Lágrimas em Silêncio escrita por Adélison Silva
CENA 01/ EXT/ RUA/ CASA DE JANA/ CALÇADA/ DIA
Todo aquele pesadelo parecia ter voltado, o medo, a vergonha, a angustia. Jana foi cedendo ao chão. Uma mulher que passava por ali ao observar que ela não estava bem, propôs em ajudar.
MULHER
— Moça, a senhora está bem.
Enfraquecida e desnorteada Jana desmaia, deixando a mulher que lhe ajudava preocupada.
MULHER
— Alguém ajuda aqui, por favor, uma mulher desmaiada gente!
Pessoas que passava por ali, se compadeciam e se aproximavam tentando socorrer Jana. Alguns já com o telefone na mão ligava para a Samu. Maciel e Rato estavam um pouco a frente e notaram que haviam algo de errado acontecendo ali.
MACIEL
— O que está acontecendo ali?
RATO
— Parece que a dona desmaiou.
MACIEL
— É melhor a gente ir lá ajudar.
RATO
— Já tem gente demais lá. Vamos agora focar nos nossos queijos. Presta atenção, nós vamo lá e vamo entregar mais mercadoria para aquele folgado. Mas vou dá a letra, não vai ser todos os queijos que vai ser recheado não. Se ele voltar a aloprar, o baguio vai ficar louco. Morô?
MACIEL
— Tou ligado! Mas vê lá viu Rato, não quero problema respingando para o meu lado não. Quero minha ficha limpa, pô.
RATO
— Relaxa parceiro, vai dá tudo certo. Vem comigo!
Rato e Maciel foram até a casa do cliente. A samu chegou logo em seguida para socorrer Jana. Um tumulto de gente se reunia em torno dela.
CENA 02/ INT/ LOJA DA RAVENA/ DIA
Ravena estava arrumando algumas roupas dentro da loja, Laura chega logo em seguida para surpresa da amiga.
RAVENA
— (surpresa) Laura? O que você está fazendo aqui, não deveria está na escola?
LAURA
— Eu preferi não ir hoje. Vou trabalhar em tempo integral para compensar por ter te deixando na mão ontem.
RAVENA
— Fez muito mal, eu não quero que você fique faltando aula por conta do trabalho.
LAURA:
— Tarde demais eu já faltei. Um dia só não fará mal.
RAVENA
— O problema aqui não foi o fato de você ter me deixado na mão ontem. O problema aqui é onde você estava.
LAURA
— O Maciel me ama Ravena, eu sinto isso. O que acontece que ele foi se enfiando no mundo das drogas, foi fazendo coisa errada e agora não consegue mais sair dessa. Mas eu tenho certeza que depois que a gente se casar e for morar junto as coisas vão mudar.
RAVENA
— (abismada) Casar? É sério isso? Você está pretendendo morar com esse cara? É isso mesmo que estou entendendo?
LAURA
— Estou. E nem você e nem ninguém vai me fazer mudar de opinião. Poxa, eu sei que vou ser feliz, eu e o Maciel temos uma conexão foda. A gente vai ser muito feliz, eu tenho certeza disso.
RAVENA
— É triste ver você jogar a sua vida assim no lixo e eu não poder fazer nada.
CENA 03/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ RECEPÇÃO/ DIA
Jéssica estava terminando de ajeitar a agenda de Maurício. Ele em frente ao balcão da recepção conversando com ela.
JÉSSICA
– Agora pela manhã tem só essa paciente aí, a parte da tarde já tem duas marcadas.
MAURÍCIO
— Ótimo! E o cineminha de hoje está de pé?
JÉSSICA
— Tá sim, é muito bom assistir um filminho com você.
MAURÍCIO
— Também estou gostando muito dos nossos programas. Sempre gostei de bons filmes, é bom saber que agora posso contar com a sua companhia.
JÉSSICA
— Pois é, mas hoje quero algo diferente.
MAURÍCIO
— (sem entender) Diferente, como?
JÉSSICA
— Hoje eu quero um cinema em casa. O que você acha?
MAURÍCIO
— Pode ser, então. Diferente, gostei. Na minha casa, ou na sua?
