Sobre gatos, lobos e amizade escrita por Myosotis Fox


Capítulo 5
[IV] proximidade


Notas iniciais do capítulo

é, acho que já dá pra decretar que essa fic não deu muito certo por aqui.... vou postar até o cap V e deixar assim. se aparecer alguém lendo, volto com as postagens sem problema (e também vai seguir no ao3)
pro caso de alguém ver, boa leitura!



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—Olha só, a artista me deu passe livre na organização. – começou Siyeon, com seu tablet em mãos para mostrar as obras que seriam expostas – Ela tem umas telas monocromáticas, algumas sépias, mas algumas bem coloridas.

A garota passava as imagens de alguns exemplos para o garoto ao lado, enquanto Hongjoong murmurava em assentimento para ela prosseguir.

—A gente tava pensando em colocar num crescendo de cor. Mas agora to me perguntando se não vai deixar o início muito... sem vida. Ainda mais pra quem é mais leigo.

—Acho que ficaria legal... mas, okay, posso ver seu ponto. – o mais novo vagou pelas fotos das telas algumas vezes antes de falar de novo – Talvez você poderia misturar um pouco? Três monocromáticas, uma colorida que não destoe tanto... e aí você vai adicionando mais...

—Até mudar pra maioria colorida. – completou ela – Hm, é uma ideia interessante.

A dona da galeria começou a esquematizar quais combinações poderiam ser feitas, provavelmente visualizando em sua mente como poderia arrumar aquilo, Seonghwa conhecia bem aquela expressão pensativa.

—A próxima exposição tá rendendo, ein? – comentou uma suave voz ao seu lado, ao que ele se virou para fitar Haseul enquanto ela falava – Acho que nunca vi Siyeon discutindo arrumação com ninguém além de você.

Porque ela realmente nunca tinha feito isso – mas, pelo visto, não era o único que se sentia facilmente confortável com a presença de Hongjoong. Bem, talvez fosse justamente por isso, se até o híbrido estava bem do lado dele, talvez não devesse ser tanta surpresa que isso também ocorresse com sua irmã. Além disso, ela com certeza se esforçaria para manter aquela amizade por ele. E, bem, o mais novo era inegavelmente talentoso, então não era tão fora do cabível ouvir sua opinião para planejar uma exposição.

Talvez, o mais curioso fosse como Hongjoong ainda estava ali, ao alcance. Mesmo passado mais de um mês, suas conversas continuavam sendo parte de seu cotidiano, e, quando comentou que estaria pela galeria para ajudar a irmã, ele perguntou se não poderia passar pelo local e ajudar também. Ele já estava fora de casa e em algum lugar próximo do estabelecimento, então não seria muito trabalho – e Seonghwa quase não conseguiu conter sua alegria com essa visita quando comunicou isso a Siyeon.

—Às vezes é bom ouvir uma opinião de fora. – concluiu

—Concordo. – sorriu a garota – Então, eu já fechei as salas e fechei o relatório de hoje...

—Pode encerrar o dia se quiser, a gente fecha o que falta.

A funcionária agradeceu, se despedindo dele e em seguida da dupla que discutia alguma coisa sobre cores quentes – mas Siyeon obviamente não a deixou ir antes de lhe dar um abraço apertado.

O relógio em sua mesa de cabeceira marcava 2:13 quando Hyeju despertou. Passara a detestar os momentos em que acordava aleatoriamente no meio da madrugada desde que se mudara para seu apartamento. Aquilo nunca a incomodou porque estava acostumada a logo pegar no sono de novo, mas sem o calor de outros ao seu lado, aquela simplicidade parecia longe de seu alcance. Depois que seguira a recomendação de seus irmãos, de fato tinha melhorado a atmosfera geral do apartamento, mas aquele momento em específico não tinha mudado muito.

Hyeju continuaria em sua resmungação interna, mas algo puxou sua atenção para além de seu quarto. Até já tinha ouvido passos suaves ecoando de algum lugar próximo, só que pensou ser de outro apartamento, mas o barulho de manuseio de objetos vinha do seu, tinha certeza. Então, se levantou, deixando que sua curiosidade falasse mais alto. Quando alcançou a cozinha, Chaewon já tinha colocado uma chaleira sobre o fogão, e se assustou ao que percebeu que não estava mais sozinha.

—Ah, desculpa! – a mais nova se apressou em dizer – Eu só... ouvi um barulho aqui e...

—Te acordei?

—Não, não, eu já tava acordada. Lobos às vezes acordam de madrugada, é normal. – e uma olhada mais cuidadosa em como a amiga estava com um brilho tenso no olhar a fez completar – Mas imagino que não foi esse seu caso...

