Sobre gatos, lobos e amizade escrita por Myosotis Fox


Capítulo 2
[I] achado


Notas iniciais do capítulo

[vibing ao som de cyberpunk] fala galera!! aproveitando o cb? que tal um capítulo fresquinho enquanto damos view pra guerrilla?

aliás, falando em musica.... eu to tentando montar uma playlist pra fic, mas eu acabei achando uma que sinto como o tema central dela, então queria deixar aqui antes do resto. heart, de sleeping at last (https://www.youtube.com/watch?v=6IFYU8YDprY) - ouçam com atenção, se deixem sentir essa letra, e tá aí sobre o que é essa história ;u;

boa leitura!! ^~^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806945/chapter/2

O som do despertador ecoou pelo quarto, mas não serviu de muita coisa para a garota adormecida. O híbrido de gato, por outro lado, estava totalmente desperto, e desligou o alarme, decidido a dar mais alguns minutos de descanso para a irmã. Talvez Siyeon já tivesse acordado, porque emitiu um resmungo quando ele se desvencilhou de seu abraço – dormir aconchegado em pessoas próximas era um hábito comum entre lobos, e acabou se tornando seu também depois que foi adotado –, mas nenhuma outra reação aconteceu, então apenas seguiu para a cozinha.

Considerando o completo desastre que a mais velha era quando cozinhando, era uma escolha óbvia deixar Seonghwa responsável por aquela parte das tarefas domésticas, mas ele também fazia de bom grado. Gostava de cozinhar, e gostava de como algo que fazia agradava às irmãs. Além disso, sempre sentia que nada do que fizesse seria o bastante para equiparar o quão grato era por ter sido achado e acolhido por aquela família, então sempre tentava ajudar com o que podia.

De qualquer maneira, quando o café da manhã ficou pronto, teve que voltar ao quarto para dessa vez acordar a garota. Siyeon ainda enrolou mais um pouco, mas logo estava de pé, comentando animada o que faltava ser arrumado para a exposição daquela semana. Ela era dona de uma galeria de arte, e constantemente dava espaço para artistas pequenos ou que ainda estivessem começando, então fazia seu trabalho com muito gosto. Nem sempre as contas fechariam considerando isso, mas, bem, ter uma irmã dona de uma empresa cada vez mais próspera tinha suas vantagens. A desvantagem era como Hyeju não tinha tanto tempo livre quanto gostaria, e, visto que não moravam mais juntos, isso às vezes a atrapalhava a passar mais tempo com eles. A mais nova quase sempre dava um jeito de vê-los no final de semana, mas às vezes isso parecia pouco considerando que viviam sob o mesmo teto até um ano antes.

Não demoraram muito na refeição, porque realmente ainda tinham trabalho a fazer. Na maioria dos dias, apenas Siyeon seguia para a galeria, mas às vezes o garoto lhe fazia companhia – principalmente quando começava alguma exposição nova, adorava ajudar a arrumar o local, pensar nos posicionamentos das peças, esse tipo de tarefa, mesmo que houvesse uma funcionária que ajudava a manter o estabelecimento. Mas, claro, só topava fazer isso porque acabavam saindo bem cedo, em um momento que não havia muita circulação de pessoas ainda, e passava o dia inteiro trancado no escritório da galeria, só voltando de noitinha. Além disso, seu guarda-roupa era quase todo constituído de peças ajudavam a esconder seus traços felinos, porque nunca colocaria os pés para fora da porta sem estar com um largo casaco com capuz. Sua irmã vez ou outra fazia um comentário quanto a isso, mas nunca o forçou a mudar, então solenemente ignorava.

Entendia que ela fazia com a melhor das intenções, mas o mundo fora do aconchego que sua segunda família lhe dera ainda o aterrorizava. Preferia se manter apenas onde tinha certeza de que poderia caminhar, sem desafiar o universo a lhe tirar seu porto seguro de novo.

 

 Mais uma tarde calma na galeria. Por mais que Siyeon desejasse que fosse diferente e pudesse ver aqueles corredores preenchidos por pessoas apreciando as artes expostas, havia certa apreciação em caminhar pelo local quase vazio. O que não a impediu de sorrir quando viu um grupo maior andando por ali, comentando alguns dos quadros, e não conteve um sorriso ainda maior identificando quem os liderava – era meio impossível perder Yoohyeon de vista desde que ela deixara seu cabelo uma mistura caótica de loiro e preto. 

—Claro que o grupinho visitante tinha que ser conduzido por você. – brincou a mais velha, sabendo bem como a personalidade amigável de Yoohyeon a fazia sempre estar cercada de pessoas

Em resposta, sua amiga apenas riu, mas comentou que estava tentando persuadir ao menos um de seus colegas de curso a fazer um post oficial sobre a galeria – sendo uma estudante de Jornalismo, quase todo mundo tinha alguma plataforma onde postava coisas, e divulgação sempre era bem-vinda.

