Touches You escrita por lamericana


Capítulo 16
Capítulo 15




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Munique, 2005

A campainha tocou insistentemente, incomodando Sarah, apesar dela estar impassível. Ao seu lado, a menor de suas gêmeas via a silhueta do pai pelo vitral da porta.

— Mamãe, o papai está querendo entrar. — a menina falou — Deixa ele entrar.

— Astrid, vai pra dentro. — Sarah mandou, sem nem ao menos levantar o olhar do livro que lia.

— Mamãe, você não vai deixar o papai entrar? — Astrid perguntou

— Astrid, eu já disse, pra dentro. Vá pro seu quarto.

Astrid ficou atrás da porta e esperou a mãe abrir a porta da sala.

— Eu disse pra você não vir aqui quando as meninas estivessem em casa. — Sarah falou em tom acusatório.

Astrid saiu do esconderijo improvisado e correu em direção ao pai.

— Papa! — Astrid abraçou o pai — Fica, por favor. Não escuta a mamãe.

— Filha. — Astrid continuou abraçando o pai — Biene, deixa eu te explicar uma coisa. — a menina se afastou um pouco — Eu volto pra te visitar. Prometo. É que o meu casamento com a sua mãe não deu certo.

— Eu posso ir com você?

— É melhor você ficar com a sua mãe.

— Mas eu quero ficar com você, não com ela.

— Vamos fazer um acordo? Todo fim de semana eu venho ficar com você e com a sua irmã.

— Não pode ser todo dia?

— Biene, eu tenho que trabalhar durante a semana.

— Então venha todo fim de semana. E leva a Dorothy. Mamãe não gosta dela.

— Levo Dorothy e vou cuidar bem dela.

— Onde é que você vai ficar?

— Na casa do seu Onkel Leon.

— Mamãe, deixa o papai ficar, por favor. — Astrid implorou para a mãe

— Astrid, quando você for mais velha, você vai entender o que eu estou fazendo. Agora, por favor, vá pro seu quarto. — Sarah respondeu, tentando ignorar o aperto que sentia no coração.

Astrid deu um abraço apertado no pai.

— Ich liebe dich, Papa. — ela murmurou no ouvido dele (Tradução: Eu te amo, pai)

— Liebe dich auch, Tochter. — Klaus falou (Tradução: Também te amo, filha)

Astrid subiu as escadas que levavam para o seu quarto com os ombros meio caídos e sentindo raiva da mãe. Sarah, por sua vez, se sentia mal por fazer a filha passar por essa situação, mas não queria e nem iria perdoar Klaus pela traição que ele cometeu.

— Vá para o quarto, pegue as suas coisas e saia da casa. Não desvie o caminho uma vez sequer. Entendeu? — Sarah falou num tom que deixava um “senão” implícito.

— Na saída, vou passar no quintal pra pegar a coruja. Só peço uma coisa, Sarah. Qualquer coisa estranha que acontecer com alguma das meninas, me avise.

— Talvez eu demore com isso. Mês que vem vou ter que me mudar com as meninas mais pra perto do escritório.

— Depois vou precisar do endereço.

Klaus subiu as escadas e, ao passar pelo quarto de Astrid, ouviu o choro da menina. Olhou em volta e, percebendo que não estava sendo seguido por Sarah, bateu de leve na porta. Astrid virou e abriu um sorriso triste entre as lágrimas, e concordou com a cabeça quando o pai levou o dedo aos lábios, num pedido por silêncio.

Klaus pegou a corrente que mantinha presa no pescoço e colocou na filha. Ele pegou tirou a aliança do anelar esquerdo, colocou na mão da garota e apontou para o quarto do lado, onde estaria a irmã da menina. Astrid concordou com a cabeça. Klaus voltou pro corredor e colocou a maior parte das suas coisas nas malas.

— Sarah, não consegui colocar tudo nas malas. Você poderia mandar o que ficou pra casa do Leon? — Klaus pediu

— Mando sim. Pegou a coruja?

— Peguei.

— Você vai ficar mesmo na casa do seu irmão?

— Até eu conseguir um emprego e me estabilizar. Talvez um pouco mais, não tenho certeza. Qualquer coisa, eu aviso.

— Não precisa se preocupar tanto.

— Onde tá a Leslie? No caminho pro quarto, vi que ela não tava no quarto dela.

— Na casa de uma amiga dela. Foi estudar.

— E porque você não olha nos meus olhos?

— Talvez porque assim você tente contar um pouco da verdade. Porque acho que tudo o que você me contou sobre a sua vida foi uma mentira. Você foi mesmo educado em casa a maior parte da sua vida, ou isso é uma mentira?

— Pode pegar meu histórico na única escola onde estudei. Eles não podem mentir nos registros de alunos e ex-alunos. — ele apoiou a testa na da ex-mulher — Sempre te amei e ainda te amo. Não me interessa o quão pouco você acredite em mim.