JÉSSICA
— Na minha casa mesmo. Eu comprei uns DVDs de uns filmes que nunca assisti. A gente escolhe um, faço uma pipoca, preparo um jantar. Vai ser algo mais aconchegante.
MAURÍCIO
— Bacana Jéssica, faremos isso então.
Beatriz vai chegando bem eufórica e animada.
BEATRIZ
— (chegando) Bom dia, bom dia!
JÉSSICA
— Bom dia doutora Beatriz!
MAURÍCIO
— Bom dia! Toda sorridente, sinal que a noite foi boa.
BEATRIZ
— Eu sempre estou sorridente meu amor. Meu dia começa sempre bem, com alto-astral lá em cima. E a minha noite foi maravilhosa, dormi como um bebê. E a Jana onde está?
JÉSSICA
— Até agora ainda não apareceu.
BEATRIZ
— Liga pra ela depois e ver se está tudo bem. (fazendo sinal juntando os dedos) E vocês dois, estou só observando viu.
JÉSSICA
— Que isso doutora? Eu e o doutor Maurício somos só amigos.
BEATRIZ
— Hunrum! Me enganam.
MAURÍCIO
— (se justificando) Beatriz, é verdade. Eu e a Jéssica somos apenas amigos. A gente sempre sai, mas pra assistir filme nada demais. Inclusive se você quiser pode ir com a gente. Né Jéssica?
JÉSSICA
— (sem jeito) Sim, sinta se convidada. Vai ser um prazer.
BEATRIZ
— Gente, calma! E daí se vocês estão saindo ou não? O nosso tempo aqui na terra é curto, tem é que namorar mesmo.
MAURÍCIO
— Está certa, tem que namorar mesmo. (saindo) Deixa eu cuidar do meu trabalho.
Maurício saiu sem graça e Jéssica ficou sem entender nada.
BEATRIZ
— O que deu nele, gente?
JÉSSICA
— Pois é, também não entendi nada.
BEATRIZ
— Deixa pra lá. Como está minha agenda?
JÉSSICA
— Agora pela a manhã está tranquilo. Tem só um homem na sala de espera lhe aguardando.
BEATRIZ
— (estranhando) Um homem? E qual é o nome do paciente?
JÉSSICA
— Ele não é paciente. Disse que é seu amigo.
BEATRIZ
— Meu amigo? Vou lá ver quem é esse amigo.
CENA 04/ INT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SALA DE ESPERA/ DIA
Beatriz foi até a sala de espera e se surpreendeu ao dá de cara com Jorge. Que estava ali de pernas cruzadas, sentando na poltrona, folheando uma revista enquanto lhe esperava.
BEATRIZ
— Eu não acredito! Mas o que você está fazendo aqui?
JORGE
— Folguei hoje, vim aqui te ver.
BEATRIZ
— Mas você é muito abusado.
Jorge levantou da poltrona, pois se diante de Beatriz. E enquanto conversava iria se aproximando cada vez mais dela.
JORGE
— Sou abusado, sou indecente, sou isolente... (pegando Beatriz pela a cintura) Mas eu sei que você gosta.
BEATRIZ
— (com os braços encolhidos sobre o peito) Gente, mas que pegada!
JORGE
— Eu não paro de pensar em você.
Jorge sem prestigiar começou a beija Beatriz, ela regalou os olhos como se estivesse apavorada, mas correspondeu ao beijo. Depois ela se afastou e deu-lhe um tapa na cara.
JORGE
— (com a mão sobre o rosto) Au!
BEATRIZ
— Como ousa?
Maurício ao ouvir o barulho do tapa saiu de sua sala.
MAURÍCIO
— Tudo bem Beatriz? Esse cara está te importunando?
BEATRIZ
— Está tudo bem Maurício, obrigada!
MAURÍCIO
— Tem certeza? Porque se você quiser eu posso por ele pra fora.
JORGE
— (debochando) Rapaz, o bicho é brabo!
BEATRIZ
— Maurício eu sei me defender. Muito obrigada, está tudo bem. Pode voltar para o seu serviço. A última coisa que eu quero é tumulto aqui na minha clínica.
MAURÍCIO
— Está bem, então.
Depois que o Maurício volta para a sua sala, Beatriz dá um sermão em Jorge.
