Segunda-feira

Depois do recesso caótico de primavera finalmente as aulas voltaram, não que eu estivesse animada ou coisa assim, mas a rotina me mantém feliz. Logo depois do que aconteceu na minha sexta-feira mirabolante, o encontro miserável e toda a confusão com Eddie, decidi me abster e fazer uma retiro na casa da Nancy, obviamente Robin estava junto. Foi um ótimo final de semana, apenas nós, muita comida, muito filme romântico e terror trash e, principalmente, sem garotos.

Nancy deu carona para o colégio, não queria me encontrar com o cabeludo tão cedo, ainda estava muito chateada com tudo o que aconteceu. Assim que Wheeler estaciona na sua vaga de sempre e nos preparamos para mais um dia de aula, observamos um carro chegando a toda velocidade e com uma música, desconhecida por mim, tão alto que foi capaz de obstruir meus pensamentos. 

— Quem são esses? - Robin pergunta assim que o carro estaciona e de dentro sai um deus grego e uma garota ruiva.

Meus mais novos vizinhos.

Todos que estavam do lado de fora pararam para olhar os novos alunos. Max mal saiu do carro do irmão e já se afasta, enquanto Billy encosta-se na porta e termina de fumar seu cigarro. Olha em volta e me encontra, provavelmente me reconhece já que manda uma piscadela em minha direção. Rolo os olhos.

— Você conhece? - Nancy me olha confusa.

— São meus novos vizinhos, conheci eles a alguns dias. A garota é bem legal, já ele é um tremendo babaca. - Dou de ombros e seguimos em direção a entrada, nos separando logo em seguida já que nossos armários estão em locais diferentes. Encontro meu armário e encostado ao lado dele está Edward, bufo irritada. Não quero me encontrar com ele ainda.

— Bom dia. - Fala virando-se em minha direção, o ignoro. - Não vai falar comigo Williams? - Não o respondo. - Ok, mas saiba que posso ser bem irritante quando quero.

— Isso eu já sei, a novidade para mim é que você consegue ser babaca também. - Levanta as sobrancelhas indignado e levanta as mãos em forma de rendição.

— Te vejo em quinze minutos, você sabe onde. Precisamos conversar. - Vira-se e segue em direção a qualquer lugar com a mochila nas costas.

Avalio a condição se devo ir ou não. Precisamos conversar, isso é um fato tão claro quanto cristal, por mais que eu não queira contato com Edward precisamos urgentemente dessa conversa. Preciso ao menos tentar salvar essa amizade.

Em exatos quinze minutos me vejo saindo do colégio e seguindo em direção ao bosque que há nos fundos, subindo a pequena colina e encontrando a mesa de piquenique abandonada, Eddie já estava ali me esperando, sentado apoiando a cabeça baixa nas mãos.

— E então... - Anuncio a minha chegada, já que ele parecia não ter percebido.

— Me desculpa, eu não deveria ter ido ao seu encontro com Liam e ter feito tudo aquilo eu... Eu só estava com raiva.

— Raiva do que Edward? - Sento-me a sua frente, colocando a mochila em cima da mesa.

— Para de me chamar assim, sabe que eu odeio. 

— Eu não ligo e eu fiz uma pergunta. - Desviando o olhar ele suspira alto.

— Sei que você está irritada e você tem toda a razão por isso, eu mereço todo esse ódio que você esta emanando... Eu só fiquei com raiva por que me senti trocado. Foi isso. 

— Trocado por que, exatamente, se não temos nada? Você tem Cecília e mais um monte de garotas aos seus pés Edward... - Ele rola os olhos ao escutar seu nome, ignoro e continuo. - Em todos esses anos nada lhe impediu de sair com várias e destruir os corações delas sem nenhuma consideração.

— E quem garante que destruí corações? Elas já entram nessa roda sabendo qual vai ser o destino final, elas já sabem que não quero nada sério e... Esse não é ponto Hazel. - Balança a cabeça tentando voltar ao assunto, mas novamente o ignoro e prossigo o assunto.

— Isso não significa que é algo legal de se fazer! - Ele se levanta da mesa em um solavanco, demonstrando irritação, escuto sua risada irônica.

— Até por que você é uma especialista em relacionamentos, não é Williams? - Suas palavras me magoam, engulo o bolo de lágrimas que se acumula em minha garganta e levanto a cabeça, decidida a não chorar mais por Edward Charles Munson.

— Algumas dessas garotas podem gostar de verdade de você. Já gostou de algumas delas por um acaso? 

— Ah..! - Estende os braços e gira ao seu próprio redor, seu tom era sarcástico. - Elas podem gostar de mim! Entendi, muito obrigada por me tranquilizar Hazel. É muito bom saber que uma garota pode ficar comigo por que quer, e não para ser usado como treino sexual. - A culpa me atormenta novamente. Esse maldito acordo está se espalhando entre nós como um vírus. Falamos que nada mudaria, mas claramente isso não aconteceu. Nossa amizade esta contaminada.