—E olha, nessa você caprichou mesmo! – ela prosseguiu sua fala, animada – Adorei a ordem das pinturas, como as cores estão organizadas...

—Foi ideia do próprio pintor. – contou, pois não tomaria créditos que não eram seus – E nem parece que eu e Hwa terminamos de ajeitar tudo essa manhã mesmo, né?

—Ah, o Hwa tá por aqui?

—Ele nunca voltaria pra casa no meio da tarde. – apontou Siyeon – Tá trancado na sala da diretoria.

Tentou falar aquilo em tom de zombaria, mas havia um espinho a incomodando a cada palavra colocada para fora, e claro que sua melhor amiga conseguiria perceber isso. E era mais forte que ela não perguntar sobre o que a incomodava.

—O que foi?

—Você sabe. – suspirou, cansada – Eu só queria que o Hwa parasse de se esconder tanto... mas eu não sei o que fazer. Não quero forçar ele a nada, isso mais prejudicaria do que ajudaria qualquer coisa. Mas eu sinto que ele quer, sabe? E eu também quero que ele tenha a própria vida! Eu cuidaria da galeria sozinha sem reclamar se pudesse ver ele tendo seus próprios projetos e amigos e, sei lá, qualquer coisa!

—É, eu sei... – concordou a loira – Sinto isso também. Mas acho que o que podemos fazer, já estamos fazendo. Ele sabe que tem nosso amor e nosso apoio, e tenho certeza que se segura nisso. Então, o próximo passo é dele. – ela colocou a mão em seu ombro antes de concluir – Você é uma ótima irmã, Si. Sei que tá fazendo a escolha certa.

Yoohyeon também sempre sabia exatamente o que ela precisava ouvir.

—Obrigada. – sorriu, em seguida passando o braço pela cintura da garota para puxá-la mais para perto, em gesto afetuoso

—Não precisa agradecer. – ela se recostou na amiga – Eu falo com conhecimento de causa, ein? Não se esqueça de que você foi minha irmã... meio que irmã de todo mundo da alcateia da nossa geração.

—Eu realmente fui a babá secundária de muitos lobinhos... – riu Siyeon, porque, por mais que os adultos sempre fossem responsáveis em tomar conta das crianças da alcateia, ela se sentia meio responsável também por ser a mais velha – E a Deusa ainda me mandou um gato depois.

—Porque sabia que você ia fazer um bom trabalho. – replicou a mais nova, com um sorriso ressaltando sua segurança em afirmar aquilo – Hwa vai ficar bem. Ele tá só se preparando pro próximo passo. E aí quando for a hora, ele vai sair, e a gente vai estar aqui pra festejar com ele.

—Vou adorar ver esse dia chegar.

—Vai chegar. – Yoohyeon deixou um beijo no topo de sua cabeça antes de se afastar, para retomar o passeio pela galeria – Quando eu terminar a rota, vou dar um oi pra ele.

 

 Sempre que estava na galeria, Seonghwa se encarregava de fechá-la. E sua irmã sabia que levava mais tempo que o normal fazendo isso, pois era o momento em que aproveitava para observar as obras que estavam expostas. A mais velha por vezes o acompanhava, dizendo que muitas vezes não conseguia apreciar nada no meio de organizar eventos e cuidar que todos os visitantes estivessem bem acomodados, então era naquele momento de quietude e solidão que conseguia propriamente respirar e fitar os arranjos que tão cuidadosamente montara. Contudo, naquela noite, era apenas ele andando pelos corredores, pois sua irmã tinha alguns documentos para revisar e ficara em seu escritório.

Ou pelo menos achou que estava sozinho, pois logo ouviu passos ecoando.

Mais do que depressa, Seonghwa ergueu o capuz de seu casaco, e enroscou a cauda em sua perna por dentro da calça, tendo certeza que a escondera bem. Então, seguiu na direção de onde surgira o barulho, o molho de chaves na mão para soar como um funcionário. Depois de dois corredores, encontrou um garoto parado diante de um dos murais de fotografia, o fitando com uma expressão tranquila. Ele tinha um chamativo cabelo vermelho, e era um pouco mais baixo do que Seonghwa – mesmo descontando o par de orelhas felinas –, aparentando a mesma idade que ele.

—Você sabe que já passamos do horário de funcionamento, não sabe?

Queria que sua fala parecesse firme, mas suas palavras sempre escapavam com uma maciez hesitante. Talvez pelo menos impusesse algum respeito pelo fator surpresa, porque o garoto nitidamente se surpreendeu de ser encontrado.