Ele virou e partiu. Sabia que tinha a chance de não ver as filhas tão cedo, mas queria arriscar. Queria arriscar, ter estabilidade financeira em Londres antes de tentar pedir guarda compartilhada.

Londres, 10:20 PM, 31/12/2010

— Você vai querer ver a queima de fogos? — Miko perguntou

— Pra que? Pra me lembrar que, assim que isso tudo acabar eu vou ter que ir pra Durmstrang? — Astrid devolveu um pouco mau humorada.

— Poxa, não precisa ser grossa comigo.

— Desculpa. Não queria ser grossa. É que eu realmente queria ficar em Hogwarts.

Miko sentou do lado da namorada.

— Eu entendo um pouco do seu sentimento.

— Hogwarts foi o primeiro lugar que eu me senti em casa desde que os meus pais se separaram e agora vou ter que sair. Não sei nem o que esperar de Durmstrang.

— Astrid! Você arrumou seu quarto? — Sarah gritou de dentro da casa

— Mãe, já respondi isso pro papai. Arrumei. Tá tudo um brinco. — Astrid respondeu

— Acho bom. — ela saiu pra varanda — Onde tá a sua irmã?

— Ela foi com o Max pra casa dos pais dele.

— Pensei que eles iam ficar aqui.

— Onkel Leon foi com eles e depois volta.

— Então ele vai romper ano com a gente?

— Vai.

— Você não tá bem, Biene. Chateada com a história de mudar de escola?

Astrid só concordou com a cabeça.

— Não quero falar sobre isso.

— Tem certeza? Qualquer coisa, pode vir falar comigo ou com seu pai, tá certo?

— Tá.

Sarah beijou a testa da filha e voltou pra dentro da casa. Sabia que a menina não estava contando tudo e que não contaria, a não ser que fosse para o próprio pai. Talvez nem assim. Sarah sabia que a filha tinha desenvolvido uma habilidade quase que inata de mentir e de ser convincente com a mentira contada. Provavelmente já teria essa habilidade, mas não desenvolvida antes do divórcio dos pais e só cresceu esse “talento” para se proteger.

Klaus desceu para a sala e encontrou a mulher sentada com a cabeça entre as mãos.

— Qual o problema? — Klaus perguntou

— Astrid, como sempre. Ela realmente tá chateada com a transferência de escola. Mas ela não parece querer falar comigo sobre isso.

— Posso tentar falar com ela. — ele falou sentando ao lado da esposa — Quando souber de alguma coisa, a gente conversa e vê se tem alguma solução pra fossa da Astrid.

— Você realmente terá uma conversa com a Asta por causa disso?

— Ela é minha filha também, não é? Assim como você, quero que ela esteja bem e feliz. Infelizmente não posso mudar a situação da escola dela. Ela realmente vai ter que estudar na Bulgária. O diretor insistiu de que teria que ser assim. Nem Dumbledore conseguiu fazê-lo mudar de ideia.

— Pelo menos não vou ter que me preocupar com a educação dela.

— Não. Durmstrang é uma boa escola, apesar de Hogwarts ser melhor. Eu estudei lá e olha onde estamos.

— Vocês bruxos realmente têm um Ministério só de vocês?

— Curiosa pelo meu mundo, Sarah? — Klaus arqueou a sobrancelha — Temos. Em cada país que tenha bruxos tem um Ministério. Os Ministérios da Magia se comunicam entre si e com os dos seus respectivos países.

— Em outras palavras, é como se fosse um ministério da fazenda a mais, mas com algumas funções extras.

— Mais ou menos isso. É como se fossemos o governo inteiro num ministério só. Porque temos, pelo menos aqui na Inglaterra e na Alemanha, o legislativo, o executivo e o judiciário num lugar só. Cornelius, que é o atual ministro inglês, tem que fazer as relações com o premiê normal. Eu fico na sessão que é equivalente ao Ministério de Relações Exteriores. Só que eu cuido só do relacionamento com a Alemanha. Compras, tratados, problemas com bruxos alemães aqui ou de ingleses lá...

— E isso dá muito problema?

— Só às vezes. Em alguns momentos é quase enlouquecedor. Felizmente, desde que comecei a trabalhar lá, não teve nada que desse um vulto muito grande.

— Não? E o “nein, das ist falsch! Es ist nur kleiner zu ermöglichen! Und die Waren sind nicht Teil der Vereinbarung.” que você tava falando ontem no telefone? (Tradução: não, isso está errado! É para autorizar apenas os menores! E os bens não fazem parte do acordo.)

— Aquilo dali era a transferência de um, não acredito que eu to dizendo isso a você, grupo de dragões nativos daqui. Queriam que eles fossem transferidos com todos os “bens” deles, que se subentende todos as selas e materiais usados para domá-los.

— É sério isso? Dragões?

— Por isso que eu acho que você deve estar querendo me levar pra um psiquimédico... ou como é que se chame o médico que cuida da sanidade das pessoas.

