De repente no futuro escrita por WinnieCooper, Laura Vieira


Capítulo 6
Mamães corujas




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— Ela está mais pálida que um fantasma. Será que minha irmã morreu? 

— A mamãe morreu?! 

— Não, Júnior, ela está respirando. Venha pro colo da vovó. 

— Não seja dramática Bianca, vai assustar seu sobrinho.

— Oras, papai, eu disse sem pensar. Mas não seria melhor chamar o Dr Oswaldir?

— Deve ter sido uma queda de pressão, logo ela acorda. 

— Mas eu sei como acordá meu favo de mel professor. 

Petruchio foi até o armário de Fátima e pegou um perfume, colocou um pouco num lenço que Batista carregava e começou a passar perto do nariz da esposa. 

Catarina começou a tossir e despertou. 

— O que é isso?

— Mamãe tá viva! - Júnior saiu do colo de Joana e foi abraçar a mãe pelo braço esquerdo.

— É claro que a mamãe tá viva seu chorão. - Clara implicou com o irmão, mas correu para abraçar a mãe pelo braço direito. Catarina começou a acariciar o cabelo de ambos ao mesmo tempo meio desajeitada.

— Você desmaiou. - Bianca explicou. 

— Ocê anda comendo pouco, hoje nem almoçou direito. - Petruchio comentou, andava observando ela em todos seus atos. 

— …É que a comida me deixou um pouco enjoada. - ela arregalou os olhos diante da sua própria fala e se lembrou do porquê do desmaio. 

— Eu acho melhor nois voltá pra casa. 

Ela concordou com a cabeça enquanto ainda fazia carinho no cabelo dos filhos. 

Se despediu de todos, garantiu a Bianca que estava bem, ela avisou que telefonava para a fazenda mais tarde para garantir. 

Catarina ficou muda durante o caminho todo, pareceu nem ouvir os filhos discutindo no banco de trás, Petruchio dirigia enquanto tentava fazer ambos pararem de brigar e olhava de rabo de olho para ela preocupado. 

Chegaram na fazenda e ele pediu a Neca para ficar de olho nos gêmeos. Resolveu conversar com a suposta esposa quando a viu ir para o quarto ainda em silêncio. 

— Aconteceu alguma coisa? 

Catarina olhou para ele pensativa, não sabia se lhe contava o que tinha descoberto. 

— Ocê tava bem nervosa na casa do seu pai.

— Estar nervosa é minha feição natural, ainda não percebeu? - respondeu brava. 

— Deve ser memo! - ele exclamou chateado. Catarina ficava sempre na defensiva, parecia ter uma casca dura demais para perfurar. - Memo assim, alguma coisa aconteceu que ocê volto triste de lá. 

— Triste não é bem a palavra. Voltei conformada.

— Conformada com o que? - estava preocupado com ela. Catarina parecia diferente. 

— Com essa vida! Não percebeu que eu desmaiei no meu quarto? Não percebeu que nem assim voltei a minha antiga realidade? Não percebeu que estamos presos aqui para sempre e vou ter que aprender a viver nessa fazendola caindo aos pedaços? Ainda não percebeu isso!? 

Ela gritou cada frase extremamente brava e frustrada ao mesmo tempo, Petruchio fechou o rosto pra ela chateado por suas falas, mas respondeu firme, parecia engasgado, precisava falar. 

— Eu percebi faiz é tempo isso tudo, era ocê que tinha esperanças de voltá, eu tô bem feliz vivendo esse futuro com meus dois filhos nessa fazenda que não tá mais caindo aos pedaços, que progride e prospera, é ocê que não percebeu isso ainda! 

E saiu pisando alto do quarto. Catarina gritou raivosa. Sentiu uma lágrima descer no canto de seu olho. Não aguentava mais tudo aquilo. E agora ela estava grávida. Grávida! 

— Como posso estar grávida? - olhou para a galinha que estava empoleirada no baú da cama. - Carijó, acha que isso é possível? Eu nunca… Eu nunca… Eu sei, tomei o corpo emprestado de sua dona então é completamente possível. Mas…

Ela olhou ao redor, pensou que como não era a primeira vez de uma gravidez talvez a anterior estivesse escrita no diário. Correu para procurar a palavra gravidez nos escritos. Logo encontrou relatos dos primeiros sintomas e a descoberta da gravidez por Petruchio. 

