O resgate de um sorriso escrita por Tainan Amorim


Capítulo 1
Capítulo Único




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Todos os dias quando estacionava minha BMW na esquina da revenda de carros que eu era dono eu olhava para aquela praça que ficava na frente, era muito bonito ali, árvores, bancos, alguns lagos, a natureza berrava em meio ao caos da cidade grande.
Gostaria de ter mais tempo para admirar a natureza mais a minha vida era corrida demais, atender clientes, cuidar das finanças, cuidar dos meus pais idosos, da casa, de funcionários... era muita coisa pra mim sozinho.                        

                Com o passar do tempo comecei a notar que sempre havia uma garota sentada no banco lateral da praça, seus cabelos eram pretos, um channel bem cortado, ela usava um óculos de armação pesada demais para seus belos traços juvenis, sempre estava com um livro na mão e sempre estava com um brilho nos olhos típico de quem amava uma biblioteca, sempre estava sozinha, parecia se sentir confortável daquele jeito, era pontual, sempre chegava minutos depois que eu estacionava meu carro na vaga destinada, ficava em torno de 1h e depois ia embora em passos apressados, me simpatizei com ela, acredito que por seu ar angelical.

Os dias passaram, e acabou virando rotina olhar a jovem garota sentada no banco da praça, me dava um paz grande, porém de uns dias pra cá um jovem garoto havia aparecido também ficava ao seu lado, sentado lá mexendo no celular enquanto ela corria seus olhos pelo seu livro, notei que o brilho no seu olhar sumia quando estavam juntos e geralmente eles ficavam menos do que uma hora na praça, geralmente eles levantavam e ele saia caminhando na frente em passos duros e ela atrás com a cabeça baixa, imaginei ser o irmão dela, afinal era perigoso uma jovem como ela ficar zanzando sozinha por essas ruas.

                Certo dia, um dia chuvoso, cinza e muito quente, típico de verão, quando estacionei o carro no mesmo lugar de sempre corri meus olhos pela praça e vi que ela não estava ali, já havia uns dias que ela não vinha mais a praça, tinha sumido, o que não era normal, imaginei que ela havia se mudado, ou talvez apenas cansado da praça e dos livros.

Foi então que no mesmo dia enquanto abastecia a dispensa para a chegada dos meus pais esbarrei com ela no mercado, dei um sorriso rápido, ela retribuiu porém baixou a cabeça e saiu em passos apressados em direção ao rapaz da praça, ela estava com um moletom quente demais para aquela época do ano, o que achei estranho.

No outro dia, lá estava ela, sentada no mesmo banco da praça de sempre, porém desta vez não tinha o brilho nos olhos, estava com o óculos no colo junto com o livro fechado, estava cabisbaixa, senti que devia me aproximar, talvez fosse loucura, ou talvez eu passasse por um tarado, pela minha idade, não era normal puxar papo com garotas tão novas na praça.
Eu era um homem de 42 anos, grisalho, com porte forte, estava muito bem para a minha idade, talvez algumas rugas devido a todas as preocupações que eu tinha, mais nada que acabasse com a minha cara de galã de novela. (risos)


Me aproximei calmamente de onde ela estava sentada:

— Posso me sentar neste lugar? - perguntei ainda de pé
— Sim – falou ela sem nem levantar os olhos

Me sentei e fiquei em silencio, a observando, ela estava tensa, dava de ver.

— Você vem sempre aqui né.
— Você é bem observador – comentou ela ainda sem levantar o olhar
— Trabalho aqui na frente e não pude deixar de observar que você sempre está por aqui, lendo algo, na maioria das vezes sozinha
— É... – respondeu ela

Ainda sem levantar os olhos, ela estava mexendo nos dedos, parecia nervosa

— Como você se chama?
— Me chamo Evey, e você?
— Me chamo Dominic, sou dono daquela revendo ali na esquina – falei apontando pra lá
— Ah, legal. Eu sou dona deste banco aqui – disse ela levantando um breve sorriso de canto de boca
— Vejo que é engraçadinha – respondo rindo
— Então Evey, está afim de dar uma volta?
— Eu não vou dar uma volta contigo, eu mal lhe conheço – respondeu ela na defensiva
— Certo, vamos lá. Você já sabe que me chamo Dominic e que sou dono daquela revenda ali, eu tenho 42 anos, sou solteiro, meus pais estão na minha casa e bem provável minha mãe esteja fazendo cavaquinhos esta hora, eu a amo, sabe?! Fica mais tranquila agora que sabe essas coisas sobre mim?
— Não, metade, ou tudo isso pode ser mentira...

