CelleXty Saga escrita por Basco Khassan


Capítulo 12
Recordações




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Códex 000.42.78 - Rosa Vermelha:

Isabelle Hoffmann, 19 anos, natural de Brusque – SC

Poderes: Psicocinese e Telepatia

 

Isabelle nasceu em Brusque, uma pequena cidade do estado de Santa Catarina e levou uma vida relativamente normal. Morava em um pequeno sítio juntamente com seus pais, sua avó materna e mais 3 irmãos. Dividia os momentos de crianças com atividades do dia a dia do sítio, como cuidar dos animais, das pequenas plantações e do irmão caçula. Na escola, era a garota mais alta da turma com um rosto angelical, cabelos loiros e cacheados e corpo esguio. Com apenas 4 anos de idade já participava de concursos e passarelas da cidade e posteriormente de outros municípios, logo chamando a atenção de caça talentos da região. Sua avó sempre colocava uma pétala de rosa vermelha em suas roupas a cada novo desfile. — É para trazer sorte, meu anjinho, dizia a anciã! Isabelle sempre era a “menina dos olhos” da família Hoffmann. A menina era cheia de vida e inspirava a outros com sua inocência.

A vida de Isabelle começou a mudar, aos 11 anos com um trágico acidente que ceifou a vida de seus pais e dois de seus irmãos. Meses depois, sua avó também falecera. Da família, apenas a sua irmã mais velha, Elis, era ainda presente. Isabelle tinha tios de ambos os lados da família, mas contendas pela posse das terras da avó dividiram a família. Isso também trouxe uma carga emocional muito grande para a menina. O sítio acabou sendo vendido e o valor repartido com os membros da família. Com a parte das meninas, ambas decidem se mudar para Florianópolis. Elis, professora, passava a maior parte do tempo nas escolas e Isabelle dividia os afazeres de casa com os estudos no colégio. A vida difícil após a tragédia trazia também muitas brigas entre ambas. Isabelle entrou na adolescência de maneira agressiva e rebelde que iam muito além da normalidade para a sua idade. Isso gerava não apenas transtornos para sua irmã como também muitas inimizades. Era comum as brigas após as aulas terem sempre Isabelle como protagonista. Aos 14 anos, sem Elis saber, a menina fez a sua primeira tatuagem, uma rosa vermelha no ombro em homenagem a sua avó. Um ano depois ela deixa um bilhete para a irmã e foge de casa. A casa de bonecas que construíra ao seu redor havia desmoronado com o passar dos anos. Elis acaba encontrando-a, vivendo em uma velha casa abandonada nos arredores da cidade. Apesar de um tempo de trégua emocional, a vida da menina teria um novo viés.

Com 16 anos, Isabelle começa a trabalhar em uma pequena loja no comércio local durante o dia e terminava os seus estudos no período noturno. Certa noite, enquanto aguardava o ônibus sozinha para retornar para sua casa, a garota é atacada por um homem. A jovem é arrastada para um terreno baldio a alguns metros de distância da parada deserta de ônibus. Tentou gritar, mas o agressor tapava a sua boca com força em meio ao matagal. Na tentativa de silenciá-la, o homem desfere um soco que a atinge no estômago. Um segundo golpe acerta o rosto da menina que cai sobre o chão de terra e pedras. Aquelas agressões poderiam ter deixado qualquer outra adolescente confusa, com medo e desesperada, mas Isabelle era diferente. Um gatilho foi ligado. Num lapso de segundos, Todas as mazelas que culminaram com ela estando naquela situação encheram a jovem de uma raiva....um ódio imensurável. O homem se preparava para mais um ato de violência quando subitamente sente seus movimentos travarem. Isabelle, por sua vez, mantinha os olhos fixos no agressor. De alguma maneira inexplicável, a menina conseguia ouvir os pensamentos sórdidos e perversos do seu agressor dentro de sua mente. A menina percebe que era ela que estava causando a paralização corporal do homem à sua frente que agora, sem entender nada, tentava expressar uma fisionomia de pavor, enquanto os membros do seu corpo pareciam ter vontade própria. Isabelle estende a mão direita apontando para o peito do homem. Enquanto fechava o seu punho lentamente, o agressor voltava a ter os seus movimentos corporais normalizados, porém agora, sentia uma forte dor no peito. A dor apenas cessou quando o seu corpo cai, sem vida e seu rosto bate no solo. Parecendo recobrar sua sanidade de um transe, Isabelle não compreendia bem o que acabara de acontecer. Ela corre do terreno baldio, atravessa a rua e desce algumas quadras conseguindo pegar uma condução. Estava nervosa, toda suja e com sangue escorrendo pela boca. Conseguia ouvir os pensamentos dos passageiros que a olhavam com estranheza e curiosidade. Tantas vozes em sua mente pareciam como agulhas atravessando sua cabeça. A menina desce da condução não dando ouvidos aos pedidos do motorista perguntando-lhe se estava bem. Foi apenas quando o ônibus se afasta é que as vozes dão uma trégua. Ainda precisaria andar muitas quadras até chegar em casa!

