Get Out Of My Kitchen - Larry Stylinson escrita por LeslieBlack


Capítulo 2
Trégua




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O jantar correu naturalmente. Mais ou menos na hora em que costumávamos comer, os meninos apareceram. Aquele clima um tanto nostálgico típico dos últimos momentos de domingo ainda pairava no ar, mas não chegou a atrapalhar nossa reunião. 

Zayn contava animado sobre uma nova composição em andamento, os olhos como sempre brilhantes ao falar de sua música. Eu sorria e perguntava mais a respeito, enquanto Liam apenas nos observava parecendo em paz. 

— Ele não para de falar sobre essa música. — Lee me confidenciou quando deixei os pratos vazios na pia. Seu sussurro nem chegava a ser necessário, já que o alvo da fofoca estava na sala ouvindo áudios de uma de suas irmãs. Provavelmente o chamando de Mestre dos Magos pelo sumiço constante ou algo assim, eu apostava. — Acredita que nem para mim o vagabundo quis tocar? Diz que ainda falta um detalhe ou outro na letra. Acontece que para ele sempre falta um detalhe ou outro na letra. Eu devo ser um santo por aturá-lo. 

Mesmo para mim, seu melhor amigo desde o primeiro dia de aula na faculdade, Liam teimava em fingir. Mas o orgulho em seu rosto era tão nítido nos olhares longos e ternos que lançava para Zayn, e mesmo no sorrisinho idiota que ele simplesmente não conseguia abandonar, que outras confissões não eram necessárias. Só sendo cego para não ver todo o cuidado e proteção que Payno tinha pelo outro até mesmo quando este o irritava. O que, convenhamos, acontecia com uma frequência pouco saudável. Mas preferi não tocar no assunto para evitar perguntas hostis sobre minha sanidade. 

— Você é a pessoa que mais o ajuda com tudo, Lee. Se ele não quer mostrar a música ainda deve ser por causa do perfeccionismo que tem quando está genuinamente empolgado com algo. Mas tenho certeza que você será o primeiro a ouvir. Aposta quanto? 

— Ah, Tommo, eu não sei… — Disse um pouco incerto, coçando a parte de trás da cabeça em nervosismo. Nem parecia o usual monte de músculos e autoconfiança de sempre. — Não gosto de pensar nessas coisas porque sempre existe a possibilidade de tudo sair totalmente o completo oposto. Criar expectativas é uma merda, mesmo quando é com algo inocente como a quem ele mostrará primeiro ou a próxima música ser a que o fará estourar. Vou continuar acreditando no talento daquele cabeça oca de qualquer maneira, mas você me entende, não é? 

Eu o entendia. As palavras ditas, e principalmente, as não ditas. Expectativas eram uma merda, ele tinha razão. Como as controlar era a pergunta de um milhão de dólares. 

— Mais do que pensa, amigo. — Respondi simplesmente. — Mas eu ainda tenho esperança que as coisas darão certo eventualmente. Logo, logo, alguma gravadora vai dar a sorte de lançar esse insuportável no cenário musical. 

Isso foi o bastante para animá-lo. Alheio ao fato de ser nosso assunto, o insuportável em questão finalmente guardou o celular no bolso traseiro da calça. Azar de quem precisasse se comunicar com ele, pois era da natureza de Zayn sumir sempre que possível. Não sei como queria ser famoso daquele jeito. Seria no mínimo algo interessante de se ver. 

— E os dois bonitos aí, já terminaram de falar mal de mim? — Zayn quis saber. 

— E quem disse que nós estávamos falando de você, criatura? — Liam nem titubeou ao mentir. Afinal, eram anos de prática. — E para o seu governo, eu e Tommo nunca vamos terminar de falar todas as coisas más a seu respeito. Jamais. Elas são tantas. 

As duas crianças mostraram as línguas em provocação, mas Zayn estava tão radiante que esqueceu a picuinha assim que Liam chegou perto o bastante. Como estava prestando atenção, consegui ouvir Zee falar alguns tons abaixo. 

— Está quase pronta, Payno. Mal posso esperar para te mostrar. Estou com um ótimo pressentimento dessa vez. 

— Vai dar tudo certo, você vai ver. — Foi o que respondeu, os dois subitamente parecendo estar em uma bolha. 