Me responde ela ainda na defensiva, porém posso notar que está mais tranquila do que no início, parou com o tic das mãos...

— Ok, quer ir até a revenda confirmar minha história? Quer minha identidade? Ou melhor, quer falar com a minha mãe? - pergunto sorrindo pra ela
 - Não, não, eu acredito em você – disse ela abrindo um leve sorriso
— Onde você quer me levar? - perguntou
— Num lugar, é uma praia, logo aqui perto, muito bonita, e não é deserta eu juro. – já me adianto, antes que ela tivesse uma impressão ruim de mim
— Ok, mais não posso demorar – respondeu ela enquanto levantava do banco colocando os óculos no rosto e o livro na bolsa

Fomos com o meu carro até a praia, ficava a uns 30min dali e como era cedo não havia transito. Como eu imaginava estava bem cheia, várias pessoas tomando sol, crianças brincando na água e vendedores ambulantes.
Descemos do carro e fomos andando até um canto, que ficava uns bancos de baixo de algumas árvores altas, parecia mais tranquilo ali.

— Você quer beber algo? - perguntei enquanto ela tirava o tênis e colocava o pé na areia da praia
— Não, não, estou satisfeita, só quero sentir a areia mesmo – respondeu ela
— Você não vem muito a praia né? - falei a observando enfiar os pés na areia
— Quase nunca, e eu gosto bastante
— Você não está com calor com este moletom? - perguntei
— Não! Estou bem. – respondeu ela franzindo um pouco a cara.

Uma brisa fresca bateu naquele momento, leve e refrescante, fez os cabelos curtos dela voar, o que me ajudou a observar que em seu pescoço, onde o cabelo cobria havia uma marca roxa, pareciam dedos.

— Evey, você pode confiar em mim – falei alcançando sua mão
— Obrigado – respondeu ela não fugindo do meu contato
— O que houve com o seu pescoço? - perguntei, pois não me aguentava de curiosidade
— Nada! Eu machuquei enquanto me penteava – respondeu ela automaticamente puxando o cabelo para tampar o local

Antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa ouvi seu telefone chamar e antes que eu pudesse piscar ela já estava o atendendo:

— Oi – atendeu ela, na sua voz dava pra notar que não estava confortável
— Onde você está? Deve estar nesta praça imunda outra vez. Estou indo pra casa, quero você lá em 30min. – berrou a pessoa do outro lado da linha
— Tudo bem John, estou indo pra casa – respondeu ela agora tremula

Antes mesmo de desligar o celular ela já estava de pé, parecia aflita.

— Por favor, preciso ir embora agora – falou ela já caminhando em direção ao carro
— Evey, o que houve? - perguntei
— Preciso ir, John fica muito bravo quando eu não estou lá – me respondeu ela chegando perto ao carro

Foi neste momento que pude notar que seu semblante estava triste e do seu olho caia uma lagrima.

— O que está acontecendo? - perguntei chegando mais perto dela
— Nada, estamos perdendo tempo, eu preciso ir – me respondeu nervosa enquanto tentava abrir a porta do carro
— Evey calma, você não é obrigada a sair correndo quando lhe ligam
— Sou sim, ele fica bravo, e... – parou quando as lagrimas insistiram em cair
— Evey... - falei enquanto abraçava ela, não como quem tem segundas intenções, mais com carinho e para protege-la.
— Ele fez isso? - perguntei enquanto tocava o local do roxo no seu pescoço com os meus dedos
— Sim – falou ela entre lagrimas, agora ela soluçava
— O que mais ele te fez Evey? a quanto tempo isso acontece? - perguntei
— Faz algum tempo, mais ele não faz por mal – me respondeu ela ainda chorando
— Evey ninguém bate em uma mulher se não for por mal. Você está com mais hematomas né? por isso o moletom – falei mais já sabendo a resposta

Fomos puxados para a realidade do momento quando novamente seu celular tocou, na tela o nome de John apareceu e uma foto deles, pareciam felizes ali.
Enquanto a levava para a sua casa, a ouvia chorar entre as palavras, naquela pequena viagem de 30min ela me contou que estavam juntos a quase 3 anos, mais a 1 ano ele batia nela, por motivos banais, ou até pela falta deles.
Ninguém sabia da situação que ela estava passando a não ser Dominic, ele a ameaçava, e ficava cada vez pior quando ela falava em deixa-lo.

