Quase um mês escrita por annaoneannatwo


Capítulo 1
Capítulo 1




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— Alguma pergunta? — olhos afiados de um tom escarlate a observam assim que a explicação é terminada.

— Não, senhora. —  Ochako balança a cabeça e aponta para uma das caixas sobre a larga mesa no ateliê — Posso começar com essas?

— Claro, vá em frente. — a mulher dá espaço para que Ochako se aproxime e pegue a caixa — Ah, aquela também, depois que você… — ela se interrompe ao notar que a garota rapidamente pega a outra caixa também, ativando sua individualidade e facilmente carregando o que devem pesar uns 50 quilos em tecidos — Haha, olha só. — ela ri e cruza os braços, como se só agora acreditasse no que Ochako disse quando garantiu que trabalho braçal não seria um problema.

Foi uma dica da Mina, ela não deu detalhes, mas comentou que havia uma vaga muito boa no site de trabalhos de verão para estudantes do ensino médio, e é bem curioso como Ochako chegara a ler sobre a vaga, mas a ignorara completamente, achando que “assistente geral em ateliê de costura” não seria algo para o qual ela estaria apta, mas aí a Mina leu sobre a descrição da vaga e ela percebeu que não era nada do que ela estava pensando. Carregar e repor materiais, lavar e passar peças de roupa, manter o ateliê limpo e organizado e fazer chá lhe pareceram atividades tranquilas, ainda mais para o salário relativamente melhor que muitos dos quais Ochako cogitou. 

“Quem sabe você até não ganha umas roupas de graça, menina?” a Mina supôs animadamente, mas Ochako apenas riu e não deu muita bola, ao que a amiga rosada acrescentou “Ué, se ela for que nem o filho, até pode rolar. Ele ama fazer uma cena, mas tá sempre deixando a gente filar o almoço dele no domingo.”

Ochako não entendeu bem de quem a Mina estava falando, mas nem quis grandes explicações, rapidamente puxando o laptop e se inscrevendo na vaga. Foi só três dias depois, quando ela recebeu retorno e um pedido para ir até o ateliê que a conversa com a Mina fez sentido. Ochako já esteve por essas bandas da cidade, só algumas ruas para trás, no apartamento do Deku, o ateliê fica em uma casa de arquitetura moderna e paredes acinzentadas, com um muro alto e árvores que dão à fachada um ar elegante e amistoso, a estilista procurando uma assistente geral se chama Bakugou Mitsuki e, mesmo que ela sequer tivesse imaginado que o sobrenome era só coincidência, seria impossível de sustentar essa ideia ao conhecer a mulher pessoalmente: cabelos cor de areia, olhos de um vermelho intenso e uma pele levemente bronzeada (e muito bem cuidada, por sinal), era a mãe do Bakugou.

Assim que bateu o olho nela, a senhora Bakugou estreitou o olhar e inclinou a cabeça um pouco.

— Ué, eu acho que te conheço de algum lugar…?

— É bem possível, eu est-

— Oh, é a colega do Katsuki! —  uma voz masculina se anunciou quando alguém passou pelo corredor ao lado do ateliê — Está esperando por ele? Ele só deve vir quando as férias começarem de vez.

A senhora Bakugou olhou para o homem de óculos e cabelos castanhos, depois para ela, e sorriu.

— Você é colega dele.

— Sou, sim. — ela sorriu educadamente.

— Foi ele que te falou da vaga?

— Não, eu encontrei no site de vagas mesmo.

— Entendi. Pensei que ele até falaria do trabalho para alguém da sala dele só pra vaga ser ocupada logo e eu parar de insistir pra ele me ajudar aqui por um tempo, aquela peste! —  ela rosnou.

— M-mas… mas que coincidência curiosa, não? — o homem de óculos deu um sorriso desajeitado — Uma colega do nosso filho vindo trabalhar aqui, vocês são amigos? — só então Ochako se deu conta de que era o pai do Bakugou, não notando as pequenas semelhanças na fisionomia e porte até então.

— Ah, bom-

— Lógico que não, Masaru! Olha a cara de boazinha dela, você acha que ela ia ter saco pra tolerar um moleque petulante daqueles? — ela resmungou, mas voltou-se para ela com um sorriso — Uraraka-chan, não precisa dizer coisas gentis só por causa da vaga, está bem?

— Oh, não, eu jamais tentaria convencê-la a me contratar dizendo que sou amiga do seu filho. — ela se explicou rapidamente a fim de evitar qualquer mal estar ou suposição — Eu… não converso muito com o Bakugou-kun, para ser honesta, mas o respeito muito, acho ele incrível como colega e como herói.

—  Que gentil, obrigado por dizer isso. — o pai do Bakugou deu um sorriso caloroso e se retirou.

— Ai ai… vai ser muito difícil eu não escolher você depois dessa, Uraraka-chan. —  ela suspirou.