BEATRIZ
— Esse aqui é o meu ambiente de trabalho e eu sou uma mulher descente. Põe se daqui pra fora meu senhor. Deveria está cuidando era do meu carro.
JORGE
— Mas o seu carro já está tudo ok. Esqueceu que levou ele pra casa ontem?
BEATRIZ
— Verdade. Sendo assim eu não tenho mais nada para resolver com o senhor. Quer fazer a gentileza de se retirar da minha clínica?
JORGE
— Eu vou me retirar por respeito ao seu ambiente de trabalho. Mas eu já sei o horário que você sai, vou ficar de sentinela lá na frente da clínica te esperando.
Jorge sai todo autoritário, e Beatriz fica de cara com o atrevimento que ele teve.
BEATRIZ
— Mas que abusado! (se abanando) E que pegada forte, ui!
Jorge tinha tudo aquilo que Beatriz mais detestava em um homem. Machista, autoritário, abusado. Mas mesmo assim ele a atraía. O jeito brutamonte de Jorge desafiava Beatriz.
CENA 05/ INT/ HOSPITAL/ ENFERMARIA/ DIA
Jana estava deitada tomando soro na veia. Genivaldo e Giovana foram ter com ela no hospital.
JANA
— (tomando soro) Vocês não deveriam ter se preocupado tanto, gente. E ainda ter o trabalho de vir até aqui.
GENIVALDO
— Como não deveríamos ter se preocupado? Você passa mal, desmaia na rua e não quer que a gente se preocupe?
GIOVANA
— Você está grávida, Jana. Tem que se cuidar.
JANA
— Eu estou bem gente. O médico não falou que foi só a pressão que caiu?
GENIVALDO
— Mesmo assim, no seu estado todo cuidado é pouco.
JANA
— É que eu fiquei nervosa, foi isso.
GIOVANA
— Ficou nervosa, por quê?
JANA
— Eu vi ele. Eu tenho certeza que era ele.
GENIVALDO
— (sem entender) Ele quem filha?
JANA
— O marginal que abusou de mim.
GIOVANA
— Minha nossa Jana. Ele estava próximo a sua casa?
JANA
— Estava na praça com outro carinha. Eu também não posso dá certeza absoluta que era ele. Eu só sei que parecia muito. Na hora eu fiquei nervosa, fiquei sem ação. Quando eu acordei já estava na ambulância.
GENIVALDO
— Eu acho melhor você voltar lá pra casa. Pelo menos nesse primeiro período de gravidez.
JANA
— Não. Vocês me desculpem, mas eu não tenho mais paciência para lidar com a Eliete.
GIOVANA
— Então podemos fazer o seguinte, eu pego as minhas coisas e vou lá pra sua casa ficar contigo.
GENIVALDO
— Giovana, você tem que se dedicar aos estudos.
GIOVANA
— Mas eu vou me dedicar. O ônibus que vai pra escola passa na frente da casa da Jana.
GENIVALDO
— Está bem, então que assim seja.
JANA
— Você é um amor! Vou amar ter você lá comigo. Agora vamos esperar esse soro terminar que estou doida pra ir pra casa.
CENA 06/ INT/ LOJA DE QUEIJO/ DIA
Valdomiro (56), um traficante de drogas que usa de sua loja de queijo para esconder os tabletes de cocaína que Rato trazia. Fez uma parceria com Rato e Maciel para vender os seus queijos recheados de drogas.
VALDOMIRO
— Vocês estão se arriscando muito. O combinado era um em cada dez queijos, isso pode chamar a atenção dos canas.
RATO
— Foi só dessa vez Seu Valdomiro. Era só para nós não perder cliente. Esse cliente é meio enjoado mas paga bem.
MACIEL
— Eu também já te falei que tou achando tudo isso arriscado.
RATO
— Tu fica na tua e continua fazendo o seu trabalho. Porque quando a grana começa a cair em seu bolso você não acha ruim.
VALDOMIRO
— Mas é só dessa vez, não podemos trocar os pés pelas mãos e colocar tudo a perder.
RATO
— Sim, foi só dessa vez. (T) Estou fechando um negócio aí com um bacana, que vou dá ideia pro cês. Vai entrar uma grana alta.
MACIEL
— Mas é suave né, não estou querendo encrenca pro meu lado não?