Os noticiários do dia seguinte reportavam o corpo de um homem encontrado em um terreno baldio e que, segundo a polícia, mantinha o rosto petrificado em um estado fantasmagórico. Na semana seguinte o caso ainda repercutia diante do depoimento dos legistas que afirmavam que o coração do estranho encontrado em um terreno baldio estava com o coração totalmente esmagado, mesmo que externamente o corpo não apresentasse nenhuma lesão sequer. Isabelle via os noticiários, mas manteve segredo. Ela acreditava que sua irmã jamais a entenderia. Na certa, culparia a menina pelo ocorrido. Precisou inventar uma história louca sobre ter se machucado na escola na aula de educação física. Elis não discutiu, apesar de achar estranho. Nas semanas seguintes, Isabelle começou a manifestar seus dons com mais frequência. De início ela ouvia as vozes de todos que estavam ao seu redor. Sua irmã, vizinhos, colegas e professores na escola ou clientes na loja em que trabalhava. Por vezes, tantas vozes ecoando ao mesmo tempo em sua mente a deixavam quase “louca”. Não conseguia trabalhar, comer ou dormir. Quando tentava de alguma maneira cessar as vozes, alguém sempre acabava machucado ou num estado catatônico por algumas horas.

Nos finais de semana, gostava de visitar o Parque da Luz, próximo ao seu apartamento, mas quando as vozes se tornavam constantes ia para locais afastados da cidade como o Distrito de Ribeirão da Ilha, um dos locais mais bem preservados historicamente de Florianópolis com forte influência açoriana, distante cerca de meia hora do centro da cidade. Lá, sem os olhares do grande público tentava manter a sanidade. Os poderes psíquicos de Isabelle acabaram lhe afastando da maioria das pessoas. A menina, mesmo sem querer, ouvia os pensamentos mais profundos e que nem sempre eram prazerosos de descobrir. O fato de ter matado o seu agressor também lhe trouxe um sentimento de introspecção e não aceitação constantes. Isabelle também aprendeu que além de ler a mente das pessoas, conseguia controlar as suas ações, suas vontades, fosse para conseguir as melhores notas da turma, ser o centro das atenções dos colegas ou ainda que estranhos lhe comprassem roupas e joias. Não demorou para a menina simples do interior de Brusque se tornar uma jovem ousada, ambiciosa e sem escrúpulos para conseguir o que queria.

Certa noite, Elis trouxe um novo namorado para casa. Isabelle não gostou e ambas tiveram uma forte discussão. O namorado de Elis tentou intervir e pela primeira vez, Isabelle manifestou seus poderes na frente da irmã. Seus olhos assumiram uma tonalidade vermelho rubro enquanto invadia a mente do rapaz. Isabelle força o jovem a pegar uma faca na cozinha e se esfaquear.

— Como o quê...? ...Foi você, Isa? Você é um deles não é? Uma mutante? Sai daqui....sai agora! — Esbravejou Elis, que já desconfiava de Isabelle há algum tempo!

Isabelle deixa o apartamento jurando nunca mais retornar. Mesmo que em partes conseguisse ter certo controle sobre os seus poderes, o seu emocional atrapalhava o seu julgamento. Ao invadir a mente do namorado da irmã, não percebeu nada de ameaçador, mas o ciúme ou o medo de ser descoberta talvez, foi o estopim para atacá-lo!

Após sair de casa, Isabelle procurou refúgio em outro lugar que gostava de frequentar quando sentia que precisava de silêncio quase absoluto: o Palácio Cruz e Souza que abriga o Museu Histórico de Santa Catarina. Localizado em frente à Praça XV de Novembro, o Palácio Cruz e Souza possuía diversos ambientes que o público não tinha permissão de acesso e Isabelle conhecia cada um deles. A fama de ser mal-assombrado também ajudava na atmosfera do local. Em um pequeno salão, Isabelle senta no chão. Suas lágrimas são de insegurança, medo e fagulhas da esperança que pareciam se esvair de suas mãos.

— Uma jovem tão bela como você não deveria estar aqui, sozinha, neste mausoléu gigante!

— Quem é você? — Pergunta Isabelle ao estranho que aparece na entrada do salão, mas a escuridão cobria-lhe parte do rosto

— Não se preocupe, Isabelle. Não estou aqui para repreendê-la ou ameaçá-la. Na verdade, estou aqui para ajudá-la a compreender os seus dons. Meu nome é Alex Aleff e tenho uma proposta para você!

  

 

Códex 000.42.79 - Inquisidor:

Lucius Viriato, 19 anos, natural de São Paulo (capital) – SP

Poderes: Rajadas psiônicas de energia (olho esquerdo / braço direito)

 