Em meio a tantas brigas e implicâncias ao longo dos anos, às vezes eles se olhavam como se mais nada existisse no mundo que não o outro. Nas vezes em que presenciei, durou segundos. Paz não costumava ser uma opção no campo minado que era a amizade estranha entre Liam e Zayn, mas eles tinham um jeito próprio de lidar com as coisas de modo a garantir algum equilíbrio. 

E apesar da efemeridade daquela coisa existente entre eles, era algo que eu esperava muito encontrar em algum momento da minha vida. 

Citando Dostoievski, "um momento inteiro de júbilo. Não será isto o bastante para uma vida inteira?". Caso eu desse a sorte de encontrar aquele tipo de olhar por aí, a resposta com certeza seria sim, mesmo que não durasse muito. 

Alheios a minhas ruminações acerca de autores russos, aqueles dois debatiam algo com evidente empolgação sentados no meu tapete, as costas encostadas no sofá. Era tudo tão doméstico que temi fazer qualquer movimento errado e minha presença estourar a bolha que os envolvia. Não queria ser eu a acabar com a trégua. 

Foi com muito cuidado que peguei o celular em cima da mesa e fui para o meu quarto dar algum tempo para eles. Ok que já nos conhecíamos há anos, mas eu ainda preservava a esperança de que em algum momento as estrelas se alinhassem e meu casal de amigos percebesse que foram feitos um para o outro. Sendo justo, metade deles já sabia. Ou talvez Liam poderia só enfiar a língua na garganta de Zayn também e estaria ótimo. Eu esperava essa notícia desde a faculdade, antes mesmo que Liam percebesse, então a essa altura aceitaria qualquer migalha. 

O que recebi, entretanto, foram menos de dez minutos jogando Candy Crush antes que sentissem minha falta. 

— Toc-toc… — Ouvi a voz de Zayn através da porta do quarto. Continuei sentado na cama, e revirar os olhos foi inevitável ao vê-lo. 

— Sabe, você pode só bater de uma vez na madeira em vez de fazer o barulho com a boca. Ou entrar logo aqui, Malik. Você sabe que é de casa. 

— Melhor não. Vai saber o que você fazia aqui sozinho. — Franzi o cenho e imediatamente virei a tela mostrando o joguinho, mas ele apenas deu de ombros como se nada no mundo pudesse convencê-lo de que estava sendo idiota. — O seguro morreu de velho. 

— E se você continuar desse jeito vai morrer sufocado por um travesseiro. Agora mesmo. 

Zayn riu, sentando ao meu lado na cama e apoiando a cabeça no meu ombro. 

— O aniversário do Liam está chegando. 

Desconfiado, olhei o topo de sua cabeça, pois era o máximo que nossa posição permitia. Normalmente quem o lembrava com um mês de antecedência era eu. Claro que como amigo dos dois, quando seu aniversário estava próximo eu também comentava algo a respeito com Liam, só para garantir. Mas ao contrário de Zayn, Liam já costumava ter ideia do presente e do que nós poderíamos fazer para surpreendê-lo. Eu mais concordava que qualquer coisa, pois Lee sempre foi uma pessoa organizada, com o adicional de adorar armar surpresas para nossos aniversários. 

Mas naquele ano não havia comentado e pretendia fazê-lo durante a semana, pois o estresse do trabalho não estava me permitindo focar em mais nada. 

Aí de repente Zayn Malik aparece na minha porta comentando como quem não quer nada que Payne estava prestes a ficar mais velho… Atitude altamente suspeita. 

— Aham. — Embora minha cabeça estivesse trabalhando a mil para me sugerir diversas teorias e eventuais ameaças para lhe arrancar a verdade, aquilo foi tudo o que eu disse. 

— Nossa, Tommo, Liam é tão cuidadoso conosco quando é nossa vez, e tudo o que você me diz é um "aham" mixuruca? 

— Eu sei que daqui a alguns dias é o aniversário do Liam. Caso não se lembre, sempre te aviso com bastante antecedência para dar tempo de você comprar um presente e não dizer algo idiota conforme a data se aproxima. A questão aqui, meu querido, é como você sabe, considerando que dessa vez eu não abri a boca. 

— Nos conhecemos há anos, Tommo. Eu e ele moramos na mesma casa! Você fala como se eu fosse um monstro insensível. — Bateu com o travesseiro na minha cabeça, provavelmente ofendido, o que só tornava a situação ainda mais surreal. — E por que caralhos você não disse nada esse ano, hein? Achava que eu só lembrava por sua causa todo esse tempo e aí eu passaria vergonha enquanto você sairia como o bom moço? 