"...ele está radiante, o olho dele nunca brilhou dessa maneira antes, me olha como se eu estivesse lhe dando o presente mais precioso do mundo todo e de fato é, beijou minha mão e nos deu um jantar somente para nós dois (meio improvisado depois de expulsar todos da mesa). Algo que nunca vivenciamos antes. Um jantar a dois. Sei que estávamos brigados, mas sempre estamos, sei que ele traiu minha confiança aceitando dinheiro emprestado da Marcela, mas preciso acreditar nele, aceitou esse dinheiro para salvar nossa gente, estávamos quase passando fome. A verdade é que é muito fácil perdoá-lo. Ainda mais quando ele me olha com os olhos brilhantes e me agradece o tempo todo pelo presente que estou lhe dando beijando carinhosamente minha mão. Começamos a discutir no final do dia por causa dos nomes e do fato que ele insiste em dizer que será um menino que terá o nome dele. Tenho certeza que é uma menina e expliquei para ele que jamais daria o nome do pai a um filho meu, que achava a tradição mais machista do mundo e que sendo assim, se fosse menina, ela deveria ter o meu nome. Ele riu, obviamente, me chamou de maluca por querer meu nome numa suposta filha e me contou uma história do porquê gostava do nome Clara, que poderia ser Clara o nome por causa da história da fazenda, o quanto seus avós lutaram por esse pedaço de terra, o quanto seus pais lutaram juntos depois e a forma como santa Clara sempre esteve presente de alguma maneira. Não sei, mas a sonoridade dele falando Clara me deixou tão tocada. Eu nunca pensei em nome de filhos, nunca quis sequer ter algum, mas pensando agora, se for menina, talvez eu queira o nome da minha mãe nela: Laura. Mas minha mãe me alertou para não casar, ela ficaria feliz com essa homenagem? Ao mesmo tempo eu fico imaginando a tal Clara correndo pela fazenda, Petruchio a chamando e sendo um pai maravilhoso, que tenho certeza que será… pronto, me transformei na Bianca. Estou apaixonada imaginando um futuro que ainda nem existe. O que sei é que eu escolherei o nome, jamais terei um filho com o nome do pai e não será Clara".

— Mamãe! - Catarina olhou para a filha que havia surgido em seu quarto na sua frente feito mágica. A garota que jamais se chamaria Clara estava brava. - Você brigou com o papai, não foi? 

Os olhos dela estavam raivosos, mas também cheios de lágrimas, Clara quase chorava. 

— Não briguei com ele, foi seu pai que brigou comigo. - respondeu como se fosse uma menina mimada e não a adulta da história.

— Mamãe, pede desculpas! 

— Eu?

— Papai foi pro galpão de queijo. Vi ele chorando! Vai pedir desculpas sim! 

— Seu pai estava chorando? 

— …Quando eu e Júnior briga a mamãe manda a gente fazer as pazes. Então você vai fazer as pazes logo com o papai. 

Clara começou a empurrar ela com a maior força que conseguiu reunir, Catarina dava pequenos passos empurrada pela garota, até que se deu por vencida e ergueu os braços no ar se rendendo. 

— Falarei com ele!

— Pede desculpas. - ordenou com os braços cruzados na frente do corpo e a testa franzida. 

Catarina comprovava a preferência da filha pelo pai em relação a si própria. 

Ela caminhou para fora de casa e pegou o caminho para o galpão de queijos. Não tinha reparado naquela área da fazenda ainda. Percebeu que era quase um organismo vivo e funcionava numa ordem que não apresentava falhas. Cada funcionário sabia exatamente o que fazer, além de parecerem estar se divertindo em meio as tarefas. Riam e conversavam. Percebeu Petruchio sorrindo com os olhos brilhantes conversando com uma mulher jovem demais, simpática demais e bonita demais para seu gosto. 

— Julião Petruchio, o que está fazendo?! - perguntou com o rosto nada feliz. A moça pediu licença e saiu de perto de ambos. 

— Arriégua o que tá aconteceno? - ele ajeitou seu chapéu na cabeça. 

— Está acontecendo que sua filha me falou que estava chorando e vim ver como estava e me deparo com você bem feliz e nada triste. 

— Mas eu num tava chorando não. 

— Percebi! - Catarina começou a dar as costas para ele desgostosa a fim de entrar na casa. Mas ele segurou seu braço gentilmente. 

