Get Out Of My Kitchen - Larry Stylinson escrita por LeslieBlack


Capítulo 4
Boas-novas


Notas iniciais do capítulo

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Eu poderia até dizer que as horas seguintes foram normais e o restante do dia correu sem maiores dramas, mas quem eu queria enganar? Minha vida era inegavelmente atraída para o drama, e não ajudava que fosse do mesmo jeito com meus amigos mais próximos. 

A prova viva eram Liam e Zayn prestes a chegar na parte interessante de seu friends to lovers, que para mim mais parecia um enemies to lovers. Seja como fosse, eu provavelmente era o único a saber que a paixão naquele slow burn era recíproca, já que eles nem sempre estiveram na mesma página em relação a isso e não conversavam a respeito. Na verdade eles raramente estavam na mesma página em relação ao que fosse. 

Como combinado na noite anterior, Zayn cozinharia para nós no meu apartamento. E era só por isso que eu havia comprado panelas e os demais utensílios necessários quando me mudei: para que cozinhassem para mim.  Já estava mais do que claro que eu não levava jeito para aquilo. Para todos os três.  

Quando Zaynie assumiu seu posto no fogão, eu ofereci ajuda por pura educação, desejando mais do que qualquer coisa que ele negasse. O que de fato aconteceu, mas não tenho certeza de que sua gargalhada ao negar ou a de Liam — que pelo menos teve a decência de tentar disfarçar a sua com uma tosse fajuta — foram mesmo necessárias.  

E os momentos dignos de nota não pararam por aí, pois alguns instantes depois Liam foi chamado para ajudá-lo a cortar algumas folhas que eu não tinha certeza se saberia nomear. Quando crispei os lábios, cruzei os braços na frente do corpo e lancei um olhar extremamente julgador ao mestre cuca de araque, este somente disse sentir muito sem parecer particularmente sincero, e justificou dizendo que eu não tinha um padrão de corte decente. 

Mentiu? Não. Jogar a verdade na minha cara era realmente necessário? Suponho que também não. Mas preferi ficar quieto, pois ser excluído era o melhor para todos os envolvidos. Eu posso ou não já ter sido responsável por uma internação tripla por intoxicação alimentar. Mas quando é por acidente não tem problema, certo? Ao menos eu pensava assim.    

Na lista das coisas desnecessárias estava também dizer que eu amava ver a interação ziam, que foi como resolvi chamá-los em pensamento. Como leitor de fanfics eu tinha a obrigação moral de inventar um nome de casal para ambos e usufruía desse privilégio com prazer. Me senti recompensado pela espera quando eles ignoravam minha presença e eram fofos um com o outro. Quem visse só esses momentos nem acreditaria que viviam se matando. 

Em meio ao clima que chegava a ser enjoativo de tão doce, Zayn me pegou os observando enquanto eu tinha um sorrisinho conspiratório de canto de boca. Ficou vermelho — Zayn Malik ficou vermelho!!! — e sorriu por uns dois segundos antes de voltar a me encarar, parecendo subitamente preocupado. Acompanhei seu olhar parar em Liam, que parecia ocupado demais com aquelas coisas verdes para perceber o que acontecia entre a gente. 

— Estou sendo muito óbvio? — Perguntou em um sussurro alarmado quando chegou ao sofá em que eu os assistia, enquanto dei de ombros e cometi a estupidez de esquecer que meu amigo era idiota.  

— Vocês são fofos juntos. É tão lindinho o jeito que o elogia até por, ao contrário de mim, saber cortar bem os legumes. Ou o que quer que sejam essas coisas verdes que vocês trouxeram para a minha casa. 

De alguma forma aquilo não pareceu ser o que Malik queria ouvir, visto que não ficou feliz. Nem agradeceu, só voltou para as panelas ao lado de Payno em silêncio. E assim deveria ter permanecido, em vez de abrir a boca para tentar acabar com o meu shippe. 

