Touches You escrita por lamericana


Capítulo 10
Capítulo 9




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807415/chapter/10

Hogwarts, 07:30 AM, 22/10/2010

Astrid e Miko tomavam café da manhã calmamente no salão principal.

— Tem certeza que hoje você não vai passar mal de novo? — Miko perguntou

— Eu não comi nem pretendo comer peixe.

Nesse momento, uma coruja pousa entre Astrid e Miko. Os dois se entreolham. Quando Miko tenta pegar o envelope da pata do animal, recebe uma bicada.

— Deve ser pra você. — Miko diz levando o dedo à boca — Essa coruja é meio violenta.

Astrid soltou um risinho e pegou a carta. De imediato, reconheceu a caligrafia inclinada e meio garranchada do pai.

“Biene,

Como você deve imaginar, sua mãe está possessa com o fato de você estar teoricamente aqui em Londres. Ela quer entrar na justiça pra disputar a sua guarda, já que a Leslie não fez nenhuma objeção em ficar com ela. Sinto muito ter que avisar que daqui a uns dois meses você terá que vir pra Londres pra depor sobre com quem você quer ficar. São coisas da Sarah.

Não se sinta pressionada a tomar alguma ação por causa da sua irmã ou por causa de Hogwarts. Mesmo que você escolha ficar com a sua mãe, eu consigo arranjar uma desculpa boa o suficiente pra convencer a Sarah a te levar até a King’s Cross todo primeiro de setembro.

Por aqui, sem mais novidades “empolgantes”, além do que te falei acima. Seu tio está afundado na bebida, como sempre. Soube que você está tendo alguma coisa com o filho de Ivan Thompson. Porque você não me disse? Isso é ótimo. Também soube que você vai se tornar um animagus. Só espero que você saiba escolher com sabedoria.

A quem eu estou querendo enganar? Eu sei que você vai ter juízo na hora de escolher.

Sempre de olho,

Klaus”

— Eu não acredito que a minha mãe tenha chegado a esse nível — Astrid falou

— O que foi, Biene? — Miko perguntou

— Ela simplesmente entrou na justiça Muggle pra conseguir a minha guarda.

— Mentira.

— Verdade. E vou ter que sair um pouco antes das aulas terminarem pra poder depor na frente de um juiz.

— E o que você vai escolher?

— Vou escolher ficar com o meu pai, claro. Não aguentaria ter que ficar com a minha mãe. Nada propriamente contra ela, mas eu simplesmente não aguento ter que ouvir aquele monte de besteiras da minha mãe sobre como eu sempre me meto em encrencas, como eu deveria ser mais como a Leslie...

— E ficar com a sua mãe dificultaria vir.

— Isso mesmo. Seria um inferno pra convencer dona Sarah Henderson que eu tenho que ir, nos próximos dois primeiro de setembro, pra King’s Cross. E meu pai descobriu sobre a gente.

— Oi? — Miko quase engasgou com a torrada — Como ele descobriu?

— Eu não sei. Talvez seu pai contou pro meu.

— Eu também não contei pro meu pai.

— Max. Foi ele. É óbvio.

— Eu ainda mato ele. Não era pra ele ter contado. Eu ia contar. — Miko fez menção de levantar e ir até a mesa da Hufflepuff, mas Astrid impediu.

— Calma. Não vai ter nenhum assassinato por aqui. Tá certo que o Max contou sem te avisar, mas isso não é motivo suficiente pra matar o menino. E foi até bom ele ter contado. Facilitou a nossa vida. Meu pai adorou a novidade.

— Sério? Não é uma das suas piadinhas?

— Não, não é uma das minhas piadinhas. É a mais pura verdade. Meu pai adorou. Se ele não tivesse gostado, ele não teria reclamado por eu não ter contado antes.

— Cadê? — Miko tentou puxar a carta pra si.

Astrid começou a ler em voz alta:

— “Soube que você está tendo alguma coisa com o filho de Ivan Thompson. Porque você não me disse? Isso é ótimo”. Você acha mesmo que meu pai diria isso se ele não tivesse realmente aprovado?

— Você ganhou.

— Agora, vamos pra aula. Entre uma aula e outra eu mando a resposta pro meu pai.

