Não são apenas 10 coisas que eu odeio em você.

Vocês devem estar se perguntando o porquê de eu ter escolhido logo esse título para minha matéria no jornal.

Bem, em primeiro lugar eu gostaria de deixar bem claro que o professor Maito Gai me obrigou por conta de algo que eu não fiz, mas tudo bem. Eu também não me acho merecedora de confiança. E é aí que entra o "em segundo lugar". Foi por ele. Eu decidi esse título, pois é sobre ele o que eu tenho a dizer, e eu estou aqui, engolindo o meu orgulho e lhe pedindo desculpas, à minha maneira pelo que fiz, se eu pudesse eu voltaria no tempo e mudaria tudo. Mas não posso. Espero do fundo do coração que você leia e saiba como tudo aconteceu, como eu me apaixonei por você, Sasuke.

Ensino Médio.

Aquele lugar onde todo mundo quer ser o rei do mundo, mas ninguém quer ajudar a mãe a lavar louça.

Uma vez me falaram que há sempre um momento no colegial que algo ou alguém muda sua perspectiva de tudo.

E isso aconteceu comigo no último ano, um mês antes da formatura.

Eu estava no corredor com as minhas duas melhores amigas.

Hinata Hyuuga. A queridinha dos professores de física e literatura. Era inteligente e um pouco tímida. Dançava balé e era líder de torcida. O sonho de consumo da metade de Konoha High. Beleza e inteligência, um pacote completo eu diria.

Tenten Mitsashi. Ela já era mais durona e extremamente sincera. Atacante do time de futebol feminino e uma perfeita Hacker. 

Uma vez ela conseguiu até mudar sua nota de história hackeando o computador do Diretor. 

Ela também era muito disputada pelos garotos do colégio.

E por fim, eu.

Sakura Haruno. Não, eu não sou a amiga nerd e esquisita das populares, pelo contrário, eu sou aquela que anda no meio quando a gente passa pelo corredor. Tipo a líder do grupo.

Eu podia sentir meu cabelo sedoso e hidratado voando graças à alguma corrente de ar que passou no corredor.

Todos olhavam para nós três, como sempre. E como não olhar? Nós éramos como as três panteras sem o Charles

— Me desculpe. - O garoto esquisito da minha sala falou ao esbarrar em mim.

— Está tudo bem. - Hinata o ajudou a pegar algumas revistas que mais pareciam gibis que haviam caído no chão.

— Olha por onde anda, idiota. - Falei e continuei andando.

— Oi, gata. - Sasori, meu namorado e futuro rei do baile de formatura, ficou de frente para mim.

Nem preciso dizer que ele é o capitão do time de futebol, né?

— Oi, bebê. - Coloquei minha mão envolta de seu pescoço e o beijei.

— Olha... - Ele me afastou. - Nós precisamos conversar, vem comigo rapidinho.

Ele me puxou pelo braço e me levou para um lugar afastado perto dos armários.

— O que foi, meu amor? - Eu estava um pouco assustada com o comportamento dele.

— Olha, Sakura... - Ele passou a mão no rosto como se estivesse nervoso.

— O que foi?

— Eu não sei como dizer isso, mas... Eu quero terminar.

Tudo à minha volta pareceu ficar embaçado, ou era apenas minha vista por conta das lágrimas que haviam se formado.

— É por conta daquela noite na sua casa? Você sabe que eu ainda não estou pronta pra...

— Não é por você ter me rejeitado aquela noite. - Ele olhou para algumas pessoas passando por nós no corredor e diminuiu o tom de voz. - Eu estou com outra pessoa.

— O que? Quem? - Quase gritei, ele só poderia estar maluco.

— Eu não vou dizer, eu sei que você iria nela agora e faria um escândalo.

— E como fica o baile? Era pra você ser o meu rei e eu a sua rainha. Nós planejamos isso o ano todo.

— Desculpe, gata. Mas você nunca foi tudo isso. - Ele encostou de leve o punho no meu queixo. - As pessoas só gostam de você porque não te conhecem e eu já arranjei outra rainha.

Ele falou com um sorriso cruel e saiu andando como se nada tivesse acontecido.

Minha única reação correr para que ninguém me visse chorar.

