Uma armadilha de memórias escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 19
Memórias Compartilhadas




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Elvis não esperava novidades naquele dia, tudo parecia muito comum e monótono, desde o início de seu pós vida. A única coisa que tinha estranhado até então era não encontrar Priscilla dormindo ao seu lado. Ela era incessante, sua esposa, sempre cuidando dos negócios da família e dos seus próprios. Sua botique em Beverly Hills tinha prosperado nos últimos anos e era uma das coisas que ela mais amava tomar conta no mundo. Ele a admirava por nunca perder a energia e ser sempre constante, acabou deduzindo que era justamente isso que ela estava fazendo agora.

Antes que descesse para ver se encontrava Priscilla, Elvis escolheu o que usaria naquele dia antes de descer. Tinha deixado os figurinos exagerados para trás durante um longo tempo. Se deu conta de que, nos tempos em que vivia agora, as pessoas se vestiam de forma mais simples. Optou por uma camisa com os punhos enrolados, a calça reta e botinas, que combinavam com as exigências da rotina de Graceland, tendo em meio de suas responsabilidades cuidar dos cavalos mais tarde.

No seu pulso esquerdo tinha um relógio de pulseira de couro, substituindo os antigos dourados de marcas caras. Os dedos que costumavam serem cheios de anéis estavam vazios agora, exceto pelo anelar esquerdo, ostentando sua aliança de casamento.

Olhando no espelho, aparou a barba branca com a mão, estava um pouco maior nos últimos anos, o que ajudava a se disfarçar mais, lhe dando um pouquinho mais de liberdade de caminhar por outros lugares, desacompanhado, sem desconfianças. O cabelo também estava alvo, mas bem penteado para trás, impecável.

Poderia até dar um passeio por Memphis se quisesse, caminhar pelas ruas que tinham seu nome, ver os monumentos erguidos em sua homenagem, já que, querendo ou não, muitas outras celebridades tomavam conta do imaginário das pessoas agora, mas não ele, ao menos não tanto quando fez sucesso, quando era um artista em seu auge.

Ainda assim, havia fãs, tão velhos quanto ele, ainda devotos e leais. Elvis teria mais uma confirmação disso naquele dia, mas antes de descer, se deparou com uma cena reconfortante.

Priscilla conversava com Lisa, sua filha agora uma mulher feita e mãe de quatro filhos, estava aos risos, conversando sobre algo divertido, no mínimo.

—Enfim, agora me conta sobre essa turnê nova - Lisa perguntou à mãe, curiosa sobre o assunto que ela tinha mencionado antes.

—Ah é um projeto novo que o fã clube oficial propôs, estou considerando em pôr em prática, mas tenho que ver o que seu pai acha - Priscilla explicou melhor.

—Pode ver agora mesmo, Cilla - ele resolveu surpreendê-las, também curioso para saber do que se tratava.

—Oi, papai, faz muito tempo que está aí? - Lisa foi a primeira a se levantar e abraçá-lo.

—Não, acabei de chegar, mas você, parece que está um tempinho por aqui... - ele deduziu.

—Sim, vim ver como vocês estão - ela se explicou.

—Estamos bem, embora eu não faça ideia do que sua mãe está aprontando - ele riu - e as crianças?

—Em casa, com o pai delas - Lisa respondeu, pensando na sua própria família e como até aquele momento, alguns deles estavam alheios ao segredo dos Presley.

Lisa tinha crescido guardando esse segredo e conforme ela ia tendo diferentes relacionamentos, ficava claro o quanto era arriscado compartilhar com quem era de fora. Caso ela se separasse do seu atual namorado, contando que seu pai estava vivo, corria o risco dessa mesma pessoa espalhar para a mídia e causar alvoroço indesejado. Por isso, quando Lisa se casou com Danny Keough, o que seus pais haviam pedido a ela era que mantesse o segredo, continuando a salvar a vida de Elvis, de várias formas, esse segredo também foi proibido de Riley, Ben, Finley e Harper.

No entanto, para manter o contato com o avô, eles se aproximaram do cuidador dos cavalos de Graceland, Johnny. Ao completarem 18 anos, Riley e Ben ficaram sabendo da verdade, prometendo que manteriam isso escondido, até mesmo do pai deles. Apesar do baita choque, era mais fácil perdoar o segredo e conciliar o fato do avô estar vivo pela amizade que já nutriam com ele. As gêmeas Finley e Harper também eram próximas dele, mas ainda não estava na hora de saber quem ele era.

Voltando ao presente, Priscilla aproveitou a ocasião para contar a Elvis o que estava organizando dessa vez.

—Como eu disse, o fã clube propôs uma ideia de remasterizar seus shows antigos, com banda e backing vocals ao vivo, os mesmos músicos que se apresentavam com você - ela explicou.

—Vão trazer CTB de volta? Todo o pessoal? E eles ainda estão na ativa? - ele foi citando, maravilhado.

—Estão todos dispostos a se reunir novamente, em sua homenagem - Priscilla acrescentou.

—Puxa vida, não tenho nem palavras, eu... - ele engoliu em seco, pensando em como se expressar melhor a seguir - confesso que deu vontade de poder estar lá e tocar com eles, mas sei que isso não é possível... de qualquer forma, fico feliz que eles estão fazendo isso, se tiver alguma forma de você agradecer a eles por mim...

—Tem sim, e o que me deixa feliz é poder dizer a verdade a eles, que Elvis adoraria tocar com eles se estivesse aqui - Priscilla sorriu, acariciando o rosto dele a seguir numa forma de consolo, o que foi um gesto apreciado por seu marido.

—Obrigado por isso - ele fez questão de dizer.

—Mas não fique lamentando, temos trabalho a fazer - ela logo tomou uma postura mais séria - eu quero e preciso que você me ajude com o repertório do show, quero que ele seja autêntico, que você escolha as músicas que gostaria de tocar.

—Uau, é uma grande responsabilidade, mas faço isso, com todo prazer - ele sorriu e sentou ao lado dela, disposto a começar.

—Estou amando sua empolgação, mas tem uma notícia a mais muito importante relacionado a tudo isso - ela fez questão de avisar - essa é uma turnê internacional, ela vai rodar por muitos países, mais uma exposição com um acervo considerável de Graceland.

—Uma turnê internacional? - Elvis repetiu as palavras incrédulo, emocionado - antes tarde do que nunca...

—Realmente, mas a oportunidade pra isso chegou, mesmo que de uma forma diferente - ela fez questão de enfatizar.

—Você é tão boa nisso, meu bem, teria sido uma empresária maravilhosa, leva tanto jeito pra coisa - ele elogiou, admirado - tudo seria tão diferente, eu deveria ter te escolhido como minha agente.

—Ora, El, agradeço os elogios - ela apertou a mão dele que estava mais próxima - mas naquela época, não sei se teria a resistência e o conhecimento para isso, se faço um bom trabalho agora é porque levei anos de experiência para chegar a isso.

—Bom, antes tarde do que nunca - ele compreendeu o que ela quis dizer - não há ninguém no mundo a quem eu confiaria meu legado além de você.

—Isso me honra muito, obrigada - Priscilla assentiu, também emocionada com aquelas palavras.

Antes de voltarem ao repertório do show, acabaram trocando um beijo apaixonado. Lisa, que ainda estava ali, apenas sorriu diante da cena, a deixava feliz e aliviada saber que os pais tinham encontrado o caminho da felicidade juntos, ainda que reclusos ali. Tornava tudo ainda mais precioso.

 


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