Os dois foram para a aula e, assim que a primeira aula terminou, Astrid começou a escrever uma resposta pra carta do pai. Depois de enviar a resposta, a menina foi pra aula. Vez ou outra ela olhava pela janela, na esperança de receber mais uma mensagem de seu pai, mesmo que fosse um pequeno bilhete. As aulas acabaram e nada de resposta do pai. Astrid se conformou que não teria a resposta tão cedo.

Astrid e Miko foram pra aula extra em silêncio. O menino percebeu a angústia da namorada a manhã inteira. Tentou várias vezes colocar um sorriso no rosto dela, sem muito sucesso. Contou piadas, fez gracinhas e tudo que, em dias normais, Astrid riria, mas nada adiantou.

— Biene, o que está acontecendo? Ainda está preocupada com a carta do seu pai?

— To. Não quero ter que sair de Hogwarts assim tão cedo, sabe? Também não quero ter que enfrentar um juiz pra dizer que prefiro continuar com o meu pai, nem quero ver o olhar de desprezo da minha mãe quando souber que vou ficar com ele.

Miko se pôs na frente da namorada impedindo a passagem.

— Astrid Sabine Hoff. Sua mãe não vai te olhar em desprezo. E se olhar, essa é uma decisão sua, não dela. Você tem que decidir por você, não pela sua mãe. E eu sei que tudo o que você mais quer é ficar por aqui durante o ano letivo e passar as férias em Londres. — ele segurou o rosto dela delicadamente com as mãos, levantando um pouco o rosto dela — E, mesmo que você passe um tempo em Manchester durante as férias, eu não vou ficar magoado com você. Talvez até tentaria ir junto.

Astrid soltou um risinho pelo nariz.

— Você não conhece a minha mãe, Dawud. — a menina falou — E, pra ela, eu estudo num semi-internato só de meninas. Como eu iria explicar pra ela que eu tenho um namorado?

— Sei lá. Você é a mente criminosa, não eu. — ele a abraçou e sorriu — Saiba que eu enfrentaria a ira da sua mãe por você. E eu até faria mágica ilegal pra isso.

— Eu não vou deixar você fazer mágica ilegal, Michael. Mas eu realmente tenho medo da reação da minha mãe. Não sei o que ela vai fazer. Se ela vai me rejeitar pra sempre ou se simplesmente vai manter o mesmo relacionamento que ela tem comigo.

— Astrid, você deveria se ouvir um pouquinho. Sério. Tá ridículo. A sua mãe, por menos que ela goste da sua decisão, vai ser obrigada por lei a aceitar. E você, mocinha, por enquanto, vai esquecer essa história toda e vai me ajudar com a conversa do animagus. Combinado?

— Combinado.

Miko puxou a mão dela e os dois foram a caminho da aula. Os dois conseguiram produzir um patrono decente em pouco menos de duas horas, mas com inúmeras tentativas. Quando conseguiram produzir o patrono, cada um na sua vez, sorriam genuinamente pro outro e recebendo outro sorriso, também genuíno, em retorno. Astrid pareceu esquecer do que acontecia entre seus pais enquanto ela estava ali, produzindo mais e mais patronos.

Londres, 03:30 PM, 22/10/2010

— Eu já falei mais de um milhão de vezes, Sarah. Ela está na escola. Não vou tirar a menina do meio da aula só porque você quer falar com ela. — Klaus falou irritado com a ex-mulher

— Não quero saber, Hoff. Eu quero ver a minha filha. Será que é pedir muito?

— É pedir que ela saia de uma aula importante pra ela, se é isso que você quer saber. Por anos você me encheu o saco querendo que eu priorizasse a educação das meninas e agora você me pede pra tirar Astrid de sala pra que você possa conversar com ela?

— Não é o momento pra isso, Hoff. Eu preciso falar com a Astrid.

— Agora eu estou no trabalho e daqui a pouco vou ter que falar com um ministro alemão. Vá arranjar o que fazer além de me encher o saco pra tirar Astrid de sala de aula.

Ele desligou o celular. Celular, computador, rede telefônica e internet disponíveis era um dos poucos benefícios extras que os bruxos que trabalhavam diretamente no relacionamento bruxos-Muggles recebiam. Tentou retomar o foco no trabalho, mas seu pensamento ora fugia para a filha em Hogwarts ora fugia para sua ex-mulher.