Lucius Viriatto nasceu em um lar conservador. Sua infância foi atrelada ao sobrenome e ao status de sua família. Desde pequeno Lucius foi condicionado a ser predestinado a um dia assumir os negócios dos Viriatto no ramo de antiguidades e obras de artes na capital paulista. Seus pais não o viam apenas como um filho, mas como um futuro propagador do sobrenome da família. Os Viriatto eram conhecidos há gerações. Há relatos de membros da família na Corte Portuguesa, Francesa e Russa. Também estavam presentes em documentos históricos na corte Brasileira servindo diretamente à D. Pedro II. Sem dúvida uma das famílias mais renomadas de São Paulo. Sempre presentes nos maiores eventos sociais e nos maiores empreendimentos do estado. Possuíam negócios em diversos setores e mantinham sempre por perto contatos em diversas camadas sociais, principalmente entre políticos e o clero. É claro que uma família tão conhecida nas altas rodas também conseguiu construir uma reputação paralela. No submundo da elite paulista o sobrenome Viriatto era temido e respeitado. Ninguém ousava criticá-los ou ludibriá-los. O pai de Lucius, Germano Viriatto era conhecido pelo pulso firme, tom de fala grave e um exímio negociador, mas também mantinha uma reputação paralela de tratar com requintes de crueldade a quem tentasse tirar vantagem do nome da família. Sabia como ninguém manter os amigos por perto e os inimigos mais perto ainda. A esposa de Germano, a bela Susana Viriatto, por sua vez, não vivia à sombra do marido. Mulher de opinião forte, tinha a fama nos bastidores do poder de, assim como Germano, ser uma pessoa que não media esforços quando se tratava em manter em constante elevação os negócios da família. Nas altas rodas sociais era sempre presente em festas e atividades filantrópicas e beneficentes. Diziam as más línguas que grande parte de sua fortuna provinha de tráfico humano. Meninas que Susana agenciava no Brasil com a promessa de um futuro promissor fora do país, mas que no fundo apenas satisfazia os desejos de grandes empresários nos EUA, Alemanha e regiões da Ásia. Claro que sempre que uma denúncia era feita, a vítima era quase sempre silenciada ou nunca mais vista. Assim, os Viriatto mantinham o seu poder e a sua fortuna, dia após dia, não ligando para “boatos” e “fofocas” sem provas. Desde criança Lucius tentava se manter afastado o máximo que conseguia dos negócios da família ou as polêmicas que os envolvia. Seu foco sempre foram os livros bem como sua atividade predileta, a esgrima. Aos 7 anos já participava de campeonatos e aos 10 anos já possuía a elegância de um excelente espadachim. Contudo, a parte burocrática dos negócios nunca o atraiu. O desinteresse do filho sempre aborrecia a Germano que esperava que Lucius estivesse ao seu lado quando completasse os seus 18 anos, porém, à medida que o garoto crescia, perdia ainda mais o interesse. Diferente dos pais, Lucius não ligava para os bens materiais e sempre era muito crítico na maneira como seus pais lidavam com algumas situações. Conforme crescia isso ficava mais evidente. Lucius se afastou ainda mais quando acidentalmente descobriu os pais torturando um dos empregados da mansão onde moravam. Com requintes de crueldade amputaram as pernas do homem que por anos serviu àquela casa e tudo isso por pura maldade. Lucius jamais esqueceu aquela cena de horror, porém, tinha muito medo dos pais para denunciá-los. A criança presenciou outras cenas que fizeram com que crescesse com certo repúdio e isolamento dos pais. Já Germano e Susana pareciam não ligar com o afastamento do menino. Lhe compravam presentes caros, viagens e tudo o mais que o dinheiro poderia proporcionar.

Quando completou 12 anos, seu pai decidiu que já era hora de mostrar a Lucius como “a vida poderia ser cruel”. Ele decide dar ao menino um belo cãozinho e por 3 anos Lucius criou o animal com todo o amor. Sem muitos amigos, compartilhava com o cão seus sonhos, suas alegrias, desejos e carinho. No aniversário de seus 15 anos, Lucius recebe um novo presente. Uma caixa de prata. Ao abri-la fica surpreso ao ver a arma calibre 38 banhada também em prata e com o seu nome nela. Germano e Susana diziam que já era hora de o garoto crescer. O pai de Lucius retira a arma da caixa de prata e a carrega. Lucius não entendia o porquê dos pais lhe presentearem com tal objeto. Não sabia atirar e nem ao menos já teve a vontade de fazê-lo.

— Esse mundo é cruel, filho— Dizia Germano. — Quanto antes aprender a lidar com as perdas, mais rápido compreenderá como as coisas funcionam e saberá qual a decisão certa a tomar.

— Seu pai tem razão, querido!— Complementa Susana. — Há pessoas que não medem esforços para destruir tudo aquilo que construímos e um dia será você que comandará este império secular. Caberá a você defender a honra de nossa família.

— É por isso que, para um bem maior, sacrifícios devem ser feitos.— Disse Germano, enquanto Susana deixa o recinto e retorna minutos depois com o cachorro de Lucius. Ela prende a mascote próximo a parede, enquanto Germano entrega a arma à Lucius

— O que vocês.... Esperem um pouco....vocês não acham que eu vou... — Balbuciava Lucius já compreendendo o que estavam tentando obriga-lo a fazer

— Dessa distância você não errará! Se você não o fizer, um dia alguém fará isso com você. Jamais poderá demonstrar fraqueza alguma perante os seus inimigos, meu filho — Dizia Germano

— Pai....eu não posso fazer isso! É bizarro...é insano...eu...

— Mas amor, é apenas um animal. Qual a diferença deste para qualquer outro?— Perguntava Susana. — Apenas aponte, mire e atire, querido!