— Fica um pouquinho aqui fora. Ocê nunca sai daquele quarto. 

— E eu vou fazer o que aqui fora? 

— Vem ver como nois faiz o queijo da fazenda, como a gente ampliou os negócio e agora fazemos até requeijão de corte, até doce de leite. É tão bonito.

Talvez ela pudesse conhecer um pouco a realidade da outra Catarina. Tentar entender como ela gostava de viver naquela fazenda, o porquê decidiu ser feliz naquela vida que não tinha nada a ver com seus princípios iniciais. 

Petruchio a guiou pelo galpão, começou a mostrar os preparos iniciais para o queijo, narrou as etapas e por fim mostrou o queijo pronto. Ela achou tudo muito encantador, ver o leite se transformar no sustento da própria família e das diversas famílias que trabalhavam para eles. Por fim, Petruchio cortou um pedaço e entregou a ela:

— Come. 

— Provei ontem no café da manhã. É um pouco gorduroso demais para o meu gosto. 

— Mas eu bem vi ocê se esbaldando de queijo ontem, memo sendo gorduroso. Come. 

Ela deu dê ombros e pegou o queijo da mão dele, colocou na boca e sentiu um sabor único, tão macio que desfazia em sua boca, era maravilhoso e ela começava a entender porque todos queriam comprar aquele queijo.

— Era a receita de meu pai, que por sua vez pegou a receita de meu avô. Desde que eu era garotinho meu pai me fazia prometer que ia cuidar da fazenda quando ele partisse, pra não deixar tudo isso se acabar. E ver como tudo prosperou nesse futuro, me deixa emocionado e feliz por demais. Deve ser essa emoção que a Clara viu e te falou. Eu num tava chorando. Tava emocionado. Vir pro galpão de produção sempre me deixa emocionado. 

Ela concordou com a cabeça pensando o quanto tudo devia ser motivo de orgulho para ele.

— …Afinal você queria casar comigo para receber o dote e salvar essa fazenda, não é? No fim o plano deu certo. - ela comentou pegando outro pedaço de queijo pra si. 

— Mas eu não queria casar só por causa do dote não. 

— Oras Petruchio, já estamos vivendo esse futuro estranho, não precisa tentar me convencer que se casou comigo porque me… deixe-me pensar… me amava? - ela começou a rir. - Isso é patético até mesmo para você. Não seja a Bianca. - ela respondeu sem paciência.

Petruchio se aproximou dela, a segurou nos braços e fez com que o rosto de Catarina se aproximasse do seu drasticamente e de repente. A respiração dele estava se misturando com a dela e Catarina sabia que o beijo era inevitável. Fechou seus olhos esperando. Quando Petruchio percebeu ela quase indefesa e completamente rendida quis a beijar desesperadamente. Poderia concluir o ato, seria tão fácil, ela iria retribuir e depois se fingir de ofendida, talvez lhe desse um tapa no rosto como na noite em que a pediu em casamento, lhe bateria, xingaria e falaria que o acordo deles é um relacionamento sem beijos, ele responderia rindo que ela o beijou de volta e que mentir a si mesma não poderia. Seria um embate costumeiro entre ambos, quase rotineiro. Mas ele tinha um plano, resistiu ao beijo e se afastou da mesma forma que havia se aproximado: drasticamente e de repente. 

Catarina abriu os olhos e deu dois passos para trás, sentiu suas bochechas vermelhas, sua respiração estava ofegante, mesmo sem ter dado beijo algum. Efeito dos braços de Petruchio envolta de si. 

— Respeitei o acordo da gente não se beijar. - respondeu percebendo o quanto ela estava abalada pelo quase beijo. 

— Não faz mais que a obrigação respeitando o limite que coloquei entre a gente. - ela respondeu sussurrando observando a boca dele. 

— Até porque ocê não é mais minha noiva. - ele respondeu também encarando a boca dela. 

— Exatamente. 

Catarina tentou se recompor, começou a reparar na fazenda, observou ao longe o nome do lugar e mudou de assunto.

— Clara exigiu que eu pedisse desculpas a você. Só porque achou que tivéssemos brigado porque te viu chorando. 

— É realmente a filhinha de papai. - Petruchio sorriu triunfante. 

— Não acha o nome dela, de nossa filha, quer dizer, nossa filha nessa realidade, bem peculiar? É igual o nome da fazenda. 

