The Vampire Diaries: Salvatore Brothers escrita por Niars


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Não sumi, apenas não escrevendo ; |



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Quando eu era criança, mamãe sempre que se sentava atrás de mim, para arrumar meus cabelos anelados, sorria. Quando estávamos em frente ao espelho, eu sorria de volta para ela. O sorriso de minha mãe, era o que deixava toda a dor para trás, em momentos de angústia.

Uma vez quando, ao andar de bicicleta, enfrente a nossa casa, onde mamãe cresceu, cair e machucar meu joelho esquerdo, me recordo de assim que ver o sorriso dela, a dor ir embora. Como uma excelente médica que sempre foi, ela cuidou do ferimento, apesar de não haver mais dor. O beijo no alto de minha testa, fez com que eu sorrisse também.

Ao subir em uma árvore, sem a menor ideia de como descer, e ao tentar fazê-lo, cair e apenas o nome de papai ecoar de minhas cordas vocais, me lembro de minhas lágrimas mancharem sua blusa de botões pequenos azul marinho. Ele ao ver a ferida pequena, na altura de meu joelho direito, sorriu deu de ombros e me deu sorvete de chocolate, colocou um simples band-aid. O sorvete, ainda hoje o meu favorito.

Possuo uma pequena cicatriz desse fatídico dia.

Mamãe e papai, eram totalmente diferentes sobre a criação de John e eu, acho que a única escolha a qual ambos concordavam, era sobre não nos inserir no mundo sobrenatural.

Era difícil entender, como em tantos anos, eles conseguiram nos esconder o fato de ambos terem um dia sido vampiros, que nossas madrinhas, eram uma bruxa e uma vampira. Que nossa melhor amiga, era ingressada no mundo da magia, depois de brincar de pula corda conosco.

Meus olhos pesavam, apesar de meu desejo de os abrir, eu apenas não conseguia, era como se estivesse sonhando ao mesmo tempo que acordada. Os gritos de dor, ao fundo, faziam com que meu sonho, que antes era sobre meus pais e seus sorrisos, se tornassem imagens de terror e perseguição.

Eram imagens de nosso último encontro com um vampiro, meu reencontro depois de anos com um deles.

John sempre levou muito a sério as palavras de nosso pai, em relação a minha segurança. A frase de papai, sobre confiar nele, para que nada me acontecesse, o transformou de tal forma, que ele sempre tomava a frente ao ver um monstro.

Porém, ao finalmente ter forças para abrir os olhos, me deparei com um John que jamais pensei, ou desejei conhecer. Ainda com a imagem distorcida pela dor em meu corpo, observei um objeto pontiagudo que logo reconheci.

A faca dada de presente por Caroline, feita de prata pura, que um dia pertenceu a papai. Ela disse que apesar de ser inútil, contra vampiros ou qualquer outra raça sobrenatural, ela era bonita, e a lembrava de como papai fora bobo e inocente, em seu primeiro encontro com um lobisomem.

A lâmina afiada, era usada para rasgar a pele do vampiro, seus gritos, foram os mesmos a invadir meus sonhos, onde os protagonistas eram mamãe, papai, e suas diferentes formas de me tirar a dor.

— John...

Digo ainda um pouco adormecida, as palavras oscilavam em minha boca, era como se meu corpo quisesse dormir, mas minha mente ansiava por respostas.

— Minha irmãzinha acordou com seus gritos, acredite, isso só faz com que eu fique com mais raiva ainda. – Observo, John com destreza fazer mais um rasgo em sua pele.

O grito de dor do vampiro, me faz relembrar algo que até então fora esquecido por meu subconsciente. Ele era um humano. Um frágil e indefeso humano, o qual meu guardião e melhor amigo, irmão... torturava sem o menor dos impossíveis sentimento de culpa.

Por mais que eu tentasse entender a atitude dele, a única coisa que rondava minha mente, era o fato de ser minha culpa, a dor do infeliz sob sessões de tortura de meu irmão.

— John pare com isso... por favor. – Minha voz, saiu como um pedido, pela vida do então vampiro curado. Mesmo distante eu conseguia ver o agradecimento em seus olhos.

— Apenas me mate, jovem Salvatore. – A suplicia de morte, que John lhe prometeu, saiu de sua boca e então seus olhos se fecharam. Mas ele não estava morto, e John também sabia disso.

Com meu sangue em seu organismo, causava o que nomeei de Paradoxo. Durante suas últimas horas de vida, o vampiro que havia ingerido uma pequena porcentagem de sangue Curado Salvatore, ficava impossibilitado de morrer. Apenas quando o sangue saísse de seu organismo, que ele morreria, por velhice.

