The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 27
Capítulo 26




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806749/chapter/27

Sua mobilidade já estava parcialmente melhor, mas se sentia particularmente enjoado em determinados momentos do dia. Wanda disse que Agatha antecipou o efeito colateral do veneno e havia deixado um tônico preparado para situações desse tipo. 

Se perguntou se ela estava dizendo “tônico” para não dizer “poção”? O questionamento o intrigou enquanto a via andar de um lado a outro ajeitando o que sequer precisava ser ajeitado na cozinha. Queria também perguntar mais sobre Agatha e o ponto de vista dela quanto ao Hex, além daquela ideia de “procurar” as crianças, Billy e Tommy.

Tudo bem, era um tanto romântica a intenção de buscar suas crianças, onde quer que elas tivessem ido após o fim daquela realidade fabricada, mas, fundamentalmente, a mesma era forjada a partir dos poderes de Wanda. Como ela poderia ser capaz de procurá-los ao redor, se os essencialmente faziam parte de si mesma?

De repente, parecendo sentir seu olhar pesado em questionamentos ou mesmo notar a direção de seus pensamentos, como um radar, Wanda o olhou, um brilho sério emanando dos orbes esverdeados enquanto o analisava de volta distraindo-se do processo de secar uma bandeja de cobre. 

— O que foi? - Ela perguntou, curiosamente, no que ele somente levantou as sobrancelhas. 

— Nada. 

A observou, com cuidado, colocar o objeto sobre a bancada e se voltar de vez a Bucky, parecendo incomodada. 

— Sabe… Não posso ler sua mente, mas eu sinto… O conflito. - Se fosse capaz de corar àquela altura da vida, ele tinha certeza estaria sob o olhar dela. - É assim que sei quando está remoendo algo, especialmente quando relacionado a mim. 

Simplesmente, detestava toda aquela consciência de Wanda sobre ele e sua mente, como se o dominasse por todos os lados sem deixar espaço para qualquer outra coisa. Evitando um suspiro, apenas se apoiou um pouco melhor contra a cadeira. 

— Não há nada que eu queira compartilhar neste momento. 

Percebeu como ela notou, imediatamente, o pequeno desafio: respeitar a privacidade de sua mente ou saber porquê o conflito se instalava nele, começando a criar raízes. O crispar de lábios da ruiva não foi discreto e a viu voltar aos seus afazeres de forma descontente. 

Diferente dos outros dias, usava os cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo alto, mantendo os fios mais ajeitados do que de costume, o que fez Bucky se perguntar o que teria mudado. A atipicidade do gesto fez com que escorresse os olhos pela longa linha do pescoço alvo dela, distraidamente admirando como o perfil se angulava de forma que parecia desenho, assim como aquele pedaço de pele aparentava ser mais macio do que tinha ideia. 

Porém, Bucky desviou o olhar assim que notou a direção perigosa de seus pensamentos. O descontentamento correu dela para ele e, então, o ambiente soou pesado demais. 

— Quando estiver melhor, teremos de ir à cidade. - Ela anunciou, se voltando a ele em tom determinado e deixando de lado a toalha que usava e cruzando os braços altivamente. - Não é seguro para você ficar aqui sozinho, então terá que me acompanhar. 

— O que vai fazer na cidade?

— Preciso convencer a Bruxa Branca a me receber novamente. - Bucky teve certeza que franziu o cenho, demonstrando a total confusão daquele diálogo, o que ela logo notou. - A Bruxa Branca, a senhora que me mostrou a verdade sobre meus pais e Natalia. 

— Porque a chama de Bruxa Branca?

Ela deu de ombros, sem dar muita importância ao nome daquela senhora, que o avisara para manter a distância de Wanda logo quando chegara ali. Será que ela sabia algo sobre a facada? Tinha alguma ideia de que sua vida estaria, de fato, em perigo, se continuasse ali, com a “Garota da Montanha”, como resolveu continuar? Havia tanto que gostaria de saber, tantas respostas que gostaria de obter. 

— Ela prefere não se apresentar pelo nome. - Respondeu distraidamente. - Pelo o que entendi, bruxos como ela abandonam seus nomes de origem quando são iniciados nas artes esotéricas. 

— Isso não é muito prático. - Constatou, se perguntando como ela se apresentava na cidade. - Porque precisa ir até ela? 

Não tinha problema em acompanhá-la, mas sentia que perdia muito sobre essa realidade por não conhecer seus meandros e não gostava da sensação. Após tantos anos, a confiança era algo intrínseco a Bucky, ainda que desconhecesse o terreno quando agia. Contudo, tudo ali vinha sendo diferente e desafiador de um jeito muito específico. 

— Preciso da experiência que ela tem a oferecer. 

Wanda deixou a bancada de madeira atrás de si e se aproximou, de modo familiarizado, para checar o local do ferimento de adaga nas suas costas, levantando a parte de trás de sua camiseta sem dar muita importância ao gesto. Passara dias cuidando dele e estava acompanhando seu processo de cura com frequência, não havia porque se envergonhar. 

— O que quer dizer com isso? 

Com um suspiro, ela se acomodou à sua frente, na outra cabeceira da mesa, juntando as mãos enquanto parecia pensar e procurar as palavras certas. A tarde havia se transformado em noite lá fora e a pouca iluminação da cabana tornava os olhos esverdeados um tanto enevoados, talvez um reflexo de como a própria mente da ruiva se encontrava.