RATO
— (dando bronca) Tou te estranhando Maciel, tu anda muito cabreiro. Qual é parça? Tu tá junto ou não tá?
MACIEL
— Tou. Claro que tou. Até mesmo porque estou precisando de grana.
RATO
— Então se liga meu irmão. Continua fazendo o seu servicinho aí bonitinho, que quando o negócio desenvolver a gente conversa.
Rato estava com a ideia de partir para algo mais arriscado, e expandir a venda de seus queijos. Mais produção, mais dinheiro entrando. Ele era ambicioso e queria se dá bem de qualquer forma.
CENA 07/ INT/ LOJA DA RAVENA/ TARDE
Laura estava na loja terminando de atender uma cliente quando o seu pai chegou.
LAURA
— (entregando uma sacola para a cliente) Aqui está! Muito obrigada e volte sempre, vamos ter o prazer enorme em atendê-la. (ao ver o pai) O que o senhor está fazendo aqui?
MOISÉS
— Eu vim te levar pra casa Laura. Não tá certo isso, seu lugar é lá em casa com sua família.
LAURA
— Eu não vou! Deus me livre ter que conviver com os ensinamentos machistas e preconceituosos do senhor.
MOISÉS
— (sem alterando) Olha aqui menina, não me faz perder a paciência contigo!
LAURA
— O senhor vai fazer o quê, pastor? Vai me bater?
Moisés deu uma olhada em volta e viu que todos da loja estavam olhando pra ele.
MOISÉS
— Não! Laura minha filha eu vim aqui em nome do nosso Senhor Jesus, para ter uma conversa pacifica com você. Eu sou o seu pai, sou o seu amigo. Me trata como se eu fosse um estranho.
LAURA
— E pra mim o senhor é um estranho. O que você sabe sobre mim? Me diz?
RAVENA
— (se aproximando) Laura, vai lá pra dentro e conversa com o seu pai.
MOISÉS
— Então você é a moça com quem a minha filha está convivendo?
RAVENA
— (estendendo a mão) Eu sou a Ravena, prazer em conhecer o senhor.
Moisés deu uma olhada fixa na mão de Ravena. Parou por um instante, depois resolveu pegar em sua mão.
MOISÉS
— Que Deus tem misericórdia de sua alma.
Moisés era daquele tipo que julgava pela a aparência. E como Ravena era uma mulher que gostava de roupas mais masculinizadas, tipo terninhos, gravatas e chapéus, isso já fazia com o que Moisés não a olhasse com bons olhos.
CENA 08/ INT/ CASA DOS FERNANDES/ SALA DE ESTAR/ TARDE
Genivaldo e Giovana vão chegando em casa e depara com Eliete que já estava lhes esperando. Não por está preocupada, mas sim ansiosa para saber o que aconteceu com Jana.
ELIETE
— Vocês demoraram! O que foi que aconteceu com a Janaína dessa vez?
GENIVALDO
— Queda de pressão, normal por conta da gravidez. Mas ela já está bem, só tomou um soro e voltou pra casa.
GIOVANA
— Vou arrumar as minhas coisas.
ELIETE
— Arrumar as suas coisas pra quê?
GENIVALDO
— Bem, o Paulo voltou para o Mato Grosso para a casa dos pais dele. Ele a Jana não tem mais volta. Sendo assim a Jana achou melhor voltar para a casa dela. Então a Giovana se prontificou em passar uma temporada com a irmã.
GIOVANA
— Pois é, vai ser ótimo, lá com a Jana eu irei poder ajudá-la se for necessário. Estou indo lá arrumar as minhas coisas, então.
ELIETE
— (autoritária) Você não vai para lugar nenhum! Imagina se vou deixar a minha filha conviver em um antro de perdição.
GENIVALDO
— Que antro de perdição? Ela vai pra casa da irmã.
ELIETE
— Uma desviada que separou do marido sabe lá Deus por que. Ela pode até enganar vocês com essa história de estupro. Mas a mim ela não engana, esse filho que ela está esperando é de algum amante. E provavelmente ela vai enfiar ele dentro daquela casa. Minha filha não vai se misturar nessas orgias.
GENIVALDO
— Pare de falar asneira mulher! Vai lá arrumar as suas coisas Giovana que eu vou te levar na casa da sua irmã.