Essas pegadinhas do pensamento dele já estavam o irritando. Queria poder responder a carta de Astrid, assegurar a filha que tudo ficaria bem e que não teria problema nenhum. Mas o protocolo não permitia que ele enviasse cartas pessoais no horário de trabalho. Também queria poder fazer as pazes com Sarah e fazer com que ela entendesse todas as circunstâncias que ele esteve — e está — envolvido por todo esse tempo e que o impedia de contar a verdade pra ela.

No fundo, ele sabia que Sarah ainda guardava um pouco do espírito que ela tinha quando eles se casaram, mas ainda guardava certo rancor da atitude dele. Klaus jogou o pensamento da ex-mulher e da filha pro fundo da mente e voltou à realidade. Ligou pro ministro da magia alemão e explicou toda a situação de exportação de caldeirões para a Alemanha.

Depois de combinar com o ministro alemão os pormenores da transação de caldeirões, foi pra reunião semanal com o ministro da magia inglês. Durante a reunião, apresentou as informações de negociações e diplomacias com o governo alemão. No final da reunião, o ministro, Cornelius Fudge, pediu para que ele esperasse. A sala se esvaziou e os dois homens ficaram a sós.

— Klaus, notei que você está um pouco, como dizer, distante essa semana. Tem alguma coisa a ver com a sua filha? — perguntou o ministro

— Ministro, acredito que o motivo para que eu esteja meio “fora do ar” — desenhou as aspas no ar — não são muito profissionais. Sim, tem a ver com a minha família.

— Entendo. Sabe que, se precisar de um amigo, pode falar comigo.

— Pode deixar, ministro.

Klaus retornou pra sua mesa e continuou a conferir a papelada que ainda tinha que ver. Dessa vez, se permitiu pensar um pouco na filha e no que diria a ela na carta assim que chegasse em casa. Quando terminou de revisar a papelada, decidiu ir pra casa da maneira Muggle. Pegou um ônibus e, no caminho, releu a carta da filha.

“Pai,

Você não vai precisar arranjar desculpas pra que eu venha pra Hogwarts. Eu achava que isso tava mais do que óbvio pra você. Como a mamãe sempre diz, eu realmente sou a sua filha. Por realmente ser a sua filha, vou ficar em Londres com você e Onkel Leon. Prefiro ouvir os berros do Onkel Leon depois de algumas cervejas malditas do que ouvir os gritos da mamãe por eu não ser tão mulherzinha como ela quer.

Eu não te contei sobre o Miko porque, em parte, estava tentando arrumar a melhor forma de te contar e também porque tinha pensando em te contar quando eu fosse ficar com você no Natal. Mas, como você já sabe, acho que é idiota da minha parte fazer um anúncio formal — a não ser que você queira que eu faça.

Quanto a questão de animagus, bem, estive pensando em ser um melro. Sim, um melro. Meu patrono é um e eu pensei que fosse apropriado. Mas aceito sugestões, claro.

Por falar na mamãe e na Leslie, você sabe me dizer como elas estão? E eu queria dizer que agora eu tenho certeza do motivo que não me tornei uma aluna Gryffindor. Estou morrendo de medo da reação da mamãe e da Leslie quando souberem que prefiro ficar com você. Sei que esse medo é bobo, mas não consigo evitar.

Sempre enchendo o saco,

Astrid”

Klaus sorria todas as vezes que relia a última parte sobre o medo da filha. Ele sabia que a filha reconhecia os próprios medos, apesar de não expô-los pra todo mundo. Por mais que quisesse, sabia que, naquele instante, não poderia se encontrar com a filha. A sua única opção era ir a Hogsmeade em algum fim de semana que a filha fosse liberada pra visitar a vila.

Chegando em casa, escreveu a resposta pra filha. Perguntou quando seria o fim de semana mais próximo que ela poderia ir a Hogsmeade. Na carta, prometeu falar com mais calma quando se vissem na vila bruxa. Enviou a carta através da coruja da família no mesmo instante que o irmão chegou.