Esbarrei em algumas pessoas no caminho e quase dei de cara no chão, mas alguém conseguiu me segurar a tempo. 

Olhei para cima sentindo as lágrimas quentes escorrerem por meu rosto.

Era o esquisito que havia esbarrado em mim antes. Sasuke Uchiha. O Nerd antissocial da minha sala. 

Eu sabia pouco sobre ele agora, quando crianças nós éramos melhores amigos, mas nos distanciamos e pouco tempo depois ele perdeu a mãe.

Ela era amiga da minha mãe, mas nós nos mudamos e elas também perderam contato.

Eu não me lembro de muita coisa, mas o tempo passou e cada um seguiu seu próprio rumo.

— Você está bem? - Era tão raro ouvir sua voz que, por um minuto eu esqueci o porque de estar correndo.

Me levantei, sequei as lágrimas, arrumei minha roupa de líder de torcida e caminhei em direção à sala de aula.

— E porque eu não estaria? - Falei dando-lhe as costas.

...

 - Ele fez O QUE? - Tenten quase gritou enquanto calçava os tênis da sorte que sempre a ajudava a vencer um jogo. - Eu mato ele se você quiser.

— Tenten, eu não acho que ir para a cadeia irá ajudar a Saky em alguma coisa.

— Hinata tem razão, não precisa matar Sasori para me fazer sentir melhor, eu mesma faço isso. - Terminei de prender o cabelo.

— E como vai ficar o seu tão precioso baile?

— Menos sarcasmo, por favor. Ele é importante sim, eu só preciso arranjar um namorado lindo e popular e ganhar aquela coroa que é minha por direito.

— Mais bonito que Sasori? Acho difícil...

— Tenten, você não está ajudando. - Hinata interveio antes que eu sustasse. - Você pode ir com o Naruto se quiser.

— Agradeço, Hina, o seu namorado é gente boa e tudo, mas ele não venceria o Sasori.

— Ninguém ganha dele Sakura, ele é só o cara mais gato, desejado e popular da escola. Quando souberam que ele ia participar do baile nenhum outro garoto se candidatou para competir pela coroa. Eles já sabiam que seria atoa.

Tenten como sempre sendo mais sincera do que precisava. Meus olhos se encheram de lágrimas e meu mundo pareceu mais uma vez arruinado. 

— Não fica assim, Saky. - Hinata me abraçou. - Nós já estamos praticamente na faculdade e logo tudo isso será deixado para trás.

— Esse é o problema! É nosso último ano, eu precisava fechá-lo com chave de ouro. Se eu não for rainha, Karin vai ser e eu não posso suportar ver aquela vaca ganhando de mim.

— Bem, se é isso então precisamos arrumar alguém que não tenha medo de enfrentar Sasori e seja bonito no mesmo nível ou mais do que ele para ganhar essa premiação boba.

— E quem seria, Tenten? Ahm? Quem aqui é bonito e teria coragem o suficiente para isso?

Ela me olhou por uns segundos e respirou fundo.

— Eu estou atrasada para o jogo, encontro vocês quando acabar.

Ela saiu e nós seguimos para a arquibancada. Hinata ficou tentando me consolar, mas eu só conseguia roer as unhas. 

Naruto, o namorado de Hinata, chegou estendendo a jaqueta do time de futebol para ela e isso só me lembrou do merda do Sasori.

Me levantei, eu não aguentava aquela cena melosa.

— Oi rainha do mal. - Ele me cumprimentou.

— É rainha má, retardado.

— Também é bom te ver, Sakura.

— Eu já disse que não sei o que a Hinata viu em você?

— Eu pergunto isso pra ela sobre você todos os dias.

Eu poderia ter dado uma resposta que o faria ficar calado por um mês, mas resolvi ir embora. O dia não poderia piorar para mim.

Fui até o carro e dei de cara com Karin.

Talvez ele poderia piorar sim.

Karin Uzumaki, ela se acha a mais gata da escola, ela podia até ser uma futura estrela de algum reality show, mas essa escola era o meu território.

Sim, ela era uma vaca.

Se eu fingia ser amiga dela? Podemos dizer que sim.

Ela me deu um daqueles beijos que não encostam na bochecha e eu retribui.

— Não vai ficar para o treino? Tsunade não gostaria de saber que nossa capitã faltou.

