"Ryan!!!"

Uma emocionada Dana corre para abraçar o irmão, ainda morfado como o Titanum Ranger. Ele havia acabado de aparecer atrás de uma enorme cortina de fumaça causada pela destruição do último "zord rebelde", controlado por Jinxer e alguns Batlings durante a batalha final contra a Rainha Bansheera.

"Acabou, irmãzinha. Nós vencemos!" O sexto Ranger retribui o abraço.

Líder do projeto Lightspeed, Capitão Mitchell se aproxima dos filhos, dando um tapinha no ombro de Ryan. "E agora poderemos novamente viver como uma família!"

A felicidade estava nitidamente estampada no rosto dos outros Rangers. Kelsey, inclusive, deixa uma lágrima de felicidade escorrer em seu rosto ao ver a cena da família Mitchell. Distraída pelo momento, ela deixa escapar uma frase quase que instintivamente.

"Você conseguiu, Carter!!!"

De repente, o silêncio toma conta do local. Todos olham em volta e não encontram sinal algum do líder da equipe, que havia se separado dos outros exatamente na intenção de trazer Ryan de volta.

"Carter?" Kelsey repete o nome do amigo. Então, todos olham para Ryan.

"Ryan...onde está Carter?" Dana pergunta com uma voz mais séria. Ryan não consegue olhar para a irmã. A preocupação começa a surgir no grupo.

"Ryan..." Insiste Dana, tentando conseguir com que alguma palavra saia dos lábios do seu irmão. Então o Titanium Ranger vira as costas para todos e desaparece na cortina de fumaça atrás dele, voltando um segundo depois andando a passos lentos e carregando algo nas suas mãos: um conhecido capacete vermelho, com o visor completamente destruído.

"Dana...amigos...eu...eu sinto muito."

O silêncio no local se torna ensurdecedor, potencializado pela expressão de perplexidade de toda a equipe.

"Ha...boa tentativa, Carter." Joel quebra o silêncio com um estalo de dedos. "Você pode ter aprendido como voar com o Sky Cowboy aqui, mas em questão de brincadeiras você ainda está bem atrás. E essa foi bem sem graça. Vamos lá, pode sair aí de trás da fumaça!" O Ranger Verde não consegue nenhuma resposta. "Vamos lá, cara!" Insiste Joel. Mas nada acontece.

Com a respiração pesada e aparentando nervosismo, Kelsey ergue o seu morfador na altura do rosto. "Carter, aqui é a Kelsey! Escuta, o que deu em você para fazer essa brincadeira de mau gosto? É melhor você aparecer logo, ou você não vai gostar do que vai receber de mim."

"Kels..." Chad se aproxima da amiga, apoiando uma mão no ombro dela. A Ranger Amarela move o ombro para frente com veemência, afastando a mão dele. A sua irritação ficava mais nítida.

"Carter, eu não estou de brincadeira. Para com isso agora! Você está mexendo com os sentimentos dos seus amigos e isso é ridículo." Insiste Kelsey, ficando com a voz trêmula aos poucos, porém tentando manter a postura firme. O seu morfador continua em silêncio. A ficha começa a cair.

"Quer saber...continua com essa tolice enquanto a gente comemora essa vitória. E quer saber mais...teríamos vencido qualquer demônio sem você! A gente nunca gostou mesmo do seu jeito certinho de liderar. Está ouvindo? A gente nunca gostou de você...e não é agora que a gente vai..." Aos poucos e da forma mais dolorosa possível a voz de Kelsey desce de um tom raivoso para um tom embargado, até chegar ao choro compulsivo que nem a deixou terminar a última frase. Chad se aproxima novamente dela e a abraça forte. Agora sem oferecer resistência, ela enterra o rosto no ombro dele.

"Por que Chad? Por que? Ele tinha a nós. Podíamos tê-lo ajudado." A Ranger Amarela estava inconformada e inconsolável.

"É o Carter, Kelsey. Ele não pensaria duas vezes antes de dar a própria vida para salvar a de todos nós. Eu havia dito que era loucura invadir a cova de Bansheera sozinho, mas ele não me ouviu. Queria ter insistido mais." Chad balança a cabeça negativamente diversas vezes.

"Não era para ter sido assim, Carter. Não era mesmo." Joel é outro que estava inconformado com o sacrifício do Ranger Vermelho. Em sinal de respeito, ele segura o seu chapéu em uma das mãos, enquanto conforta com um abraço uma já abatida Srta.Fairweather.

