Nunca é tarde demais.- Drarry escrita por fox1


Capítulo 14
O homem no saguão.




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Na tarde seguinte, voltou para o hotel, com calor, cansado e desejando um banho. Uma mecha de cabelos caiu-lhe sobre a testa e sabia que estava com uma aparência terrível. Quando coletou as mensagens na recepção, a recepcionista a informou:

      — Há um cavalheiro esperando pelo senhor.

     Um segundo antes de virar-se para olhá-lo, Draco sabia quem queria que fosse mais do que qualquer pessoa no mundo.Ele tinha se levantado quando ele entrara, e estava parado calmamente, observando-o, um sorriso incerto no rosto. Draco se aproximou, muito feliz por vê-lo ali.

      — Eu não entendo — disse ele. — Como você veio parar aqui?

      — Eu tenho negócios em Londres.

     — Que coincidência estarmos ambos no mesmo hotel — comentou ele.

      Harry deu de ombros.

       — Eu sempre fico neste hotel, e imaginei que você pudesse se hospedar aqui, então perguntei na recepção.

       — Os aeroportos abriram novamente?

       — Não tenho idéia — replicou ele. — Estavam fechados ontem, então eu peguei o trem.

       — Toda essa distância de trem? — perguntou Draco, incrédulo. — Nossa, deve ter demorado...

      — Vinte e oito horas — completou ele.

       — O negócio que você tem a tratar aqui deve ser muito urgente.

     Ele assentiu, não desviando os olhos de Draco.

      — Sim, é.

     Draco não respondeu. Não sabia mais o que dizer. De repente, uma estranheza os envolveu. O momento não era certo.Harry olhou para os livros que ele carregava.

       — São do museu? — perguntou.

       — Sim, comprei alguns livros da loja do museu.

       — Parecem pesados — disse ele. — Posso ajudá-lo a levá-los para cima?

       Draco estendeu-lhe os livros. Juntos, foram para o elevador, então para a suíte de Draco.

     — Eu preciso de um drinque — murmurou Draco, removendo os sapatos. — Quem pensaria que é possível ficar tão cansado apenas por olhar manuscritos?

      — Papelada — concordou ele. — É dor de cabeça garantida.

    Eles estavam falando sobre qualquer coisa para ganhar tempo e espaço. Agora que os cumprimentos tinham acabado, Draco sentia-se desconcertado com a visão de Harry. Aquele não era o homem cujo corpo ele abraçara no meio da lama, e nem o tirano arrogante que se opusera à sua viagem.

   Ele parecia extremamente fatigado, como alguém que já havia absorvido muitos golpes e estava se preparando para mais. E confirmou isso quando Draco perguntou-lhe o que queria beber, e ele pediu uísque, algo que Draco nunca o vira beber antes. Harry bebeu num gole só e confessou.

      — Menti. Eu sabia que você estava aqui. Perguntei a Scorpius.

      — Ele não me contou isso.

       — Eu o fiz jurar que guardaria segredo. Falei que eu gostaria de surpreendê-lo e ele não devia estragar tudo.

      — Aposto que ele adorou isso — comentou Draco.

      — Sim, adorou. Eu o invejo. Que filho maravilhoso você tem!

       Draco lembrou-se que o filho de Harry não era filho dele, afinal, mas não pôde pensar em nada para dizer que não soasse trivial.

       — Um outro drinque? — ofereceu.

       — Talvez eu não devesse. Vou convidá-lo para jantar, portanto é melhor manter a cabeça clara.

       Draco riu.

       — Esqueça isso. Vamos comer aqui e eu serei o anfitrião.

      — Obrigado. — Ele estendeu-lhe o copo e Draco o serviu de mais uma dose de uísque.— Menti sobre ter vindo a negócios também — admitiu Harry.  — Eu apenas o segui. Não pude suportar a idéia de que você tinha partido zangado comigo, mesmo que eu merecesse isso.

      — Eu não estava zangado... — começou ele, mas Harry o interrompeu rapidamente.

      — Sim, você estava, e com toda razão. Meu comportamento foi abominável.