Estávamos chegando perto da sua casa, ela me pediu para deixa-la uma esquina antes, para que ele não a visse descendo do carro de um estranho, mas não pude fazer isso, disse que a deixaria em frente a casa, e se precisasse eu estaria ali por ela, hoje isto acabaria.
Quanto mais nos aproximávamos mais nervosa e chorosa ela ficava, estava com medo.
Quando entramos na rua da sua casa ela ficou em pânico em ver que ele estava em frente ao portão, esperando ela, parecia nervoso já que batia com o pé no chão.

Estacionei o carro, deixei que ela descesse e quando contornou o carro, observei a cara dele, ele estava pronto para bater nela ali mesmo, se não fosse minha presença que havia lhe chamado atenção.

— ONDE VOCÊ ESTAVA? - perguntou ele em alto tom
— Eu... eu fui a praia, com um amigo – respondeu ela com a cabeça baixa, as mãos tremulas segurando o choro
— UM AMIGO? DESDE QUANDO VOCÊ TEM AMIGOS? - falou ainda mais alto enquanto olhava duramente para dentro do meu carro
— Deixa isso pra lá, vamos entrar... – disse ela apressando o passo
— NADA DISSO, EU QUERO CONHECER ESTE SEU AMIGO – falou ele pegando fortemente no braço dela

Neste momento não aguentei, sai do carro e pulei na sua frente, encarei aquele playboy com muita raiva e mandei larga-la.

— Largue o braço dela – falei em um tom alto, porém civilizado
— E QUEM É VOCÊ PRA ME MANDAR FAZER ALGO? - perguntou ele apertando ainda mais, a fazendo chorar
— PORRA CARA, LARGA ELA AGORA – falei batendo com um pouco de força no braço que a segurava

Minha reação a fez largar, porém ele fechou os punhos e veio me peitar, sua atitude era de uma criança birrenta então tentei conversar.

— Cara, relaxa ai, você não vai mais machuca-la – falei pegando em sua mão e a trazendo para trás de mim, minha intenção era protege-la
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É? EU FAÇO O QUE EU QUISER COM A MINHA NAMORADA MANÉ.
— Não é bem assim não – falei tentando manter a compostura
— OLHA AQUI SEU MERDINHA, TA COMENDO ELA E ACHA QUE PODE ME DAR ORDEM? - falou ele em berros
— Não estou “comendo” ela, e mesmo que estivesse, isso que você faz não é atitude de homem, é atitude de moleque. – falei

Não demorou nada depois que terminei a frase para ser atingido por um soco na minha mandíbula, sorte minha e anos de muay thai que reagi rápido, logo em seguida ele estava no chão, eu estava por cima dele e a Evey já havia chamado a polícia.
Fomos todos encaminhados para a  delegacia, pegamos um policial completamente correto, expliquei a situação e ele foi muito compreensível com a Evey, ela ainda estava em choque, tudo havia acontecido rápido demais.

Ficamos horas na delegacia, Evey deu seu depoimento, John encheu o delegado de mentiras e eu expliquei o que havia acontecido de fato.
John ficou preso, pelo menos por enquanto aquele babaca estava atrás das grades.
Evey estava em choque ainda, falou para o delegado o que vinha acontecendo, mais fez isso porque eu estava ao seu lado, sorte minha ter tomado uma atitude em sentar naquele banco aquele dia.
A levei para casa, fiz um chá enquanto ela tomava um banho quente e em seguida fui embora, deixei meu número com ela, para caso precisasse de algo.

Algumas semanas se passaram e eu vinha trocando mensagens com a pequena Evey, descobri muita coisa sobre ela, e como ela era uma garota incrível neste meio tempo, trocamos confidencias, segredos e sentia que estava me apaixonando por ela mais queria respeitar seu tempo, tudo o que ela havia passado com o ex namorado era forte demais, pesado e traumatizante então dei espaço e dei apoio, tudo na medida certa.

Mais algumas semanas e a mensagem que eu esperava todos os dias veio:

— Dominic, que tal um jantar hoje? ainda preciso lhe agradecer por tudo que fez por mim – mandou ela com uma carinha feliz no final
— Claro que sim, hoje, te pego as 20h. Vamos no meu restaurante preferido – respondi rapidamente com um sorriso de orelha a orelha
— Fechado! – respondeu ela seguida de uma figurinha de uma lontra dançando

Eu só não sabia que aquela seria a primeira noite do resto da minha vida...


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem dessa escrita mais madura, da historia e deste casal.



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