O nível de drama estava alarmante até para os padrões Zayn, por isso eu nem dei atenção às acusações daquela criança estúpida. 

— Foram aquelas lembranças que aparecem no Google Fotos, geralmente de pessoas que desgraçaram a nossa vida e com quem não falamos mais há anos, não é? Ou você estava sem o que fazer e de alguma forma acabou na lista dos próximos aniversários no Facebook? — Anos assistindo os mais variados seriados policiais me ajudaram a levantar as hipóteses mais prováveis. — Está vendo que lembrar da existência do aparelho celular de vez em quando tem uma vantagem ou outra? 

— Por que é tão difícil assim acreditar que eu me importo de verdade com o garoto que esteve do meu lado o tempo todo e há tanto tempo? 

Zayn me encarava com determinação, e um certo tanto de raiva. Mas havia mais. Mágoa, talvez. Havia algo em seus olhos que eu não notei até então, e decifrar o motivo de tudo aquilo no meio de uma briga sem pé nem cabeça não era uma tarefa fácil. 

— Você realmente não precisava que eu te lembrasse sobre o aniversário do Payno durante todos esses anos? 

— Com tipo um mês de antecedência? Definitivamente não. Eu posso até parecer desligado, e para algumas coisas sou mesmo, mas não para as que importam. Por exemplo, sei que você inventa músicas aleatórias sobre qualquer coisa que esteja na sua cabeça quando está nervoso e as cantarola o dia inteiro sem perceber, que quando está se sentindo culpado faz exatamente essa cara que está fazendo agora, e que talvez esteja interessado em alguém, mas pelo que te conheço não vai fazer nada a respeito por medo de se machucar. 

— O que você… 

— Me deixe adivinhar, prefere ignorar o que eu disse a respeito de você por enquanto? 

— Definitivamente, na verdade. 

— Aceito só porque preciso da sua ajuda sobre o Liam. Tenho algumas ideias e gostaria da sua opinião. 

— Cadê ele, a propósito? — Me agarrei a mínima oportunidade de mudar de assunto. Levantei de imediato, assustado com a possibilidade do nosso amigo estar ouvindo atrás da porta. Não era algo que em situações normais algum de nós faríamos, mas sendo honesto, nenhum dos três era muito conhecido por ser normal. 

— Você não precisa ficar constrangido ou tentar mudar de assunto, eu falei sério sobre ignorar seus assuntos por agora. Pelo menos até resolvermos as coisas sobre o aniversário. Não foi minha intenção deixá-lo desconfortável. Muito pelo contrário, esse sou eu te dando apoio. 

— Eu não faço ideia do que esteja falando. — Continuei em negação. — Por que Lee não veio atrás da gente? O menino morreu? 

— Recebeu uma ligação e pediu licença, foi até nosso apartamento para atender. Enfim, vai me ajudar ou não? 

— Você me conhece melhor que isso. Sabe que não precisa fazer essa pergunta, só diga do que precisa. Mas antes… 

— Porra, Tommo, daqui a pouco ele está de volta. Aliás, já deveria estar aqui. Será que aconteceu alguma coisa com Lee? 

— Você realmente lembrou sozinho e tomou a iniciativa de fazer alguma coisa? E agora também está preocupado com ele? — Quando vi seu olhar irritado buscar o travesseiro, levantei as mãos em rendição. — Ok, só checando. E quem te ameaçou com minha roupa de cama fui eu. Na próxima vez tenha o mínimo de decência e criatividade ao arranjar outra coisa para me bater. 

— Pelos céus, garoto, eu sei até qual pé ele coloca primeiro no sapato. Sei das manias irritantes, as bonitinhas e o jeito que sorri primeiro com os olhos. Por anos testemunhei Liam Payne sendo cuidadoso com aqueles que estão perto, principalmente quando pensa que não é observado, e também como é teimoso e prefere passar pelas coisas ruins sozinho para não preocupar ninguém. Ele faz tudo pelas pessoas sem esperar nada em troca e fica genuinamente feliz com as vitórias dos outros. Sabe como isso é raro hoje em dia? Sei que ele é mais forte do que aparenta, mas que lá no fundo tem alguma coisa que o incomoda e ele não diz o que é. Eu só queria… — Minha atenção no que era dito poderia ofuscar o barulho da porta da frente batendo, mas felizmente houve outro fator para nos indicar que tínhamos companhia. 