— Liam, você fez alguma coisa com o cabelo? — O já citado Liam pareceu perder o dom da fala por alguns instantes, embora sua boca abrisse e fechasse algumas vezes para no fim sair um fraco e incerto “yeah, você reparou?”. — Está horrível, não tem como não reparar. Já acabou com a cebolinha? 

Payno ficou mais uma vez sem palavras, e eu quis muito deixar Zayn fraco e incerto depois de acertá-lo na cabeça com uma frigideira, de preferência uma bem pesada. Seria o melhor uso que uma panela encontraria nas minhas mãos até se eu não fosse um pesadelo na cozinha. Mas a integridade do meliante foi preservada, o que não parecia muito justo naquele momento. 

O relacionamento dos dois tinha lá seus altos e baixos, é verdade, mas ataques gratuitos nunca fizeram parte do pacote, até onde eu sabia. Mesmo puto com Zayn eu entendia que o idiota só fez aquilo para disfarçar sua paixonite por Liam, mas o coitado não fazia ideia. 

Foi impossível não me sentir parcialmente responsável pelo sorriso desaparecido de Payne, que nem se deu ao trabalho de respondê-lo, talvez por mais uma vez não encontrar as palavras. Se perguntassem minha opinião, eu diria que Zayn merecia no mínimo ter sido mandado pastar. Mas Lee não fez isso. Se limitou a tirar o avental que dizia “beije o cozinheiro” e abandonar a tal da cebolinha na tábua de cortes. 

— Eu vou matá-lo enquanto ele dorme. — Me segredou baixinho. 

— Não vai não, querido. — Disse no mesmo tom.  Confortei-o da maneira que pude com um afago no joelho que encostava no meu, enquanto eu fuzilava Malik com o olhar. — Eu é que vou. — Revelei, não tão baixinho assim. 

O resultado foi Zayn virando confuso para nós e soltando um gritinho em seguida, informando que o caralho da panela o queimou. O que obviamente me fez sentir melhor, pois as regras do karma já começavam a entrar em ação. 

Eu estava pensando se conseguiria ser paciente o bastante para esperar Zayn ir embora e só então jogar ovos em sua porta quando, talvez para se livrar da vingança que ele nem sabia que eu estava arquitetando, sua voz anunciou que o jantar estava pronto. Estava tudo uma delícia, é claro, mas não seria eu a lhe dar os créditos por isso. Tampouco Liam. Então quando virei para este último e agradeci somente a ele por ter cozinhado, recebi um “hey!” indignado de Malik como resposta. 

— Obrigado, Tommo. Fico feliz que tenha gostado. — Liam se juntou ao meu teatro. — Sabe que eu adoro cozinhar quando é para você.  

Outro “hey!” indignado foi ouvido, mas como não lhe respondemos, Zayn quis saber por que estava sendo ignorado. 

— Meu filho, se dependesse de mim a sua porta já estaria repleta de ovos crus arremessados contra ela. Não reclame da sua sorte. 

Liam argumentou, dizendo que não era uma boa ideia já que morava lá também. Mas quando sugeri que ele colocasse Zayn para limpar, seus argumentos magicamente sumiram. Eu sempre soube que era um gênio.       

Lamentavelmente o clima agradável do início da noite não pôde ser recuperado após o comentário infeliz — e mentiroso — sobre o cabelo de Payno. Mas eu encheria o responsável de cascudos depois, nem que tivesse que esperar para fazer isso na escola. Só esperava que nenhum aluno ou funcionário me flagrasse cometendo bullying contra o professor de Música e denunciasse o caso para a direção. Mas sinceramente? Acho que valia o risco. 

Quando os meninos foram embora e os levei até a saída eu passei algum tempo olhando para a porta do outro lado do corredor, tentado. Mas desisti da ideia logo em seguida. Suspirei, cansado após tantas revelações e reviravoltas na minha semana. E ainda era segunda-feira! 