Era algo que John tinha ciência, e por isso, quando eu vi sua mão se erguer com a faca empunhada, em direção a perna do homem, eu sabia que sua ideia era liberar adrenalina preveniente de dor, em sua vítima. Fechei os olhos, virando a cabeça para o lado completamente oposto. Rápida suficiente apenas para ouvir seu grito de dor.

Minha mão doía, e como reflexo, para me desligar dos gritos de dor causado pelo algoz do agora humano, a coloquei sobre meus olhos, ainda deitada. E quando os abrir, reconheci aquilo que John usava para enfaixar seus próprios ferimentos.

Uma velha e maltrapilha atadura para curativos. Ouço a voz de John proferir a ameaça, apesar de saber que não havia sido dita agora a pouco, e sim, quando o individuo era nosso inimigo eminente.

“- Se você machucar minha irmã... eu farei questão de no processo, te fazer desejar a morte...” – A fala de horas atrás ecoavam em minha mente, enquanto como pano de fundo, os gritos do Curado eram ouvidos a pelo menos sete quilômetros de distância.

Ao perceber que os gritos se prolongariam dia a fora, fechei meus olhos e mentalizei Emily, era como se ela fizesse o mesmo, apesar de estar a mais de mil quilômetros. A conversa que tivemos ali, em meus pensamentos, fora a mesma de praticamente quatro anos atrás.

Nossa despedida.

“- Me perdoe por nunca ter lhe contado sobre os perigos do mundo, mamãe e tia Elena me fizeram prometer. Se eu contasse qualquer que fosse, elas me mandariam para longe de você e Johnny.” – Ela disse no instante que entrei em seu quarto, com sede de verdade, ainda com pouco mais de dezessete anos. – “Eu vou sentir sua falta, mas sem Damon para proteger vocês... Precisam fugir!”

Eu ainda sentia um aperto no estômago toda vez que me recordava da distância imposta a mim e minha melhor amiga.

Eu não sabia como ela havia lidado com nossa lonjura, ou se ela estava bem, mas; apenas por mentalizar minha melhor amiga, em minha mente era como se estivéssemos juntas, sentadas em meu quarto, contando uma para a outra sobre como um menino olhou diferente para uma garota peituda do oitavo ano.

A falta que me fazia, se comparava a falta de meus pais. Eu e Emily temos a mesma idade, crescemos juntas e papai costumava falar que nossas mães combinaram quando engravidar.

Nossas roupas durante a infância eram iguais, e a única coisa que nos impedia de realmente sermos gêmeas, além do fato consolidado de termos mães e pais distintos, era por nossa cor de pele.

A de Emily, um ou dois tons mais escuros que a minha, tinha um contraste estratosférico com a de John. Sorri ao me lembrar da escala de cor que obrigávamos Johnny a fazer durante as fotos de nossa infância. Sempre muito observadora, ficava no meio de ambos.

Quando seus gritos pararam, já não havia mais claridade no céu. As estrelas brilhavam a distância e a lua minguante me trazia tranquilidade.

  Lua minguante era sinônimo de ausência de lobos. Apesar de contraditório, quando havia lobos a solta, eu e meu irmão conseguíamos passar por um caminho muito maior. Com a Lua minguante a postos no céu, a possibilidade de vermos lobos, era menor, adverso a possibilidade de encontrarmos vampiros. Nossa real inimizade.

Ouço o pequeno aparelho da década passada, apitar em minha mochila, apenas algumas pessoas haviam o número, e mentalmente desejei que fosse Emily ou Tia Bonnie desta vez.

Ao me levantar, percebo a pele enrugada do vampiro curado, seu olhar era de sevicia, ele realmente desejava a morte. Encaro John, tentando passar a ele, o olhar do futuro morto, ele apenas desviou o olhar de mim, e mais uma vez, desconheci meu próprio irmão.

— Oi? – Digo ao alcançar o celular de flip, onde era necessário abrir para acessar as teclas. – Tia Caroline, aconteceu alguma coisa? – Era incomum que Caroline utilizasse esse número, apesar de ela o ter.

“- Stefanie? Preciso falar com seu irmão. Passa para ele?” – Apesar de ela ser uma das pessoas que me diziam para ser forte, tomar o controle dos problemas e não depender sempre dele. Ela ainda me tratava como uma indefesa criança. – “Não é nada demais, sei que sua cabecinha deve estar a mil por minha última frase.” – Sorrio, concordando apenas com a cabeça. – “Eu.” – Sua pausa é pensativa, reconheço o tom de sua voz, claramente escondia algo. – “Apenas preciso falar com meu afilhado, está bem?”