— Meninos? — A alguns metros, a voz de Liam chegou abafada até nós. 

— Aqui no quarto. — Zayn berrou de volta. E agora aos sussurros, voltou-se a mim. — Certo, acabou nosso tempo. Amanhã vamos almoçar juntos para terminar essa conversa. Não sei o que você fará, mas vai dar um jeito de despistar o Liam. Assim como eu. 

Não tive oportunidade de falar nada. Embora a presença de Payno houvesse sido anunciada há apenas alguns segundos, isso não me impediu de tomar um belo susto com direito a olhos arregalados, sobressalto e grito preso na garganta quando este apareceu na entrada do quarto. 

— Puta que pariu, meu filho, está querendo ficar órfão? — Soltei as palavras e com a mão direita tentei segurar o coração que queria sair pela boca. 

— Eu avisei que estava vindo. — Lee se defendeu. Só então notei que havia algo de errado. Mais precisamente, o sorriso que havia sumido. — O que estavam fazendo aqui sozinhos para o Louis se assustar desse jeito? 

— Falando sobre como a vida segue e como há pessoas incríveis lá fora que não vão ser escrotas, muito diferentes da porra do ex-namorado do nosso garoto. — Zayn respondeu por mim, e eu seria capaz de beijá-lo naquele segundo. Na bochecha, pois os dois eram como meus irmãos.  

— Zayn tem razão, meu bem, você é incrível e merece alguém que te trate como a maravilha que você é. 

— Obrigado, Payno, você também. Os dois, na verdade. — Respondi, totalmente desnorteado. 

— É, em vez disso recebi uma ligação do carinha que saí por quase um mês sem saber que ele tinha namorada. O filho da puta teve a audácia de ligar sugerindo um ménage entre nós dois e um amigo aleatório dele. No final ainda me chamou de Leeroy, acreditam nisso? Minha noite estava tão boa, e de repente eu fiquei puto da vida no lugar de um tal de Leeroy. Que droga de nome é esse? 

Em um instante Malik estava do meu lado na cama. No seguinte, abraçava Lee. 

— Liam é muito mais bonito. — Declarou, ainda agarrado ao nosso amigo. E a surpresa não era só minha, pois até Liam me olhava de soslaio, estupefato, como quem diz "o que esse garoto está fazendo? E o que esse garoto está dizendo?" — Foi uma conversa muito curta para o tempo que demorou. Se disser que estava chorando por ele eu juro que caço o filho da puta e o faço chorar o dobro. — Só então o soltou. 

— Não, eu… Na verdade eu… — Tentou Liam. E eu não o culpava, pelo simples motivo de os meus neurônios estarem tão em crise como os dele com certeza estavam. 

— Eu sabia, Zayn foi abduzido. — Contei a novidade a Payno. — Nada mais explica a falta de ofensas contra você. E o mais esquisito, ele estar te tratando tão bem. O Zayn verdadeiro nunca seria tão carinhoso. 

— Essa doeu. E justamente por ser verdade. — Liam sorria um pouco, mas o sorriso não chegava aos olhos. 

— É tão difícil assim acreditar que eu realmente gosto de você? 

A mão de Zayn segurava a lateral do rosto de Liam, que não tinha escolha além de encará-lo. Um Zayn ansioso fez a pergunta olhando no fundo dos olhos castanhos do outro. Em seu semblante a dúvida se mesclava a um certo desespero. Sua respiração estava acelerada, o cenho franzido, e a distância curta. Mais uma vez, foi como se eu não existisse, como se só estivessem os dois ali. Se fossem quaisquer outras pessoas, eu juraria até que iriam se beijar. E foi ali que minha ficha caiu. 

Infelizmente devo ter feito algum som, pois em seguida os dois continuavam extremamente próximos, mas me encarando. Zayn com uma carranca de dar medo, inclusive. 

— Me perdoem, não foi a intenção. — Eu nem sabia direito pelo que estava me desculpando àquela altura, mas seja como fosse eu sentia muitíssimo. — Podemos só esquecer as idiotices que eu disse? Zayn, eu realmente sinto muito. E Liam, aquele traste não merece nem que lembremos de sua existência. 