— Mãe...pai...não! Eu não vou fazer isso! Não tem porque eu fazer uma coisa dessas— Dizia Lucius já em lágrimas

— Ele puxou ao seu lado da família, Susana. Parecido com o seu tio, Benício, aquele molengão celibatário— Esbraveja Germano enquanto saca de uma arma que estava escondida nas costas e atira contra o cachorro de Lucius. O menino corre até o cachorro. Aos prantos se ajoelha e segura o pequeno animal com todas as suas forças. Germano e Susana não esboçam reação alguma

— Já chega desse melodrama, garoto! Que decepção! Não achei que era tão fraco — Desdenha Susana

— Sua mãe está certa, Lucius. Você exala um cheiro de fraqueza e perdedor que me envergonha. Se não tem coragem para matar um simples animal, o que dizer comandar nossos negócios

— Comandar....com as mãos co...cobertas de as...san...sangue, pai? — Respondia Lucius ainda no chão de costas enquanto segurava o seu cãozinho. Germano parecia não entender ao certo sobre o que o filho se referia

— Eu sei de tudo, pai! Sei das mortes, das extorsões, dos desvios de dinheiro. Eu sei dos esquemas de tráfico humano (olhando fixamente para sua mãe)... eu sei até mesmo do comércio clandestino de órgãos humanos. — Revela Lucius, deixando Susana surpresa com a revelação

— Mas, como você...

— Vocês foram descuidados dentro de casa. Não foi difícil descobrir o lado podre da nossa família e é isso que vocês querem que eu me torne? Um ser irracional, provido de emoções cuja a única meta é aumentar o tamanho das nossas riquezas?

Lucius foi tomado de um grande momento de fúria e dor. Algo tão grande que acaba tomando a forma física, deixando seu corpo completamente iluminado. Uma aura amarelada que envolve o seu corpo e focam sua saída pelo seu olho esquerdo. Seu globo ocular é esmigalhado ao disparar tanta carga energética que acerta sua mãe em cheio, lhe abrindo um buraco do tamanho de uma maça no peito. Seu pai corre para ajudá-la, mas já era tarde demais. No ímpeto de sua fúria, Lucius se levanta e estende o seu braço direito para o pai que mal tem tempo de apontar o revólver para o filho e recebe uma segunda rajada disparada da mão do rapaz. Parte do braço de Germano e do seu rosto é desintegrado instantaneamente!

Quando os policiais chegam à mansão, encontram os corpos dos Viriatto no chão. Lucius está a alguns metros desmaiado e com o seu cão nos braços. Ficou em coma por 3 dias. Quando abriu os olhos, a primeira pessoa que viu no hospital foi seu tio, o padre Benício. Ele acolhe o garoto e diz que as investigações recaíram sobre inimigos da família Viriatto, porém, ele sabia que Lucius tinha sido o responsável pelo ocorrido. Ele sabia que o sobrinho, na verdade era um mutante. A fim de proteger o garoto, Benício consegue que Lucius more de maneira permanente no Mosteiro de São Bento. Ali, resguardado pelos monges beneditinos e pelo próprio mosteiro, Benício tinha esperança que Lucius conseguisse superar tudo o que passou.

Os anos passam. Lucius volta-se totalmente para o sacerdócio. Mesmo sendo tão jovem, passava horas lendo pergaminhos e documentos que narravam não apenas a história do São Bento como a do próprio estado de São Paulo, mas suas histórias prediletas narravam trechos da perseguição às bruxas no Brasil. Estranhamente seu fascínio pela Inquisição era algo que sempre chamou sua atenção, porém, considerava plausível e justificável tais ações no contexto da época. Fora isso, gostava das atividades braçais do dia a dia e de atividades que lhe proporcionassem uma mente ocupada o suficiente para esquecer que seus poderes existiam. Certa manhã, enquanto os cantos gregorianos eram entoados no salão principal, Lucius cuidava do pátio do mosteiro, zelando pelas flores e varrendo as folhas secas.

— Um belo dia de sol, não acha? O pátio do São Bento é tão silencioso e calmo. Não me admira que escolheu este lugar como refúgio.

— Eu não escolhi, mas recebi de bom grado o acolhimento. — Respondeu Lucius sem olhar para traz

— Eu já ouvi falar muito sobre você e seus...dons!

Lucius olha para traz e observa o estranho que adentrava o pátio do Mosteiro. Era estranho e por dois motivos. O primeiro era que aquele espaço do ambiente era reservado apenas aos monges sendo proibida a visitação pública. O segundo era que apesar do calor, o estranho trajava um grande sobretudo que quase arrastava no chão.

— Meu nome é Alex Aleff... Você já ouviu falar dos CelleXtys, meu caro clérigo?