     — Eu não acho que você foi abominável — disse Draco, embora tivesse pensado exatamente isso.— Fiquei apenas um pouco surpreso. Eu nunca o vi agir assim antes.

     Harry deu um pequeno sorriso amargo.

     — Eu não queria que você viesse, e não fui capaz de pensar numa outra maneira de dizer isso. Lamento que tenho a tendência de dar ordens quando... bem, quando me sinto em desvantagem. Eu não deveria ter agido daquele modo, principalmente com você.

      — Você não me deve nada — disse Draco.

      — Nós dois sabemos o que eu lhe devo, mas... vamos falar sobre isso mais tarde. Primeiro, conte-me por que você decidiu sair do palácio de repente.

      — Eu lhe disse...

      — Sim, sim, você me deu uma desculpa esfarrapada sobre ter de trabalhar no Museu Britânico.

       — Eu realmente estive no Museu Britânico e descobri coisas fascinantes...

      Harry o interrompeu mais uma vez.

      — Draco, podemos, por favor, esquecer sobre velhas ruínas por um tempo? Até mesmo as minhas velhas ruínas? Neste momento, elas não parecem muito importantes.

      — Nunca pensei que o ouviria dizer isso, Harry.

      — Nem eu, mas às vezes... — Ele parou e olhou-o. — Você foi embora para fugir de mim?

       — O que exatamente você quer dizer com isso? — perguntou Draco com cautela.

      — Eu torno as coisas mais difíceis para você... por causa do passado?

      — Que passado? Nós éramos amigos — murmurou Draco com firmeza. — Ainda somos amigos. Fim da história. Olhe, eu sabia de quem era a casa quando fui para lá. Não fui pego de surpresa. Simplesmente achei que poderia ser bom ver como você estava.

      — Mas você não esperava me encontrar sozinho — argumentou Harry.  — Talvez se soubesse disso, não teria ido.

      — O que o faz pensar assim?

      Harry deu de ombros.

      — Não sei. Pergunto-me se você achou nosso encontro estranho.

      — Depois de todos esses anos? — replicou Draco. — Não somos as mesmas pessoas que éramos na época.

      — Verdade — concordou ele, olhando para dentro do copo. — Os anos fizeram seu trabalho. Dão e tiram. Mostram-nos as lições a serem aprendidas, e tais lições nos transformam, de modo que olhamos para trás e não nos reconhecemos como éramos na época.

      — Você voltaria a ser o homem que foi naquela época? — questionou Draco, estudando-o.

      Harry meneou a cabeça.

     — Com 22 anos, eu não era nem mesmo um homem. Apenas um garoto imaturo que achava que sabia tudo porque tinha sido criado numa posição privilegiada. Que tolo! Caí no primeiro conto de fadas que me foi apresentado. Um homem com um mínimo de experiência ou sabedoria teria enxergado além.

      — Foi tão ruim assim? — indagou Draco.

      Ele assentiu com um movimento de cabeça.

      — Pensei que eu chegaria ao palácio para ver você e Ginevra felizes no casamento — comentou ele.

      — Felizes no casamento? — Ele meneou a cabeça de novo. — Nós nunca fomos.

      — Não me ocorreu que as coisas poderiam dar erradas, especialmente depois que li no jornal sobre o nascimento de seu filho.

      Harry deu um sorriso amargo.

       — Sim, houve um anúncio apropriado sobre um filho e um herdeiro nascendo para ser o príncipe Potter. Mas você deveria ter visto o que os jornais fizeram da notícia quando descobriram que o filho era, na verdade, herdeiro do instrutor de ginástica da princesa.

     Draco ouviu a dor na voz dele, e tentou imaginar o quanto o orgulho de um homem seria ferido pela traição de uma mulher. E quanta humilhação Harry sofrerá porque o mundo inteiro sabia que ele tinha sido traído?

       — Vamos jantar — decidiu Draco rapidamente. — Tudo parece melhor com o estômago cheio. — Draco estendeu-lhe o cardápio do serviço de quarto. — Estou faminto.

