Crepúsculo dos Marotos escrita por Bruna Rogers


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807755/chapter/1

Sirius olha pela janela da viatura, a pequena cidade de Hogsmeade no interior da Grã-Bretanha, não estava completamente parada no tempo com sua mãe sempre gostou de dizer, mas também não era nada mais do que uma pequena cidade com pouco mais de três mil habitantes, aquele tipo de lugar onde todo mundo se conhece.

Sirius já esteve ali, muitos anos atrás, quando seus pais deixaram ele e Regulus ali com o tio Cygnus por uma semana. Não foi muito divertido se as memórias que ele tinha ainda estavam certas, mas é melhor do que sua casa. Melhor do que ficar ouvindo sua mãe bebendo e brigando com o marido por qualquer coisa, e descontando fisicamente nele e no irmão sua ira.

Ele se contorce levemente no banco de couro, as sensação da bengala de madeira fazendo sua costa arder só com a breve lembrança. Para sua infelicidade e a prova de que o mundo é cruel e trágico, ele já estava muito acostumado com isso.

O vento gélido que acompanha a neblina baixa entra pelo pequeno espaço aberto da janela, bagunçando o cabelo dele, fazendo as mechas longas demais para o agrado de sua mãe, se espalharem ao redor de seu rosto. Puxando os fios para trás ele amarrou seu cabelo novamente em um rabo de cavalo, assistindo as construções passando por ele.

Inegavelmente, Sirius estava descontente com sua mudança em pleno Novembro, para quase o outro lado do país, mas ele fez por merecer. Pelo menos foi o que sua mãe ficou repetindo enquanto o enxotava para o carro, a viagem de avião de Londres até o aeroporto mais próximo a Hogsmeade - que obviamente não tem um próprio - levou uma hora e meia, e do aeroporto até a cidade foram mais uma hora. Ele estava exausto, seus olhos mal podiam ficar abertos durante a maior parte do voo, tendo passado toda a noite acordado e consolando seu irmão caçula, o qual ele foi obrigado a abandonar a mercê de sua louca mãe.

Regulus é apenas dois anos mais novo que ele, mas é mais frágil, sua saúde nunca foi a melhor, e a paciência da mãe deles nunca ajudou muito. Foi o mordomo, que o próprio Sirius chamava de Monstro pelas costas, que cuidou do Black mais novo por toda a vida. Tecnicamente Monstro cuidou de ambos os irmãos, mas Regulus era claramente seu favorito, como o filho que o velho nunca teve.

Talvez tenha sido isso que salvou o garoto da maioria dos problemas, e ataques de sua mãe, o resto foram a intervenção do próprio Sirius que fez de tudo para impedir que Walburga Black batesse em Regulus. Isso lhe custou muitas cicatrizes ao longo de uma década, e mesmo não tendo conseguido salvá-lo de tudo, o mais novo não sofreu fisicamente tanto, talvez os danos estejam em sua mente, tanto quanto estão espalhados pelo corpo dele.

— Sirius.

Ele salvou no banco se encolhendo automaticamente, enquanto se virava para o motorista. O tio Cygnus foi o único da família que ficou em Hogsmeade por alguma razão, ele é xerife local, Sirius pode secretamente desconfiar de que ele não tem muito trabalho por ali, a cidade parecia muito pacata.

—Chegamos — diz Cygnus, fingindo não notar a reação dele.

Sirius desceu do carro para ver um Porsche cinza escuro estacionado ao lado do mini jardim da entrada da casa, ele foi até Cygnus que tirava suas malas do porta mala da viatura, mas sua atenção estava no carro.

— Lucius deve estar aqui — diz Cygnus, atraindo a atenção de Sírius.

Eles entraram na pequena casa de dois andares, na entrada já é possível ouvir o som da televisão na sala.

— Estamos em casa — o homem anunciou.

Três adolescentes surgiram de um dos cômodos, que Sirius imaginou ser a sala, a garota um pouco mais baixa com cabelos bicolor e olhos muito claros é praticamente igual a última vez que ele esteve naquela cidade, Narcisa pode ter crescido alguns centímetros, mas ainda tem o nariz empinado, o queixo sempre levemente para cima. Walburga sempre achou a menina muito bonita por alguma razão que Sirius nunca entendeu.

De cada lado dela havia um cara, mais alto que ela, e cada um combinando com o cabelo dela. O de cabelo escuro e que parecia estar meio sujo se inclinou para ela e disse algo que Sirius não pode entender.

— Esse é Sirius — diz Narcisa com um falso sorriso — meu priminho problemático. Como foi ser expulso novamente?