—Ahn, sei sim... mas a dona da galeria disse que eu poderia ficar mais um pouco...?

Não era impossível, e os batimentos cardíacos dele tinham se acalmado rápido demais para alguém sob a tensão de estar fazendo algo que não devia, então Seonghwa lhe deu o benefício da dúvida.

—Siyeon podia ter me avisado... – suspirou, em seguida aumentando o tom de voz para ser ouvido – Bem, eu to fechando, então...

—Ah, claro. Não queria te atrapalhar...

—Tudo bem. – deu um sorriso simpático – Esse é o melhor horário mesmo pra aproveitar qualquer exposição.

—Também não gosta de muita gente perto de você? – o garoto riu

—Não muito. – respondeu timidamente, adicionando um tanto hesitante – Uh, se quiser ficar mais tempo, eu posso seguir pra próxima ses...

—Não, tá tudo bem. – ele deu um último sorriso olhando na direção dos quadros antes de completar – Não é como se eu já não tivesse visto todas essas fotos... Apesar de ser uma sensação diferente ver em exposição.

—Siyeon sempre diz isso. – e então o híbrido se deu conta de quem deveria ser aquele garoto, considerando a implicação que ele deixou no ar – Espera... Kim Hongjoong?

—Uou, você guarda o nome de quem expõe aqui?

—Às vezes. – ele se sentiu na obrigação de adicionar – Você é um artista muito bom. Tanto as pinturas quanto as fotografias, eu gostei muito delas...

—Obrigado. – ele parecia genuinamente lisonjeado – Alguma preferida?

—Aquela pintura a três corredores daqui. Eu gosto de tons quentes, então... – foi apontando enquanto falava – E a foto do mar, que tá ali na frente.

—Você ajudou na organização ou é bom assim de memória? Eu acabei de passar por elas e nem lembrava onde estavam.

—Primeira opção.

E literalmente to aqui desde que a galeria foi fundada, ajuda a me localizar, pensou, e talvez até adicionasse esse comentário, mas uma terceira voz foi adicionada à conversa.

—To vendo que encontrou meu irmão. – uma Siyeon sorridente se colocou ao seu lado, e pela segunda vez naquela noite Hongjoong foi pego de surpresa

—Irmão?

—Adotivo. – Seonghwa adicionou rapidamente, ganhando uma revirada de olhos da mais velha

—O que não muda nada. – ela enganchou seu braço no dele – Mas Hwa é muito tímido, então quem aparece mais do meu lado é a Hyeju. Ele nem me deixa colocar uma foto dele no meu escritório!

Nem deixava ela tirar muitas fotos com ele, na verdade, e tinha quase certeza que a mais velha queria lhe alfinetar por isso também.

—Entendi. Mas é ele quem te ajuda aqui, né?

—Os dois ajudam de maneira diferente. – a garota não resistiu a abraçá-lo antes de completar – Mas essa galeria com certeza não estaria de pé sem esse aqui!

Foi por bem pouco que conseguiu não ronronar em resposta, e se limitou a recostar a bochecha no topo da cabeça de Siyeon, lhe fazendo um breve afago antes de se afastar novamente. O trio seguiu o caminho pelos corredores numa conversa tranquila, como se conhecessem há bem mais tempo do que de fato se conheciam, mas logo Hongjoong teve que se despedir da dupla de irmãos.

—Por que não me avisou que tinha mais alguém aqui? – o híbrido questionou ao que ficaram sozinhos

—Ah, nem lembrei, foi mal... Mas, de qualquer jeito, você ouviria qualquer um por perto bem antes que te vissem. – nem podia rebater, já que foi exatamente o que aconteceu – E também... eu gostei dele.

—Não pensei que você deixaria alguém que não gosta expor aqui. – replicou em tom de zombaria

—Não assim. – replicou ela – Só... uma sensação boa que tive. E devo estar certa, porque ele até conseguiu conversar com você.

Seonghwa não reteve um suspiro, porque sabia onde isso ia levar – mesmo que por dentro concordasse que aquele acontecimento inesperado foi bom.

—Você devia tentar isso mais vezes. – continuou a mais velha

—Bem, não duvido que ele apareça aqui alguma outra vez essa semana. – comentou, e caminhou de volta para a galeria para tentar desconversar

—Não só com ele, sabe? – Siyeon deixou de lado o tom de brincadeira – É sério, Hwa. Você já deveria ter parado de se esconder há anos.

—Mas eu to bem assim.

E nem se virou para responder, pois sabia que ela o conhecia bem o bastante para saber que estava mentindo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

então, algum momento favorito nesse capítulo? alguma suposição pro que virá nos próximos? adoro saber o que vocês pensam enquanto leem! (se é que tem alguém lendo T^T)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sobre gatos, lobos e amizade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.