O Landau Vermelho escrita por Matheus Braga


Capítulo 8
Capítulo 7




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A melhor expressão para descrevê-los naquele momento era encaixe perfeito. Como dois objetos cuidadosamente moldados para que se encaixassem com perfeição, ou como duas peças de Lego especialmente projetadas pelo Criador. O beijo de Adam era intenso, másculo e lascivo, transbordante de desejo e ansiedade, combinação essa que fez Fernanda amolecer. Ele beijava ainda melhor do que ela conseguia se lembrar.

Mas ela não ia bancar a menininha molenga. Ela era a encarregada durona, uma mulher de atitude. Não demorou muito para que ela correspondesse à ânsia com que ele a beijava. Jogou sua bolsa para o banco de trás do Toro e inclinou seu corpo para frente, levantando a mão esquerda e segurando-o pela nuca. Com a mão direita, ela ocupou-se em acariciar-lhe as coxas.

Foi um momento extremamente carnal, sem sentimentos, receios ou opiniões. Um momento apenas físico, que serviria para aliviar toda a tensão, todo o desejo e todas as vontades acumuladas em ambos. Aquele beijo foi como a faísca inicial que colocaria fogo em todo um depósito de combustível. Como aquela gota em excesso em uma fórmula química que causaria uma inevitável ebulição.

Apesar da posição ruim dentro da caminhonete, haviam se arranjado relativamente bem. Adam permanecia segurando a gola da blusa de Fernanda com pulso firme, enquanto ela dividia sua atenção entre laçar a língua do gerente com a sua e tocar cada milímetro da extensão da coxa direita dele de forma suave e, ao mesmo tempo, ousada. A respiração de ambos já estava bastante ofegante, e de vez em quando a encarregada conseguia ouvir Adam soltar uns gemidos graves e baixos com a garganta, como se estivesse se libertando de uma carga de tensão particularmente pesada.

Seria inevitável seguir dali para a cama de algum deles. Seria, se Bruno não tivesse interrompido o momento. O celular de Fernanda começou a tocar, fazendo-os se afastar um do outro. Não tinham a mínima noção de quanto tempo estavam ali, mas havia sido o suficiente para embaçar ligeiramente as janelas do Fiat Toro. Adam ainda demorou alguns instantes olhando nos olhos de Fernanda e arfando de uma forma animalesca que ela achou inigualavelmente sensual, mas acabou se empertigando no banco do motorista e ajeitando o paletó. A encarregada também se sentou corretamente no banco do passageiro, sentindo-se ligeiramente sem ar e passando a mão pelo cabelo para alinhá-lo novamente.

O celular continuava tocando, insistente. Conferindo o visor e vendo que era Bruno que estava ligando, Fernanda atendeu.

— Oi, Bruno.

— Oi, senhorita! Tudo bem? — Ele cumprimentou — Desculpa estar te incomodando, mas preciso de um favor.

— Pode falar.

— Você tem o telefone do Adam?

A encarregada estranhou o pedido e olhou para o gerente, incerta se deveria dizer a Bruno que estava bem ao lado dele.

— Para quê? — Ela perguntou, enquanto pensava no que fazer.

— Acabei de receber uma ligação do gerente de Montes Claros. Uma das nossas carretas capotou em Pirapora e preciso da autorização dele para viajar para lá.

— Carregada? — Fernanda ficou subitamente alarmada.

— Sim, mas ainda não confirmaram a volumetria.

Fernanda suspirou, e só então percebeu que Adam a encarava.

— O que foi? — Ele perguntou, entre os dentes.

— Uma carreta de MOC tombou. — Ela respondeu, tapando o bocal do celular.

Mas não adiantou muita coisa.

— Você está com ele aí? Eu sabia que estava rolando alguma coisa! — Bruno berrou do outro lado da linha. A indiscrição em pessoa.

— Sim, eu estou! Vou passar o telefone pra ele. — Fernanda devolveu, subitamente azeda, e entregou o telefone para Adam.

O gerente pegou o aparelho e pôs-se a conversar com o Bruno, tentando entender o que havia acontecido, e Fernanda recostou-se contra a porta da caminhonete e cruzou os braços, sentindo-se frustrada e mal-humorada. Ok, o rapaz não tinha culpa por ter ligado naquele exato instante, mas... Aquele beijo não devia ter sido interrompido. Em hipótese alguma.