 

 Códex 000.42.80 - Tornado:

Ivan Castro de Medeiros, 21 anos, natural de Anápolis - GO

Poderes: Canalização de energia psíquica em objetos (preferência por chicotes)

 

Ivan Castro de Medeiros é o que se pode chamar de um típico rapaz do interior. Sua família possuía grandes acres de terra em Anápolis, interior de Goiás e eram prósperos criadores de gado de corte num trecho e plantação de milho e soja no outro. Os Castro e Medeiros ainda possuíam lojas no comércio local e contato com empresas do ramo do agronegócio de todo o país e do exterior. Mais novo de 5 irmãos, Ivan sempre levou sua vida de maneira simples e fútil dando preferência a festas, baladas, mulheres e bebedeira. De fato, podia se gabar de suas responsabilidades não chegarem nem perto do que passava os irmãos mais velhos. Por outro lado, ter uma família grande também possuía suas desvantagens. Apesar de ser o caçula, não poderia ser vinculado ao estereótipo do “queridinho da família” como geralmente acontece. Pelo contrário, após os primeiros passos a invisibilidade dentro do "clã" começou a se tornar algo mais expressivo. Seus irmãos eram mais fortes, mais rápidos e mais populares...criados para gerenciar os negócios. Dois deles, inclusive já casados. Seus pais pareciam não perceber que o pequeno Ivan era jogado, vez por outra, de escanteio enquanto seus irmãos se destacavam na escola, no campo ou nos bailes. Até mesmo o seu aniversário era ofuscado por um dos irmãos que comemorava no mesmo dia! Ivan teria todos os motivos do mundo para ser uma criança triste, amargurada ou solitária, mas o “gelo” dado pela família, deu a ele o impulso de ser sempre o “problema”... para a cidade inteira. Uma maneira de chamar a atenção, diriam alguns, mas o fato é que as artimanhas e aventuras de Ivan, não passavam apenas de brincadeiras para ele. Desde abrir os portões deixando todo o gado escapar campo afora, até a brilhante ideia de ligar um dos tratores, travar sua direção e destruir parte da colheita e um pequeno celeiro. Na escola não era muito diferente. Foi ainda na escola que as professoras o apelidaram de Tornado! A adolescência não trouxe grandes mudanças na índole duvidosa do rapaz. Até mesmo a delegacia local conhecia Tornado na intimidade e os policiais perderam a conta de quantas vezes o rapaz havia sido detido. Tornado era tão carismático que era bem quisto tanto pelos outros presos quanto pelos policiais que após ser solto os vinha visitar. Seus irmãos não viam com bons olhos toda essa rebeldia. De fato, o termo “ovelha negra da família” lhe servia como uma luva. Tornado acabava atraindo a atenção de pessoas que não devia e isso atrapalhava os negócios da família. Tentaram de tudo para mudar o seu comportamento. Desde psicólogos a terapeutas ocupacionais. Alguns diziam que o jovem era hiperativo, outros que não passava de birra e até quem dissesse que ele poderia ter sido adotado.

Começaram as brigas pelos arredores. Tornado não tinha papas na língua e não ligava de azulcrinar — como se dizia na cidade -  até mesmo os mais fortões! Ivan era magro, mas tinha o corpo bem definido. Seus cabelos eram negros e espetados. Seus olhos, castanho escuros, davam a ele ainda mais um ar de sedutor. Gostava de andar sem camisa pelas ruas da cidade, pois acreditava que conseguia chamar mais a atenção das meninas. Em mais uma noite de baladas, bebedeiras e mulheres, Tornado, com apenas 16 anos, acabou comprando briga com um dos garotos mais populares da cidade, filho de um vereador local e um pouco mais velho que ele. A briga acabou com o filho do político acidentalmente batendo a cabeça em um meio fio, que o deixou em coma. Depois daquele dia, Ivan nunca mais foi o mesmo. As consequências também não tardaram a chegar. Ivan estava jurado de morte na cidade. Diziam que, por ele ser filho de uma das famílias mais ricas de Anápolis achava que tinha o “corpo fechado”. Iriam provar que estava errado. Os pais de Ivan decidem mandar o filho para fora do estado para salvá-lo de si mesmo e dos outros. Um colégio interno no sul do estado do Paraná. Isso não impediu que um dos seus irmãos sofresse uma emboscada no campo e fosse morto! Apesar da polícia seguir nas investigações ninguém conseguia encontrar o assassino. As más línguas sugeriram que se tratava de uma vingança pelo acidente causado por Ivan. A partir da morte de seu irmão, sua família o baniu em definitivo. Com 18 anos, Ivan estava à própria sorte. Sem dinheiro ou destino certo, o jovem anapolino deixou o internado e começou a viver de bicos viajando de cidade em cidade cruzando o Paraná e São Paulo. Em Barretos, cidade mundialmente conhecida pelos seus rodeios, Tornado começa a trabalhar como peão em uma fazenda e posteriormente montando touros bravos em rodeios e aos poucos começa a deixar à sua marca em mais uma cidade. Contudo, as arruaças e confusões não eram o tipo de marca que os patrocinadores queriam vinculados à sua imagem.

O tempo passa. Ivan recebe a notícia da morte do seu pai e decide retornar a Anápolis para o velório. Os primeiros raios de sol cobriam os campos verdes da imensidão da fazenda quando Ivan chegou. No velório, ele se aproxima, após a maioria ter deixado o cemitério. Ele lança um antigo cordão que estava envolta do pescoço, no túmulo recém feito.