— Tudo bem, Tommo. — Como se fosse combinado, disseram em uníssono. 

— Que tal um jantar amanhã? — Sugeriu Malik, a expressão voltando ao normal aos poucos depois de soltar nosso amigo.  

— Almoço também poderia ser uma boa ideia, já que trabalhamos perto. — Liam propôs. 

— Não! — Agora foi a vez de eu e Zayn dizermos ao mesmo tempo. 

— Quero dizer, melhor não. — Tratei de emendar. — Amanhã vai ser uma loucura no horário do almoço, estarei muito ocupado. E você também, não é, Zaynie?

— É, com certeza. Com algo totalmente diferente do Tommo. — Sutileza era seu nome. 

— Certo… — Liam disse, olhando de um para o outro. — Então amanhã jantamos juntos. Onde preferem? 

— Casa do Tommo enquanto assistimos tv. Que tal? Eu gosto dos clássicos. — Sugeriu Zayn. — Também posso cozinhar para vocês. 

— Melhor que deixar por conta do baixinho e os três terminarmos a noite em um hospital com intoxicação alimentar. — Concordou o ridículo traidor. Eu esperava alguma gracinha do tipo de Zayn, não de Liam. As pessoas já não tinham mais consideração pelo próximo, principalmente quando o próximo era eu. 

— Só lembrando que eu ainda posso enxotar os dois da minha casa. 

— Vai nos expulsar agora ou ainda dá tempo de fofocar? — Payno quis saber. 

— Amigo, nós sempre arranjamos tempo para fofoca. — Bati de leve no colchão, e logo os dois chegavam mais perto. — Se alguém tentar subir de chinelo na minha cama vai levar um socão. 

— Esse menino é insuportável até quando está tentando ser legal. — Zee me acusou. Injustamente, é claro. E como eu era um ser de luz, me limitei a mostrar o dedo do meio para ele. 

— Sobre o que quer conversar? — Perguntei para Liam. 

— Quem é o rapaz que você estava mostrando para o Zayn quando eu cheguei, hein? Porque eu sei que há um cara. Ele é bonito? 

Enquanto Lee tinha uma expressão leve ao perguntar, tenho quase certeza de que meu sangue gelou ao ouvir aquilo. O que mais explicaria o arrepio que senti na hora? 

E o que porra eu iria dizer? 

Antes que pudesse inventar alguma coisa, meu celular foi confiscado. Payno o pegou antes que eu tivesse oportunidade de impedi-lo. Só tive a presença de espírito de olhar para Zayn em um pedido mudo de ajuda. 

— Deixe ele em paz, Liam, o Tommo ainda não está pronto para nos dizer. — Ele tentou, mas infelizmente já era tarde. Dava para perceber os olhinhos curiosos buscando informações, até que o celular foi virado em minha direção. 

— Nada no WhatsApp e o Tinder não está instalado. Você anda apagando as conversas, mocinho? 

— Isso é um abuso. Eu vou trocar a senha desse celular agora mesmo. — Mudei de assunto. 

— Que seja. Vai ser uma sequência do tipo "vinte e oito, vinte e oito". Por que você é tão obcecado com esse número? 

— Vá se ferrar. 

— Não tem nada aqui, Zayn. — Liam estava quase devolvendo o celular, quando de repente… — Espere aí, a não ser que… Ahá! Instagram, eu sabia! 

— Sabe que eu poderia me vingar de você agora mesmo se quisesse, não é? — A ameaça fez algum efeito, já que Liam me encarou por alguns segundos. 

— Você não vai. — Disse após alguns momentos, voltando a atenção para o celular. 

— Que seja, você não vai achar nada aí. A única pessoa que consegue ser mais antissocial que eu é o Zayn. 

Levei um beliscão, mas eu continuava certo. Liam bufou, contrariado. 

— Isso não se faz, Zayn. — Liam reclamou. 

— Eu estou quieto. O que você acha que eu fiz dessa vez? 

— Fofoca pela metade mata o fofoqueiro. De quem Louis está a fim? Porque eu fucei tudo, e só o que encontrei foram pessoas ignoradas, sendo com as mensagens lidas ou não, e aquele chef de cozinha agradecendo alguma coisa. Sendo que até ele o Louis deixou no vácuo, então se existe alguém o contato deve ter sido pessoalmente. 