Coloquei a comida que sobrou em potes e os guardei na geladeira, lavei o fogão e a louça do jantar, tudo isso enquanto a minha playlist de sexo soava baixinha pelo ambiente. Era lamentável que eu colocasse a playlist de sexo para algo tão não-erótico como lavar louça, mas a vida de solteiro não seria “a vida de solteiro” se não tivesse humilhações envolvidas. Muitas vezes até autoinfligidas.  

Ainda era relativamente cedo quando terminei, mas por algum motivo assistir tv não parecia interessante ao ponto de me atrair a atenção, por isso nem a liguei. Revirei os olhos para mim mesmo, pois mais uma vez, quem eu queria enganar? Aquele assunto estava muito presente nos meus pensamentos desde a noite anterior, embora eu tenha feito o meu melhor nas últimas vinte e quatro horas para ignorá-lo. Sempre que começava a pensar nas mensagens no direct do Instagram, algo se agitava dentro de mim. 

Zayn e sua paixão não revelada por Liam obtiveram lá seu êxito em me distrair por um tempo, mas de uma forma ou de outra o turbilhão de pensamentos me levava de volta ao “obg, amor” de Harry Styles, que embora não respondido, se mostrava tão pouco inofensivo quanto as frases de seu amigo. 

Niall Horan e aquele “Boa noite, Louis. Como está? Sei que não nos conhecemos, mas temos um assunto em comum do qual realmente gostaria de falar contigo. Podemos conversar?” alugou um triplex na minha cabeça desde que eu tinha visto a mensagem na noite anterior. 

Ignorei a mensagem como pude até ali, mesmo com certo remorso por temer ser algo importante. Mas não havia mais nada para arrumar no apartamento ou qualquer atividade que exigisse minha concentração. E nesse caso, a mente vazia foi oficina do “que mal pode fazer se eu responder o moço?”. 

Foi pensando nisso que por impulso, ainda que estivesse um pouco temeroso, resolvi acabar logo com a palhaçada. Respirei fundo e, determinado, peguei o celular no caminho em direção ao quarto. Sentei na cama, abrindo o Instagram. Em um instante estava na conversa com Horan, e ainda questionando o que ele poderia querer comigo, lhe respondi que estava bem, também devolvendo a pergunta. Além de dizer que sim, poderíamos conversar. 

A resposta chegou menos de cinco minutos depois. Em forma de áudio, o que me surpreendeu, pois eu nunca amei o som da minha voz em gravações e só utilizava o recurso em casos extremos. Nas raras vezes em que acontecia, somente Liam ou Zayn recebiam meus áudios. Até para eles eu não me sentia confortável para mandar áudios, enquanto Niall Horan os mandava a um desconhecido. Mas em algum lugar da minha mente eu sabia que o jeito do rapaz não era a exceção, e sim o meu. 

Hey, o famoso Louis! Que bom que respondeu, cara”, dizia a voz animada com um certo sotaque irlandês. Agora estava mais do que explicado o motivo de Styles chamá-lo daquele jeito. E com a mesma animação, a voz de Niall Horan continuou a soar na gravação. “Olha, desculpe se tudo foi meio inesperado, mas te garanto que não sou um maluco querendo te sequestrar para vender seus órgãos no mercado negro, ok? Se bem que isso soa como algo que um maluco diria”, ele riu. E, claro, eu julguei. “Enfim, obrigado por retornar minha mensagem. Agora tentativas de sequestro à parte, tinha mesmo algo que eu gostaria de falar contigo. Mas quando fui stalkear seu perfil e vi alguns vídeos que você postou de um certo cantor… Uau!”. 

Pausei o áudio, olhando desconfiado para o aparelho na minha mão. Por um momento, tudo o que eu conseguia pensar era “O QUÊ???”. 

Ao mesmo tempo que queria muito saber o que se passava na cabeça daquela criança, tinha a mesma quantidade de medo da resposta. Ainda assim, voltei um pouco o áudio e continuei a ouvir a voz risonha, e talvez um pouco bêbada de Niall falar comigo através do celular.   