      Então temeu que ele pudesse objetar a idéia dele pagar o jantar, mas Harry pareceu contente. Quando o jantar foi escolhido, Draco falou com uma piscadela.

       — Eu deixo os vinhos por sua conta.

       — Homem prudente! — brincou ele.

       — Bem, não vou me arriscar a escolher vinho para um italiano. Especialmente um romano.

       — Não apenas prudente, mas sábio, também — observou ele.

       — Vamos fazer tudo apropriadamente — disse Draco. — Um vinho diferente para cada prato. E champanhe.

       — Champanhe?

       Apenas ter Harry ali era motivo de comemoração, mas Draco não podia confessar isso, então deu apenas um sorriso de felicidade para si mesmo.

      Assim que a comida chegou, eles lhe deram atenção total por alguns minutos. Harry falou pouco, mas de vez em quando, o olhava do outro lado da mesa, como se para se certificar de que ele continuava lá.

       Após um tempo, pareceu a Draco que ele estava mais relaxado, e ele murmurou :— O que aconteceu?

      — O que aconteceu foi que cometi o maior erro do mundo — respondeu ele devagar. — Dei meu coração e alma para uma mulher, a qual não tinha coração para dar de volta. Ela me preparou uma armadilha e eu caí.

       — Mas Ginevra era louca por você. Eu os vi juntos.

      Ele meneou a cabeça.

    — Não, Ginevra queria me deixar louco por ela. Não é a mesma coisa. E sabia como me enlouquecer. Era no título que estava interessada. Queria ser princesa. Finalmente, acabou admitindo isso.

       — Quanto tempo você levou para enxergar a verdade?

       — Muito mais do que eu deveria ter levado. Não fui capaz de admitir que ela era gananciosa,egoísta e fria. O que provavelmente faz de mim um covarde. A voz dele era cheia de amargura e autocrítica.

      — Não seja tão duro consigo mesmo — murmurou Draco delicadamente.

      — Por que não? Alguém deve ser duro comigo por ter sido tão tolo. E com você, Draco, posso ser honesto, porque você conhece a verdade mais que qualquer outra pessoa.

       Draco o encarou, chocado que tudo que tinha tentado fazer por ele resultará naquilo.

       — Mas não foi culpa sua, Harry.  Você não seria o primeiro homem do mundo a ser enganado.

      — Não, mas, aqui vai uma piada. — Ele sorriu. — Eu me considerava acima desse tipo de coisa. Afinal de contas, eu era um Potter, um homem de orgulho e de posição. Ele deu uma risada melancólica e acrescentou:— Draco, você não tem idéia da estupidez de um garoto de 22 anos, que foi criado para pensar que é o melhor. Ele comete erros após erros. O camponês mais rude saberia mais coisas do que eu.

     Draco prendeu a respiração, sabendo o quanto devia ser difícil para Harry se abrir daquela maneira, e rezou para não estragar tudo com uma palavra errada.

      __ Você realmente sofreu muito, não sofreu? — perguntou.

      Ele deu de ombros e não respondeu.

       — Você não tem amigos com os quais pode conversar? — continuou Draco.

      — Não há ninguém para quem eu possa admitir tudo, do modo que faço com você, Draco. Você é a única pessoa no mundo que pode entender, porque viu coisas que ninguém mais viu. Nós ficamos afastados por 12 anos, entretanto, de um jeito estranho, você me conhece melhor do que qualquer pessoa.

      Draco apenas sorriu-lhe e esperou que ele prosseguisse. Harry passou uma das mãos pelos cabelos.

      — Talvez seja por isso que vim atrás de você. Eu precisava estar na sua companhia, conversar, até mesmo apoiar-me em você. Isso não é muito digno, eu sei...

       — Por que teria de ser digno? — interrompeu ele.

       — Por que você não pode pedir a minha ajuda,se precisa dela? Eu sou seu amigo, Harry, e se minha amizade pode ajudá-lo, então conte com isso. Ele pegou-lhe uma das mãos.— Fale comigo, Harry.  Conte-me todas as coisas que você vem escondendo atrás de um exterior tão composto. Porque se você não extravasá-las logo, enlouquecerá.


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