Eu não acreditava nela.

— John está um pouco ocupado. – Encaro meu irmão que se abaixava, enquanto segurava uma faca sob sua mão esquerda. Observo a gota de sangue cair sob os lábios do Curado. – Está cuidando de umas coisas, se quiser, eu falo pra ele.

Ao fundo, ouvi uma voz masculina a qual eu não havia familiaridade. Um xingamento, pelo tom de sua voz. Algo que se assemelhava a “Droga”, ou “Diabo”. Talvez fosse um xingamento em outra língua.

“- Fale para ele me ligar, o mais rápido que puder, está bem?” – Resmunguei algo que ela reconheceria como uma afirmação. – “Está tudo bem, Ste. Sou incapaz de mentir para a monstrinha de Damon Salvatore, se esqueceu? Eu te amo, se precisar, me ligue.”

Soltei um involuntário riso anasalado, e então retribui o “Eu te amo”, logo desligando o telefone. Olhei para meu irmão, que me encarava, ao perceber que eu falava com alguém, sorri para ele e neguei com a cabeça, me sentando novamente.

O homem, que antes parecia valente e temeroso, me olhou com piedade, enquanto eu via seu rosto readquirir feições de talvez, vinte anos.

A tortura de John ao humano, durou pelas próximas vinte horas. Aos poucos o corpo do curado foi se sucumbindo a idas e vindas de tenra idade e bruta velhice. Depois de muito se vingar, John se sentou ao meu lado. Ele fedia a ferro. Sua roupa estava cheia de sangue.

— O deixe morrer Johnny. – Falei olhando para o corpo a cinco metros de nosso descanso. – Pelo menos o deixe viver seus últimos minutos de vida, sem um carrasco.

— Eu não sou o carrasco da história Stefanie. – Sua voz era distante, igualmente seu olhar. Em um brusco solavanco, alcançou o mapa que permanecia próximo de minha mochila, e o segurou com ambos os pés. – Você não percebeu? Ele não estava no mapa. Apenas quero que diga quem o escondeu de nosso Mapa Bennett. – Encaro o mapa me recordando de ver apenas três manchar vermelhas. Todos ao nosso calcanhar. Nenhum a nossa frente.

— Ele não quer falar? – John nega com a cabeça.

— Ele tem uma marca, em seu braço, próximo ao ombro, disse que se contar, vai arder em chamas. – A voz de John estava carregada de sarcasmo, como se o que o homem falava, fosse uma piada. – Há uma bruxa atrás de nós, eu só não sei quem, por que, ou onde a encontrar.

O olhar de John era preocupado, ele passou um de seus dedos, por debaixo de sua boca, lhe deixando com uma marca de sangue ali. Antes que eu pudesse lhe falar algo, olhou para as próprias mãos e negou com a cabeça.

— Estou cheio de sangue. – Disse enquanto esfregava uma mão na outra

— E está fedendo a sangue. – Ele parou, me encarando e então suspirou. Eu desviei meu olhar para o homem, que forçava seus olhos a ficarem abertos.

— Desculpe por isso, Step... – O som da voz de Johnny dizendo o apelido dado a mim por papai, fez meu estômago revirar.

Papai sempre foi reconhecido por seus apelidos excêntricos, nossa mãe sempre os citava com os olhos brilhando e isso não mudou após anos de casamento. Minha madrinha, de apelido BonBon, era um dos melhores exemplos vivos disso.

E quando Caroline recebeu permissão para ser a tia e madrinha que sempre desejou ser, seu apelido nos fez sorrir, pois tinha muito de papai nele. Johnny logo começou a usufruir de seu poder de herdeiro e logo passara a chama-la de Barbie Vampira.

O meu, apesar de não haver nada de engraçado por parte de meu pai, havia muito de seu coração.

“- Seu nome, é de alguém que muito amei e morreu por mim... Quando eu digo Step, e não Ste, como todos... eu lhe mostro que você é única para mim... você é única no mundo, e eu sei que toda vez que você ouvir, irá se lembrar de mim.” – Ele disse, quando aos dez ou onze, lhe questionei o motivo de apenas John ter um apelido engraçado.

Pequeno Salvatore, ou Mini Damon, como ele se referia a John, eram motivos de zoação até por parte de nosso tio materno, Jeremy, ou Pequeno Gilbert, como era chamado em sua adolescência.

Os olhos azuis vivos de John Grayson, seguido de seus cabelos negros e lisos, e sua pele clara, lábios finos e bochechas pouco rosadas, fazia-me recordar de papai, e de como eu imaginava-o ser em uma juventude. Mamãe dizia que eles eram idênticos, e eu ser tão parecida com ela, fazia a se sentir melhor.