Petruchio começou a pensar, logo respondeu a ela com um sorriso nostálgico no rosto. 

— Santa Clara sempre teve presente na minha família, por isso o nome da fazenda, minha avó era muito devota. Acho que é um nome que significa demais pra mim para estar nela. Eu imagino uma filha com nome Clara igualzinha a ela. Além disso, ela parece demais minha mãe. 

— Parece? - nunca ouvia ele falar sobre seus pais. Estava curiosa.

— …Minha mãe tinha os cabelo enrolado igualzim os dela, era esperta, veio de uma família rica, tinha estudo, casou com meu pai por amor, então ela perdeu todo direito de ser filha de meu avô. A herança ficou toda com meu tio Cornélio, mas nada disso importou. Minha mãe e meu pai eram feitos como um só, quando um tava triste, o outro entristecia também, quando um tava feliz o outro se enchia de alegria. Lutaram juntos aqui na fazenda, em meio as dificuldades e prosperidades. Ela me ensinou a ler, me ensinou a matemática, me ensinou a como tratar bem uma dama, a nunca forçar mulher que seje a fazer o que ela não quer. E eu cresci vendo esse companheirismo deles. Quando minha mãe ficou doente meu pai enlouqueceu, vivia falando que não ia conseguir viver um dia sem ela. Ele morreu de repente uma semana antes dela morrer. Foi horrível para mim, mas eu acho uma história bonita por demais.

Catarina quis chegar perto dele e o abraçar, sua mãe teve um casamento frustrado, era infeliz, nunca lhe deu a experiência de uma família completa como o que Petruchio teve. Apesar de todo dinheiro que tinha, morreu infeliz. 

— Eu vejo muito ela na Clara, a minha mãe, essa vontade que ela tem memo criança de unir a família. Menos o gênio, o gênio é seu por inteiro.

— Nunca me falou sobre seus pais antes. - foi o máximo que conseguiu falar para lhe consolar. 

— A gente também nunca que parou pra conversar antes. - ele deu dê ombros, abaixou a cabeça e ajeitou o chapéu, quase saia do galpão de queijos.

— É o motivo do nome dela, todo esse significado importante para a fazenda, Clara. - ela negou com a cabeça pensando, não queria que ele encerrasse o assunto - Eu imaginava o nome de minha mãe numa filha minha. - deixou escapar. 

— Então cogitou ter filho comigo um dia? Eu sabia. - ele sorriu triunfante.

— É claro que não! Esqueça! - ela voltou a cruzar os braços, estava quase saindo do galpão novamente, mas seus olhos pousaram no doce de leite e uma vontade começou a preencher sua garganta. Estava salivando. 

Petruchio notou logo cortou um pedaço para ela. 

— Tá fresquinho, prova. 

Ela não negou dessa vez e colocou o pedaço de uma vez em sua boca, o sabor preencheu por completo e quase podia sentir seu bebê agradecendo a regalia. Logo arregalou os olhos lembrando da recente descoberta. 

— Gostou? 

Ela olhou para Petruchio paralisada. Precisava lhe contar o que havia descoberto. Mas ele estava lhe dando mais doce de leite e ela não era capaz de negar o doce. Comeu até se sentir enjoada. 

Voltou para dentro da casa e foi para seu quarto. No meio do caminho esbarrou no filho. 

— Mamãe, brinca comigo? 

Catarina olhou para o filho sem saber o que lhe responder. 

— Brincar de que? - perguntou. 

— De bola ué. Mamãe sempre brinca de bola comigo. 

Catarina arregalou os olhos imaginando a si própria chutando uma bola com os sapatos finos que vestia, também lembrou que estava grávida e que a possível bolada em si não era algo bom. 

— Sabe o que é filho? Mamãe não consegue jogar hoje, estou um pouco cansada, por que não chama a Clara? 

Ele fechou o rosto chateado.

— Clara é chata, quero brincar com a mamãe. 

— Hum… e se a gente, brincar de desenhar então. 

Ele concordou com a cabeça feliz. Logo estavam sentados no chão da sala apoiados na mesinha de centro com papel e lápis de cor. Catarina desenhava uma paisagem enquanto observava o filho concentrado desenhando. 

Ele fazia um garoto jogando bola ao lado de outro garoto menor. 

— Você gosta de jogar futebol, não é?