— Muita coragem tua aparecer com essa cara por aqui de novo, Ivan.— Disse um dos irmãos que se aproximou ao seu lado, mas sem olhar no seu rosto

— É a única que eu tenho, irmão!— Respondeu, Ivan

— Você tá ligado que ainda tem juramento de morte na tua conta? — Perguntou a sua irmã que se juntou aos dois em frente ao caixão

— Não vim pra ficar. Só vim me despedir do meu pai.

— Ah pare Ivan! Você nunca ligou para o nosso pai. Nunca ligou pra nós! É melhor sair daqui antes que...

— Antes que o quê... hein? Vai me matar?— Perguntava Tornado encarando o seu irmão olho no olho

— Ivan! – Você sempre teve tudo o que quis. As melhores roupas, as melhores escolas…você sempre teve do bom e do melhor e nunca deu valor. Ninguém quer você aqui!— Respondeu o irmão mais velho quase como um sussurro ao pé do ouvido

— O que mais eu queria eu nunca tive de vocês...— Respondeu Ivan enquanto se afastava do seu irmão, porém, parou quando uma voz feminina um pouco rouca e expressando cansaço interrompe a discussão

— O que? Vai dizer que era menos amado que seus irmãos?— Respondeu a sua mãe que se aproxima. Os demais se afastam deixando ambos a sós. - Não me venha com essa conversa mesquinha e egoísta. Seu pai...ah seu pai. Ainda defendia você com unhas e dentes. Era ele que incentivava os seus estudos enquanto todos os outros tinham que trabalhar dia após dia, no sol ou na chuva. Seu pai sempre arrumava alguma desculpa para suas arruaças, suas bebedeiras e confusões. Era ele que tentou protege-lo até de você mesmo, o mandando para um colégio interno. E vejam só o que você se tornou? Nós soubemos sobre suas idiotices em Barretos, filho! Nada....nada mudou na sua vida!?

— Você não é bem-vindo aqui! — Já não envergonhou a nossa família o suficiente?— Respondeu outro irmão de Ivan que abraça sua mãe e a consola

— Eu só...

Ivan deixa o cemitério sem olhar para trás. Sentia que aquela seria talvez a última vez que veria sua mãe ou os seus irmãos. Decidiu voltar a pé para a cidade que ficava a cerca de 20 quilômetros da fazenda. Caminhou pela estrada de chão até o cair da tarde. No meio do caminho cruzou com um rapaz no alto de uma árvore à beira da estrada. Parecia descansar no tronco e com o chapéu lhe cobrindo o rosto e usando trajes simples de um homem do campo. Ivan passou por ele, mal percebendo a sua presença quando o estranho falou em um tom sério:

— Eu me perguntava se um dia você daria as caras por aqui de novo. E olha só, você aí!— Falou o homem ainda deitado e de forma serene. Sua voz era um pouco rouca e calma, porém, de um peso em cada frase pronunciada. Ivan diminui os passos e volta a sua atenção para o rapaz!

— Desculpe, mas eu te conheço?— Perguntou, Ivan

— Deveria...me deixou em coma no hospital por um tempão!— Respondeu o rapaz

— Everton!? – Disse Ivan com ar de surpresa ao mesmo tempo que um sentimento esmagador de culpa lhe invadia o coração!

— Sabia que, no hospital, eu escutava tudo o que acontecia?— Perguntou Everton enquanto saltava da árvore e se aproximava de Ivan. — Ouvia as enfermeiras, o médico que dizia que talvez eu não acordasse mais. Meus pais que vinham cada vez menos e já perdiam a esperança. Até lembro do dia que meu irmão no meu ouvido prometeu vingança. O pior de escutar tudo isso era não poder responder a todos.

— Everton...eu...

— Não...espera, eu...preciso falar.... Eu fiquei em coma por quase 2 meses. Quando acordei estava fraco, mas diziam que eu era um bendito milagre. Dias depois os médicos me diagnosticaram com um coágulo no cérebro. Disseram que ele sempre esteve lá, mas que só viram aquilo por conta do coma. Fui para o Rio de Janeiro fazer a cirurgia e moro lá até hoje! Foi complicado...se eu não tivesse levado a pancada naquele dia, talvez eu nem vivo estaria hoje. Tirando o fato do meu irmão estar preso, ele mesmo já reconheceu a burrada que fez. Quando soube da morte do seu pai, senti que precisava vir. Sabia que você acabaria vindo também.

Everton abraça Ivan que não consegue esboçar nenhuma reação. Havia um conflito em sua alma que ao mesmo tempo que se sentia aliviado pelo rapaz estar bem e com saúde, a culpa lhe consumia devido às suas ações terem ocasionado a morte do seu irmão. A única verdade que lhe vinha à mente naquele momento era que talvez nunca mais voltaria à Anápolis novamente.