Ironicamente, eu sempre fui mais ligado a papai e Johnny a mamãe.

— Não gosto dessa minha versão. – Ouço John falar, me trazendo para a realidade, após o que parentou serem horas de devaneios em minha mente.

O encarei, sem entender o ponto onde queria chegar, meu olhar era de dor. Dor, pois igualmente a ele, não gostava da ideia de o ver assim.

— Que versão John? – Perguntei, aproximando nossas mãos um pouco mais. Sua mão vermelha, de sangue, e a minha ferida, com uma atadura velha. Minha única intenção, era lhe dar carinho, era que ele soubesse que eu estava ali, segura, bem e com ele.

— A versão que te assusta, que faz você temer, e suplicar pela vida de um assassino.

Ele era um humano. Um curado. Um ex vampiro que estava sendo atacado por todas as atrocidades que fez em sua vida. A humanidade, que talvez ele tivesse aberto mão quando decidiu se sucumbir a uma vida de morte, sangue e destruição, estava o atacando, o fazendo relembrar e sofrer por cada um dos mais de mil assassinatos que cometeu.

— Você conhece o processo de um curado. – Falei e então percebi poucas lágrimas caírem de seus olhos. – Caroline nos ensinou como tudo funciona. Sei que apesar de não gostar de estudar, prestou atenção em nossas aulas.

Ele concordou com a cabeça, e apesar de meu silêncio dar espaço para ele dar sua sentença, o mesmo se calou. Suspirei após pouco mais de três minutos e continuei meu monologo.

— Quando o monstro se alimenta de sangue Salvatore, ele começa a sofrer as desgraças de toda uma vida de aniquilação. – Começo a falar, e observo primeiro o curado se contorcer no chão com ambas as mãos presas para trás, em um poste. Olho para meu irmão e o mesmo, me encara, como se estivesse encantado por minhas palavras. Ele leva sua mão ao rosto limpando a lágrima. – Toda morte, todo humano inocente e toda mãe que perdeu um filho, uma esposa que perdeu o marido, um irmão que perdeu uma irmã, cada um deles o ataca mentalmente.

Abaixo o olhar para meus próprios pés, e depois olho para minhas mãos.

— É como se mais de mil demônios o atacasse, e isso o faz desejar a morte. Não sabemos se realmente há demônios na mente deles, ou se apenas a consciência retomando a humanidade. E esse processo se repete diversas e diversas vezes, até que...

Me calei, fiquei em silêncio, relembrando Caroline contar sobre o adolescente da Escola Salvatore, gritar aos quatro ventos, que o matassem, pois não aguentaria mais esse sofrimento.

— Ele morre. – John completou e negou com a cabeça. – Ele submete-se a dor. Morre da forma mais digna que existe, com cabelos brancos e um leve sorriso nos lábios. – Ele sorri de leve, como se demonstrasse.

Concordo com a cabeça.

— Mas você o está impedindo. Ele sofre com todo o processo, e então, você o restaura. Dá mais uma única gota de seu sangue... as vozes na cabeça dele para de explodir. Ele acha que tudo ficará bem, mas então os demônios voltam, o choro da criança que ficou no quarto esperando a mãe voltar, e o desespero do pai, ao descobrir que seu filho fora devorado por um leão da montanha. – Suspiro, era difícil entender como que John fez o que fez, apesar de saber que era necessário, afinal; uma bruxa nos caçava. – Toda a dor do processo de um curado é traumatizante. Ela já é a verdadeira tortura. Os rasgos em sua pele, e as apunhaladas em suas coxas, não melhoram ou pioram sua decadência. – Pauso para uma rápida respiração e então, prossigo. – A sede de sangue, desta vez com sobrenome, os corrói, e apesar de crer que estará livre, ainda sim, deseja fortemente matar alguém.

No caso do curado a nossa frente, ele deseja a mim.

— Ele não pode te ferir Stefanie. – Falou para me acalentar e eu sorri concordando.

— Para não morrer, precisa matar quem lhe forneceu a primeira gota de cura. Mas não é tão fácil sem a velocidade, ou os sentidos. Ele se torna um viciado. Como a maconha, a cocaína ou até mesmo a bebida, nosso sangue lhe causa sede eterna. E a alusão de sobreviver se drenar até a última gota, o faz sofrer até o último suspiro. – Não havíamos certeza. John e eu sempre fomos defendidos para não chegar a isso.

— Step... – Johnny fora interrompido por mim, quando prossegui com a explicação.