...seu perfil e vi alguns vídeos que você postou de um certo cantor… Uau! Esse Zayn Malik é seu amigo? Há tempos não me deparava com uma voz tão bonita assim. Aquele seu vídeo em que ele está com um violão na varanda de um apartamento… Nossa, parece um anjo cantando”. Houve uma pausa seguida por um riso meio frouxo. “Desculpe, eu estou meio bêbado. Descobri que vou ser tio de novo e estou comemorando. Dessa vez de um sobrinho humano. Ou sobrinha. Denise e Greg ainda não sabem o sexo do bebê, mas eu tenho a sensação que é um garoto”, informou o irlandês maluco. E possivelmente alienígena, já que o primeiro sobrinho não era humano. Eu só conhecia gente doida, era impressionante. 

Mas o restante da mensagem sim me deixou genuinamente impressionado. “Enfim, cara, eu sou produtor musical e a voz desse Zayn me conquistou na hora. Mandei mensagem, mas até agora ele não me respondeu e gostaria de saber se pode me ajudar com isso. Tenho um estúdio no centro da cidade e…”. Ok, talvez eu estivesse surtando. Certo, eu definitivamente estava surtando depois dessa. De todas as formas que o reconhecimento musical de Malik poderia acontecer, aquela parecia irreal de tão aleatória. Mas em um arroubo de esperança eu me perguntei em pensamento se não eram todas. 

Mal reparei nas minhas mãos trêmulas ou no sorriso psicopata rasgando o rosto em dois, só tomei conhecimento sobre eles depois de esmurrar a porta do outro lado do corredor e Zee me informar a respeito após um irritado “o que é, caralho?”. Ele era mesmo um raio de sol. Não vi Payne, mas quando perguntei a respeito descobri que ele estava tomando banho para dormir. 

— Ele disse o quê? — Zayn perguntou alarmado depois de eu arrastá-lo até meu sofá. Estávamos frente a frente, e mais um pouco minhas mãos poderiam acidentalmente se fechar ao redor de seu pescoço e apertar bastante. Eu disse acidentalmente. — Não acredito. 

— Se você soubesse quantas vezes já se livrou da morte só esse ano… — Resmunguei, dando play no áudio cujo conteúdo eu já tinha narrado para aquele mané. E além do que eu havia escutado sozinho antes de rebocar o imprestável até minha sala, Niall dizia que gostaria muito de levar Zayn até o estúdio para conversarem e para poder ouvi-lo ao vivo. Informou que eu estava mais do que convidado para ir também, além de insistir para almoçarmos juntos depois, já que tinha um horário disponível para às dez horas da manhã seguinte e essas coisas costumavam demorar um pouco.   

— Não acredito. — Zayn repetiu, e eu ri de puro nervosismo. Aquilo estava mesmo acontecendo? 

— Pois acredite, Zee. E responda alguma coisa para o homem. Áudio, de preferência. Ele não parece muito em condições de ler um texto enorme. 

— “Estou dentro” é curto o bastante? — Perguntou, feliz da vida.  

Ensaiamos qual seria o melhor jeito de respondê-lo, e Zayn me disse que ligaria para Phyllis, a secretária do diretor do colégio, para dizer que surgiu um imprevisto e por isso ele só poderia ir trabalhar no período da tarde. Assim ela poderia organizar as coisas de modo que os alunos não saíssem prejudicados ou Malik penalizado. Se falasse diretamente com o satanás de roupa social que atendia pelo nome de Simon Cowell, também conhecido como nosso chefe, as chances de conseguir o que queria eram quase nulas. 

Seria suspeito demais eu também precisar de uma dispensa temporária justo naquele dia, então o jeito seria correr para a gravadora assim que possível. Seja como fosse, a primeira parte da mensagem foi respondida por mim — por áudio, infelizmente — e a parte que dizia respeito a Zayn ele mesmo tratou de resolver. 

