Heaven escrita por Riena


Capítulo 7
Not even the stars shine like you do


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas



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Bella estava parada com flores na mão pelo que parecia uma eternidade. Nunca antes ela visitou o cemitério. Sabia que o deveria ter feito antes, mas era como se não quisesse aceitar que o único jeito de visitar seus pais seria ali. Bella apertou as flores na mão. Alice tinha perguntado se Bella queria a sua companhia. Se sentindo estupidamente corajosa, Bella negou, embora agora estivesse arrependida. Seria bom ter alguém com ela. Talvez ela tivesse coragem para entrar. Estava escurecendo. As árvores formavam sombras estranhas sob o mármore com nomes e datas gravadas na pedra. O vento soprava entre as folhas tornando tudo meio bizarro. Bella sentiu um arrepio. Respirou fundo, dizendo a si mesma que iria entrar. Só precisava de um momento mais para se preparar. Bella tentou pensar que não estava sozinha. Tinha Edward ali. Embora não o visse, ele estava lá. Isso não diminuiu a vontade de o ver. Seria bom que pelo menos Edward estivesse com ela. Que estivesse realmente ali. Que pudesse lhe dar a mão e sentir o aperto suave. Bella sentiu a brisa suave no rosto. Fechou os olhos por momentos. Sentiu a sua marca no ombro esquentar. No ouvido ela escutou um Shh suave. A brisa no rosto, passou de brisa a um toque quente. 
—Não se assuste. Sou eu. — Ele disse. 
Os olhos dela continuavam fechados, com a mão dele cobrindo. No ombro ela sentiu a mão dele que desceu pelo braço até encontrar a sua mão. O coração acelerou. Não foi de susto nem de medo. Foi porque era ele. Porque ela estava pensando que o queria ali e lá estava ele. Calmamente ele tirou sua mão do rosto dela, mas ela continuou de olhos fechados. Não queria ver o que não podia. Lhe deu tempo. Se deu tempo a si mesma. Ele a virou para si. Passou os braços ao redor dela. Tocou os lábios nos seus. Não para a beijar mas para lhe dizer que estava ali. 
—Você pode abrir os olhos agora, se você quiser. — Ele disse baixinho.
Bella podia se deixar ir, escutando a voz dele.
— Eu estava pensando em você. — Ela sussurrou na boca dele. 
Ela sentiu os lábios dele formar um sorriso.
— Eu sei. — Ele não sabia como sabia. 
Ele não costumava saber o que ela pensava. Sentia o que ela sentia, mas desta vez tinha sido diferente. Ele realmente sabia dentro dele o que ela estava pensando. Não como se sentisse, mas como um conhecimento de fato dentro dele. Ela abriu os olhos. Encarou os olhos verdes. Os reflexos dourados que sempre lhe pareciam mais intensos cada vez que o via. Encostou a cabeça no seu peito. Sentiu a sua falta. Entrelaçou os dedos nos dele. Olhou a mão dos dois juntas. Viu os tons negros nos nós dos dedos. Deixou cair as flores que ainda segurava na outra mão. Pegou a mão dele, entre os dois. Olhou o rosto dele que de repente parecia assustado. Ela não sabia que seria possível ver algum tipo de receio na sua expressão. Olhou novamente a mão dele. Magoada. Parecia algo que causava dor. Ela lembrou de quando Mike o socou, perto da praia. Do sorriso dele e do olhar destemido. Ela viu sangue, mas mais tarde não lembrou de ver nenhuma sequela no rosto dele. Lembrou que Mike estava no hospital. Olhou Edward, entendendo o que tinha acontecido. Tinha os olhos cheios de perguntas. Perguntas que ela tinha medo de fazer. Não porque tinha medo das respostas, mas porque sabia que não deveria fazer perguntas. Não ali. 
— Eu não tive intenção. Eu não sei o que aconteceu pequena. — Ele se desculpou, tentando afastar a mão magoada, para que ela não tivesse que continuar olhando. 
Bella manteve a mão dele entre as dela. 