— Chef de cozinha? — Zayn estava confuso. 

— Que chef de cozinha? — E eu mais ainda. 

— Aquele com cara de neném que ganhou o programa culinário que assistimos juntos há uns dois anos. O Harry Styles, não se faça de tonto. — A última parte veio junto com um semblante julgador. 

— Eu nunca mandei mensagem no direct do cara. E se fosse mesmo ele, você estaria no mínimo surpreso. 

— E por que estaria? Sempre que ele posta alguma coisa aparece que já foi curtido por você e algum comentário embaixo. Muitas vezes aparece até ele marcando seu arroba, respondendo algo. Engraçado que a mim ele não responde toda vez, muito menos no segundo seguinte. Mas espere… Era dele que o Zayn estava falando? O cara do qual está a fim é Harry Styles? 

— O quê? Claro que não. O que um cara desses ia querer comigo? E de onde infernos você tirou que nós trocamos mensagens no direct? Eu só comento as coisas de vez em quando. 

— Bom, tem uma mensagem privada dele no seu direct. Eu conferi, é do perfil de verdade e não um fake. E você deixou o cara no vácuo noite passada, a mensagem já estava aberta. — Concluiu Lee, finalmente me devolvendo o celular. E para meu espanto, ele estava certo. 

Eu realmente havia recebido uma mensagem do verdadeiro Harry Styles. Li as duas palavras que me foram enviadas, e embora soubesse seu significado semântico, não fazia ideia do que elas queriam me dizer naquela situação. Por que caralhos Harry Styles me mandaria aquilo? Quase uma da manhã, ainda por cima. Conferi quatro vezes a conta, que como me foi garantido, não era fake. E mais uma vez voltei meus olhos para o recado. 

Obg, amor 

Na minha cabeça, a palavra "amor" dava voltas e mais voltas sem nunca chegar a algum lugar. Era um ciclo infinito que estava conformado com sua natureza.

A M O R 
M        O 
O        M 
R O M A 

Era o que minha cabeça dizia, até a boca se pronunciar também. 

— Não sei como fez isso, mas realmente me pegou. Está de parabéns, Liam. Foi maldoso, mas extremamente bem executado. Como fez? 

— O quê? 

— Eu saberia se tivesse falado com meu crush famoso. — Ri do absurdo da situação, até me dar conta de uma coisa. — A não ser que… 

Em algum lugar secundário da minha mente eu sabia que os meninos ainda me encaravam em dúvida, mas minha atenção não estava voltada para isso agora. Não quando eu abria a mensagem novamente, tentando não me ater àquelas duas palavrinhas da discórdia. 

Olhando mais para cima havia a data em que a mensagem fora enviada e os seguintes dizeres: harrystyles enviou uma mensagem para você sobre um comentário que você fez na publicação dele(a). Na frente, as palavras “Ver publicação” estavam em azul, indicando ser um redirecionador. Cliquei sobre elas, indo parar em uma foto onde Harry tinha o cachorrinho no colo, ambos com óculos escuros. Havia um prato de alguma coisa na mesinha ao lado, mas eu simplesmente não consegui me importar o suficiente com isso enquanto buscava a resposta de uma pergunta muito mais importante: “O que porra havia acontecido?”  

— Liam, ele está me assustando. — Zee estourou minha bolha com o cochicho. 

— Louis está fazendo aquela cara, é melhor deixarmos ele terminar o que quer que seja isso. 

— Ele está esquisito. — Insistiu Zayn. 

— Ele é esquisito. — Foi sua resposta. Eu precisava de novos amigos com urgência. 

— Mas surdo não. Então fiquem quietos, seus merdinhas. 

Isso serviu para os calar por tempo suficiente. Tempo o bastante para eu descobrir meu comentário em meio aos das outras pessoas. Só que ao contrário do que sempre acontecia, elas foram respondidas por ali e eu não. E abaixo do meu, havia outro que me chamou atenção. @niall_horan marcava Styles e dizia apenas “Hazz, pare de usar seu cachorro como isca para fazer o menino bonito de olhos azuis te notar e o chame logo para sair antes que eu tome providências. JÁ FAZ MESES, BOCÓ”. 