— O nome é psiquiatra. E eu não pretendo levar você pra um. Às vezes acho que sou eu que preciso ir.

— Garanto que você não precisa. É que às vezes eu acho que acabo tendo que despejar muita informação pra você e esqueço que você não é um livro.

Sarah encostou a cabeça no ombro de Klaus.

— O que a gente faz com as meninas, hein? A Leslie tem que, pelo menos, terminar o ano letivo em Manchester antes de vir. E a Astrid vai surtar tendo que ir pra Bulgária sozinha.

— Pensei que a gente tinha isso mais ou menos ajeitado. Eu posso tirar uma semana de folga no Ministério e ir com a Astrid até a Bulgária e você ficaria com a Leslie em Manchester. A gente ficaria revezando nos finais de semana em quem faria as viagens.

— Tá rico, Klaus?

— Não, mas posso economizar um pouco para ficar com vocês lá em Manchester nos finais de semana. Nem que às vezes eu tenha que fazer hora extra.

— Nem pense em ficar enfurnado no escritório tempo demais.

— Olha quem fala, senhora Hoff.

Sarah se dignou apenas a estirar a língua. Ela se aninhou melhor nos braços do marido, que começou a relembrar quando Sarah foi contar que estava grávida.

O dia tinha sido anormalmente longo para Klaus no escritório de arte. As demandas de análise de obras pareciam brotar do chão, mesmo já tendo muito o que fazer. Mas quando viu Sarah assistindo TV sentada no sofá com o cabelo preso num coque malfeito, não conseguiu evitar dar um sorriso.

“Oi, Sarinha” ele cumprimentou

Ela pareceu sair de um transe.

“Oi, Hansi” a voz dela saiu meio nervosa, do jeito de quando ela ficava sem jeito de contar alguma coisa que envolvesse avanço na vida pessoal.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Senta aqui, por favor”

Ele obedeceu o pedido da sua esposa. Mesmo assim, ela ficou muda.

“Sarah, você tá me deixando preocupado”

“Lembra quando você estranhou minhas mudanças de humor e achou que era culpa do caso que assumi?” ele concordou com a cabeça “Não era o caso.”

“Não? Você tá de TPM, então?”

“Também não. A minha menstruação tá atrasada há quase um mês.”

Os olhos de Klaus se iluminaram e um sorriso bobo se formou nos seus lábios.

“Isso significa?”

“Você vai ser pai, Klaus.”

“Pai? Você tem ideia do que isso significa pra mim? Pra gente?”

Sarah concordou com a cabeça.

“Mas acho que tenho que te avisar que tem chance de serem dois bebês. Não sei se você lembra, mas eu e Veronica somos gêmeas.”

“Eu não me importo se forem dois bebês ou só um. Sendo nosso e saudável, pra mim, tá ótimo. Imagina. Uma versão sua em miniatura correndo pela casa, com bracinhos e perninhas gorduchas.”

Sarah fez uma careta.

“Meu Deus. Não. Ninguém iria aguentar a pobre criança.” Sarah se virou para o marido “Mas, e se fosse a sua cópia? Imagina um pequeno boche correndo pela casa gritando besteiras em alemão.”

Klaus beijou Sarah e a colocou em seu colo.

“Klaus...” Sarah suspirou, voltando a ficar apreensiva

“O que foi, Sarinha?”

“Como eu vou contar pros meus pais? Eu sei como falar pra Veronica que ela vai ser tia, mas meus pais...”

“Já sei o que você tá pensando. Você tá pensando que seus pais ainda te veem como aquela doida que decidiu vir pra Munique estudar arte depois de ter acabado de se formar em direito e que não tem noção nenhuma de cuidar de uma criança.”

“Mas...?”

“Mas você não é uma doida que não sabe cuidar de crianças. Você tem um emprego — um muito bom, diga-se de passagem —, tem casa própria, marido e, ainda por cima, sabe lidar muito bem com crianças.”

— Tá pensando no que, Hansi? — Sarah tirou o marido de um transe

— Tava lembrando de umas coisas.

— Que coisas?

— De quando você ficou grávida e ficou meio sem jeito de me contar e ficou ainda mais nervosa quando percebeu que teria que contar pros seus pais.

— Sinto falta da gravidez, de verdade. Mas não acho que quero ficar grávida de novo. Acho que, principalmente, não quero passar de novo por todo aquele drama de discutir com a humanidade qual o nome que vou botar.

— Eu queria ter mais um. Só que dessa vez um menino. Pra ensinar ele a correr atrás das irmãs e impedindo elas de fazer besteira.

— Klaus... Um terceiro filho?

— Ué. Foi você mesma que veio me dizer que gostava da gravidez.

— A diferença é que hoje eu tenho quase 40 anos. E é mais fácil o seu irmão conseguir ter um filho do que a gente na situação que estamos, não acha?


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