O silêncio humano era absoluto. Ninguém ousaria respirar um pouco mais forte e interromper a concentração do Imperador enquanto ele esticava a corda do arco e mirava a flecha no seu alvo em movimento, um pássaro. 

Estavam numa campina aberta e elevada dentro da propriedade imperial. O vento movia as folhas das árvores fazendo-as chacoalhar, os pássaros piavam em paz, os sapos coaxavam e grilos cantavam mata adentro. 

O som da flecha cortando o ar foi gracioso e o resultado, perfeito.

— Um belo tiro, Majestade.

O olhar de Akashi nem se moveu ante a fala do Consorte. Estava irritado.

— Onde está Shintaro?

— O Shogun avisou sobre a reunião com o Lorde de Yadasan, Alteza.

Akashi franziu o cenho minimamente.

— E eu lhe disse que desmarcasse, se bem me lembro.

— Majestade, essa não é uma atitude que...

Mibuchi deixou a fala morrer ao ouvir o som de cavalos se aproximando e afrouxou o colarinho da roupa discretamente, mentalmente agradecendo aos Céus por ser salvo de um embate com o teimoso e temperamental Akashi Seijuro.

O Shogun desmontou do cavalo com a ajuda dos servos e, por eles, foi ajeitado para a atividade de arquearia.

— Shintaro. Está atrasado.

Midorima balançou a cabeça em negação com a sombra de um sorriso nos lábios, mas não retrucou. Fez uma mesura, colocou-se a postos ao lado do ruivo e mirou. 

Apenas pela presença, Akashi pôde sentir o cheiro selvagem de suor e relva fresca vindo do general. Veio correndo... Tentou não dar importância à constatação, afinal ele era o Imperador e todas as suas ordens deviam ser acatadas com excelência, mas sentiu-se bem humorado pelo resto da tarde.

Ao findar das atividades estavam com a mesma pontuação, mas não se tratava de uma competição já que o Imperador era absoluto e Midorima exímio em qualquer atividade de tiro ao alvo. Uma partida de shogi após o jantar resolveria todas as questões (onde Seijuro sabia que ganharia, pois não tinha possibilidade de empate). 

Chegaram às termas e os servos os despiram. O calor do ambiente era bem-vindo e fazia desprender o cheiro de suor que emanava dos dois, um pouco mais forte no Shogun.

Midorima notou Akashi olhando para ele.

— Majestade?

Os olhos heterocromáticos subiram para encarar os verdes límpidos de Shintaro, sabia que ele não enxergava bem a curta distância por isso não fez questão de esconder sua análise pelo rosto grave e pelo corpo esculpido, marcado de cicatrizes, do General. 

Akashi se aproximou até estar rente ao corpo do outro, tão perto que podia sentir o calor em suas veias, tão perto que o topo da sua cabeleira vermelha ficava pela metade do peitoral musculoso. Sentiu-o tenso e sorriu. Deu-lhe uma lambidela no peito, brincalhão, enquanto Midorima arregalava os olhos e avermelhava virando o rosto, músculos tremendo no instinto de se afastar.

— Você foi um bom menino hoje, Shintaro. 

E lhe deu as costas para entrar nas águas termais. 

Midorima esperou o coração acalmar antes de seguir o mesmo caminho que o verdugo Soberano.