— Não foi isso que eu quis dizer e você sabe disso. - Abaixo a cabeça, segurando as lágrimas. - Mas obrigado pelo estupido encontro que você armou com Cecília, me ajudou muito a abrir meus olhos. - Limpo discretamente um pequeno acumulo de lágrimas quando ele vira-se de costas. - Vou terminar com Liam. Terminar o que nem começamos.

— Aleluia! Finalmente abriu esse seu olho para aquele babaca. - Senta-se novamente a minha frente e fica me encarando. - Ok, lhe devo milhões e milhões de desculpas. Eu sei disso. - Sorrio minimamente. - Maldito acordo.

— Concordo. - Ele sorri para mim.

Nunca reparei o quanto do meu dia Eddie faz parte, de alguma forma, sempre estou ciente da sua presença. Mas agora, depois da fatídica e caótica noite de quarta-feira, sinto a presença dele de uma forma diferente. Toda vez que estamos perto, como agora, sinto-me tensa, eletrificada. Forço-me a olha-lo e sorrir minimamente para amenizar a situação. Posso agir como um ser humano normal e funcional.

Tenho que fazer isso para ter meu melhor amigo de volta.

— O negócio é o seguinte. - Levanta-se novamente, mas dessa vez ficando ajoelhado a minha frente, apoiando as mãos em minhas pernas. - Peço desculpas, por absolutamente tudo. Por ter invadido seu encontro com Liam, por ter agido como um babaca e por esse acordo idiota... - Ouso o interromper falando que na verdade o último item a ideia foi minha e eu apenas o arrastei comigo. Mas ele levanta um dedo, nem dando-me tempo de pronunciar alguma coisa. - Sei que a ideia foi sua, mas eu concordei. Então tenho tanta culpa quanto você. Então é isso, eu peço desculpas pelo tremendo babaca filho da puta que fui. Ah, e peço desculpas também por ter fugido na noite que... - Ele pensa melhor. - Naquela noite lá. Aquilo, com certeza, foi a minha maior babaquisse. 

— Devo concordar. - Sorrio segurando a sua mão cheia de anéis em meu colo, fico brincando com o anel de caveira. - Eu devo pedir desculpas também. A ideia disso tudo foi minha e acabei com tudo.

— Você não estragou nada, eu já lhe disse. - Sussurra para mim, sorrio minimamente. - A única desculpa que você me deve é por me chamar de Edward por duas vezes hoje. - Não seguro e começo a gargalhar. E tão rápido como comecei a rir descontroladamente, começo a chorar.

Eu sou um verdadeiro caos de emoções.

Rindo baixinho do caos que me tornei emocionalmente, Eddie levanta do chão sentando-se ao meu lado, me afagando em seus braços em um abraço confortável e beijando o topo da minha cabeça, como sempre faz. 

— Eu.. E-Eu não quero te perder Eddie. - Falo entre soluços agarrando-me ainda mais ao seu abraço. - Me desculpa por ter colocado você nesse ideia idiota, eu não quero ser assim como você. Não quero precisar agir como se fossemos completos estranhos que nunca conversaram entre si, eu quero o meu melhor amigo de volta. Quero poder ir a campanha de D&D, poder escutar essas músicas idiotas que você gosta, assistir a banda tocando no Hideout, quero poder desabafar com você... E-eu só quero que voltemos a ser o que sempre fomos. - Quanto mais falava mais lágrimas caem e mais eu soluço, Eddie apenas me segura forte em seu abraço. Consigo sentir uma lufada de ar no topo da minha cabeça, assim que paro de tagarelar.

— Eu também quero Williams, você é a minha pessoa favorita e sempre será. - Sorrio em meio ao choro, afasto-me levemente limpando as lágrimas.

— Ah, e me desculpa por te chamar de Edward. - Rimos juntos, agora ele me abraça lateralmente. - Você também é minha pessoa favorita Ed.

— Eu sei. - Afirma com a cabeça de forma soberba, empurro seu corpo com meu ombro. - Pretende terminar com Liam mesmo? - Afirmo com a cabeça olhando o vazio do bosque ao nosso redor.

— Ele não é nada do que eu imaginei, eu não me sinto... Não me sinto eu, perto dele. Entende? 

— E como entendo, vi com meus próprios olhos você comendo uma pizza de cogumelos. - Arqueia a sobrancelha, rolo os olhos lembrando da cena e faço uma careta me lembrando do gosto horroroso da pizza.

— Eu deveria ter me levantado e ido embora daquele encontro ridículo, teria me poupado muita dor de cabeça. - Nego com a cabeça. - Você vem comigo terminar com ele? Não quero estar sozinha, não precisa ficar ali o tempo todo, na verdade nem precisa ficar a vista. Só preciso sentir que você está ali comigo, me apoiando.

— Sempre estarei pirralha.