— Tudo bem, então. — Adam estava dizendo, com o semblante sério — Pode viajar. Quando você chegar eu reembolso a gasolina que você gastar, só preciso que você me traga as notinhas de abastecimento. E quanto à hospedagem, peça ao gerente de MOC pra te dizer qual hotel ele costuma usar. — Ele ouviu por mais alguns instantes — Ok. Encaminhe o relatório para o gerenciamento de risco o mais breve possível para fazermos o acionamento do seguro, mas me mantenha em cópia do e-mail. Tudo bem, então. Fico no aguardo. Até mais.

Adam desligou e devolveu o celular para Fernanda, que guardou o aparelho na bolsa. Não fizeram contato visual e tomaram cuidado para suas mãos não se tocarem. O interior do Fiat Toro adquiriu um ar carregado, como se estivessem dentro de um barril de pólvora e qualquer mínimo movimento pudesse fazê-lo explodir. Passando o cinto sobre o peito e jogando a chave da caminhonete no porta-objetos do console central, o gerente apertou o botão Start-Stop no painel e ligou o veículo.

Seguiram de volta para o Eldorado num silêncio quase sepulcral. Havia uma energia indecifrável fluindo entre eles agora, como polos magnéticos se afastando mutuamente. Um vagalhão de pensamentos turbilhonava na mente de ambos, variando de um monte de vários nadas às perguntas mais clichês sobre o que é certo ou errado numa relação a dois. Pareciam dois adolescentes flagrados num momento particularmente hot.

Após vinte minutos que pareceram durar décadas, o Fiat Toro parou diante da casa de Fernanda. Adam desligou a caminhonete e passou dois dedos pelo cavanhaque, olhando para o volante.

— Bem... — O tom de voz dele era incerto — Está entregue.

A encarregada pegou a bolsa no banco de trás com um movimento lerdo.

— A noite foi ótima. — Ela disse — Muito obrigada pelo convite.

— Disponha. — Ele finalizou.

E então, como se houvessem combinado uma sincronia perfeita, levantaram os olhos e se encararam.

E foi o suficiente.

Fernanda avançou sobre o console central e literalmente se jogou sobre Adam, que teve tempo apenas de girar o corpo em diagonal e recostar-se contra a porta. O segundo beijo foi ainda mais intenso do que o primeiro. Sem se preocupar se os seus vizinhos poderiam vê-la ou sobre o que poderiam comentar, a encarregada deixou o peso de seu corpo recair sobre o de Adam. Agora, tinha ambas as mãos livres para fazer-lhe carícias por onde bem entendesse. Com movimentos que alternavam entre a delicadeza e a luxúria, ela abriu a camisa dele com destreza e pôs-se a delinear o contorno dos músculos de seu peito e abdômen enquanto deixava sua língua invadir-lhe a boca.

Adam, primeiramente pego de surpresa pelo ímpeto com que ela avançara sobre ele, agora encontrava-se rendido. Como havia sido Fernanda a tomar a atitude, deixou-a assumir o controle. Ocupava-se em pressionar as costas dela com os dedos e arranhar-lhe vagarosamente a coluna, causando-lhe um frisson de prazer. Também deleitava-se sentindo as coxas delas roçando contra as suas, e ele tinha certeza de que ela conseguia senti-lo pulsar por baixo da calça social.

Transar dentro daquela caminhonete parecia ser incontestável. Era o que ambos demonstravam ardentemente querer. Era o que o impulso natural os levaria a fazer. Até que foram interrompidos pela segunda vez naquela noite.

— Espera um pouco. — Adam pediu, erguendo as mãos e segurando Fernanda pelos ombros.

Ela soergueu o corpo e o fitou com uma expressão indefinida.

— O que...?

Ele fez um gesto com a cabeça, balançando-a de um lado para o outro.

— Não acha que estamos... indo rápido demais? — Ele perguntou a meia voz.

Ela torceu a boca e deixou seus olhos adquirirem uma expressão divertida.

— Você que sabe.

O gerente sorriu de canto, travesso, e depositou um beijo de leve na boca dela.

— Ok, então. — Ele correu os olhos pelo interior da caminhonete — Mas... aqui?