— Ele está sofrendo, não deseja a mim, apenas a morte. Todos seus demônios gritam por isso, eu sinto. Vê-lo envelhecer e então voltar a juventude, me machuca. É como se... Johnny... – Paro mais uma vez, e olho em seus olhos, virando meu corpo e segurando suas mãos. – O deixe ir. Deixe-o morrer.

— A bruxa...

Nego com a cabeça e então me levanto, passando ambas as mãos pelos cabelos.

— Ele não vai morrer com os ferimentos superficiais, e quando desmaiou, poderia ter o feito, mas preferiu o deixar acordar. Deixe-o envelhecer e então morrer. Você não é o vilão de nossa história, não seja o vilão da história dele. Não seja um monstro.

Eu conseguia ver nos olhos dele. Meu irmão não o deixaria morrer sem uma dica ao menos. Suspirei fundo, peguei a adaga que Caroline me presenteou e comecei a caminhar em sua direção.

De forma distante, ouvia os gritos de Johnny me pedindo que parasse e o ouvisse, mas eu iria dar a liberdade que o Curado merecia. Ele tinha que morrer para os gritos cessarem. Sinto a mão de John tentar me parar, mas em total consciência do que fazia, me desvencilhei de suas mãos e continuei meu caminho diretamente ao monstro, agora com feições de terror humano.

Assim que paro a sua frente, ele me encara e sorri de forma maliciosa. Como se soubesse que eu era sua liberdade.

A adaga, guardado por detrás de meu corpo, fazia minhas mãos ficarem frias, ou talvez fosse o nervosismo que sentia por decidir ir contra as ordens de meu irmão mais velho e enfim dar o descanso eterno ao homem que um dia foi um terrível monstro.

— Decidiu vir brincar um pouquinho, Princesa? – Sua voz, voltou a ser aquilo que uma vez, ouvi no pé de meu ouvido. Ele queria se mostrar superior, mas ainda sim estava com as mãos amarradas, e sangue por toda sua roupa, resultado de ferimentos abertos por todo seu corpo

Permaneci em silêncio. Seus cabelos estavam de uma cor branqueada. Era como se tivesse cinquenta ou sessenta anos. Uma única gota de meu sangue, seria capaz de o fazer retornar para seus vinte anos.

Preferi continuar apenas na calmaria das palavras, apesar da confusão em minha mente, enquanto ele me encavara. Recuei um passo quando o mesmo, começou a tossir, de tal forma que sangue saiu de sua boca diretamente para o chão em nossos pés.

Após se recuperar, ele sorriu mais uma vez para mim e prosseguiu com suas frases que tinham intuito de me fazer querer recuar ainda mais.

— Relaxe doce “Step”. – Meu apelido saiu com nojo de sua boca. – Antes de me tornar o monstro que vocês tanto gostam de falar, eu fui diagnosticado com câncer de pulmão, fruto de anos e mais anos de dependência de nicotina. – Ele moveu seu corpo, como se seu cóccix doesse pelo tempo naquela posição. – Vou tossir e muito, se seu adorável irmão não voltar e me alimentar mais uma vez.

— Ele não vê a hora de o fazer, e depois continuar com as sessões de... – Era difícil vincular a dita palavra a meu doce, adorável e amoroso irmão. Meu melhor amigo e maior confidente.

— Tortura. – Ele disse e olhou para meus olhos. Ali, eu via o homem, o mesmo responsável pelos gritos de horror. – Eu não escuto mais nada a distância, e nem ao menos consigo levantar meus braços dessas amarras. Não sou mais um vampiro, e ainda sim ouço o seu coração, o sangue correr por suas veias.

Ele diz e olha para o lado esquerdo de meu peito. Onde até mesmo eu, ouvia meu coração bombardear sangue. Talvez fosse minha certeza dando espaço para meu medo.

— O que está acontecendo comigo, Pequena Salvatore? – Ele disse, clamando por respostas. – Ele vai voltar, não vai? Sinto que era pra eu estar morto, a pelo menos quinze horas. Sinto meu corpo ir e voltar, já alcancei a velhice duas vezes. Seu sangue não é a cura para o vampirismo?

Nego com a cabeça.

— É uma cura momentânea. Você precisa do meu sangue, pra continuar jovem e não envelhecer de uma única vez. – Falei e então ele olhou em meus olhos, sua boca aos poucos se tornou um sorriso, e então ele salivou. Passou a língua em seus lábios, e então os mordeu de leve. – Você precisa se alimentar de mim, para não morrer.

Ele negou com a cabeça antes de a encostar no poste.

