The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 26
Capítulo 25




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Ele estava acabado. Olhando no espelho de borda redonda do banheiro do quarto de Wanda, era notável o quanto o veneno tinha deixado sequelas em seu rosto cansado e nas olheiras fundas sob seus olhos. 

Fisicamente, sentia como se um caminhão tivesse passado sobre ele, ida e volta, pelos últimos quatro dias. Embora tivesse ficado desacordado por todo aquele tempo, era como se seu corpo estivesse inconscientemente lutando contra os efeitos da substância que inundara seu corpo. 

As palavras dela ainda ressoavam em sua mente. Se não fosse o soro, estaria morto nos primeiros minutos após a facada. Apesar disso, continuara lutando, sem saber, como se houvesse algo pelo o que continuar. 

Respirou fundo apoiando as duas mãos sobre o armário de madeira da pia. Talvez fosse apenas instinto. Tinha que ser. Nunca fora realmente empenhado quanto a manter a própria segurança e isso se tornara quase uma característica sua após o soro. Havia sido assim quando caíra para a morte naquele desfiladeiro nos Alpes e se lembrava de se sentir inconsequente sempre que agia como Soldado Invernal  - talvez, em uma tentativa radical de se livrar de sua prisão mental. 

Talvez isso também justificasse toda a falta de cuidado durante a noite da tempestade, quando fora atrás de Wanda sem pensar no que poderia haver na escuridão ao redor da cabana. Havia muito o que não sabia sobre a ruiva, sobre seu mundo, sua magia e aquele lugar que os rodeava, o que o resignava por completo, mas o deixava temeroso. Por si mesmo e por ela. 

Engoliu em seco, ainda realizando que só pensara na segurança dela naquele momento, sem se preocupar consigo mesmo. Suspirou esfregando o rosto fortemente, como se tentasse fazer as pazes com essa constatação ou retomar o controle sobre a própria força, uma vez que se via esgotado, embora o único esforço que tivesse feito fosse para tomar banho. 

Depois de sair do quarto um tanto transtornada por realizar como se importava com a possibilidade de sua morte, Wanda voltou muitos minutos depois, mais calma e séria, perguntando se precisava de algo e um banho foi a primeira coisa que passou por sua mente. Isso sempre o ajudava a organizar os pensamentos e talvez a água quente tivesse algum efeito prático sobre seu corpo, relaxando e curando onde precisava.  

Então, ela o ajudou a se colocar de pé fazendo uso de seus poderes, o que o atordoou num primeiro momento. Havia segurado sua mão, mas a força e a energia que rodeava o gesto estava repleta de magia escarlate, como quase tudo naquela cabana. De alguma forma, o sentimento que o permeava sempre que a via, efetivamente, ser uma bruxa, não era de medo. Muito longe disso. 

Com uma careta, desceu a mão pelo rosto e o pescoço, incomodado com a barba por fazer depois de todos aqueles dias. Mesmo que o banho tivesse ajudado, ao menos um pouco, quando a barba estava mal feita se sentia totalmente bagunçado. Então, preparando-se psicologicamente, alcançou a maçaneta da porta e a abriu, vendo Wanda ocupada trocando o lençol e as demais roupas de cama antes de olhá-lo interrogativamente. 

— Precisa de alguma coisa? 

— Er… Eu preciso fazer a barba. - Disse, sem jeito, detestando depender dela para ajudá-lo naquele nível. 

— Ok. - Ela ajeitou os travesseiros sobre a cama, enquanto perguntava, parecendo estranhamente solícita. - Onde estão suas coisas? 

— No compartimento externo da minha mala. 

Não se importou realmente que ela visse seus pertences, eram adultos e não havia nada demais em sua mochila, mas era como se… Fosse Wanda demais ao redor de Bucky, desde que sequer pensara na tempestade ao ir atrás dela até a hora em que acordou e a viu deitada ao seu lado. Ela não pertencia à sua realidade, nem ele à dela, tinha que colocar isso em mente, estarem juntos ali era fruto de um acaso repleto de humor irônico. 

Não demorou para que Wanda voltasse com o estojo da lâmina, o creme de barbear e uma toalha limpa - para que não usasse as dela. Entretanto, ela não se afastou depois de entregar tudo a ele e ouvir um agradecimento baixo e discreto. Ao contrário, quando se voltou ao espelho novamente, a viu cruzar os braços e se encostar contra o batente, de forma que seria quase displicente não fossem suas feições um tanto graves. 

Se concentrou momentaneamente em umedecer o rosto e espalhar o creme, estreitando os olhos para ela quando os levantou novamente para o espelho, notando que Wanda parecia não ter qualquer intenção de deixá-lo sozinho, o que era estranho, no mínimo.

— Você vai ficar aí? 

— Se incomoda? 

Notando o modo como ela parecia determinada a permanecer ali, embora não compreendesse o motivo, Bucky se perguntou se a presença realmente incomodava. Soava íntimo demais e eles não o eram. Soava invasivo demais e ele não estava acostumado com alguém invadindo seu espaço daquela forma. Sam o fazia, mas tinha alguns limites e não era nada parecido com aquilo, pois não mexia com ele da forma que estava mexendo. Soava também… comprometedor demais, como se acusasse algo mais ali, que corria dela para ele e ao contrário, sem que pudesse conter. Mas incômodo?