Fernanda ergueu o corpo e se sentou novamente, pegando sua bolsa e procurando qualquer coisa dentro dela. Adam ficou apenas observando. Em pouco tempo, ela ergueu um chaveiro. Mordendo o lábio inferior e dando uma risadinha, ela passou a mão esquerda pelos cabelos para realinhá-los e saiu rapidamente do veículo. Adam entendeu o convite. Sem se preocupar em fechar sua camisa ou em pegar qualquer coisa dentro do Fiat Toro, apenas desceu, acionou o alarme e seguiu atrás de Fernanda, que já havia aberto o portão de entrada e agora destrancava a porta da sala.

Mais tarde, não se recordariam de como haviam se livrado de suas roupas tão rápido. Depois de fechar a porta da sala, o único ato consciente de Fernanda foi se jogar novamente nos braços de Adam, que já estavam abertos para recebê-la. Quando deram por si, já estavam no quarto da encarregada, jogados sobre a cama, com Fernanda sentada sobre ele, beijando-lhe o peito.

Àquela altura, Adam usava apenas sua cueca boxer vermelha, enquanto Fernanda terminava de se livrar de sua calça jeans. Desfazendo-se da incômoda peça, a encarregada teve maior liberdade de movimentos. Ou, pelo menos, julgou que teria, porque o gerente segurou-a com firmeza pela base das costas e se sentou na cama, fazendo-a se sentar no colo dele. Naquela posição, ele ficava livre para beijá-la na base do pescoço e ao redor dos seios e voltar a raspar os dedos contra suas costas, arrancando dela deliciosos gemidos ofegantes enquanto ela arqueava o corpo para trás, num ato de total entrega.

E se havia algo que aquele momento não permitia, esse algo eram as preliminares. Havia muita tensão acumulada em ambos e precisavam descarregá-la urgentemente, ou acabariam explodindo.

Girando-os na cama novamente e fazendo Fernanda se deitar, Adam se pôs de pé e abaixou sua boxer, fazendo a encarregada soltar um gritinho de excitação. A visão corpo nu e perfeitamente definido dele diante dela a esquentou como uma usina siderúrgica, e algo que ela não pôde deixar de notar era que ele era maior do que ela se recordava.

Sem dar tempo para que ela o contemplasse, Adam avançou sobre ela e deixou que o peso de seu corpo forçasse o da encarregada para baixo, enquanto com a mão direita ele habilmente desabotoava e retirava o sutiã dela. Ele sentiu os mamilos rijos dela roçando em seu peito no mesmo instante em que ela sentiu o membro ereto dele tocar-lhe o baixo ventre. Sua atenção, no entanto, estava em capturar a boca dela com a sua novamente e depositar ali um novo beijo, vigoroso e permissivo.

Fernanda não conseguiu conter o gemido que se seguiu, mas o mesmo acabou abafado pela boca de Adam, que se encontrava colada à sua. Ela levou as duas mãos à nuca dele, agarrando-lhe o cabelo, e forçou seu corpo contra o dele, deleitando-se com o toque de cada milímetro da pele lisa dele.

E então, num movimento aparentemente calculado, Adam ergueu sua mão direita e segurou ambas as mãos dela sobre sua cabeça com vigor, imobilizando-a na cama, enquanto que com a mão esquerda puxava a calcinha de renda dela para baixo. Por puro levianismo, ele interrompeu o beijo e ergueu a cabeça uns poucos centímetros apenas para contemplar o olhar devasso com que ela o fitava, mordendo o lábio inferior novamente. Terminando de retirar a peça íntima dela com um gesto brusco, passou a mover a cintura para cima e para baixo com cadência, fazendo sua glande roçar pelos grandes lábios dela de forma suave.

Com as mãos imobilizadas e incapaz de se mover devido ao peso dele sobre o corpo dela, tudo que Fernanda conseguiu fazer foi gemer loucamente de desejo e impaciência.

— Pelo amor de Deus... — Ela conseguiu dizer, rangendo os dentes e arfando mais uma vez — Anda logo.

Adam parou por um breve momento, encarando-a com um sorriso sádico estampado no rosto. Fernanda franziu o cenho e tentou morder-lhe a boca, mas ele se esquivou. E então, baixando a cabeça mais uma vez e mordendo o lobo da orelha dela com incrível delicadeza, ele penetrou-a vagarosamente, deixando-a sentir cada centímetro dele a preenchê-la. Ela estava encharcada e quente, e parecia ansiar por alguém que apagasse aquele incêndio.

