Trocando galáxias escrita por Mandalay


Capítulo 1
Trocando galáxias — capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Um final alternativo para o mistério #91 (Fixing Mistakes) e não me perguntem do motivo, eu tinha umas músicas na cabeça um final de capítulo de apertar o coração e as palavras apenas vieram rápido demais para que eu pudesse pensar no resto.



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O feitiço da sereia fazia efeito mais uma vez a medida que as pernas dela iam cada vez mais fundo, a água estando na altura de suas canelas, agora cobertas por escamas que iam do verde piscina a um cor de rosa clarinho, contrastando infinitamente bem a baixa luminosidade daquele lugar que caía aos pedaços não importando o quão longe fossem, as construções pareciam estar em constante ruína, se desfazendo pouco a pouco. Passado e presente se encontrando, caindo em desespero diante de um futuro incerto.

Se bem que para ele sempre houvera o passado petrificado, sem chances de emendas no presente para diversas chances de futuro serem moldadas.

E mesmo que realmente houvesse uma chance, uma ínfima chance de algo diferente acontecer ele se recusava a ser esperançoso o suficiente para acreditar que algo diferente do esperado pudesse realmente acontecer. Mesmo com essa possibilidade estando diante dele, com olhos brilhantes e esperançosos, usando do mesmo vestido branco e meias pretas acima dos joelhos e uma mochila recheada de lembranças nas costas. Mesmo com Yashiro se colocando sobre uma bandeja de prata pronta para ser servida apenas para ele, ele, Hanako-san, sétimo mistério da Academia Kamone, se recusava a acreditar.

A separação deveria ter feito o efeito necessário, deveria ter dado a ela os noventa e nove anos que ela o havia desejado. Deveria ter trazido felicidade a Yashiro tal como uma falha lembrança daquele que atendera a seu desejo. Talvez por um preço que ela não estivesse disposta a pagar. Provavelmente fora isso que a levara até ele mas ainda assim, ainda assim não era correto, não era o esperado.

Não valia a pena.

Não valia o esforço - de - ela estar ali.

Aquele estava sendo um sonho bom demais para que ele quisesse realmente acordar. Yashiro o amava também e estava disposta a abrir mão de seu desejo por ele, até mesmo trouxera uma mochila repleta de brinquedos para estar ali, com ele, por toda uma eternidade.

Humanos, vivos.

Se ele era alguém egoísta então Nene não seria diferente dele.

Uma criança egoísta.

E ele amava cada pedacinho dela.

Olhá-la não estava ajudando.

— Yashiro, você não pode ficar comigo aqui - e antes que ela retrucasse, continuou segurando uma de suas mãos — você me ouviu, não existe certeza de que você continuaria a mesma se permanecesse aqui. Mesmo que morra, mesmo que fique aqui comigo, esse é só o meio do caminho... e eu não conseguiria suportar ter só uma sombra da Nene Yashiro ao meu lado... por isso você tem que voltar.

Ela soltara um soluço, a mão livre secando as lágrimas que lhe corriam dos olhos.

— Mas se vou morrer de qualquer forma, eu queria ao menos poder estar com você Hanako-kun.

Almas sem um corpo eram fugazes demais para serem conscientes o suficiente para manterem a personalidade que tinham em vida e dependendo da forma como morriam, isso poderia apenas agravar uma situação no plano astral, dirá caso se transformassem em um ser sobrenatural totalmente novo e diferente daquela pessoa de outrora. Yashiro poderia ser forte e ambiciosa mas seriam essas qualidades o suficiente, para que ela mantivesse todas as características que a faziam ser alguém tão marcante estando ao seu lado?

O honrável número sete duvidava disso.

Além disso, ele realmente queria que ela vivesse, que ele, o fantasma do banheiro feminino do terceiro andar não passasse de uma lembrança distante em sua memória.

Mas ela estava ali, além da fronteira, por ele.

— Você não sabe do que está falando.

— Eu sei.

— Não, não sabe Yashiro!

— Sei sim! Eu estou aqui porque... porque...

— Por que..?

As bochechas dela se inflaram como as de um esquilo que acabara de se fartar de nozes para o inverno.

— Porque aquele que amo é um completo idiota egoísta que faz tudo o que ele quer sem se importar com que os outros podem pensar ou sentir sobre isso - ele abrira a boca, mas ela a tampou com ambas as mãos — eu estou aqui Hanako-kun, porque você é um completo idiota que me deixa sem alternativas do que fazer em seguida! Eu vou morrer e não há desejo que mude isso!

Ela voltara a chorar.

— Eu vou morrer e não há nada que eu possa fazer sobre isso, eu vou morrer e quem eu amo nem é vivo, então não seria uma ideia ruim estar com ele.

— Yashiro eu...

— Você tentou, mas não da melhor maneira, deixou muita gente irritada com você por causa disso. Por minha causa. Você já teve ideias ruins o suficiente por minha causa Hanako-kun.

Agora as escamas cobriam os braços dela e ele pouco conseguia resistir a ideia de admirá-las.

— Me desculpe Yashiro, eu só não quero você desista tão fácil.

— Eu não estou desistindo, só estou sendo inconveniente.

Ele a encarou.

— Eu não quero que você morra.

— Eu também não quero, mas o que mais posso fazer sobre isso?

A presença dela realmente era algo que trazia luz para ele, ele só não queria que ela se apagasse - que a vida de Yashiro terminasse por causa dele - não era assim que deveria ser e mesmo que ela sorrisse quando dizia aquelas palavras sobre a morte, era um sorriso que não chegava aos olhos.

Ninguém deveria ficar feliz em morrer.

Ninguém deveria morrer antes do tempo.

Então porque ela tinha de morrer?

Por que, desde o início ela pudera vê-lo?

Era tão injusto.

Tão injusto ele estar morto e vê-la numa situação tão semelhante a dele quando morrera.

Por que Deus era tão cruel, por que ele não atendera seu pedido?

— Não diga isso, por favor.

As mãos escamadas dela seguraram seu rosto, fazendo com que ele a olhasse nos olhos.

— 'Tá tudo bem - os olhos dela brilhavam pelas lágrimas — 'tá tudo bem Hanako-kun. Só me diga que não vai me deixar para trás, que vai ficar comigo.

"Para sempre e sempre", era o que ele gostaria de ter dito.

De repente ele se lembrara de um dos jogos que ela trouxera em sua mochila, um quebra-cabeças de duas mil peças, todas estas brancas. Sem um fim, nem um começo. Sem uma imagem para ser formada no final.

Uma tela em branco estendida pela eternidade apenas esperando para ser pintada.

Ele olhara novamente as escamas, a maldição da sereia que os unia por pura impulsividade dela em ter um de seus desejos atendidos.

A realidade poderia estar colorindo aquela tela em preto mas Yashiro parecia ter um estoque interminável de tinta branca para jogar sobre ela.

Ela ainda o olhava, aquele sorriso triste fazendo com que algo nele se apertasse um número infinito de vezes.

— Eu tive uma ideia, só acho que você não vai gostar dela.

Um riso sem emoção alguma escapara dos lábios dela.

— Suas ideias são sempre horríveis Hanako-kun, mas pelo menos você se esforça com elas.

Ela, Nene Yashiro sempre se esforçava para brilhar.

Ela era a sua luz e ele não poderia deixar que esta se apagasse.

Yashiro era uma galáxia da qual ele adoraria continuar fazendo parte.


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