Furihata percebeu que eles estavam se encarando. O rosto corado pelo exercício, o suor abundante como se tivessem jogado dois jogos seguidos. Obviamente havia uma diferença gritante entre ele e o líder da Rakuzan; enquanto Akashi parecia apenas um pouco cansado com uma fina camada de suor, Furihata tinha a impressão de ter saído de uma piscina.

O garoto que vergonhosamente havia sido comparado a um chihuahua se parabenizou mentalmente por naquele momento conseguir olhar nos olhos do “imperador absoluto”, Akashi Seijurō. 

A ideia tinha sido de Kuroko. Apesar dos esforços, Kouki não conseguiu deixar de transparecer a irritação pela diferença de forças tão óbvia no jogo decisivo da Winter Cup, e o colega de olhos apáticos lhe contou com reverência e admiração algumas histórias de um Akashi gentil e afirmou que ele não se negaria a ajudar caso realmente quisesse melhorar no basquete.

Furihata não conseguiu levar a ideia a sério, mas pensou muito sobre o que Kuroko havia falado e sobre o que tinha ouvido dos outros membros da Seirin sobre o transtorno de dupla personalidade de Akashi... Mas nada teria mudado se numa confraternização o garoto intimidador não tivesse perguntado casualmente se Furihata gostaria de treinar com ele em um dia qualquer. 

E um treino se tornou dois, e dois se tornaram três... Até que virou rotina se encontrar aos sábados de manhã na quadra particular da casa de Akashi e permanecer ali até a fome apertar. Como agora.

Kouki fintava olhando-o desafiador pronto para tentar um lance quando Akashi lhe roubou a bola e passou pelo seu flanco direito correndo para a cesta e tranquilamente marcando uma cesta de dois pontos. 

— Que sorte a sua não estarmos contando — o ruivo alfinetou brincalhão.

E esse era um dos muitos lados que Furihata descobriu do capitão da Rakuzan. Suspirou irritado indo até um dos bancos onde tinha deixado sua água. Akashi se aproximou para pegar a própria garrafa e uma toalha de rosto.

— Sabe, eu ainda vou fazer você cair, Seijurō.

O ruivo arregalou os olhos diante do tratamento insolente e lhe lançou um olhar atávico que relampejou amarelo e fez Kouki perder a pouca força que ainda lhe restava nas pernas enquanto o ruivo se aproximava em calculados passos felinos. 

Caído no chão, o pulso acelerado, Furihata percebeu Akashi lhe olhar de cima.

— Não abuse, Kouki.

Arregalou os olhos para ele em choque ao que a expressão arrogante acima de si se desfez no rosto do capitão enquanto ele tentava esconder o riso numa mão e oferecia a outra para ajudar Furihata a se levantar.

O garoto caído corou por ter sido levado pelo truque de Seijurō e quase (quase, porque não era insano) afastou a mão estendida do rival. Aceitou a ajuda e levantou com a cabeça abaixada de vergonha. 

— Furihata-kun, desculpe, eu não resisti à brincadeira, não fique bravo — porém Akashi ainda falava com um vestígio de riso o que não ajudava para diminuir o desconforto causado.

— Estou com fome, Akashi-kun — resmungou lhe dando as costas para fugir do assunto.

O anfitrião logo o alcançou caminhando ao seu lado e continuando um assunto qualquer de bom humor.

Kouki não conseguia olhá-lo e o ruivo se questionava se tinha ultrapassado algum limite... Mas para o estudante da Seirin a questão que lhe incomodava no âmago era o pensamento que o assaltou depois da brincadeirinha. De que Akashi Seijurō tinha um sorriso lindo e um riso muito elegante...