— O-oh, eu.. eu realmente espero que não seja por causa do Bakugou-kun, eu juro que não ouvi dessa vaga por ele e que não temos nenhuma proximidade, Bakugou-san, eu…

— Não se preocupe, eu entendi. — ela ergueu uma mão, tranquilizando-a — Mas o Masaru gostou de você, e bom… ele tem um julgamento bem melhor do que o meu na maioria das vezes. — e sorriu — Bom, você está no curso de heróis, então deve ser bem forte, né? Essa vaga envolve um pouco de trabalho braçal, carregar alguns rolos de tecido e caixas pesadas, você dá conta?

— Claro, me esforçarei ao máximo. —  ela se curvou respeitosamente.

— Ok, então. As férias de vocês começam nesse sábado, certo?

— Sim, senhora.

— Ótimo, pode começar na segunda.

— Sério? — Ochako levantou a cabeça em surpresa e não pôde conter um enorme sorriso — Muito obrigada, Bakugou-san! Muito obrigada mesmo! Eu juro que darei meu melhor, eu… — e então ela se lembrou de que isso era basicamente uma entrevista de emprego e recompôs o tom profissional, curvando-se novamente — Agradeço a oportunidade.

— Claro. Até segunda, Uraraka-chan. —  ela deu um sorriso afável e a dispensou.

E foi assim que Ochako começou mais um julho, as terceiras férias de verão desde que se mudou para Musutafu para estudar na U.A. Seu emprego de meio período no primeiro ano foi como caixa em um armazém, e no segundo ano foi passear com cachorros, nenhum deles pagava lá muito bem, mas rendeu o suficiente para ela se virar com algumas despesas por conta própria sem ter que incomodar seus pais. Esse ano, com o salário um pouquinho melhor para um emprego bem mais tranquilo e com a possibilidade de um estágio remunerado para alunos do terceiro ano quando as aulas voltarem, ela acredita que será a primeira vez que conseguirá mandar dinheiro para os pais. Não muito, mas já é um começo.

Ela não poderia estar mais animada.

 

***

 

Katsuki não poderia estar mais puto.

Por mais que curta o verão, ele não é lá muito fã das férias nesse período. Por serem mais longas, é mais tempo coçando o saco em casa sem nada de útil ou produtivo pra fazer. Lógico, ele sai pra correr e treinar de todo jeito, mas não é a mesma coisa, ainda sobra muita hora sem as aulas e os combates supervisionados, então em geral é tudo parado pra porra num puta de um calor, é um inferno!

Fora que suas opções diminuem muito, porque ou ele fica enfurnado no dormitório fazendo vários nada, ou tem que aguentar o Kirishima e os outros paspalhos enchendo o saco pra “dar um rolê”, ou então… ele vai pra casa e atura a velha berrando e o obrigando a ajudar com as coisas do trabalho dela, um porre! Normalmente, ele optaria pela primeira alternativa, ficando nos dormitórios, mas isso é mais pros recessos mais curtos, que passam mais rápido. As férias de verão são de praticamente um mês! Porra, UM MÊS enfiado no quarto, e ficando lá é mais difícil de escapar da encheção de saco dos outros idiotas, pelo menos na casa da mãe os bestas acham que ele tá ocupado e o deixam um pouco mais sossegado. 

Então é, pra casa dos velhos ele vai. A velha não vai obrigá-lo a ajudar todo dia, dá pra ter uns dias de paz e se preparar pro último semestre na U.A.

É o que Katsuki diz a si mesmo pra convencer de que não vai ser tão merda assim, mas ele sabe que é mentira no momento em que passa pelo portão e avança pelo jardim da frente. O loiro abre a porta e já escuta a voz da velha berrando alguma coisa, puta que pariu! Ela o ouviu entrando? Mas ele nem fez barulho, porra!

Katsuki decide ignorá-la, pelo menos até guardar as coisas no quarto, ela vai continuar berrando igual a uma gralha de toda forma mesmo e…

— Oi, Bakugou-kun! — a Uraraka passa correndo pelo corredor e acena rapidamente enquanto carrega duas pilhas de roupa que têm quase a altura dela.

— Cara de Lua. — ele dá de ombros enquanto sobe os degraus que dão para o segundo andar e seu quarto, 

Então, Katsuki pausa e fica parado no meio da escada. Franzindo o cenho, ele olha pra baixo. 

O que que foi isso?

Era a Uraraka?

Ele desce as escadas e vai em direção ao corredor.

— Obrigada, Uraraka-chan! — Katsuki escuta a velha gritar do ateliê no fundo.

— Sem problemas, Bakugou-san! Já vou te trazer seu café!

— Claro, agradeço!

Katsuki confirma o que não é uma alucinação esquisita de sua mente estressada: a Uraraka tá aqui mesmo, zanzando pela cozinha e fuçando com a cafeteira. Como se sentindo o olhar confuso dele nela, a Cara de Lua se vira e sorri.