Niall respondeu mais rápido do que da outra vez, agradecendo ao voto de confiança que depositamos nele e mais uma vez elogiando a voz de Zee. Eu não podia julgá-lo quanto a isso. Também disse que estava ansioso para o dia seguinte e após duas tentativas conseguiu informar o número privado, pedindo para ambos mandarmos um oi por lá para salvar nossos números. 

Estávamos nos abraçando, felizes da vida. Pulei por cima de Zayn, que por sua vez tentou fazer o mesmo comigo, e o resultado fomos nós dois embolados em uma posição esquisita no sofá, mas empolgados demais para dar a mínima. Em meio a euforia eu me perguntava como conseguimos a proeza de pelo menos um não ter se esborrachado no chão, quando duas batidas rápidas soaram na porta. Só tivemos tempo de olhar na direção do som antes que Liam falasse, sua voz soando abafada. 

— Tommo, desculpe te incomodar de novo, mas o Zayn está por aí? Eu fui tomar banho e quando saí ele tinha sumido. — A maçaneta mexeu e o rosto de Lee apareceu, seu olhar cabisbaixo no chão. — Acho que fiz alguma coisa que ele não gostou, porque… 

Eu nunca descobri o porquê. E o motivo era simples. Conforme seu olhar gradativamente subia do assoalho até a confusão de braços e pernas que era aquele abraço desajeitado, Liam parecia cada vez mais perdido. Seja sobre o que supostamente fez para desagradar o colega de apartamento, ou o que nos levou a acabar naquela situação. Mas eu não o deixaria no escuro sobre aquilo. Ele precisava ouvir as boas-novas. 

— Hey, Leeyum. Você não vai acreditar no que a… Ai, Zayn, isso doeu! — De animado eu fui para confuso e inconformado com a cotovelada que recebi. Já não bastava a vida me batendo? E como se me bater fosse nada, ele foi me soltando aos poucos enquanto respondia Liam com a maior desfaçatez do mundo. 

— Oi, eu estou aqui. Aconteceu alguma coisa? 

Liam olhava confuso de mim para Zayn, e sendo sincero até eu estava o encarando sem entender o que merda estava acontecendo. Mas enquanto no meu caso tinha uma boa dose de revolta, principalmente por mais uma agressão injustificada, olhando para o garoto ainda parado perto da porta eu conseguia identificar mágoa. E alguma outra coisa que ele não parecia muito disposto a deixar óbvia. 

— Não, eu… — Tentou Liam. — Eu não sei, saí do banho e você não estava em casa. Está meio tarde para ir para a rua, então fiquei um pouco preocupado. Pensei também que poderia ter feito algo que te irritou, já que… 

— Fique tranquilo, você não fez nada de errado. Eu só precisava ver o Tommo antes de dormir. Só isso mesmo. — Ele bem que tentou, mas conforme falava não conseguiu evitar um sorrisinho. 

Eu notei, e tenho certeza que Payno notou também. Até porque de repente ele estava olhando para nós com o cenho franzido. Seu olhar perscrutador parou em mim por alguns segundos, mas foi o bastante para me deixar suficientemente desconfortável. 

  Era como se em uma conversa muda Liam me pedisse a confirmação de que era isso mesmo que estava acontecendo. Engoli em seco, não sabendo bem como agir. Acho que aquilo foi resposta o suficiente para ele. 

— Certo. — Payno soltou, visivelmente perturbado. Não foi nada como um certo deveria soar. — Desculpem a interrupção. Eu vou dormir, então boa noite. 

Fechou a porta atrás de si sem esperar resposta, e em seguida o som da porta de seu próprio apartamento sendo encostada foi ouvido. Não tivemos tempo nem de desejar uma boa noite também.  

Por algum motivo Zayn parecia querer esconder a novidade maravilhosa que esperamos por tanto tempo. Apenas não fazia sentido. 

— Você vai me explicar espontaneamente o que caralho foi isso ou eu vou ter que arrancar a informação à força? — Perguntei. — Por favor, escolha a segunda opção. 

