comprar roupas. Sabe como tem muita gente que odeia fazer compras?

— Ah, sei… — Ochako é uma dessas pessoas.

— É? Você não gosta muito, né?

— E-eu? Como a senhora sabe? D-digo, eu… — ela só balança a cabeça negativamente ao perceber que não tem como fugir depois de ter se entregado desse jeito — Não vou dizer que eu não gosto.

— Você vai dizer o quê, então?

— Ah, é que… eu tento ser o mais rápida possível. Sempre que preciso comprar alguma coisa, eu já vou com aquilo em mente, por exemplo, preciso de uma camiseta e uma bermuda, então já vou direto atrás dessas peças na loja, é bem automático pra mim, não fico inventando muito.

— Por que você não gosta ou por que não pode? — Ochako a olha com surpresa, mas ela só sorri — Você tá dando duro em um trabalho de meio expediente, Ochako-chan, eu só posso imaginar que você precisa muito de dinheiro.

— Sim, eu… é, não fico olhando muito porque… minhas opções são poucas por causa do meu orçamento… — ela dá uma olhadinha pra cima, meio envergonhada — E também por causa do tamanho dos meus quadris.

— Bom, isso já está bem melhor do que nos últimos anos, essa calça te serve muito bem.

— Foi presente de uma amiga. — ela sorri — A Ashido Mina, a senhora deve conhecer, ela também é amiga do Bakugou-kun.

— Ah, claro! Aquela garota tem bons olhos pra moda! — ela ri com gosto — Bom, eu queria poder te dizer que é possível você se vestir bem com um orçamento enxuto, mas… sei que nem sempre é verdade. Sinto muito, Ochako-chan.

— Não, tudo bem. Eu já tô acostumada.

— Bom, quando você virar heroína profissional, tudo pode mudar.

— É, talvez. — ela dá um sorriso caloroso, gostando de pensar nesse futuro — Mas antes de comprar pra mim, espero poder comprar um vestido desses pra minha mãe. — Ochako aponta para o vestido cinza, surpreendendo-se quando a senhora Mitsuki faz um barulho esquisito. Ao olhá-la novamente, ela encontra a mulher apertando uma mão contra o peito e apertando os olhos — M-Mitsuki-san, tá tudo bem?

— Que menina boazinha! — ela diz num tom meio embargado — Você é uma graça, Oc- Uraraka-chan! — e se corrige mais uma vez, coisa que ela esqueceu de fazer alguns minutos atrás, não que Ochako vá comentar.

— O-oh, eu agradeço… —  um pouco sem graça, ela olha para o relógio — A senhora precisa de mais alguma coisa?

— Não, por hoje está bom. — ela sorri — Obrigada pelo trabalho hoje.

— Eu que agradeço, eu… — Ochako se interrompe quando a luz da sala começa a tremeluzir, até que se apaga por completo — Ué?

E de repente se ouve um trovão ao longe.

— Ah, a chuva deve ter aumentado.

— Pois é… — Ochako coça a cabeça, lembrando-se da chuvinha fina que caía quando ela estava vindo trabalhar, ainda bem que ela checou a previsão antes de sair dos dormitórios e trouxe um guarda-chuva, vai dar pra voltar pra U.A. tranquilamente…

— Nossa, Uraraka-chan, não tem como você ir agora.

É o que tanto ela quanto a senhora Mitsuki concluem quando chegam à porta da frente, os pingos de chuva tão densos que parecem formar uma cortina fina na paisagem, sem contar a ventania que chega até a chiar.

— B-bom, eu… posso esperar um pouquinho.

— Claro, os trens circulam até mais tarde e, qualquer coisa, podemos te dar uma carona.

— Oh não, imagina! Eu não… bom, deve ter parado até de noite, né?

Elas ficam observando a tempestade fazer as árvores da entrada sacudirem violentamente, e então Ochako vê um vulto se aproximando às pressas, coberto por uma capa de chuva preta que mal o protege. O senhor Bakugou entra em casa praticamente empurrado pela ventania, ensopando o carpete da entrada e mostrando que de fato a capa de chuva não ajudou muito, coitado.

— É um tufão, nem sei como consegui chegar agora, está tudo congestionado!  —  ele diz, esbaforido.

— E você veio a pé? Tá maluco? —  quem pergunta isso é o Bakugou, que surge ao pé da escada.

— Eu já estava saindo quando começou, só faltavam umas duas ruas, então vim a pé pelo resto do caminho.

— Nossa, mas ainda assim, Massaru, que imprudência! Você tá velho pra ficar fazendo essas loucuras! Katsuki, pega uma toalha pra ele! Eu vou preparar um banho bem quente pra você. — ela sai com urgência, e deve ser só por isso que não repreende o Bakugou por jogar uma toalha na direção do pai, que mais uma vez a pega no reflexo e esfrega nos cabelos. 

Quando ele termina, ajusta os óculos e olha pra ela.

— Oh, Uraraka-chan! Ainda bem que você não saiu! Os trens estão todos parados, você ia ficar presa lá na estação se tivesse saído.

— Os trens pararam?

— Pararam. — é o Bakugou que responde.

— Nossa… que… droga. —  ela fica sem o que responder, pensando em como fará pra ir embora se os trens estão parados e aparentemente há um enorme congestionamento que a impediria de chegar na U.A. numa hora razoável.

— Katsuki, dá uma olhada se o quarto de hóspedes está com roupa de cama, se não estiver, pode colocar.

— Hã? Pra quê?

— Para a Uraraka-san.

— E pode emprestar um pijama velho seu pra ela. — a senhora Mitsuki completa ao retornar — Se você não se importar, Uraraka-san.

Bom… ela se importa, sim. Mas a chuva lá fora não é brincadeira, e Ochako não é nem louca de se arriscar em sair assim. Ficar presa no trabalho não é a maneira ideal de terminar o dia, mas não há muito o que fazer.

Os três membros da família Bakugou a observam, os dois mais velhos com um olhar desculposo, e o mais novo com um quê de desconfiança.

— Não me importo, agradeço muito e já peço desculpas pelo incômodo.

— Não é incômodo nenhum. — o senhor Bakugou balança as mãos levemente.

Ela tem certeza que isso não é verdade, mas sabe que é o que a circunstância pede, o senhor Bakugou provavelmente está tão frustrado com isso quanto ela.

Pelo jeito, nenhum deles vai conseguir manter o profissionalismo que gostaria.


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Notas finais do capítulo

Ugh, eu sei que esse capítulo tá chato, mas juro que é curtinho assim porque ia ficar muito longo se eu colocasse tudo o que queria. Pelo lado bom, o próximo vai ser bem legal, juro!

Até breve!



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