Eu havia me esquecido completamente do treino com as líderes de torcida e faltar era tudo o que Karin queria para roubar meu posto.

Mas ela definitivamente não iria conseguir.

— Tem razão, eu havia me esquecido. - Dei o sorriso mais falso que consegui e voltei por onde vim.

...

— Sakura, eu estou falando sério. - Tentei se sentou debaixo da sombra de uma árvore e eu a segui junto de Hinata.

O treino dela havia acabado e o meu também. Estávamos exaustas.

— Isso é ridículo por vários motivos diferentes.

— Talvez você devesse escutá-la, ela pode ter razão, Saky.

— Obrigada, Hina. Olhe aquele ali, por exemplo. - Tenten apontou para um cara alto, ruivo e cheio de piercings que estava passando. - Com o estilo certo e a garota certa, ele pode se tornar seu rei em menos de um mês.

— Você não pode estar falando sério. - Falei indignada.

— Pois estou. - Ela se levantou. - Pensa comigo. Se você conseguir transformar um aluno qualquer no rei do baile, aí sim você fechará o ano com chave de ouro.

— Isso é um absurdo, é igual falar que o esquisito que esbarrou em nós hoje cedo pode se tornar popular assim, do dia pra noite.

— Eu acho ele uma ótima opção. - Ela sorriu. - A menos que você ache não ser capaz.

Ela havia acabado de falar e de longe nós pudemos vez Sasuke carregando uma tonelada de livros e tropeçando na escada antes de alcançar o carro e deixar todos os livros caírem no chão.

— Você tá brincando, né? Eu acabei de levar o primeiro fora da minha vida e você ainda quer que eu leve aquele ser de quatro olhos pro baile?

— Você está exagerando, Saky.

— A Hinata tem razão, mas tudo bem. Aposto que o vestido de Karin vai ficar lindo com a coroa.

Eu sabia que ela havia dito aquilo só pra me provocar, e ela definitivamente havia conseguido.

— Ótimo. Eu tenho um mês pra transformar o Shrek em Encantado e estraçalhar o coração de Sasori. - Sorri. Eu já podia me ver conseguindo o que tanto quero, mais uma vez.

...

Eu havia acabado de fazer o teste surpresa que o professor Assuma havia passado. Ele era professor de química e tinha um caso com a treinadora do time de futebol feminino, Kurenai.

Química nunca foi a minha melhor matéria, mas depois da manhã que eu tive, eu não estranharia se tivesse zerado.

— Está tudo bem? - Hinata perguntou.

— Sim, meus pais discutiram essa manhã por minha causa de novo. - Sussurrei.

Nós duas já havíamos acabado a prova, mas o professor assuma nos mandou esperar na sala.

— Mesmo divorciados eles ainda se encontram?

— Só quando acordam dispostos a brigar.

— É por sua causa?

— Sim, meu pai vai sair do país e quer me levar, mas minha mãe disse que mata ele antes de deixar. - Dei uma risada fraca. - Ele até me comprou um carro para me subornar.

— Eu vi o Jeep lá fora, ele é maravilhoso, mas de qualquer maneira eu espero que você não vá.

— Obrigada e eu também...

— Agora que todos já acabaram eu vou entregar a prova dos que eu já corrigi. - O professor falou e foi chamando os nomes.

O primeiro foi Sasuke Uchiha, claro. Ele acabou primeiro, era o favorito do professor e pelo sorrisinho também havia tirado a nota máxima.

Tsc. A bolinha de papel que voou nele mostrou que eu não era a única a achá-lo um caso perdido da humanidade.

Não sei se era o cabelo grande ou o moletom que batia até quase o meio da coxa, mas ele aparentava levantar da cama e vir direto pra aula. Como alguém pode não se importar com a aparência assim?

Pelo menos ele não usava aparelho, mas nem precisava, pois o óculos fundo de garrafa já compensava. Na realidade ele possuía dentes bonitos e seus olhos também eram muito expressivos. 

Talvez Tenten tivesse razão e com a garota certa, no caso eu, ele poderia ser coroado ao meu lado.

Desviei os olhos quando ele olhou para mim e me pegou encarando-o. Caramba, eu não deveria ter ficado constrangida assim, só espero que não seja minha consciência jogando na minha cara que eu estava prestes a usar alguém, que não tinha nada a ver com os meus problemas, para fins pessoais.