— Então seu irmão, ele está me torturando, deixando-me passar por todo o processo, e me trazendo de volta para onde eu fiquei por mais de cinquenta anos. – Concordei com a cabeça de leve e deixei minha mão que carregava a faca cair ao lado de meu corpo. – Toda vez que ele me alimenta com o próprio sangue eu volto para a idade que fui transformado, ele então me bate, me apunhala... Ele é um psicopata.

— Não. Ele só quer saber quem te mandou até nós. – Apontei a faca para seu ombro, onde supus que ficaria a marca da bruxa. – Quem é a bruxa que está te protegendo?

— Eu desliguei a humanidade uma vez. A sensação de a ligar após anos, e todos os sentimentos te atingir de uma única vez. Toda tragédia que você causou. É o mesmo sentimento. – Ele falou e então olhou para o próprio ombro. – Essa marca arderá em chamas se eu contar uma palavra sequer sobre quem a conjurou. – Disse e me encarou novamente. – A humanidade, é ela que está me atingindo? O tempo todo? Eu escuto vozes, gritando por socorro, misericórdia e todas aparentam estar com...

— Medo. Pavor. – Falei suspirando, ele me encarou meio sem entender o que eu queria dizer com aquelas palavras. – São todas suas vítimas e entes queridos gritando por misericórdia.

Não sabíamos o que realmente se tratava, mas Caroline afirmou que o então adolescente descreveu como assim. Então passávamos isso para quem nos questionava. Apesar de ser uma suposição, era a única que tínhamos.

— Como paro com isso? – Pergunta e eu nego com a cabeça. – Você me condenou a uma vida de completa loucura! – Ele gritou como um rosnado, e eu percebi que John estava mais perto do que eu acreditei que estaria, quando senti sua mão segurar meu braço.

— Stefanie, já chega sim? Preciso dar-lhe mais um pouco de sangue, senão ele ficará velho demais para regredir. – Johnny disse e então eu tirei sua mão de mim. O olhei nos olhos, e senti a mesma coisa que sentia quando brigávamos pelo controle da televisão quando crianças. Ele queria me matar.

— Escuta, meu irmão não vai parar até você contar algo. – Falei me abaixando para ficar da altura do homem preso. – Mas eu estou disposta a te dar a liberdade, se me contar apenas o estado, ou a cor dos cabelos, o sobrenome... qualquer informação que nos ajude a encontrar a maldita bruxa.

Ele olhou para meu irmão, olhou para meus olhos castanhos, e então sorriu. Um simples e pequeno sorriso.

— Vai me soltar, se eu te contar qualquer coisa? – Perguntou esperançoso por sua libertação.

— Não. – Disse e lhe apontei a adaga que Caroline me presenteou. – Vou permitir que você morra de cabelos brancos... Não sei seu nome, mas suponho que não queira ser para sempre o brinquedinho de tortura do meu irmão.

O balançar negativo de sua cabeça me fez sorrir, mas logo ele também sorriu de forma sarcástica.

— Mas eu também não quero morrer. Me solte Pequena Salvatore, e terá exatamente o lugar onde encontra a bruxa. – Suspirei para ele e então desviei meus olhos, ele havia esperanças de ser livre, mas em menos de duas horas, com o atual estado dele, estaria morto. – Me soltar não é um bom acordo, pois sabe que a matarei, não é?

— Não é um bom acordo, pois você morrerá antes mesmo de conseguir chegar até mim... – Me levantei deixando que ambos meus braços ficassem adjacentes ao meu corpo. – Entenda, quando lhe alimentei com uma gota de meu sangue, eu lhe condenei a morte. Não a loucura, ou a decadência da vida humana... Lhe sentenciei a morte.

Enfim, ele havia entendido o que exatamente meu sangue significava para vampiros. Seu olhar era triste. Percebi lágrimas escorrerem de seus olhos. Ele fungou duas vezes e então olhou para meu irmão, que mesmo contra as próprias expectativas, permaneceu por detrás de mim.

Antes de começar a falar mais uma vez, ele esperou as lágrimas se cessarem, e então sorriu de leve mais uma vez. Ali naquele momento, ele já aparentava ser um pouco mais velho.

— Sua proposta, se simplifica a me deixar morrer, ao invés de continuar a sofrer nas mãos daquele bastardinho. – Ele disse, e então retornou a tossir um pouco mais.

— Estou lhe oferecendo o que há após a vida. – Disse e senti meu irmão se aproximar mais um pouco de nós. – Mas entendo que talvez você prefira deixar meu irmão treinar o sonho de um dia ser médico.