Ele concordou com a cabeça sorrindo. 

— E quem é esse jogando com você? 

— Meu irmão…

— Seu irmão? - Catarina sentiu um frio passando por sua espinha. 

— Sim mamãe, prometeu que ia dar um irmão pra mim. 

— Mas dar uma vida, um irmão ou irmã para você, é bem maior que um presente qualquer que se compra em loja… - ela refletiu como se o menino a sua frente entendesse o que dizia. 

— Mas eu pedi pro papai do céu, com todo meu coração, e a mamãe sempre fala que se pedir com o coração ele dá pra gente. 

Ele encarou a mãe com os olhos tristes, Catarina acariciou suas bochechas, não resistia em fazer carinho nos filhos. 

— Papai do céu deve te amar muito. - Ela comentou, mas o garoto não entendeu nada. Ficou mais uns minutos com o filho quando resolveu ir para seu quarto. Quando chegou observou Neca arrumando a cama. 

— Ara me desculpa dona Catarina, não deu tempo de eu arrumar o quarto d'oceis hoje cedo. 

— Tudo bem. - Catarina se encaminhou para a cadeira de balanço ainda pensativa. Quase começou a acariciar sua barriga quando observou a mulher. 

— Neca, promete não gritar? 

— Eu gritar? 

— Estou grávida. - disse de uma vez com os olhos embargados. 

Neca abriu a boca num sorriso, seus olhos brilhavam e ela chegou perto da patroa e amiga. 

— Isso é tão bom dona Catarina. - se agachou na frente dela segurando sua mão. 

— Eu não sei se é bom Neca, eu não sei se é bom. - negou com a cabeça com a voz fina. - Tô me sentindo estranha, eu não queria esse bebê, eu me sinto insuficiente para esse bebê e o Petruchio parece tão bom. Para ele é tão natural ser pai. Eu não sei o que fazer. - chorava livremente conversando com ela, não sabia o porquê, mas era fácil se confessar com aquela senhora. Parecia uma amizade certeira, mesmo que só a conhecesse há dois dias. 

— Ara, mas isso é normal dona Catarina, lembra quando os gêmeos nasceram. A senhora apavorada que não sabia o que fazer? 

— Me lembre? Me lembre de tudo? Estou com tanto medo que esqueci tudo. 

— A senhora vivia brigando com seu Petruchio que os fios era seu e não dele. Aí a senhora viu o amor de mãe, sentiu todo amor pela aquelas duas crias pequenas que precisavam de cuidado. Não sabia como trocar fralda, mas aprendeu rápido, não sabia como encaixar a cabeça pra eles mamar, mas aprendeu, não sabia como acalentar das cólicas, mas só nos seus braços eles parava de chorar. A senhora é uma ótima mãe, é natural, virou uma mãe curuja de primeira e não duvido que com esse bebê vai ser a mema coisa. 

Catarina negou com a cabeça ainda chorando. 

— Mas a minha mãe, sempre me disse, que eu não devia me casar e eu sinto que eu estou fazendo algo muito errado, algo que ela não aprovaria. 

— Catarina, não pense assim. - Mimosa apareceu na porta. 

— Ara, veia mexeriqueira tava ouvino nossa conversa é? - Neca falou brava. 

— Eu estava entrando no quarto para guardar as roupas que acabei de passar. Não fale mal de minha pessoa dona Neca. Eu não sou mexeriqueira. - Mimosa se defendeu entrando no quarto, deixou as roupas na cama e se aproximou de Catarina. - Por que está tão aflita pensando em sua mãe Catarina? 

— Curiosa, depois diz que num é mexeriqueira. 

— Estou preocupada com a minha menina, mas continua com inveja de mim dona Neca? Depois de todos esses anos. 

— Ara, inté parece que tenho inveja de uma leitoa veia como a senhora. 

Catarina havia parado de chorar e olhava de uma para outra discutindo. Perdeu a paciência quando Mimosa voltou a retrucar com Neca e gritou: 

— Chega as duas! Estão preocupadas comigo ou não?! Se continuarem brigando vão fazer minha pressão subir e fará mal para o bebê! - ela passou a mão pela sua barriga preocupada. 

— Bebê? Você está grávida! - Mimosa gritou feliz e Catarina olhou brava para ela. 

— Não é possível que vocês não saibam guardar um segredo! Fale baixo! Petruchio não sabe. - sussurrou nervosa para Mimosa. 