— Não realmente. 

Ela pareceu satisfeita, em silêncio, e Bucky se voltou ao próprio reflexo, tentando ignorar que ela estava logo à direita, simplesmente observando, enquanto começava a tirar todo o excesso da barba mal feita. Decidiu que não iria tirar tudo, apenas aparar o que deveria ser aparado e tentar manusear a partir daí. Não estava realmente com ânimo o bastante para lidar com isso da forma que estava acostumado, só queria voltar para a cama. 

— Foi uma boa decisão cortar os cabelos para se afastar do Soldado Invernal. - Com a lâmina sobre a água corrente da torneira, Bucky travou repentinamente, levantando os olhos de maneira rápida para a ruiva, que deu de ombros, no reflexo do espelho. - Isso é bastante óbvio, Bucky. Eu não li a sua mente. 

— Porque você não lê mentes. - Concluiu para ela em tom de sugestão, o que a fez sorrir brevemente, abaixando os olhos. 

— Exatamente. 

Continuou a manusear a lâmina com agilidade e familiaridade, acostumado com o processo, mas sem pressa, ponderando o que Wanda havia dito. Era mais fácil encontrar o Soldado Invernal em si mesmo quando enxergava os próprios olhos sob as sombras dos cabelos na altura dos ombros. 

Havia sido apenas ele por cerca de setenta anos, de forma que aquele visual pertencia ao Soldado Invernal e pouco tinha a ver com Bucky, que, por outro lado, era de um tempo onde os cabelos compridos não tinham lugar. Então, preferia realmente como estava também, era sim uma forma de se afastar de seu outro lado e das coisas que fez, ao menos superficialmente. 

— Assim não preciso vê-lo no espelho todos os dias, além de senti-lo. - Ela apenas meneou a cabeça, parecendo pensativa. Por isso, enquanto voltava a se concentrar nas extremidades de seu rosto, alinhando a barba, quebrou o silêncio. - O que aconteceu na noite da tempestade, realmente? 

Se lembrava de cada sensação daquela noite, da tempestade atingindo seu rosto com força, da escuridão engolindo tudo ao redor sendo cortada pelos relâmpagos, do tom dela completamente distante à procura de algo etéreo e, da dor lancinante quando a adaga o atingiu pelas costas e, finalmente, da maneira como ela se transformou em Feiticeira Escarlate bem à sua frente. Ela era uma visão mais poderosa e pesada do que qualquer coisa que já tinha presenciado, mesmo que não estivesse em condições favoráveis. A ouviu suspirar e colocar os braços às costas, digerindo a pergunta e pensando nas próprias palavras. 

— Se lembra quando disse que achava que as pessoas ligadas à Chthon queriam o livro para ter acesso a ele? - Bucky confirmou com um aceno, no que ela deu de ombros e voltou a encará-lo pelo espelho. - Não é mais uma teoria. 

— Como sabe disso? 

— Na noite da tempestade, consegui deter um dos criados do Alto Revolucionário… É como chamam seu líder ou algo do tipo. - Ela explicou quando enxergou sua pergunta antes de fazê-la. - Eles realmente querem o Livro para conseguir libertar Chthon, que, em sua essência é um demônio. Ou… Se não ele em si, ao menos seus poderes. 

— Então… Você não pode deixar que eles tenham acesso ao Livro. 

— Não. - Ela anuiu, apertando os lábios. - São como um culto alimentado pelo Senhor deles e esse poder está sendo… Minado, de certa forma, pelo esgotamento de sua magia. Estão viciados no que ele pode proporcionar a eles. 

—  E a pessoa que você capturou… Ela está bem?

Wanda estreitou os olhos e pôde até notar como ela empinou o nariz de maneira orgulhosa, não aprovando a pergunta e a sugestão do que dissera. 

— Está viva. 

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela o deu às costas e fechou a porta de madeira do banheiro de maneira seca, o que o surpreendeu por um um momento até soltar um riso baixo pela reação. 

O humor dela estava por um fio naquele dia e, embora isso não fosse novidade, ainda assim, Wanda parecia mais acessível e menos distante do que geralmente era, o que o deixou satisfeito. Não sabia aonde isso poderia levá-los, mas o deixava extremamente curioso. 


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Notas finais do capítulo

Acho que já deu pra perceber que ABSOLUTAMENTE AMO cenas no banheiro né? (E já adianto que vai ter mais durante a fic rs)

Enfim, Bucky segue em recuperação e Wanda está, claramente, mais aberta com ele, inclusive a respeito dos acontecimentos relacionados a Montanha. Me deixem saber se já tinham imaginado algo do tipo sobre as coisas místicas que o cercam, porque é uma parte que tbm vai se desenvolver leeentamente!

Espero que estejam curtindo a história e esses dois cada vez mais, assim como adoro escrevê-los, e me deixem saber suas considerações, é sempre importante e interessante saber as impressões de vocês!

Até breve! ♥



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