Após poucos segundos, ele concordou com a cabeça e eu senti a surpresa de meu irmão pelo meu feito de ter conseguido convencer o ex-monstro.

— A encontrei por meio de sonhos. Estávamos em uma casa grande. Tinha um letreiro escrito seu nome na entrada. Ela me disse que o nome carregava a cura, e que se aceitasse levar um pouco de seu sangue, ela eternamente seria devedora. É sempre bom, ter uma bruxa na coleira. – Ele disse e sorriu. – Mas quando eu acordei, após aceitar, havia essa marca em meu ombro, e um papel voou sobre minha cabeça, com o estado por onde estavam, e um lembrete.

— Que se você falasse qualquer que fosse o paradeiro da bruxa... – Completei.

— Eu queimaria vivo. Fogo mata vampiro, não queria testar o quão sério ela disse. – Ele falou e então negou novamente com a cabeça. – Mas eu não sei onde ela está, ou quem ela é. Apenas que não sou o único de seu exército e que ela deseja fortemente o poder que seu sangue possui.

Olhei para meu irmão que parecia insatisfeito com as palavras do Curado. Voltei o olhar para o homem, um idoso praticamente e dei um mínimo sorriso. Um sorriso, o qual transbordei a sensação de gratidão. Apesar de suas informações nos levar de volta ao eterno circulo de incertezas, era a única instrução que havíamos em nossa pose.

Me levantei devagar, guardando a adaga na parte detrás de meu corpo, onde um cinto a permitiria parar ali, e caminhei um pouco para longe de todo cheiro de sangue que o homem exalava.

Não demorou muito, e meu irmão se aproximou de mim, de frente um para o outro, John praticamente quinze centímetro maior, abaixou seu olhar para me olhar nos olhos. Institivamente levei meus braços para a altura de meu busto, os cruzando.

Naquela posição queria mostrar a ele, que não me arrependia de nada que havia feita na última hora.

— Desarma Stefanie. Não vou falar nada sobre sua inconsequente tomada de decisão. – Ele disse colocando ambas as mãos em seus bolsos da calça jeans surrada.

— Então?

Não conseguia pensar direito, e nem ao menos poderia culpar a dor muscular, ou a dor na mão por isso. Eu estava bem, fisicamente falando é claro, meu ferimento já não parecia existir, pois minha mão poderia levantar cinco quilos de peso sem nem questionar.

— Não acho que seja verdade, tudo que ele disse. – Suspirei despitadamente, negando com a cabeça de forma minimalista. – Você será a pessoa mais ingênua se acreditar em toda essa baboseira.

— E você o mais... – Parei, procurando uma palavra que se enquadrasse em toda aquela fútil discussão. Fiquei em silêncio por mais tempo do que era aceitável para uma resposta a altura ainda. – Não importa. Quer me chamar de ingênua, me chame. Mas eu acredito nas palavras do curado.

John olhou novamente para o homem e negou com cabeça, firme o suficiente para que alguém, mesmo a aquela distancia soubesse do que ele se negava a aceitar.

— Acabou, de qualquer forma. – Apontou com uma de suas mãos para o então futuro cadáver. – Ele morrerá em poucos minutos, uma regressão não será mais aceita pelo próprio corpo.

— Câncer de pulmão também não deveria... – Parei pensando nas palavras. – Câncer não deveria ser um empecilho?

A mãe de Tia Caroline morreu por complicações de um câncer e seus olhos se encheram de lágrima ao contar isso numa sala de aula para Johnny e eu.

John apenas deu de ombros, e eu retornei para meu melhor estado, o quieto. Tentava ser invisível. Na falha tentativa de minha existência não fazer nada mais de errado.

Meu irmão ao menos, concordou com os termos que eu impus a ele, quando fiz o trato com o curado. Ele se sentou ao meu lado, e também no silêncio, esperou que o homem morresse. De certa forma, na paz que lhe foi disposta. Sem um torturador, carrasco ou tirano.

Um pouco antes, daquilo que percebemos ser o fim do moribundo, Johnny se levantou, caminhou até ele e conversou por menos de 3 minutos. Ao retornar a mim, pegou um pedaço de madeira, e começou a talhar um nome.

“Laurence”

O nome, o qual agora poderia me deparar nos piores pesadelos, fora desenhado na madeira que ali no chão John encontrou. Laurence faleceu pouco mais de vinte minutos daquilo.

Como estávamos no meio do nada, em uma cidade que fora completamente abandonada por motivos dos quais não tenho conhecimento, John se dispôs a fazer um espécime improvisado de enterro.

Uma cova. Uma cruz remendada. Um corpo.