— Mesmo que eu tenha conseguido deter um servo do Alto Revolucionário, não é o bastante. Sinto que o cerco está se fechando neste lugar. - Ela direcionou o olhar pesado para o lado de fora da cabana. - Às vezes, à noite, quando está dormindo e tudo se encontra em completo silêncio, quase sou capaz de ouvir vozes sussurrando ao redor, do lado de fora, tramando contra mim, como fizeram para acreditar que fosse a minha mãe lá fora. 

Não imaginava que era assim que ela se sentia quando, inevitavelmente, se deixava levar pelo cansaço que o sono o provocava em horários nada comuns, especialmente por conta do efeito colateral do veneno. 

— Entendo. 

— Se não fosse você, eu teria caído na armadilha naquela noite. - Ouviu o agradecimento no tom baixo dela, sem que precisasse realmente ouvir. Wanda estava cuidando dele como forma de retribuição e não parecia reclamar nem um pouco. Pelo contrário, parecia muito ofendida que tivesse se ferido de verdade, que tivesse ficado à beira da morte por conta de algo que nem compreendia direito… Por causa dela. - Então, tenho que estudar a melhor forma de proteger o Darkhold, mantê-lo longe das mãos de qualquer um que tente usá-lo para despertar Chthon, e também… 

Ela se interrompeu, abruptamente, os dedos se contorcendo uns contra os outros sobre a superfície de madeira da mesa. 

— O quê? 

— E também conseguir visualizar melhor o caminho até meus filhos. - Ela completou em tom baixo e Bucky sentiu algo dentro de si afundar em resignação. Algo desconhecido e até então inexplorado. Enquanto Wanda estivesse obstinada na ideia de ter sua família de volta, custe o que custar, para tentar viver aquilo que parecia ser um sonho retirado de um desses filmes com finais felizes e perfeitos, não estaria em paz. A certeza disso o tragava como poucas coisas na vida, pois não queria vê-la seguir por um caminho que parecia deixá-la ainda mais vulnerável. - Estou estudando desde que cheguei e fiz alguma evolução, mas… Eu preciso da experiência de alguém que conhece, de verdade, a realidade mística e as consequências reais do que eu quero alcançar. 

O sargento apenas anuiu, prolongando o silêncio de maneira pesada entre eles. Nunca tinha conversado com ela realmente sobre aquele plano. Talvez, nunca tivesse ficado tão claro que ela queria encontrar uma forma de achá-los onde quer que estivessem, especialmente porque não sabia como, mas, cada vez mais, se firmava contra aquela decisão pouco natural de Wanda. 

Para além de Visão, desaparecido com o fim do Hex, Billy e Tommy não eram reais e mesmo a mente poderosa dela não seria capaz de fazê-los ser. Não sem consequências, tinha vivido o bastante para saber que ações daquele tipo não saiam de graça para os envolvidos, como fossem contra a própria natureza. 

— Wanda… - Elaborou lentamente, tentando tatear o território e manter o tom ameno entre eles. - Você não tem medo? De se corromper? Se deixar levar pela escuridão do Darkhold? 

— Eu tenho um propósito. - Bucky se via cada vez mais especialista nas reações da ruiva e apenas por isso pode notar aquele toque defensivo na forma como calculou ao se colocar de pé e ajeitou a cadeira junto à mesa. 

— Você não me deixou tocá-lo. - Lembrou. - Não me deixou colocar a mão no Livro. Disse que havia “alma demais” em mim. 

— Apesar do soro, você é humano. Estaria muito mais vulnerável aos seus efeitos do que eu. - Ela explicou e, embora o tom fosse controlado, ainda parecia um tanto incerta, o que o fez seguir questionando, pois sentia estar no caminho certo. 

— Ser bruxa ou estar bruxa… Não a faz menos repleta de sentimentos e fraquezas essencialmente humanos, Wanda. 

Wanda apenas o encarou por um instante e abaixou a cabeça, parecendo realmente considerar seu ponto por aqueles dez segundos de silêncio. Sabia que não podia estar tão errado e que ela não poderia ser tão imune assim a algo tão poderoso quanto aquele Livro demonstrava ser. Imediatamente se lembrou de como ela parecia cansada quando Sam e ele chegaram na cabana, semanas antes. 

Havia a tal projeção astral, mas seria apenas isso? E como ela aprendera a controlar e manter aquele tipo de poder, sendo que descobrira ser bruxa há tão pouco tempo? Então, ela respirou fundo e lhe deu às costas, indo direto para o seu quarto enquanto falava:

— Na próxima Sexta-feira 13, esta semana, Tanier estará repleta de comemorações folclóricas. Vai ser bom para não ter a atenção sobre nós. 

A ruiva marcou e fechou a porta, batendo-a secamente atrás de si, no que ele estreitou os olhos para a óbvia e evasiva postura defensiva da mulher. 

— Ok. - Murmurou para si mesmo. - Boa conversa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Janeiro não termina, portanto aqui estou eu com mais atualizaçõesss!!

Cada vez mais, ambos estão construindo um entendimento sobre o outro e criando opiniões também, afinal não é como se eles se conhecessem de verdade. E eu tô amando desenvolver cada detalhe disso!

Agora, com a recuperação do Bucky, eles vão pra outra direção, então me contem se estão gostando de como eles estão!

Muito, muito obrigada a quem está comentando, tá sendo muito especial escrever essa fic e tbm falar sobre o aprofundamento desses dois, além de que os comentários são muito importantes pra nos motivar!

PS. Não deixem de ler Agridoce e Lover, que são sobre eles!

Até breve ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Hurting. The Healing. The Loving." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.