— Não é isso que estou querendo saber nesse momento.— Ela disse. — É suposto isso acontecer com você? É suposto você ficar assim, magoado? — 
Talvez ela não devesse perguntar. Talvez devesse deixar para mais tarde. Não sabia até onde as perguntas dela poderiam ir. Até onde as perguntas dela poderiam levar. Nem mesmo o que causariam. Ele balançou a cabeça. Bella não sabia o que pensar. Se não era para acontecer, ela não sabia porque estava acontecendo. Ela duvidava que ele mesmo soubesse. Queria ajudá-lo, mas não sabia nem o que dizer, muito menos sabia o que fazer. 
— Está doendo? —  
Ele encolheu os ombros. — Não sei ao certo o que é dor. Suponho que doeu um pouco, mas não sinto mais nada. — Ele disse. 
Bella mordeu o lábio, preocupada.
— O que eu posso fazer Edward? Me diz o que fazer, eu não sei o que está acontecendo. — Ela falou com um certo desespero na voz. 
Ele a abraçou. Ele também não sabia o que estava acontecendo. Lhe disse que a única coisa que ela poderia fazer era pegar as flores de volta e fazer o que ela veio fazer. Visitar seus pais. Tentou tranquilizá-la embora lhe fosse cada vez mais difícil enviar emoções. Seus sentimentos se misturavam com os dela. Era difícil para ele perceber o que era dele e o que era dela. Era difícil ele enviar o que não estava sentindo e, no entanto, ele passou uma existência enviando emoções que apenas conhecia o nome. Bella pegou as flores. Voltou a olhar para a entrada. Estava mais escuro, as sombras mais sinistras e ela tinha esse peso estranho no peito. Ela disse a Edward que talvez fosse melhor voltar outro dia. Ele sorriu. Quando ele sorria algo se iluminava dentro dela. 
— Porque as pessoas ficam com medo dos mortos e não dos vivos? — Ele perguntou realmente curioso. 
— Existe um monte de histórias, sabe. Fantasmas. Espíritos. Além disso, um cemitério nunca será um lugar convidativo a entrar. — 
Ele sempre ficava muito curioso sobre os comportamentos humanos.
— Cemitérios são lugares para os vivos, pequena. Os mortos não ligam para o que acontece ao corpo que eles usaram. Eles não precisam mais dele. São os vivos que precisam fazer o luto e que sentem necessidade de visitar o que sobrou das pessoas que amaram. — Bella o olhava atenta. 
— Você está dizendo que eles não estão realmente ali? — 
Edward colocou as mãos no rosto dela. Limpou as lágrimas das bochechas dela. 
— Estou dizendo que eles estão em qualquer lugar que você pense neles. Que eles estão no seu coração e na sua memória. Que eles vão escutar você igualmente bem se você estiver aqui, no seu quarto ou no Alasca. A essência deles, que é o que você procura vindo aqui, está em todo lugar. Que tal irmos a um lugar onde vocês costumavam ir? Um lugar que não te cause arrepios. — Ele sugeriu e deu aquele sorriso que lhe passava confiança. 
Que a fazia querer ir a qualquer lugar com ele. Bella sorriu. A ideia lhe pareceu melhor do que entrar naquele lugar. Juntos eles caminharam até um pequeno jardim. Bella contou a Edward que ela brincava ali quando pequena. Que seus pais se sentavam no gramado observando ela. Que as fotos do casamento deles tinham sido feitas ali. Que foi ali que ela deu os primeiros passos quando tinha apenas 1 ano. Edward sabia de tudo o que ela lhe contava, mas ele a escutou como se não soubesse. Ela riu e chorou. Disse que sentia a falta deles, mas que estava fazendo de tudo para ser a pessoa que eles teriam orgulho. Bella colocou as flores perto da árvore onde tantas vezes eles se sentaram para comer sorvete. Ela se sentia muito melhor agora e começava a acreditar no que Edward disse. Que eles sempre estariam onde ela pensasse neles porque eles eram parte dela. E mais importante do que o que tinha restado do corpo deles eram as memórias que Bella carregava dentro dela. Do amor que ela sentia.  