ELIETE
— No dia do juízo você vai prestar contar por está encaminhando a sua filha ao pecado. Aquela casa vai virar um antro, e nossa filha vai está lá mergulhada naquele mar de pecado.
GENIVALDO
— Deixa que com Deus eu me entendo depois.
ELIETE
— Vai brincando Genivaldo, Deus é justo!
CENA 09/ INT/ LOJA DA RAVENA/ ESCRITÓRIO/ TARDE
Moisés e Laura foram até o escritório conversar. Ele insistia em convencer a filha a voltar pra casa. Mas ela era resistente e se negava a voltar com o pai.
MOISÉS
— O que é que você tanto quer Laura? Desde menina que você queima nessa ambição desmedida. São as más companhias que te deixou desse jeito. Você está a cada dia se afastando mais da presença do Altíssimo. A sua mãe também nunca soube educar direito vocês.
LAURA
— Não meu pai, foi o senhor que me deixou assim revoltada. É muito fácil para o senhor responsabilizar a minha mãe por tudo, né? Eu só quero ser feliz, fazer o que eu gosto, sem repressão nenhuma.Eu só quero ter o direito de ser eu.
MOISÉS
— (respira fundo) Você está muito iludida, filha. A felicidade não está nas coisas que se acabam. Deus não nos ensinou a não cobiçar as coisas desse mundo? Jesus Cristo mesmo disse que não era desse mundo. Nós também não somos. Quem somos nós senão a imagem e semelhança de Deus?
LAURA
— O senhor pode não ser, mas eu sou. Eu sou de carne e osso. Eu só quero ser dona de mim, das minhas escolhas, das minhas vontades, dos meus desejos e principalmente dona do meu corpo. Deus não pode me condenar por isso.
MOISÉS
— Deus que tenha pena de você e dessa sua ambição, filha. Volte pra casa! Eu prometo ser mais tolerante e saber te ouvir mais. Você tem uma família linda que te ama. Volte comigo!
LAURA
— Isso seria lindo se fosse verdade. Mas nós dois sabemos que na prática é diferente do que na teoria, né meu pai? Eu não vou casar com nenhum filho de pastor da sua igreja. Quando eu me casar vai ser por amor, por que eu escolhi ficar com essa pessoa.
MOISÉS
— Você está pretendendo casar? (desconfiado) Você e essa moça com quem você está dividindo o apartamento... Existe alguma coisa entre vocês?
LAURA
— (estranhando) A Ravena? Não, claro que não. De onde o senhor tirou essa ideia? A Ravena é apenas uma grande amiga minha.
MOISÉS
— (respirando fundo) Menos mal.
LAURA
— Menos mal? E se fosse verdade que mal teria nisso? É por esse motivo que eu sei que nós nunca vamos nos entender, falamos línguas diferentes.
MOISÉS
— Minha filha eu não posso ir contra a palavra de Deus. Homem com homem e mulher com mulher não fazem filhos, isso vai contra a ordem natural das coisas.
Laura se põe de pé, com o intuito de voltar para a loja.
LAURA
— Se a conversa vai por esse rumo, eu prefiro nem ouvir. Com licença, preciso voltar para a loja.
MOISÉS
— Deus que te ajude. Eu não consegui segurar você, que ele tenha misericórdia e te livra de todo mal. Eu tenho fé que um dia você vai voltar, assim como fez o filho pródigo. E nesse dia eu vou está lá de braços aberto te esperando.
CENA 10/ EXT/ CLÍNICA BIO IN VITRO/ SAÍDA/ TARDE
Jorge estava disposto a conquistar Beatriz de qualquer jeito. Ele não estava acostumado em receber não de nenhuma mulher. Quando ele queria ele insistia até as últimas consequências. Para fazer com o que Beatriz aceitasse a sua carona de volta para casa, ele foi lá e enfiou um prego no pneu do seu carro. Ela é claro ficou furiosa e tomou uma atitude que Jorge com certeza não esperava.
BEATRIZ
— (ao ver Jorge encostado em seu carro) Eu não estou acreditando nisso!
JORGE
— (mostrando um prego enfiado no pneu do carro) Eu acho que o seu carro furou o pneu.
BEATRIZ
— O quê? (nervosa) Foi você que fez isso! Que jogo baixo meu senhor.