Sentindo-o entrar nela, Fernanda cravou suas unhas nas costas dele e friccionou-as para baixo, fazendo-o soltar um gemido surdo enquanto um arrepio corria-lhe pela espinha. Adam logo começou a investir com movimentos ritmados de quadril. A cada investida, a encarregada permitia-se emitir uma verdadeira sinfonia de gritos e gemidos que expressavam um combo de sensações que iam do prazer à euforia. Os corpos dos dois, unidos, misturavam seu suor e pareciam emanar energia de um para o outro, e não levou muito tempo para que sincronizassem seu movimento em uma harmonia quase musical.

Fernanda, então, começou a sentir em seu baixo ventre uma deliciosa sensação que se assemelhava a uma onda que vinha subindo por seu corpo. Agarrou-se ao torso de Adam e afundou seus dentes no ombro dele, sentindo um orgasmo avassalador entorpecer-lhe os sentidos. Foi algo intenso, inebriante, incapaz de ser descrito em palavras, como mil fogos de artifício brancos explodindo ao mesmo tempo. Sentia sua intimidade comprimindo-se em contrações ao redor do membro dele, sacudindo-a por completo e multiplicando aquela perfeita sensação por um milhão.

Adam também sentiu. De repente seus movimentos começaram a ficar mais rápidos e bruscos, fazendo suas cinturas baterem com força, até que segurou Fernanda pelo quadril e arremeteu sobre ela uma última vez, enquanto um gemido cavernoso escapava do fundo de sua garganta. Uma expressão animal, que parecia misturar alívio, violência e saciedade, surgiu em seu rosto enquanto ele gozava com força.

E então ambos se soltaram, deitando-se lado a lado na cama. Fernanda rolou sobre si mesma e ergueu o corpo, apoiando-se no cotovelo e encarando-o de forma pensativa, ocupando-se em fazer desenhos sobre o peito dele com os dedos. Ele apenas cruzou as mãos por trás da cabeça e ficou observando-a. Algum deles precisava dizer algo. Não por obrigação ou para fazer média, mas aquela experiência maravilhosa merecia uma finalização adequada.

Foi Fernanda quem se pronunciou.

— Que bom que você voltou. — Ela disse, sem preâmbulos.

A colocação dela causou uma ligeira surpresa em Adam. Ele ergueu o tórax, apoiando-se nos cotovelos, e fitou-a com um sorriso entreaberto no rosto. Pela expressão dele, ele buscava alguma resposta adequada àquele comentário.

Entretanto, ele não encontrou. Tudo que ele conseguiu fazer foi depositar um selinho nos lábios de Fernanda e colar sua testa à dela, soltando baixinho:

— E que bom que você estava aqui para me receber.

Dando mais um selinho nela, o gerente deitou-se novamente, e ela acomodou-se sobre ele. Sentindo sensações maravilhosas ainda permeando-lhes os corpos e o calor de um contra o outro, adormeceram abraçados.

 

o—o—o

 

Do outro lado da cidade, chamas envolviam o que até alguns momentos antes era um Volkswagen CrossFox. E ainda preso às ferragens do veículo, vendo o fogo subir pela lataria do carro como um predador sorrateiro, Gustavo sentia algo entre a aflição e a angústia.

Não pela certeza de que ia morrer. A morte não o assustava. Ele nunca havia crido em céu, inferno, nirvana ou 72 virgens na porta do paraíso. O que havia o perturbado tanto era quem estava por trás do volante do Ford Landau que empurrara seu carro em alta velocidade contra aquele poste de luz.

De início, ele pensou se tratar de Adam Peixoto. Após todos aqueles anos, ele era o único que teria motivos para querer matá-lo. No entanto, após o capotamento, a colisão contra o poste e a explosão do tanque de combustível do CrossFox, o motorista do Landau desceu do veículo e veio caminhando lentamente na penumbra na direção do Volkswagen. Quando chegou perto o suficiente para que Gustavo conseguisse ver o seu rosto e ouvir sua voz, ele soltou uma frase do livro A Culpa É Das Estrelas, de John Green:

Esse é o problema da dor. Ela precisa ser sentida.

Veneno escorreu daquelas palavras. Num estado de semiconsciência devido ao acidente, Gustavo não conseguiu pensar numa resposta. Não conseguiu pensar em nada. E antes de se deixar resvalar para a inconsciência eterna, a última atividade de seu cérebro foi uma constante repetição da mesma frase, várias e várias vezes:

Não é o Adam. Não é o Adam. Não é o Adam...

Até que, por fim, as chamas cobriram o CrossFox como um manto quente e luminoso.


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