A imagem de Walburga se sobrepõe à de Narcisa por um segundo, e Sirius percebeu porque sua mãe gostava tanto dela. O veneno Black esnobe escorrendo por seu ser, como se o mundo precisasse de mais pessoas como sua mãe.

Ele apenas revirou os olhos não se dignando a responder a garota que esbanjava um sorriso sarcástico.

— Esses são Lucius Malfoy e Severus Snape — Cygnus apresentou — eles estudam em Hogwarts também.

— O prazer é todo seu - diz Sirius com o máximo de sarcasmo que seu cansaço pode reunir.

O tio dele o acompanhou até o segundo andar, passando por um pequeno corredor, Cygnus mostrou onde ficava o banheiro, o quarto de Sirius e o do próprio para caso ele precisasse perguntar algo, então o deixou sozinho para que pudesse arrumar suas coisas.

Sirius olhou ao redor, o cômodo era menor do que o de seu antigo quarto, as paredes em um tom de verde escuro em contraste com as cortinas brancas. Ele chutou que era o quarto de hóspede, da última vez ele era mais claro, e tinha umas tralhas da mãe de Narcisa. Pensando bem, Sirius não veio para o funeral de Druella, ele mal lembra de quando ouviu a notícia, apenas que seu irmão ligou para Narcisa para dar a condolência, sua mãe nunca descobriu porque Monstro encobriu o menino.

Mas quando Sirius ligou para um colega de escola, um ao qual ele poderia ou não ter uma paixonite na época, para dar parabéns pelo aniversário, Monstro entregou-o pouco tempo depois. Sirius acabou sem comida por quase dois dias, se não fosse por Regulus.

Monstro é uma pessoa desprezível, narigudo e enrugado, o velho deveria ter ido para um asilo se alguém perguntasse a opinião de Sirius, mas ele trabalhava para seus pais desde muito anos antes dele nascer.

Sirius largou sua mala no canto do quarto, ao lado da escrivaninha velha, e deixou sua jaqueta de couro sobre a cadeira e foi para a cama, deitando-se de costas e com o braço esquerdo sobre os olhos, ele suspirou sentindo o cansaço, não só da viagem mas do estresse dos últimos dias, se infiltrando em seus ossos, fazendo todo seu corpo ficar muito pesado.

Talvez Regulus estivesse certo e Sirius nunca tenha sido muito bom em se controlar. Talvez sua mãe não estivesse completamente errada.

Mas no fim, ele não mudaria nada, seu comportamento, seus atos. Ter batido naquele cara até mandá-lo pro hospital. Sirius deveria estar preso, e não sem razão completa, mas seus pais tem dinheiro e manipulam muito bem a situação quando querem, e agora ele só foi expulso da escola e mandado para 960 mil quilômetros de distância.

Talvez um dia ele se arrependa, porém agora ele sabe que Evan Rosier nunca mais fará bullying com Regulus ou com qualquer outra pessoa. Ele espera mais do que tem certeza.

O sono o tomou antes que ele pudesse perceber.

[...]

 

— Remus — o grito das duas crianças fez o jovem estremecer.

Remus olhou para trás vendo as duas crianças ruivas correndo pelo longo jardim que separa a casa dos Weasley e a dos Dumbledore. Charlie foi o primeiro a lhe alcançar, e seu irmão Bill veio caminhando atrás dele sendo, dois anos mais velho que o irmão ele está no meio do seu primeiro estirão de altura, aos sete anos ele já era uma cabeça mais alta que Charlie, e já estava se mostrando com um irmão mais velho calmo e responsável - a maior parte do tempo.

— Você esqueceu não foi? — Charlie perguntou cruzando os braços magros e olhando para cima, mas ainda assim, Remus sabia que o pequeno não conseguia olhar nos olhos dele.

Remus se agachou para ficar mais perto dos meninos Weasley quando Charlie finalmente alcançou eles. Como o único solteiro, e com isso mais tempo livre, ele normalmente oferecia ajuda a Molly Weasley com as crianças. Ela era uma mulher jovem e cheia de vida, mas com dois filhos cheios de energia e um bebê de pouco mais de um ano. E talvez, não que alguém por ali esteja comentando, talvez grávida outra vez. Era cômico, mesmo sendo um lobo, Arthur Weasley se reproduzia quase como um coelho.

— Eu prometi levar vocês ao cinema, eu não esqueci — Ele sorriu bagunçando o cabelo longo de Bill — mas eu tinha que terminar meu dever.

— Você estuda demais — Charlie resmungou.