— Eu acho melhor não contar sobre o Niall para o Liam. Pelo menos ainda não.  

— E eu posso saber como cargas d’água você chegou a essa conclusão brilhante? — A essa altura eu não fazia a menor questão de esconder minha irritação ou maneirar no sarcasmo. Mal dava para acreditar que há apenas alguns instantes eu estava radiante, mas isso foi brutalmente arrancado de mim. Malik não facilitava mesmo a minha vida, e estava muito perto de levar uns tapas.   

— Eu preciso protegê-lo, Tommo. — Me confidenciou. — Ele sempre foi meu braço direito quando o assunto era encontrar lugares para as apresentações, chegava até a barganhar com os donos dos bares para que o cachê fosse maior. Não importava o quão eu lhe dissesse que estava bom, ele não se conformava e dizia que eu merecia mais. Uma vez quase saiu na mão com um gerente que disse que o show de um cantor qualquer não valia tanto assim. E quando ficou morto de bêbado, uns dois finais de semana depois, Liam contou que voltou até o local na noite seguinte para arranhar o carro todinho do sujeito, mas que se sentiu tão bem com a vingança que aproveitou que já estava lá mesmo e também mijou nos pneus até onde sua bexiga permitiu e escreveu "babaca" no para-brisa com um batom vermelho vindo sabe-se lá de onde. Liam Payne, o advogado. Você acredita nisso? 

E uau, aquilo não era pouca coisa. Beirava o inimaginável em se tratando de Liam, na verdade. E fez com que eu me perguntasse mais uma vez como raios em todos aqueles anos Payno não teve seus sentimentos retribuídos de imediato. Estava tão na cara que aqueles dois tinham que ficar juntos. Havia algo forte e diferente que os unia. Um matava e morria pelo outro, mesmo que na maior parte do tempo os próprios fingissem que não. 

Mas eu ainda não aprovava os métodos duvidosos de Malik lidar com a coisa toda. 

— Zaynie, por que você sempre tem que me deixar dividido entre te abraçar e te bater? — Quis saber, no fundo achando bonitinho como eles cuidavam um do outro. 

— Eu só quero protegê-lo da decepção, Tommo. — Ele me explicou. — Olhe, eu estou nisso desde moleque e já recebi nãos o suficiente para ficar calejado. Não é que eu espere o pior, apenas estou mais preparado que Liam para lidar com isso caso ocorra. É sério, ele se faz de forte na minha frente, mas eu sei que costumava ficar pior que eu quando o que parece uma grande oportunidade no cenário musical simplesmente não tem os efeitos desejados. Eu não quero que ele se sinta mal. 

— Falou a pessoa que o ofendeu a troco de nada hoje à noite. 

— Eu estava nervoso! — Se justificou. — Pensei que estava sendo muito óbvio, que ele… 

— Que ele perceberia e blá blá blá. — O interrompi. — É, saquei a merda que você estava fazendo. Mas só eu, porque Payno pensa só que de vez em quando você age mais estranho que o costume e pronto. E se quer a minha opinião, criticar o cabelo dele foi um crime. O menino está parecendo um príncipe encantado saído de qualquer conto de fadas aleatório com aquele cabelo mais longo e você me diz uma besteira daquelas? Faça-me o favor! 

— Eu estava nervoso! — Repetiu. 

— Nervoso fiquei eu ouvindo um absurdo desse tamanho. — Tentei voltar ao foco, embora. — Mas enfim… Você não está protegendo ninguém dessa forma. Omissão não é a resposta, Zee. Você só vai fazê-lo se sentir enganado quando descobrir. Porque ele vai, e você sabe disso. E é capaz de até eu me ferrar junto. 

— Está bem. — Concordou em um fio de voz. — Só espere um pouco para eu poder contar, ok? Primeiro vamos ver se esse lance com Horan dá certo. — Apenas bufei, não totalmente satisfeito com a resposta, mas já aceitando que aquele era um começo. — Para de ficar bicudo, criatura. 