 

*

 

Juntos eles continuaram caminhando. Pegaram comida e foram para o lugar que já era deles. Algo sempre acabava levando eles até a praia. Enquanto comiam eles conversavam. Bella lhe contou que nunca saiu do país. Que na realidade tinha ido muito pouco além da cidade que vivia. Perguntou a Edward quantos lugares ele já tinha conhecido. Ele encolheu os ombros. Respondeu que já tinha conhecido alguns, mas Bella desconfiava que ele estava sendo modesto. Ela queria perguntar sobre os seus outros protegidos. Quem eles tinham sido. Ele parecia sempre ter tantas coisas por dizer. Tantas histórias para contar. Era nesses momentos que Bella via que ele já tinha vivido por muito tempo. Mas também que não tinha vivido o suficiente. Conseguia ver nos olhos dele uma vivência silenciosa. Como se ele tivesse vivido demais, mas ao mesmo tempo muito pouco. Lembrou deles assistindo filmes. Filmes que todo mundo já assistiu várias vezes. Mas para Edward tudo parecia novo. Ele podia já ter vivido por uma eternidade, mas nunca realmente viveu e a alegria que emanava dele nesses pequenos momentos era genuína. Resplandescia por ele todo.
Bella pegou as mãos dele, puxando-o para ele se levantar. Foram até ao mar que estava calmo. A lua brilhava em cima deles. Reflexos prateados brilhavam na água. Bella perguntou a Edward se ele já tinha entrado no mar durante a noite. Edward balançou a cabeça. Os cabelos ruivos bagunçados, brilhando com os reflexos da lua. Ou talvez fosse o brilho natural do ser que ele era. Bella puxou a blusa por cima da cabeça. Ele a olhou com um sorriso torto nos lábios. Bella levou as mãos ao botão da calça. Se livrou delas chutando-as para longe. Olhou para ele, dizendo que era a vez dele se livrar das roupas. Ele fez o que ela pediu. Bella o olhou com deslumbre. Ele era lindo. Não parecia ser real. Não parecia ser algo que os olhos humanos pudessem ver. Ela foi até ele. Tocou a barriga definida com a ponta dos dedos. Distribuiu beijos pelo peito dele. Foi até as suas costas. Viu duas linhas finas que vinham desde a omoplata e se uniam em uma só no fundo das costas. Não sentia nada de diferente ao toque, mas traçou as linhas com os dedos. Sentiu os músculos dele reagir ao toque lento. Desejou que pudesse pedir para ver suas asas. Que pudesse tocá-las. Que pudesse senti-las ao redor dela, desta vez fora da sua cabeça. Fora do seu sono. Edward deixou cair a cabeça para trás. Encarou o céu e as estrelas. Enquanto se permitiu sentir o toque dela, ele pediu misericórdia. Deixou ela levar as mãos até ao seu peito e até a sua barriga. Deixou as mãos dela tocar o que ela queria tocar. Sempre soube que estaria perdido, só não sabia que seria tão rápido. Que seria tão doloroso. Ele sabia o que era a dor afinal. Sabia que tinha fórmulas diferentes. Que cada tipo de dor atacava um pedaço diferente do corpo. Esta dor atacava o coração e a alma sem salvação. Ela juntou o corpo ao dele. Beijou-lhe os músculos tensos. Os céus, que não tinham piedade, se revoltaram e a chuva caiu por cima deles. Bella não parecia ter noção que era um mau sinal. Ela gargalhou. Puxou as mãos dele e o levou para o mar. Ele sabia que não tinha mais tempo, mas ficaria até que o arrancassem dali. Deixou a felicidade que ela estava sentindo tomar conta dele. Lhe deu a ilusão que estava tudo bem. Ele a beijou. Ferozmente. O que estava sentindo começava a sair fora do controle dele. Queria-a. Sempre a iria querer. Invejou os humanos por poderem ficar com as pessoas que amavam. Quis amaldiçoar quem tinha essa chance e a jogava pela janela fora. Quis