— Mandando uma carta de trabalho? — perguntou Leon

— Não. É pra minha kleine Biene. Ela tá precisando. (N/A: kleine Biene significa, literalmente, “pequena abelha” em alemão)

Hogwarts, 07:00 PM, 22/10/2010

— Astrid, eu já disse. — repetiu Miko, já sem paciência — O meu patrono não é um dromedário. É um camelo. — as pessoas da sala comunal deixaram de estranhar os “debates” de Miko e Astrid.

— Tá bom, não é um dromedário, mas não deixa de ser um animal do deserto. Porque você se importa tanto? Você fica dizendo que o meu patrono é um sabiá e eu nem faço escândalo, mesmo sabendo que você erra de propósito.

— Eu não erro de propósito. Aquilo é um sabiá. Tem cara de sabiá, bico de sabiá, como é que não é um sabiá?

— Não sendo. É um melro. E você sabe muito bem disso. Eu sei dizer quando alguém está mentindo, Dawud.

O menino apontou pra janela do outro lado da sala.

— Ei, a coruja assassina chegou pra você de novo.

— A coruja não é assassina. Ela só bicou o seu dedo.

— Que por algum acaso está doendo até agora. — Miko adicionou uma dose extra de drama e mostrou um corte fundo no indicador direito, que estava com um pouco de pus. O drama acabou convencendo Astrid.

— Desculpa. É que ela foi treinada pra não deixar ninguém roubar a correspondência alheia. O nome dela é Dorothy. Eu escolhi o nome quando eu era pequena por causa d’O Mágico de Oz, um filme Muggle.

Astrid pegou o envelope da pata da coruja e fez carinho para que ela esperasse pela resposta. Abriu o envelope e puxou a carta de dentro. Miko não tentou espiar a carta, só esperou a namorada ler.

“Kleine Biene,

Pode ficar tranquila, que o Sorting Hat sabe o que faz e te colocou na casa certa. Você é inteligente e sábia e, sinceramente, não poderia existir casa melhor do que Ravenclaw para você.

Queria saber quando é seu próximo passeio pra Hogsmeade. A gente poderia se encontrar por lá. Talvez no Three Broomsticks. Lá a gente pode conversar com mais calma, você pode me contar direito esse seu lance — ainda se fala isso? — com o filho de Ivan e a gente pode falar sobre Sarah e Leslie.

Até mais,

Klaus.”

Astrid revirou os olhos. Isso era típico do pai dela. Usava gírias que sempre soavam estranhas na voz dele. Anotou num pedaço de pergaminho que tinha por perto que o próximo passeio já seria no dia seguinte e que estava confirmado o encontro no Three Broomsticks. Entregou o bilhete para a coruja, que alçou voo logo depois de soltar um pio fraco. Miko olhou pra namorada com ar inquisidor.

— Era meu pai, perguntando quando vai ser o próximo passeio pra Hogsmeade e se eu poderia me encontrar com ele no Three Broomsticks. — Astrid falou

— E o nosso plano de juntar o James com a Lily? Entra pelo cano? — Miko tentou soar o mais ofendido possível, mas não teve muito sucesso.

— Não, não vai entrar pelo cano. Vamos juntar a Lily com o James fácil, fácil. A gente vai pro Three Broomsticks com o casal em questão e depois vamos “acidentalmente” sair da mesa, deixando os dois ali pra se acertarem. E, depois do que eu conversei ontem com a Lily, acho que ela tá disposta a dar uma chance pro James.

— Como você conseguiu esse milagre?

— Técnicas de convencimento de Astrid Hoff, caro Michael. São infalíveis. — ela riu da expressão dele — Brincadeira. Foi muito fácil falar com a Lily. Eu expliquei a situação do James e perguntei o que ela achava do lado fofo do James com os amigos. Ela disse que tava espantada com o fato dele ser tão legal com os amigos e disse que daria só uma chance pra ele.

— Tiro o meu chapéu pra você, Biene. Você conseguiu um verdadeiro milagre. Lily Evans dando uma chance pra James Potter.

Os dois ficaram rindo até Astrid começar a bocejar e reclamar que estava com sono. Antes de se recolher, Astrid comentou que estava ansiosa pelo dia seguinte. Iria juntar dois amigos dela e iria se encontrar com o pai. Definitivamente, o fim de semana prometia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Touches You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.