— Honestamente, é meio difícil com vocês fazendo merda o tempo inteiro. Sinto falta de quando eu ainda era o amigo irresponsável que tinha que levar os puxões de orelha. Agora eu é que tenho que ser o ajuizado, cara? Pode parar, esse cargo não combina nem um pouco comigo.  

— Só… espere o aniversário e eu paro de arranjar desculpas, está bem? 

— E eu lá tenho escolha? 

— Na verdade, não. 

— Certo, Malik. Só… Argh! — Exclamei, frustrado. — Você está sendo um péssimo amigo me colocando nessa situação em que eu tenho que ser o responsável e dar conselhos amorosos, seu merdinha. Eu! Isso não se faz. Você por um acaso já viu a minha vida? 

A resposta que deveria ser empática, já que em tese o traste na minha frente era um dos meus melhores amigos, simplesmente não veio. Em vez disso, o que recebi foram risadas, como se na frente de Zayn estivesse um palhaço. Nessa hora eu não poderia garantir cem por cento de inocência caso seu corpo sem vida fosse encontrado dias depois em um aterro sanitário ou quem sabe boiando por aí em uma represa qualquer. 

— Quando essa história com Liam for esclarecida, seja lá qual for o resultado, você não me escapa, Tomlinson. — Disse, ainda sustentando o sorriso leve que eu tanto senti falta. 

— Ah, então quer dizer que só porque os dois moram na mesma casa eu tenho que me conformar em ser o amante? Isso tudo é preguiça de um pouco de burocracia? Pois saiba o senhor que eu exijo respeito e um lindo diamante nesse dedo aqui, meu querido… — Brinquei, mostrando o dedo do meio àquele calhorda. — Oops! Força do hábito. 

Zee imitou o gesto obsceno, mas sua gargalhada que não foi freada a tempo invalidou a tentativa de resposta agressiva. 

— Seria mais fácil eu propor um trisal, Tommo. Mas por enquanto não sei nem se vou conseguir seduzir um cara, imagine dois. 

— A ideia não é de todo ruim, porque do jeito que as coisas estão, só com três rendas juntas para ter uma vida confortável o suficiente. Trisal já virou uma necessidade econômica e ninguém percebeu. 

A partir daí gastamos mais tempo do que eu teria orgulho de admitir discutindo quais caras seriam o terceiro elemento do nosso trisal em um mundo em que Liam Payne não existisse. Me perguntei pela milésima vez se havia algo de errado com os caras da vida real, já que quase unanimemente nosso terceiro elemento era algum famoso aleatório ou algum personagem da cultura pop. E pela milésima vez, minha resposta foi um simples e frio "sim". Talvez notando minha empolgação diminuir conforme eu deixava aos poucos de contribuir para a lista de nomes, Zee retrocedeu um pouco na conversa. 

— Mas o que eu estava falando antes é sério, Tommo. Quando as coisas com Payno forem esclarecidas, de preferência depois da gente se pegar muito… — Minha careta de nojo o fez pausar a frase por um instante, claro que para em seguida retribuir a implicância. — E com isso quero dizer muuuuito, muito mesmo… 

— Aff! 

— Bastante para caramba... 

— Essa expressão nem existe! — Reclamei para o vento, já que Malik nem me ouvia. 

— Aí, meu caro, eu vou te arrumar um namoradinho. 

Eu tive que rir com isso, pois honestamente, como não fazê-lo? Me arrumar um namoradinho soava mais estúpido do que a expressão "bastante para caramba" que Zayn inventou. Que o vadio tivesse sorte, porque ele definitivamente iria precisar. 

— Uau, me arrumar um namoradinho! — Nem fiz questão de esconder o deboche. — E como pretende fazer isso, Eros? 

Zayn deu de ombros e sorriu daquele jeito característico, como se o problema dos meros mortais não fosse nada para ele. Como se tudo fizesse sentido e ele não estivesse minimamente preocupado, pois tinha todas as respostas. Era aquela maldita autoconfiança que lhe dava um ar misterioso de quem simplesmente sabe das coisas e não se importa muito em explicar. 