Algumas semanas depois do luto, Ivan consegue novamente uma vaga como peão de rodeios e um dos seus maiores desafios era montar um dos touros mais ferozes de todo o show: Tornado! O mesmo apelido que recebeu quando de suas peraltices nos tempos de escola. Tornado era conhecido por ser um animal quase indomável. Em seus 5 anos de rodeio ninguém jamais conseguiu ficar em seu lombo por mais que meros 3 segundos. No Rodeio Internacional de Barretos, os participantes montam um touro e usam apenas uma mão para segurar uma corda que envolve o corpo do animal. A outra mão livre, chamada de mão de equilíbrio, não deve tocar em nada durante os 8 segundos que o peão deve permanecer nos ferozes animais. Os peões serão pontuados por juízes que darão nota de 0 a 100 pontos se permanecerem no touro por 8 segundos. Tornado leva a fama de ser o "esmagador de peões"! Ivan estava decidido a não fazer feio na competição. Treinou durante dias em meio a chacotas e piadas dos outros peões. Isso porque além de pouca experiência em rodeios, Ivan era o peão mais jovem do grupo. Alguns colegas estavam realmente preocupados pela sua segurança. O touro Tornado não era apenas ameaçador, mas mortal. A cada novo festival as apostas eram mais altas e apenas por uma questão de lucro, o animal ainda estava nos rodeios. Contudo, nenhum peão tinha coragem – ou loucura – o suficiente para enfrentá-lo. Ivan queria provar para si mesmo não apenas que era capaz, mas que não dependia mais de sua família para qualquer coisa. Deixou de lado, as farras e focou no treinamento para a competição.

O Parque do Peão de Barretos estava com lotação máxima. Dentre shows de música ao vivo e competições, a grande maioria do público veio prestigiar o evento e conhecer de perto quem era o “jovem louco” que estava desafiando o Touro Tornado? Havia clubes de apostas de quanto tempo o rapaz de apenas 17 anos conseguiria ficar sobre o perigoso animal. Horas depois, lá estava Ivan, devidamente trajado, na coxia. Ele encara os olhos do feroz animal frente a frente. Tornado parecia ser ainda maior e mais sanguinário ao vivo. As competições a cavalo vieram primeiro. Ivan em seguida. O rapaz se posiciona em Tornado e verifica se a peia (corda) estava bem amarrada, coloca a luva na mão esquerda e segura o mais firme que podia na peia enquanto firmava o chapéu na cabeça e erguia a mão direita. Seu olhar parecia distante, mas seu corpo e alma estavam muito bem centrados na montaria. Sentia que, por algum motivo, aquela noite seria diferente de todas as outras. A multidão esperava com ansiedade e expectativa enquanto alguns colegas de Ivan lhe davam tapinhas nas costas e palavras de coragem. Assim que a sirene gritou e o portão da coxia abriu, Tornado saltou como uma besta enfurecida. Dava saltos gigantesco no ar na tentativa de tirar o peão Ivan de suas costas. Cavaleiros e palhaços já se posicionavam ao redor caso o rapaz fosse derrubado com violência. Os segundos passam... Ivan fecha os olhos, tentando se equilibrar em Tornado. Subitamente algo inesperado acontece. Seu corpo começa a emanar uma fina aura azulada que é canalizada em sua luva e nas rédeas de Tornado. Seus olhos também brilham em uma intensa chama azul. Aquilo começa a queimar o animal deixando-o ainda mais enfurecido. Os olhos de Ivan também brilham na mesma intensidade e subitamente ele é jogado para traz. Ivan bate de encontro as grades de proteção e ao encostar sua mão nelas, a energia que antes estava nas rédeas, é transferida para toda a grade da arena causando inúmeras pequenas explosões! A multidão estava descontrolada. O público mais próximo as grades são atingidos em cheio por estilhaços a força das explosões. A confusão toma conta da arena enquanto a multidão tenta deixar o local. De repente alguém grita a palavra, MUTANTE, apontando para Ivan e parte do público e segurança invadem a arena para tentar capturar o rapaz, alguns munidos de pedaços de pau e barras de ferro! Ivan ainda estava um pouco atordoado pelo que acabara de acontecer, mas rapidamente percebe que uma multidão vinha em sua direção. Não restava outra alternativa, senão fugir. Uma das Cowgirls que conheceu na festa e era a sua “ficante” naquela noite, lhe ajudou a escapar em seu carro. Alguns quilômetros, já próximo a fazenda em que era peão, avistou as sirenes da polícia militar. Na certa já estavam esperando que viesse até lá buscar refúgio. Nem mesmo o rapaz compreendia ao certo que havia acontecido. Ele pede para a moça dar meia volta e seguir pela estrada em direção à capital. Depois de 5 horas de viagem sem parar, a dupla chega à Barra Funda onde Ivan se despede da jovem e pede que ela retornasse para Barretos antes que colocasse a sua cabeça também a prêmio. O rapaz consegue passar a noite em um albergue da Prefeitura enquanto tentava assimilar tudo o que aconteceu. No dia seguinte a manifestação de seus poderes já estava em todos os noticiários. Dezenas de feridos, e estragos por toda a arena do Parque do Peão. Milagrosamente não haviam mortos, mas o fato de descobrir que era um mutante deixou Ivan sem uma visão ampla do que fazer ou que rumo tomar. Foi sentado em uma praça da cidade inseguro e com medo que ele foi encontrado por Alex Aleff que lhe fez um convite que mudaria a sua vida para sempre!

 

Inverno de 1998.