Olhei para John quando o mesmo acabou de jogar toda terra no homem e empregava a ele uma lapide. O mesmo, que estava com a pele refletindo o sol, pelo suor excessivo que lhe foi atribuído, me olhou e eu percebi seus olhos avermelhados.

— Você nunca fez algo assim para todos os outros. – Falei apontando para a cruz com o nome Laurence desenhado.

— Eu também nunca causei o sofrimento nos outros, como fiz com Laurence. – Passou a mão pelos fios pretos e mesmo de longe, reparei no fundo respirar que fez. – Eu preciso de um banho Step.

Concordei com a cabeça, pegando minha mochila e alcançando a garrafa onde havia água. Passei a mesma para John, que sorriu agradecido.

— Tem uma cidade, há pelo menos dois quilômetros. Se começarmos a caminhar agora, chegamos ao anoitecer. – falei olhando para o sol, que estava no ponto mais baixo. Ele havia acabado de dar suas graças. O dia estava apenas começando. – Deve ter um motel de beira de cidade, em uns cento e cinquenta metros, se dermos sorte, é claro.

— Ele falou sobre a Escola Salvatore. – John diz, e então eu paro de olhar para o mapa em minhas mãos, lhe encarando.

Ele ainda estava com a respiração ofegante pelo cansaço, e agora na claridade, eu conseguia ver a enorme bagunça que seu corpo representava. Sangue, terra, suor.

Concordei com a cabeça. Escola Salvatore, onde Bonnie era uma das professoras responsáveis e Caroline a diretora.

— Talvez seja necessário ligar... – Ele se calou e eu percebi que reunia forças para a citar. – Ligar para Care, Bombom ou... – Ele parou mais uma vez. – Emily. Saber como elas estão.

Concordei, guardando o mapa, logo seguimos para o caminho onde nos levaria a cidade mais próxima. Ele estava logo atrás de mim, peguei o telefone para emergências, abrindo e tendo acesso as teclas numeradas.

Discar o número de Emily sempre foi muito fácil, e logo sua voz fina e contida deu o ar do outro lado da linha.

— Você não sabe como é bom, ouvir sua voz. – Falei e senti como se um tufo de cabeço saísse de minha garganta. Eu conseguia respirar novamente. – Eu estou com saudades Bruxinha.

“-Você não faz a ideia de como é bom saber que vocês estão vivos.” – Ela falou e eu sentia o sorriso do outro lado da linha. – “Estou com mais saudades ainda Bruxinha.”

Apesar de não ter a menor das justificativas quanto ao apelido por parte dela para mim, era ainda a melhor forma de se mostrar o quanto éramos apenas Emily e Step. “Bruxinha” era apenas um apelido carinhoso para ambas.

Quando descobri a real espécie de sobrenatural que Emily era, meu mundo desabou, e somente quando tia Bonnie me mostrou, que o fato de ambas serem Bruxas era apenas mais uma peculiaridade de nossa família, que eu percebi que amava Emily por ela ser Emily, minha melhor e insubstituível amiga.

— Estou ligando para saber como vocês estão. Tivemos um encontro com um vampiro que citou a Escola, e bom, ficamos preocupados com vocês. – Falei e olhei para John que se sentava com a garrafa de água em mãos. – Tia Caroline e Tia Bonnie estão bem, El?

“- Estamos todos bem Ste, todos seguros.” – Ouço um suspirar de Emily, e então sua voz calma retorna. – “O maior ponto de euforia que temos nesse lugar, é receber uma ligação de vocês.” – Ela solta uma pequena risada anasalada. – “Nossa maior liberação de dopamina, é ter notícia de você e de Johnny.”

Sorrio ao perceber que ela pronunciava o nome de John com tanta tranquilidade. Ela sempre falava sobre o fato de a aventura dos irmãos Salvatore ser a única parte emocionante de sua vida monótona na cidade Mystic Falls.

— É bom saber que todas estão bem. Quer falar com alguém? – Pergunto de forma descompromissada. John nega com a cabeça enquanto termina de beber mais um grande gole de água.

Como se Em soubesse da ignorante reação de Johnny ela nega incisivamente. Suspiro em negação a ambos, e depois de poucos minutos de uma conversa que beira a adolescência sobre o novo professor de História da Magia, que acabava de entrar na escola, ser um completo gostoso, desligo a ligação.

Me sento ao lado de John, e o mesmo me encara questionando o estado de nossos entes queridos.

— Elas estão bem. Melhor do que nós, tenha certeza.

Ele concorda com a cabeça e dá um fino sorriso, voltando a se hidratar.


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Notas finais do capítulo

O próximo, nem mesmo eu sei : )



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