— Petruchio ainda não sabe? E eu e Neca temos que manter segredo!? Ah não! Está parecendo a gravidez dos gêmeos. - Mimosa reclamou preocupada. 

— Mai eu lembrei daquela época também. 

— Daqui a pouco vai pedir pra gente preparar o jantar pra contar a ele. - Mimosa comentou com Neca como se não estivessem brigando segundos atrás. 

— O jantar vai dar errado e a gente vai ficar com fome. - Neca suspirou se lembrando o que aconteceu a última vez. 

— Não vou pedir para fazerem jantar nenhum, Petruchio não precisa saber que estou grávida, simples assim! 

Mimosa e Neca se encararam sem entender o que estava acontecendo. 

— Mas a senhora queria engravidar. - Neca voltou a afirmar. 

— Não era eu, era outra Catarina, essa Catarina respeita o pedido da mãe de não se casar ou ter filhos! - Catarina cruzou os braços na frente do corpo. Pelo menos a briga de Neca e Mimosa serviu para fazer ela parar de chorar e sofrer por uma realidade que não era sua. 

— A sua mãe queria se casar Catarina, não com seu pai, mas sim com o primo pobre no qual era apaixonada. Se esqueceu? - Mimosa falou chegando perto dela. - O seu avô a fez se casar com seu pai num casamento arranjado, por isso ela era tão infeliz, viveu uma vida que não era a que sonhou ou almejou, tudo por causa do dinheiro. 

— A minha mãe foi apaixonada por um homem? - perguntou a Mimosa, nunca imaginaria a mãe apaixonada. 

— Sim, não se sinta culpada em estar numa família que sua mãe nunca imaginou para você. Ela queria acima de tudo que fosse feliz. E isso eu tenho certeza que é. 

Catarina conversou mais uns minutos com Mimosa e Neca, as fez prometer que não iriam falar nada a Petruchio e que logo ela contaria tudo a ele. Ficou sozinha em seu quarto novamente, lembrou da história de amor que Petruchio havia contado de sua mãe e seu pai para ela há pouco, pensou em sua mãe que fora impossibilitada de viver seu amor. Eram histórias opostas e com finais diferentes. Ficou imaginando se tivesse sido criada em um ambiente com amor, como ela reagiria a casamentos? A palavra amor teria outro significado para ela? Pensou na Catarina daquela realidade, talvez ela compreendesse o que era o amor. Decidiu entendê-la, pegou seu diário e começou a folhear procurando algo relacionado a amor. 

"... Eu me apaixonei pelo Petruchio. Não como eu achava que era apaixonada por ele antes, desta vez é diferente… Ainda sinto ele chegando no quarto correndo depois do parto checando se eu estava bem, os dois em seu braço e ele me encarando dizendo que fui gigante, que nossos filhos tinham a sorte de ter uma mãe como eu e me agradecendo por lhe dar seu maior presente: o transformar em pai. Talvez esteja mesmo no sangue, pois imagino que o pai dele tenha sido um pai maravilhoso e que tenha tido uma família saudável e feliz, pois ele exala amor, em cada gesto com as crianças. Foi numa manhã difícil entre choros que me apaixonei por ele. Ele fazia arrotar a Clara enquanto balançava o berço de Júnior com o pé, apesar dos choros ele sorria e contava uma história. A história era sobre uma mãe tão forte e poderosa que tinha dado a luz a duas preciosidades que o pai cuidava, foi nesse momento, sonolenta, o observando ao longe, cansada demais para levantar, que me apaixonei por ele. Assim, como quem cai no sono, de repente, profundamente e irreversivelmente. Petruchio abriu caminho e entrou por inteiro em meu coração quando se tornou pai". 

Catarina parou de ler quando percebeu que estava acariciando sua barriga. Não podia adiar muito tempo, ela não tinha o direito de esconder essa informação dele. Afinal, apesar de estar vivendo uma realidade que não era sua, sabia que aquele filho não era só dela, e depois de tudo o que havia visto e lido, não podia esconder de Petruchio uma criança que ele certamente amaria e protegeria como os gêmeos. 

 — Mimosa! Neca! - gritou do quarto. Ambas chegaram ao aposento esbaforidas. - Preparem um jantar especial, vou contar hoje para o Petruchio que estou grávida. 

 


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