Alex Aleff em sua sala nos subterrâneos da EBX, foleava os Códex, arquivos dos integrantes antigos e atuais da equipe. Observava as suas potencialidades, suas limitações, pontos fracos e fortes. Tudo aquilo que os inimigos poderiam usar contra cada um deles. Lembra de cada visita que fez e de cada convite ofertado aos mutantes que manifestavam seus poderes pela primeira vez. Alguns o seguiram, outros não, mas acreditava no potencial dos jovens dos quais segurava aquelas fichas biográficas. Não era muito mais velho que eles quando o Professor Charles Xavier o encontrou no Rio de Janeiro. Após a morte de Raquel e João Victor no ataque de Scariotis e a Gangue Fantasma na Boate Mascarade, ele percebia que os CelleXtys de São Paulo iriam precisar de um reforço na linha de frente do ensino e treinamento de seus poderes.

Dias depois, Alex recebeu uma ligação misteriosa de uma pequena cidade próxima a Lima, no Peru, e partiu misteriosamente em uma missão solo, pois, segundo ele, um velho amigo precisava de seu auxílio e ele precisava ir sozinho! Para não deixar os jovens mutantes sem o treinamento adequado ele convocou antigos aliados de combate que há muito tempo, já haviam sido integrantes dos CelleXtys: o rio grandense Folkhen e o cearense Carcará para lecionar na EBX e cuidar das atividades burocráticas! Carcará era formado em administração e mantinha um escritório de fachada que prestava serviços de consultoria para empresas no Nordeste do país. Isso também ajudava financeiramente a EBX a ampliar seus sistemas tecnológicos. Tudo o mais discreto possível, claro! Carcará era conhecido pelo seu bom humor e diplomacia ao lidar com os humanos quando o assunto eram questões mutantes. Seus poderes eram de grande ajuda já que ao manifestá-los conseguia sentir a presença de pessoas com o fator X, num raio de 15 quilômetros, mesmo daqueles que ainda não haviam manifestado seus poderes. Carcará era de estatura média, pele morena. Magro, ostentava uma cicatriz próximo ao olho direito. Dizia que ganhou este codinome quando ainda era “moleque”, em meados de 1968, quando seus poderes começaram a surgir pela primeira vez. Diziam que ele farejava o “tinhoso” como um Carcará farejava a presa.

Já Folkhen era o oposto do cearense no quesito humor. Foi professor universitário, na capital gaúcha, durante anos, mas pediu demissão após descobrir que jovens mutantes eram proibidos de frequentar a universidade que lecionava História do Rio Grande do Sul durante a Ditadura Militar. Apesar de ter cerca de 40 anos, o descendente de imigrantes alemães tinha orgulho de ter longos cabelos e barba brancos e que lhe davam um ar de ainda mais experiente na vida. Sentia orgulho de ser rio-grandense, mas não era fã do tradicionalismo sulista que, segundo ele, foi construído não por nativos e sim por estudantes em uma faculdade de Porto Alegre. O seu orgulho se mostrava na cozinha da EBX quando preparava um excelente churrasco campeiro ou outros pratos típicos do interior do Rio Grande do Sul. Ambos eram grandes amigos e faziam parte da penúltima formação da equipe CelleXty.

Enquanto Folkhen e Carcará assumiam a EBX como professores e diretores sêniores, Ivan foi incumbido de liderar os jovens CelleXtys. Antes de partir Alex também recrutara uma nova e misteriosa mutante, uma jovem de descendência italiana de 19 anos que morava há algum tempo em São Paulo, chamada Madalenna. A garota, apesar de tímida e com cara de poucos amigos, possuía um olhar determinado e segura da escolha que fez. Logo que chegou à EBX, queria um local para treinar suas habilidades. A quinta integrante seria de grande ajuda e a jovem já possui até mesmo um codinome: Mandala. Ela não poderia ter vindo numa hora melhor, pensou Ivan! Com duas baixas e o líder saindo em uma missão solo, os CelleXtys estavam reduzidos a quatro membros (Rosa Vermelha, Inquisidor, Nevoeiro e o próprio Tornado).

A proposta era que a EBX mantivesse suas atividades de maneira habitual com os treinamentos, as investigações e as buscas por novos mutantes não apenas em São Paulo, mas em outras localidades do país. Carcará já havia investigado várias rotas de mutantes que ainda viviam na clandestinidade e que tinham medo de se mostrarem publicamente. A equipe agora precisava alinhas as novas estratégias para encontrar e acolher esses mutantes não apenas por uma questão de segurança, mas também impedindo que grupos terroristas de mutantes os recrutassem.

Tornado e Rosa Vermelha convidam Mandala para conhecer o local chamado de “A Gruta”. Um ambiente nas camadas mais profundas dos túneis do metrô paulista e desconhecido até mesmo pelos engenheiros e arquitetos da obra original. Ivan dizia não saber ao certo quem escavou aquele buraco tão profundo, mas que a EBX a construiu como uma versão da Sala de Perigo do Instituto Xavier, nos EUA. No espaço da Gruta, podia-se criar ambientes holográficos para treinamento com grande precisão de detalhes e perigos. Isabelle ficou nos controles nos computadores e dos níveis de dificuldade propostos no exercício enquanto Ivan e Madalenna entravam no local. O treinamento iria começar!


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