— Wa! Mitobe-kun é tão legal! Aqui parece o paraíso! — gritou Koganei pelo que poderia ser a centésima vez abrindo os braços para o horizonte poente no alto da colina.

Em contraste com a vivacidade do vizinho, Izuki estava com o olhar de águia ativado e com um tremor no lábio superior enquanto se concentrava para estapear um mosquito no próprio braço.

— Argh! Passamos o dia andando debaixo desse sol e esses malditos mosquitos...

— Izuki-kun, onegai, não solte a cesta de novo — pediu Kuroko que esperava o colega terminar de se coçar e voltar a ajudar no carregamento do cesto de frutas que tinham colhido no pomar.

— Izuki, não seja assim. Nós passamos um bom tempo na cachoeira e o ar da fazenda é tão mais limpo que na cidade... Faz com que a gente se sinta na Era Edo — ponderou Hyuuga sonhador.

— Hum. Com certeza, faz com que a gente se sinta em paz com a natureza — concordou Kiyoshi descendo a mão para estapear o ombro de Kagami amigavelmente — Ne, Kagami, por que você está tão quieto?

Vermelho de irritação pelo tapa forte, o ruivo sacudiu os ombros para longe do senpai.

— Eu só estou apreciando o clima!

Kiyoshi riu.

— Você esquenta muito rápido, Kagami-kun.

Enquanto desciam a colina, Mitobe os encontrou no meio do caminho; terminava de levar as ovelhas para o aprisco com seu avô. Uma breve conversa e muitos choramingos depois, Mitobe e Koganei trocaram de lugar com Kuroko e Izuki na tarefa de carregar o cesto. Estava pesado e acabaram sendo deixados para trás. 

Koganei tagarelava animado contando todos os detalhes do dia que tinham passado na mata. Mitobe carregava um sorriso pequeno, as sobrancelhas grossas relaxadas, contente enquanto ouvia Koga perguntar e responder as próprias perguntas, saltando de um assunto ao outro, sem pausa, num fluxo contínuo que expunha o quanto estava empolgado. O outro, mais calmo, assentia ou recusava vez ou outra quando ele olhava para si querendo uma opinião.

Sem que se importassem, os outros tinham sumido de vista, provavelmente, já próximos do casarão. 

Pararam num morro, próximos de uma árvore baixa carregada de flores brancas para descansar. O sol agora não mais esquentava, tinha se escondido atrás de alguma montanha, mas o ambiente ainda estava quente enquanto o dia se preparava para se tornar noite.

Koganei esfregou as mãos vendo-as vermelhas e marcadas pela alça do cesto, olhou para Mitobe que tirou uma luva de couro para enxugar a testa. A mão grande estava calejada e, num impulso, Shinji a segurou e trouxe para perto dos olhos, acariciou os calombos com a ponta dos dedos.

— Ne, Mitobe-kun, é meio injusto que você tenha que trabalhar enquanto nós curtimos o dia inteiro... 

Sua voz sumiu ao olhar para cima. 

Uma rajada de vento gelado desprendeu da arvorezinha o seu perfume característico e trouxe o primeiro gostinho da noite. Naquele instante infinito enquanto seus olhos fechavam quase que por hipnose e os lábios ansiavam pelo toque que viria, Koganei se lembrou: jasmin-da-noite era o nome da árvore...