— Oi de novo, Bakugou-kun!

— O que você tá fazendo, Cara de Lua?

— Café pra sua mãe. Essa cafeteira aqui é igual a do dormitório mesmo? Só apertar aqui?

— É, mas tem que segurar o botão por t- — ele sacode a cabeça — Não, porra, quero saber o que você tá fazendo na minha casa!

— Ah sim… achei que você já tava sabendo, sua mãe tava precisando de uma assistente geral e me contratou.

— Por que caralhos eu ia saber disso?

— Ué, sei lá, achei que sua mãe já tinha te falado. Ou então a Mina-chan, talvez. Enfim… você vai me ver aqui de vez em quando.

— De vez em quando?

— É, tipo todo dia… menos no domingo. Ah, e em um sábado na semana que vem que eu vou sair com o Deku-kun e os-

— Tá, tá, Cara de Lua, não perguntei da sua agenda. — ele resmunga — Tsk, mas por que raios ela inventou de contratar alguém dessa vez?

— Hum?

— Nada que te interesse. — ele aponta pra cafeteira — Meia colher de açúcar e meia de canela.

— Ah, como ela gosta do café? Uhum, ela já tinha me falado, mas obrigada por me avisar. — ela acena com a cabeça.

— Tá. Pode me levar uma xícara no meu quarto quando tiver pronto. — ele dá as costas e anda de volta ao corredor.

— Hã… ok, não me importo em te fazer esse favor dessa vez.

— Como é que é? — ele se vira e já a encontra de costas, mexendo na cafeteira. Garota abusada do caralho!

— Isso que você ouviu. — quem responde é a velha, surgindo na cozinha — Ela vai te levar o café por gentileza, e é só dessa vez.

— Tsk, oi pra você também, velha chata.

— Oi, Katsuki. Pode ir pro seu quarto descansar pela tarde, a Uraraka-chan vai te levar o café, mas só se ela quiser, porque esse não é o trabalho dela.

— Que diferença faz servir café pra você ou pra mim? — ele diz entredentes.

— Porque ela trabalha pra mim, não pra você. E enquanto ela estiver nessa casa, você vai tratá-la como uma funcionária minha, não como sua amiguinha da escola.

— Que mané “amiguinha da escola”, tá doida? Ela não- — ele se interrompe, notando como a Cara de Lua olha por cima do ombro, curiosa com a discussão. Tsk, ele que não vai ficar aqui deixando essas duas doidas se juntarem pra lhe fazerem de palhaço — Esquece, vou pro meu quarto, não me enche.

— Não esquece que o responsável pelo jantar é você.

— TÁ BOM, INFERNO! — ele se retira pisando forte.

Porra, que saco! Ele já sabia que vir pra casa seria uma merda, mas não tava esperando encontrar alguém da escola, ainda mais debaixo do mesmo teto. E tá, é só a Cara de Lua, ela nem é a mais insuportável, ou pelo menos não costuma ser, mas sempre o deixa puto quando ela inventa de fazer gracinha pra cima dele com esse sorrisinho sonso nas poucas vezes que eles conversam, exatamente como foi agora há pouco. 

Bom, mas ela vai ficar ocupada por esses dias. Por experiência própria, Katsuki sabe que a velha prega o couro quando começa a trabalhar em coleção assim, então vai enfiar trabalho na Cara de Lua adoidado. Ele não vai ter que aguentar muito dessas gracinhas.

Ainda jogado na cama pensando se tira um cochilo ou arranja outra coisa pra fazer, Katsuki ouve três batidas na porta, antes que possa xingar, ele ouve uma voz feminina meio abafada pela porta.

— Bakugou-kun? — ele ergue a cabeça e fica esperando, ainda deitado — Nossa, como ele pega no sono rápido… — dá pra ouvir a voz da velha lá debaixo chamando por ela — Sim, senhora! — Uraraka não fala mais nada, então ele imagina que ela não tá mais na porta.Tsk, que raios ela queria?

Katsuki se levanta e abre a porta para ver se ela ainda tá no corredor. Quando olha pra baixo, ele encontra uma bandeja com uma xícara de café e uma tigela com uns biscoitinhos.

Tsk, Cara de Lua esquisita dos infernos! Como ela sabe que ele gosta desses biscoitos?


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Notas finais do capítulo

Oioi! Como vão?

Chegando com mais uma fic (short? mais longuinha? Ainda não sei) que foi ideia de uma seguidora minha lá no Wattpad. A vida anda muito corrida, não tenho um cronograma de postagem, então não posso garantir que o próximo capítulo virá logo. Slá, só me deu muita saudade de escrever kacchako e eu vou ver se ainda consigo fazer de um jeito que me agrada huahushs

Obrigada por ler! Espero que tenha curtido! Nos vemos em breve (ou não...)



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