Chaewon hesitou um pouco, mas se decidiu por responder.

—Não. – ainda assim, ela hesitou em adicionar – Pesadelos.

—Ah... – Hyeju ficou em dúvida se deveria insistir, mas achou melhor perguntar – Quer falar sobre?

A mais velha apertou os braços contra si, desviando o olhar.

—Deixa pra lá. É bobeira minha...

—Se for algum medo bobo, pode falar, juro que não vou rir... muito. – isso ganhou uma breve risada dela

—Agradeço a consideração. – brincou, mas o resto de sua resposta escapou em tom bem mais baixo – Mas acho que isso seria mais fácil de falar.

Pela maneira como a mais velha estava agindo, Hyeju deduziu um possível motivo para aquela relutância.

—É sobre a noite em que você foi transformada? – ao que o corpo dela tencionou mais, soube que estava certa – Olha, tá tud...

Sua frase foi cortada pelo assovio da chaleira, indicando que a água tinha fervido, e Chaewon aproveitou a oportunidade para desfocar a conversa.

—Você quer também? É chá de camomila, eu acabei colocando mais do que uma xícara...

—Chae. – ela caminhou até estar próxima da amiga, segurando seu braço de leve apenas para fazê-la parar – Tá tudo bem. Foi uma noite assustadora pra você, e tá recente ainda.

—Não quero que pense que tenho medo de você. – murmurou Chaewon, em tom de confissão – Ou da sua família.

—É sua família também. – corrigiu – E entendemos, sério! Ser um lobo sem ter nascido um é complicado mesmo às vezes... A gente tá aqui pra te ajudar, pra você ver além desse momento, mas não pra fingir que não aconteceu. Na verdade, é bem o contrário...

—Vocês me mostram que ser um lobo pode ser algo bom. – sorriu ela, e se sentiu reconfortada por saber que aquilo já estava claro – Alguns são terríveis, mas eu posso ser diferente.

—Isso mesmo. – assentiu, contente

Percebeu que ainda segurava o braço da garota – ainda que no momento fosse para ecoar o suporte que suas palavras tentavam transmitir –, e se apressou a soltá-lo, recuando um passo antes de desajeitadamente pedir que também separasse uma xícara para ela. Sua intenção real era se aproximar, abraçá-la completamente, perguntar se gostaria de dividir aquela cama terrivelmente vazia em seu quarto porque talvez a companhia ajudasse a acalmá-la. Contudo, se perguntava se aquilo seria lido como “segundas intenções”, e detestava a possibilidade.

Crescer em uma alcateia a fazia ver a vida por outra perspectiva em diversos momentos, mas talvez a que mais lhe afetava nem tinha tanto a ver com ser um lobo. Humanos constantemente entendiam afeto e proximidade como originados de uma única fonte, enquanto Hyeju tinha crescido acostumada a ser cercada por demonstrações sem reserva ou hesitações de carinho e contato. Aprendeu do pior jeito que os demais não a entenderiam como sua alcateia lhe entendia, então se retraiu. Admirava como sua irmã se mantivera a mesma, espontânea e calorosa, mas ela preferiu se conter – e, ao que decidiu sua carreira, seria inegável que isso se fortaleceu, pois uma garota emocional seria destruída em reuniões de negócios.

Mas ela queria ser ela mesma com Chaewon. Ela se tornara uma amiga muito importante para seu coração, mesmo que nem pudesse explicar o que lhe puxava de maneira tão forte para aquela garota. Porém, o pensamento de que ela pudesse interpretar sua aproximação com palavras diferentes das que ressoavam em seu coração a assustava. Portanto, simplesmente ficaram em silêncio enquanto tomavam o chá.

—Hm, quer ver um filme? – mas ainda tentaria arrumar uma desculpa para ficar um pouco mais de tempo por perto, até para se assegurar de que a amiga realmente se sentia melhor – Às vezes a gente precisa distrair a mente pra conseguir dormir de novo.

Chaewon concordou, então seguiram para a sala, aproveitando que o sofá na verdade era um sofá-cama – a dona da casa estava acostumada a conviver com constantes visitas, então sua mente automaticamente mobiliou seu espaço pensando nisso – e o abriram para maior conforto. Deixou o controle da tv na mão da mais velha, e ela acabou simplesmente trocando de canal sem muito interesse até que deixou em um filme aleatório que já estava pela metade, e as duas ficaram zombando das cenas e tentando decifrar seus contextos. Ao som de risadas, gradualmente foram se recostando uma na outra, suas vozes perdendo volume conforme o sono as domava mais uma vez.

E voltaram a dormir com suas mãos segurando uma a outra.


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Notas finais do capítulo

essa fic apenas um compilado de platonic cuddling



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