— Você precisa de vida social — Bill comentou — foi o que a Lene disse.

Remus franzi o cenho, não era novidade que Marlene estava querendo o fazer ser mais sociável, mais do que ele já era com o seu tempo no clube do jornal. Ele, no entanto, está muito feliz e confortável com o que ele já tem. Sua família encontrada, sua amiga Lily e seu amigo Peter, e até com James Potter e Severus Snape que vieram de brinde com Lily.

— Você pecisa de uma namorada — Charlie diz e os dois mais velhos o encaram — o quê? Você é o único que não tem uma.

O menino dá de ombro enquanto Remus o encara estupefato. Talvez o menino, que parece sempre focado demais nos animais em vez de nos humanos, seja mais observador do que ele pensava.

— Pode ser um namorado também — ele continua, perdendo o próprio foco quando uma borboleta voa perto de sua cabeça - igual ao senhor Dumbedoe e o Gindewald.

Remus reprimiu a vontade de rir, Charlie ainda tinha alguma dificuldade com os rs e isso era muito fofo. Ele se levantou pegando o mais novo Weasley no colo, indo em direção a casa para pegar as coisas que precisava antes de levá-los ao cinema.

— É Dum-Ble-Dore e Grin-del-Wald— ele diz espaçadamente para o menino tentar repetir.

Remus pegou o casaco, carteira e chaves enquanto Charlie e Bill continuavam a repetir o nome do alfa deles.

— Acho que ouvi meu nome — o homem de olhos azuis gentis apareceu na porta assustando as crianças.

Remus apenas sorriu de longe enquanto os irmãos cumprimentavam o alfa.

— Remus devia arranja um namorado — Charlie contou baixinho, ainda que Lupin pudesse ouvir.

Remus sentiu suas bochechas queimarem quando encarou os olhos azuis de Dumbledore, o sorriso infantil e genuíno enquanto ele concordava com o garoto ruivo de cinco anos.

— Eu estou muito bem solteiro, obrigado por perguntarem.

Sorrindo, Dumbledore deixou os ir, mas deu uma caixa para Remus levar para seu irmão Aberforth. Remus sabia que havia alguma razão para os dois Dumbledore não se falarem, mas ele nunca descobriu.

Aberforth, irmão mais novo de Albus, mora e trabalha mais para o centro da cidade e só aparece ali antes da transformação nas noites de lua cheia, e ia embora logo que se recuperava. Mesmo sendo um pouco legal com todos os filhos adotivos de Albus, mesmo em todo seu natural mal-humor, ele ainda não era o mais sociável dos betas da alcateia.

O tempo estava, como sempre em Hogsmeade, tranquilo e nublado, com a aproximação do inverno é cada vez mais raro os dias de sol. Como sempre fazia ao sair com os minis Weasley, Remus pegou o carro de Marlene e as cadeirinhas extras que Molly mantinha em sua garagem depois que os meninos se despediram dela.

— Tem certeza disso? — Ela perguntou, como sempre fazia quando deixava os dois com qualquer pessoa.

Remus percebeu que isso era uma forma de desencargo de consciência, pois cuidar dos dois longe dela não é realmente fácil.

— Claro que tenho — ele respondeu sorrindo para a mulher mais velha.

—  Sinceramente, você deveria sair com os seus amigos, não ser babá dos meus filhos.

— Mas ele prometeu mamãe — Charlie choramingou.

— E eu vou cumprir — Remus diz bagunçando o cabelo meio cacheado dele — eu gosto de cuidar deles. Realmente não é um problema.

Molly apenas balançou a cabeça negativamente, ela tinha o costume de tratar todos os mais novos como se fossem seus filhos, mas às vezes, raras vezes, se continha para não dar sua opinião aos outros. Remus sabe que esse foi um desses momentos, então, aproveitando a sorte, ele apenas pegou as crianças e partiu.

Estacionando diante ao singelo restaurante, Remus deixou os meninos no carro, pegando apenas a caixa que seu pai mandou. Por mais que estivesse acostumado depois de quase dez anos vivendo em Forks e com Albus e Gellert como seus pais, e Aberforth seu tio, ele ainda se sentia desconfortável as vezes, como se não fosse o lugar dele.

Andromeda, sua irmã mais velha, sempre disse que isso é por causa do lobo. "A besta enjaulada", como os mais novos chamam, ele quer algo, uma coisa que tanto o lado homem/mulher quanto o próprio lobo só percebem o que é quando finalmente encontram, porque tudo finalmente se encaixa perfeitamente. Andie diz que o achou quando conheceu seu marido Ted Tonks quase cinco anos atrás. O lobo de cada um é completamente apaixonado e até um pouco obcecado pelo outro, e isso assusta muito Remus.