— Ah, vai ser memorável. Meu plano é te arrastar para o meio da rua e esperar meu gaydar apitar. Tudo bem que ele já vai estar disparando enlouquecido por sua causa, mas… Ai! 

— Vagabundo. — Me queixei após dessa vez ser eu a lhe bater, ouvindo-o com interesse prosseguir com o plano maquiavélico. 

— Continuando… Quando meu gaydar avisar sobre algum rapaz nas imediações que se encaixe na descrição da vaga, que em suma é ele parecer minimamente decente e bonito o bastante, eu o abordo de forma discreta. 

— Eu não tenho certeza que você saiba o real significado dessa palavra. — Confessei, imaginando que se o plano maluco realmente fosse executado, seria facilmente a experiência mais constrangedora de toda a minha vida. E isso queria dizer algo, já que eu sempre fui um verdadeiro imã de vexames. — Em um exemplo prático, me diga o que "discreto" significa para você, Zaynie. 

— Ah, essa é fácil. Eu iria correndo na direção do cara, agitando os braços no caso de ele não me notar, e gritaria "moço, você quer conhecer meu amigo que está solteiro? Ele gosta de tatuados!". 

— Tatuados… — Repeti, horrorizado com o conjunto de confusões que atendia pelo nome de Zayn Malik. — E só para você saber, antes de desaparecer de vez da sua vida eu te jogaria na frente de um ônibus, imbecil. Depois morre e não sabe o porquê. 

— Você me ama que eu sei, Pitico. 

— Ora, seu… — O encarei, ultrajado. — Pitico é o seu… 

— Ah, agora eu vou ser obrigado a te mostrar para desmentir essa calúnia. — Me interrompeu, olhando para baixo e fazendo menção de se levantar. 

— Que nojo! Vai mostrar essa porcariazinha para o Liam. 

Zayn me encarou com os olhos arregalados e levou a mão direita ao peito, ofendidíssimo. 

— Nojo? Porcariazinha? 

— Até um cego vê que você só falta latir para o Liam. E ex, futuro ou atual namorado de amigo meu para mim é homem. 

— Você é gay, criatura! 

— A lógica é minha e ela funciona do jeito que eu quiser! — Rebati.  

Horário ou compromissos do dia seguinte eram coisas secundárias quando começamos uma espécie de lutinha que de algum modo envolvia cócegas e terminou quando mordi o braço de Zayn. 

— Oh, não. Eu vou virar um baixinho bundudo agora! 

— Bem que você queria. 

— Eu vou buscar seu prometido em um hospício quando chegar o momento. Porque, olha, só sendo doido mesmo. 

— Não esqueça da minha suposta inclinação aos tatuados. — Não me deixei levar pela provocação de quinta. Malik me olhou com falso desdém para então sorrir daquele jeito diabólico, que foi quando previ alguma merda. E ela veio quando o pilantra voltou a abrir a boca. 

— Tatuado, covinhas, olhos verdes e cachos. — E saiu correndo em disparada para fora do apartamento, gargalhando. Na pressa chegou inclusive a bater ambas as portas, talvez pensando que eu iria atrás disposto a acabar com ele, caso não saísse imediatamente do meu campo de visão. O que de fato poderia acontecer se eu ainda não estivesse no sofá, boquiaberto com a audácia do cretino. 

O celular vibrou na mesa de centro, e em modo automático o desbloqueei. Apenas uma mensagem. Duas palavras vindas do idiota que acabara de fugir da minha sala, e junto delas toda a ternura do mundo. 

"Te amo", dizia o texto. 

"Te amo", respondi também. 

Porque Zayn Malik me estressava, me matava de ódio e por vezes não tinha ideia das encrencas nas quais me metia. Mas era um irmão, e sim, eu o amava demais. Ele merecendo ou não. 


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