Não sei se o comentário me deixou mais confuso ou o que Harry o respondeu. Fazendo sentido para mim ou não, Harry Styles lhe disse “não me julgue, irlandês. Minhas chances são muito maiores quando Buzz está envolvido”. Era oficial, eu não estava entendendo mais porra nenhuma. E talvez por o mundo ser um lugar frio e cruel, acabei curtindo o comentário do rapaz, que agora eu reconhecia como um de seus amigos. 

— Mas que caralho… — Reclamei comigo mesmo ao remover a curtida e me dar conta do que havia acontecido. Bom, parte disso. 

— Nós temos que acordar cedo amanhã para trabalhar, sabe? — Disse um dos traidores. 

Soltei o ar que não percebi ter prendido, revirei os olhos para a frase idiota e enfim os concedi atenção. 

— Não vão me deixar em paz sobre isso, certo? 

— Que tipo de amigos seríamos se o deixássemos em paz quando nos pede? — Quis saber o outro. 

— Um tipo mais agradável, obviamente. — Respondi, farto daquilo. — Ok, eu acho que entendi o que houve. Mais ou menos. — O casal Payne-Malik parecia desconfiado, mas eu não tinha tempo ou paciência para aquilo. — Não é novidade que eu comento nas coisas que Harry Styles posta. 

— Para ninguém em todo o planeta. — Um olhar de advertência foi o suficiente para Zayn pedir desculpas. 

— Certo, eu comento as coisas e ele responde depois. Só que dessa vez por algum motivo deve ter me confundido com alguém e respondeu no privado. — Ninguém precisava saber que até o próprio amigo foi respondido publicamente e eu não. 

— Ele disse “obrigado, amor”. — Payno não tardou a acusar. 

— Obrigado, Liam, eu sei ler. — Respondi, ainda sem acreditar que aquela noite de fato estava acontecendo. — Mas eu nunca falei com o cara. Nada além do que eu já não falava, pelo menos. Agora puxando na memória me veio um fragmento de lembrança que pode ou não ser real, que sou eu voltando do banheiro de madrugada e abrindo alguma coisa no Instagram. E como Harry mandou a mensagem tarde, para quem quer que fosse de verdade, até que faz algum sentido. 

— Está dizendo que esqueceu do carinha de neném te mandando mensagens de forma privada no Instagram? — Zayn quis se certificar. 

— Do mesmo jeito que você esquece que eu enchi a cara ontem depois do seu show. Foi exatamente o que aconteceu. Eu devo ter lido de madrugada e apagado a informação da minha cabeça depois. 

— Agora minha dúvida é por que Harry Styles te mandou mensagem assim de repente. Não que você não seja… 

— Não precisa se explicar, Lee, é estranho mesmo. Mas deve ser apenas aquilo que eu disse. A única opção provável é que ele tenha se enganado quando queria falar com outra pessoa. — Segundo Niall Horan, algum cara bonito de olhos azuis, minha mente completou.  

Ambos concordaram, e o clima um tanto estranho se dissipou com um demorado bocejo de Zaynie que nos levou ao riso.  

— Tudo bem aí, Bela Adormecida? — Lee fez sua graça. 

— Eu sou o Aladdin e você sabe muito bem, Jasmine. — Malik devolveu de imediato e um riso nervoso me foi irrefreável. 

— É o Flynn Rider de Enrolados e quem discordar que discorde em silêncio. — Sentenciei. — E o Liam é o Encantado de Shrek. 

— Anãozinho da Branca de Neve. — Encantado me acusou. 

E ficamos nessa até Zayn se levantar dizendo que era melhor irem para casa pois já passava da hora de dormir e que amanhã seria um dia cheio, me lançando uma piscadela significativa e discreta. Como se em sã consciência eu fosse perder a oportunidade de enchê-lo de perguntas sobre Liam, já que este não estaria presente. 

— Ah, mais uma coisa. — Os chamei quando ambos já estavam quase saindo do recinto. — Eu não estou a fim de ninguém. Zayn que é maluco e vê coisas onde não tem. 

— Claro. — Disseram juntos, rindo. E claro, não acreditando em uma única palavra daquela frase. 

Mas estava tudo bem para mim, eles não precisavam saber de tudo. Não da parte que meu coração não parava de bater enlouquecido desde que eu soube da mensagem, e definitivamente não sobre o comentário curtido. Menos ainda que o próprio Niall Horan passou a me seguir logo após e mandou uma mensagem privada perguntando cortesmente como eu estava e se poderíamos conversar. 


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