Depois da sua transformação quando ele tinha apenas cinco anos, e todas as vezes que se seguiram em quais ele quase morreu, Remus percebeu que ele não era nada além de um monstro. Como Bruce Banner e o Hulk, ele não confiava, muito menos controlava o seu outro lado e a falta de controle significa que ele machucará os outros, mais cedo ou mais tarde.

Seus próprios pais, sua mãe que era doce, gentil e calorosa como torta quente no final da tarde, e seu pai que era bom, um pouco rígido e nem sempre presente, perceberam o risco que corriam com um monstro dentro de casa, o lobo no corpo de seu próprio filho, então fizeram a escolha mais segura.

Essa escolha o levou até ali, diante de Aberforth Dumbledore, irmão mais novo de seu pai adotivo. Ele como sempre estava zangado, algo que todos apenas aceitaram e ignoravam.

— Dumbledore me pediu para entregar — Remus disse pondo a caixa sobre o balcão de mármore cinza.

Abby apenas olhou para a caixa fechada por um momento, então balançou a cabeça com um baixo murmúrio inteligível. Era a forma de agradecer e mandar a pessoa embora que ele sempre usou.

Remus passou a mão pelo cabelo, afastando as mechas longas de seu olhos antes de se afastar do tio.

— Tenha um bom dia — Remus disse saindo.

— Espere — Abby resmungou mais alto.

Sua irmã mais nova, Dorcas, dizia que Aberforth deveria ter uivado muito durante a juventude e é por isso que ele fala tão baixo ou sempre resmungando. Remus nunca viu muito sentido nessa ideia.

Aberforth se mexeu rapidamente atrás do balcão por um minuto, então voltou com uma caixa de bolinhos pondo-a ao alcance de Remus.

— Para as crianças — ele dispensou com a mão enquanto falava — e avise as garotas que preciso delas depois de amanhã.

Remus piscou algumas vezes, então pegou a caixinha de doces. A bondade em Aberforth era sempre estranho, mas ele aprendeu a não deixar o mais velho notar sua surpresa. E a paciência para aguentar Dorcas e Marlene também, ele as contratou no verão do primeiro ano e agora elas faziam turnos as vezes depois das aulas também.

— Aviso sim senhor — ele disse sorrindo para os bolinhos de chocolate — muito obrigado.

Sem mais uma palavra ele apenas deu de costas e voltou ao trabalho. Sorrindo, Remus volta para o carro.

[...]

 

Dois dias, esse é o tempo que se passou desde a chegada de Sirius em Hogsmeade, dois dias tediosos e sem nada para fazer além de aturar sua prima Narcisa, quando ela decidia voltar para casa sempre com o namorado mala a tiracolo, Lucius "futuro advogado muito bem sucedido" Malfoy. Sirius não imaginava que poderia conhecer alguém tão esnobe quanto Narcisa naquela mini cidade no fim do mundo, mas quem diria, ele achou.

— Ei otário — Narcisa chamou da porta entreaberta do quarto — meu pai quer você lá na frente.

Sirius apenas resmunga enquanto deixa seu celular de lado e desce as escadas. Nada parecia fora do lugar quando ele saiu da casa, mas parado ao lado da viatura de Cygnus está uma moto Thiumph branca. Sirius sempre quis uma moto, mas sua mãe nunca o deixou comprar. Ele também ouviu um longo discurso de como elas são perigosas e um Black não deve colocar sua vida em risco;

— Então — Cygnus tirou o de seus pensamentos — gostou?

— É para mim? — Sirius perguntou embasbacado, se aproximando para ver melhor.

— Sim, seu pai me disse que você queria um — Cygnus continuou falando enquanto entregava a chave para ele - então, o que achou?

—  Isso é maravilhoso, muito, muito obrigada — Sirius diz realmente emocionado.

Ele nunca pensou que seu pai teria comentado sobre seu desejo por uma moto para alguém, já que Walburga não queria nem falar sobre isso, e ninguém contrariava ela para evitar os surtos, até mesmo Orion apenas deixava para lá os assuntos ou fazia pelas costas da esposa.

— Ótimo, agora você pode ir para a escola tranquilamente — Cygnus diz.

— É, ótimo — Sirius respondeu sem prestar muita atenção.

— Você pode testá-la.

Sirius mal conseguiu responder, apenas balançando a cabeça freneticamente e sorrindo com uma criança que ganhou um doce.

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Crepúsculo dos Marotos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.