Meu nome foi chamado e eu me levantei pegando minha prova.

Eu havia tirado 7, mais do que eu merecia, porém nem de longe era minha melhor nota.

Passei perto da cadeira do Uchiha e vi seu lindo 10 junto a um enorme "parabéns novamente".

Olhei para minha prova e então a ideia me atingiu como um raio.

Esperei o sinal tocar e que todos saíssem da sala.

Sasuke foi o último, como sempre e enquanto ele arrumava a mochila nas costas eu me aproximei.

— Oi. - Ele se assustou e olhou para os lado para ter certeza de que eu estava falando com ele.

— Precisa de alguma coisa? - Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.

— Na realidade, sim.

— Desculpe, não posso ajudar. - Ele virou as costas e caminhou para a saída.

— Me coloquei entre ele e a porta. - Você nem sabe sobre o que se trata.

— Tem razão e não me interessa.

— Escuta aqui, seu sem educação. Eu estou tentando te pedir ajuda, se você me escutar só por um segundo eu irei agradecer eternamente.

Ele me olhou por uns segundos e então me levantou como uma pluma, me colocando ao seu lado e saindo pela porta.

— Você... Você malha? Porque não parece muito com essas roupas que você usa.

— Olha, eu não sei o que você quer, mas não vou cair no seu charminho para alguém filmar seja lá a brincadeira que você esteja planejando fazer comigo, e depois ficar me zoando por aí.

— Me acha charmosa? - Dei um meio sorriso e vi suas bochechas corarem um pouco antes dele fechar a cara e sair. - Sasuke! - Corri atrás dele.

— Se o professor não tivesse falado meu nome na sala, eu ficaria até impressionado por você saber qual é. - Ele andava rápido demais pro meu gosto. - Fala logo o que você quer.

— Se eu não tirar a nota máxima na próxima aula de química eu vou reprovar e-

— E você quer que eu dê um jeito de fazê-la pra você? Pode esquecer!

— Eu não ia dizer isso. - Paramos perto dos carros no estacionamento da escola. - Eu quero que você me ajude a aprender!

— Isso foi uma ordem ou um pedido? - Ele deu um sorriso de deboche e foi abrir a porta de seu carro.

— Por favor, se eu não passar nessa prova além de me ferrar eu ainda vou ser expulsa das líderes de torcida.

— Tentador... - Ironizou.

— Sasuke, eu posso pagar pelas aulas.

— Não quero seu dinheiro. - Ele pegou o papel em seu parabrisa que algum engraçadinho havia deixado com a frase "perdedor" e o amaçou.

— Então eu faço uma outra proposta. - Peguei o papel amaçado do chão e o endireitei. - Eu posso te transformar na pessoa mais popular desse colégio. - Ele me olhou assustado e depois começou a rir.

— E porque eu iria querer isso? Principalmente agora que só falta um mês para eu me livrar desse pesadelo.

— Eu te digo o porque. - Me aproximei dele ficando a um passo de distância dele. - Daqui alguns anos você quer ser lembrado com o ninguém da escola? Ou pior, ser esquecido? - Ele recuou um passo e eu avancei. - Ou quer que seus filhos perguntem que tipo de pessoa você foi no ensino médio e você possa dizer que era o cara mais popular e querido por todos?

Ele cerrou os olhos, devo admitir que não era fácil ler suas expressões.

— Tenho certeza de que eles terão mais orgulho de mim do que de alguém que esbarra com uma pessoa no corredor e ao invés de ajudar, apenas manda "olhar por onde anda". - Ele falou em um tom assustadoramente sério e entrou no carro dando partida e me deixando com cara de idiota.

 Naquele momento você não tinha ideia, mas havia acabado de se tornar o personagem principal do meu plano quase muito bem aquietado e era exatamente o que eu precisava. Alguém que não tivesse medo de enfrentar um dos queridos populares da escola. O que eu não sabia era que você iria se tornar alguém tão especial para mim e iria acabar me mostrando que baile e popularidade não significam nada se você não tiver caráter, e esse também é outro motivo do porque te odeio, mas falaremos sobre isso mais pra frente.