"Carter..." Capitão Mitchell olha para o céu. Seus olhos estavam marejados e sua voz ligeiramente embargada. "A cada dia que passa vejo que não poderia ter feito uma escolha melhor quando o nomeei Ranger Vermelho. Você colocou a vida não só de seus amigos, mas de toda Mariner Bay acima da sua sem hesitar e isso é algo louvável. E trouxe Ryan de volta como havia dito. Se você ainda achava que tinha uma dívida comigo por eu ter salvo sua vida quando criança, ela já foi paga até por mais de uma vida."

Ele faz uma pausa, soltando um triste suspiro. "Mas como Joel disse, não precisava ter sido assim. Não deveria ter sido assim. Vencemos essa guerra, mas o preço a ser pago foi alto...muito alto."

Quem não esboçava reação era Dana. Parecia não sentir o chão abaixo dela. Com as pernas trêmulas, ela caminha a passos lentos em direção à Ryan.

"Me desculpe, Dana. Eu tentei impedí-lo, mas eu estava lutando contra uma horda de Batlings. Quando eu finalmente derrubei todos, Carter já estava praticamente dentro da tumba dos demônios junto com a Rainha. Ele só me pediu para fechar a tampa e..." Ryan se justifica, atropelando as palavras devido ao nervosismo mas a Ranger Rosa não diz uma palavra. Ela apenas pega o capacete das mãos do irmão e dá as costas para todos, andando por alguns metros. As pernas porém, já não obedeciam mais e após parar de caminhar, Dana lentamente move o capacete em direção a sua testa. As lágrimas que antes relutavam em surgir, agora descem pelo seu rosto sem nenhum pudor. Um turbilhão de lembranças invade a sua mente.

Flashback

Dana havia tentado demover Carter da ideia de invadir sozinho o covil da Rainha Bansheera e salvar Ryan. Mas era inútil. Se tinha um ponto positivo (ou negativo) muito forte no líder dos Rangers Lightspeed era que ele sempre ia até o fim quando planejava algo e ninguém, nem mesmo seus amigos o impedia. Além disso, Carter sentia que algo ruim estava para acontecer. Ele não queria arriscar perder seus amigos. Não queria arriscar perder Dana. Ao decorrer de tantas batalhas lado a lado, os sentimentos dele por ela ficavam cada vez mais fortes. Já não conseguia mais ver a bela e determinada filha de seu capitão como uma simples amiga. Ele só não sabia como revelar isso, afinal sempre estava focado no trabalho.

Sentindo-se derrotada por Carter ter mantido sua posição, Dana vira as costas e se prepara para sair da baía de transporte, deixando-o livre para partir em sua missão.

"Dana."

"Sim, Carter." Ela para no meio do caminho, ainda de costas.

"Eu queria...queria saber se..." O Ranger Vermelho se enrola um pouco com as palavras. Era uma das suas (poucas) fraquezas. Porém ele não podia perder aquela chance. "Eu queria saber se após tudo isso terminar, você gostaria de sair comigo. Mas não para ir assistir a um jogo de Baseball e jogar sorvete na minha cara, e sim para jantar." Pronto. Agora não daria para voltar atrás.

O convite provocou uma felicidade indescritível na Ranger Rosa. Era isso que ela estava esperando há muito tempo. Na única chance que tiveram para sair juntos, o 'momento sorvete' foi o ponto alto. Não tinha sido um encontro de verdade e sim uma diversão entre amigos. Ainda assim, Dana se vira para ele com um olhar que fingia surpresa. "Deixa eu ver se entendi direito: Carter Grayson, o líder todo certinho e que só pensa em trabalho o dia inteiro está me convidando para jantar?"

Carter hesita por um segundo achando que ela não havia gostado do convite. Mas se mantém firme em sua posição. "Sim...é isso mesmo."

A expressão de surpresa de Dana é rapidamente substituída por um sorriso. Aquele radiante sorriso que sempre derretia o coração dele. "É claro que aceito! Mas com uma condição..."

"E qual seria?" Carter ergue uma das sobrancelhas, imaginando que ela insistiria novamente em querer ir junto na missão.

"Que não apenas Ryan, mas você também volte inteiro disso tudo. Não seria legal ir jantar com alguém todo quebrado, não é?" Ela pisca um dos olhos e sorri novamente.

Ele solta um suspiro aliviado e sorri de volta. "Sim...eu prometo."

Fim do flashback

Com o capacete ainda encostado em sua testa, Dana reúne o pouco de força que havia encontrado dentro de si para murmurar algumas palavras, quase inaudíveis entre soluços.

"Você prometeu, Carter...

Você prometeu."