Coletânea do Cotidiano em Devil May Cry escrita por CupcakeChoco


Capítulo 4
In Darkness


Notas iniciais do capítulo

Por mais que não considerasse nenhum deles oponentes dignos – apesar do seu estado físico não ser dos melhores –, lutar com demônios ocupava sua mente e a mantinha distraída para não pensar demais.
E esse era um erro.
Vergil pensou se o mundo acabasse, continuaria aprisionado, sem nunca sair – eternamente. E quanto suportaria do fim.

[Vergil e Diva | Romance]



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Duas palavras definiam aquele lugar de vazio e tormento eterno: frio e escuro. As horas não existiam, também não tinha como contá-las e mesmo que tivesse meios para tal, o tempo lhe era indiferente – não alteravam sua estádia e a permanência, por mais que acreditasse que muitos anos passaram desde que chegara. O que ganharia conservando hábitos que não eram convenientes e inúteis?

 

 

Seu destino final residia ali, em meio ao clima úmido, gélido e mergulhado na umbra – o conceito absoluto das Trevas. Se houve algo antes disso não recordava, era um grande branco mental. Um muro impenetrável. Uma sala sem móveis. O nada indecifrável e inacessível. O que viveu e o que fez para cair nas sombras do esquecimento solitário, talvez um castigo por uma ação desonrosa, merecesse uma condenação. Mas como julgaria se nem sequer possuía uma base? Se seu passado não passava de uma pagina arrancada de um livro velho?

 

 

Tudo que sabia limitava-se a trivialidades que ocasionalmente sussurravam através da intempérie, das vozes jogadas ao ventos que lhe entoavam maldições e impropérios.

 

 

Sua antiga companheira, a Escuridão, o acolhia como um filho e sentiu que pertencia a ela. Um conhecimento empoeirado de que sua natureza não o classificaria como humano, uma parte era formada por trevas e estava preso a isso.

 

 

Sua única, mais esperançosa e familiar, informação – um resquício significante de memória – vinha do som de seu nome, que em sua voz abatida soava como um fraco e seco engasgo de alguém que reaprendia a falar. Sabia que se chamava Vergil – e intrinsecamente ligado ao poeta Virgílio.

 

 

Um poeta, sem dúvida, nunca seria. Não se imaginava escrevendo, dedicando seu tempo a textos e histórias. Um tolo sonhador que certamente não tinha relação com sua imagem, ainda que em sua condição atual, parecia mais um farrapo humano. A visão mais decadente de qualquer criatura.

 

 

Sangue manchava as roupas e elas estavam destruídas, rasgadas como resultado de inúmeras batalhas. Os cabelos claros formavam uma cortina longa e espessa, cobrindo-lhe o rosto. Com o cansaço dominando cada membro do seu corpo, não tinha forças para mais nada além de recostar em uma lápide. Tossiu um pouco de sangue e pressionou a mão contra o ferimento no estômago, estancando o sangramento. No início, quando caiu no limbo, havia demônios que constantemente o atacavam – sem cessar. O que lhe ocorreu que estivesse no Inferno, no nível mais baixo dos círculos que o formavam. Depois de lutar para, de certo modo, sobreviver. O número reduziu, até experimentar a verdadeira solidão. Por mais que não considerasse nenhum deles oponentes dignos – apesar do seu estado físico não ser dos melhores –, lutar com demônios ocupava sua mente e a mantinha distraída para não pensar demais. 

 

 

E esse era um erro.

 

 

Vergil pensou se o mundo acabasse, continuaria aprisionado, sem nunca sair – eternamente. E quanto suportaria do fim.

 

 

Teria irmãos? Uma família? Um sobrenome? Que tipo de vida levava?

 

 

Perguntas que nunca teriam uma resposta.

 

 

Os dedos gelados e mórbidos, traçaram os contornos do próprio rosto para, deste modo, poder se reconhecer. Se tivesse espelho, veria como sua aparência desgastada, ainda carregava a aristocracia de um nobre e a beleza inumana – escondida atrás de um olhar hostil e sangue. Vergil fazia isso algumas vezes, para certificar que ainda era ele mesmo e que estava são. Seu método seguro de ficar com os pensamentos estáveis.

 

 

Respirou fundo, aspirando o cheiro fétido de morte.

 

 

Piscou repentinamente sob um feixe ofuscante.

 

 

Novamente viu; além do manto de trevas, um tímido, mas caloroso ponto de luz. Não era a primeira vez que o visitava, ela surgia e logo desaparecia, como se sua presença ali fosse inadequada e breve. Suas nuances de cores se embaralhando no brilho dourado lhe atraíram de imediato. De todas as ocasiões que ela aparecia, aquela era diferente. A luminosidade crescia, lançando-se sobre tudo ao redor e iluminando-os. O perfume de rosas sobrepujou o desagradável cheiro de enxofre e carne podre. Vergil observou a figura diáfana, porém de dourado intenso, como aquarela viva, tomar solidez e transformar-se em uma garota.

 

 

Teve certeza que se conheciam, embora não entendesse como.

 

 

Ela nunca se aproximou, adentrando na escuridão infinita. Uma decisão sensata. No entanto, aos poucos, superando os temores, ela flutuou pelo lugar estéril em sua direção. A névoa que cercava-os concedeu a ela um aspecto fantasmagórico.

 

 

Colocou a mão frente aos olhos para protegê-los da forte luz, na qual não estavam acostumados.

 

 

Ela veio conversar justamente com ele, aquele que abraçara as sombras.

 

 

— Você não se lembra... — sussurrou compreensiva e terna. — Mas não gostaria de viver em um lugar cheio de luz, Sr. Misterioso?

 

 

Foi naquele momento que tudo mudo.

 

 

Vergil olhou rapidamente para Diva, ainda enxergava a luz pálida que emanava dela e que o trouxera de volta a vida.

 

Se a Escuridão foi sua fiel companhia por anos, a Luz tornou-se sua garantia de futuro – e uma amante.

 


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