JORGE
— E o pior que o estepe do seu carro acabou ficando lá na oficina. Mas não se preocupe eu te dou uma carona, o meu assistente está vindo para arrumar o pneu do seu carro.
BEATRIZ
— Você é um grosseirão estúpido. Eu deveria chamar era a policia. Mas eu não vou esperar o seu assistente vir consertar o meu carro. Eu tive uma outra ideia.
JORGE
— (sem entender) O que vai fazer?
Beatriz tomou rumo até o porta mala do carro de Jorge, pegou o seu estepe e levou até o seu carro.
JORGE
— (pegando no braço da Beatriz) Espere um pouco, eu não vou deixar você fazer isso!
BEATRIZ
— Fique longe de mim! Eu ainda não desisti da ideia de chamar a polícia.
JORGE
— Oh mulher bruta!
Beatriz foi até o seu carro e trocou o pneu que estava com o estepe do Jorge.
BEATRIZ
— (limpando uma mão na outra) Prontinho!
JORGE
— Olha aí se sujou toda.
BEATRIZ
— Não importa. E esse prejuízo pode ter certeza que o senhor vai pagar.
Ela foi entrando em seu carro, quando lembrou.
BEATRIZ
— Ah já iria me esquecendo.
Beatriz pegou o prego e com ajuda de uma ferramenta enfiou no pneu do carro do Jorge.
JORGE
— (indignado) Você ficou louca?
BEATRIZ
— Quando o seu assistente chegar pede para ele trocar o seu pneu.
Beatriz entrou em seu carro, bateu a porta e saiu cantando pneu. Jorge ficou encantado com o jeito bruto que ela tinha em resolver as coisas.
JORGE
— Que mulher é essa meu Deus? Essa mulher tem que ser minha.
CENA 11/ INT/ LOJA DA RAVENA/ TARDE
As duas conversavam sobre a visita de Moisés.
RAVENA
— E então, como foi a conversa com o seu pai?
LAURA
— A mesma ladainha de sempre. Eles me ver como se eu fosse a pecadora, a ovelha negra da família. Estão querendo que eu volte pra casa, mas isso eu já disse que não vai acontecer. Imagina se eu vou me submeter as rédeas impostas pelo o meu pai. Mas sabia que eu até estranhei, o meu pai foi manso algo que não estou acostumado a ver.
RAVENA
— Daqui a um mês você estará fazendo dezoito anos, será dona de si.
LAURA
— Nunca ansiei tanto por esses dezoito. (T) Você acredita que o meu pai estava achando que eu e você temos um caso? (rindo) Sem condições um negócio desses.
RAVENA
— (sem graça) E sem condições porque Laura?
LAURA
— Por favor, né Ravena. Imagina eu e você, nada a ver.
RAVENA
— Eu já imaginei e achei que tem tudo a ver. Mas pelo o que vejo não tenho chance nenhuma.
Está aí uma coisa que Laura não esperava, Ravena saiu decepcionada, e já Laura continuou ali parada, perplexa com a revelação da amiga.
CENA 12/ INT/ SUBÚRBIO/ LOJA DE QUEIJO/ DEPÓSITO/ TARDE
Valdomiro e Maciel estavam no depósito ajeitando os queijos. Logo depois Rato entra eufórico.
VALDOMIRO
— Põe os queijos recheados nessas caixas aí, o restante pode deixar nas prateleiras. Temos que saber distinguir bem na hora de entregar apara o cliente.
RATO
— (entrando afoito) A polícia está na frente da loja!
VALDOMIRO
— (estranhando) A polícia aqui? A polícia não é muito de vim aqui.
MACIEL
— Eu sabia que isso iria dá merda! Caralho, eu não posso ser preso.
RATO
— Vocês calam a boca, e dá um jeito de sumir com os queijos recheados.
VALDOMIRO
— Pega aqueles que estão ali logo Maciel e põe na caixa.
RATO
— Eu vou voltar pra frente da loja e tentar distrair eles.
Rato volta para a frente da loja, Valdomiro e Maciel ficam ajeitando os queijos.
MACIEL
— (guardando os queijos na caixa) Onde eu fui me meter!
VALDOMIRO
— Se a polícia entrar aqui deu merda!
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