gritar com os que vivem como se fossem imortais e não ficam com quem os ama. Ela se apertou nele. Murmurava o nome dele. Implorava por tudo e por nada. Ele saiu do mar com ela nos braços. Ela tremendo levemente embora o corpo pegasse fogo. Entre os rochedos, eles se deitaram. A areia colando na pele dos dois. Bella o olhou. A lua formava um halo em cima da cabeça dele. Bella queria lhe dizer que ele parecia um Anjo, mas as palavras ficaram na garganta. Ele não só parecia, como era um. E era dela. Ele levou a mão ao rosto dela. Afundou a mão nos cabelos negros molhados. Ela levou a boca até a marca dele no braço. A beijou. Sentia a sua própria marca pinicar. Ele soltou um gemido de dor e prazer. Se afastou e se sentou na frente dela. Quando Bella o olhou, ela viu. As asas brilhantes. Douradas. Os reflexos dourados nos olhos dele tão intensos como nunca. O peito dele subia e descia muito rápido. Bella se aproximou. Ele não a tentou impedir. Ela tocou as asas, com calma. Sentiu a maciez nos dedos. Ele fechou os olhos. Bella não queria nem piscar. Não queria perder nada do que estava vendo. Ela se sentou no colo dele. Frente a frente. As mãos dele nas pernas dela. Os dedos cravando a pele. Os lábios dele se mexiam em uma prece silenciosa. 
— Eu sinto que você pode desaparecer se eu fechar os olhos. — Ela sussurrou. 
Sentiu a suavidade envolvê-la. A pele se arrepiando ao toque. Ele a trancou entre suas asas como se ali os dois estivessem protegidos. Era o seu jeito de lhe dizer que ele estava ali e não tinha intenção de ir a lugar nenhum. Ele queria lhe dizer que ficaria ali enquanto ela o quisesse. Mas ele não sabia quanto tempo tinha. Em resposta ele a beijou. Não queria lhe dizer que talvez o tempo estivesse acabando. Queria que ela aproveitasse aquele momento e queria aproveitá-lo também. Talvez um dia, a memória do brilho das suas asas nos olhos negros dela fosse a única coisa que ele iria ter. Queria guardar a sensação da pele dela e o som da sua voz.
— Camael. Camael é meu nome. — Ele disse. — Você não o consegue dizer, mas eu quero que você saiba. — 
Ela o olhou. No olhar não tinha só o deslumbre de uma humana vendo a beleza vinda dos céus. Tinha admiração e amor. Ela umedeceu os lábios. E antes mesmo de ela pensar se deveria tentar dizer o nome dele, ela o disse. Seu nome saiu dos seus lábios sem a menor dificuldade. Soou como uma melodia conhecida na sua voz. Ele prendeu o ar genuinamente surpreso. Ela repetiu o nome dele. 
— Camael. — Ela disse. 
De novo e de novo. Distribuindo beijos pelo rosto dele. Ele pegou a boca dela com a dele. Queria continuar escutando ela dizer seu nome, mas não podia mais controlar o desejo de a beijar. A noite estava fria e a chuva continuava caindo. Mas ela estava protegida entre as asas e os braços dele. Eventualmente a chuva parou. Eles continuaram ali. Ela continuou dizendo o nome dele em súplicas. Ele continuou a adorando a ela. Embora ela não quisesse, o cansaço chegou até ela. Ela adormeceu nos braços dele. A pele nua aquecida pela suavidade das asas douradas. Camael não dormiu. Nem mesmo precisava de dormir. Além disso, queria olhá-la o mais que pudesse.

Quando Bella acordou ela estava na sua cama. A sua marca no ombro doeu. Quando ela olhou viu que tinha passado de um tom de queimadura a um tom escuro. Tal como uma tatuagem. Ela tocou a marca. Continuava doendo como nunca antes. Como se fosse um calmante, ela esperou a brisa familiar no rosto. Na sua mão. No seu ombro. 

Pela primeira vez, ela não sentiu nada.


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