De repente no futuro escrita por WinnieCooper, Laura Vieira


Capítulo 5
Visita a casa do vovô




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Catarina despertou com um sol escaldante lhe atingindo o rosto. Ergueu os braços no ar e começou a procurar seu dossel. Logo o achou e tampou o sol que insistia em lhe perturbar. Se ajeitou nas cobertas e começou a apalpar ao redor. Não havia dormido em sua cama e nem em seu quarto. O ar não tinha cheiro de grama e não havia galo cantando no lado de fora e nem o ressoar do ronco de Petruchio. Abriu os olhos automaticamente e vibrou.

— Estou em casa! Eu sabia! Eu estava certa! - levantou-se e correu para sua sacada, precisava ver com seus próprios olhos o jardim.

Abriu a porta mas tudo lá fora era escuro, uma luz negra que não permitia que ela enxergasse nada, nem mesmo um centímetro a frente de seu nariz. Não entendeu como foi despertada por um sol escaldante se ainda estava noite. Andou até a porta de seu quarto e abriu. A mesma escuridão da janela encheu seus olhos e ela não conseguiu prosseguir com seu passo. Parecia haver uma parede que a impedia de sair do quarto.

— …Você se trancou dentro de si mesma Catarina, está feliz? - a voz de Bianca soou no quarto. Catarina correu para o banheiro anexado ao cômodo, mas não achou a irmã em canto algum. - Viveu dentro de suas próprias convicções, dentro de sua bolha do que era melhor para você e só para você e acabou sozinha.

A voz de Bianca voltou a soar, Catarina olhou para o teto tentando entender da onde vinha.

— …E eu terminei como você, sem realizar meu sonho de ter uma família, de casar e ter filhos, por causa de você. Somente por causa de você!

A voz de Bianca parecia amplificada no quarto, como se estivesse saindo de uma vitrola. Entrava em seu cérebro e parecia a enlouquecer. Tampou seus ouvidos com a palma da mão com a maior força que conseguiu reunir.

— Você arruinou a sua vida e a minha também!

Quis gritar, dizer que ela não havia feito nada. Mas sua voz não saía, parecia presa dentro de si.

— Eu te odeio Catarina, eu te odeio…

Começou a se mexer e a tampar mais forte seu ouvido, a voz da irmã entrando dentro de seu cérebro num eco maligno: "eu te odeio, eu te odeio, eu te odeio", martelando como culpa. E então ela acordou.

Catarina respirava forte, olhou para o lado e viu Petruchio dormindo um sono tranquilo, roncava. Ainda estava na fazenda, no mesmo lugar em que dormiu. Percebeu que suava e seu coração estava disparado. Olhou para a janela do cômodo e notou que ainda estava noite.

Levantou-se e se encaminhou até o banheiro, jogou água em seu rosto para ver se acordava do pesadelo que ainda estava em sua memória. A voz de Bianca parecia a sondar dizendo que ela havia arruinado sua vida.

Nada o que fazia tirava Bianca de seus pensamentos. Precisava distrair sua mente, foi até a cômoda do quarto e sentou-se

Não, não era só o dia mudar que tudo se resolvia. Tudo era maior do que isso. Ela parecia presa no tempo, devia fazer algo para mudar sua realidade? O que tinha que fazer para voltar ao que era? Começou a mexer nos cadernos de anotações e se lembrou do diário que achou no dia anterior.

Pegou o objeto e foi se sentar na cadeira de balanço perto da janela, começou a folhear para ver se encontrava novas informações escritas por si mesma, foi quando reparou na galinha a olhando.

— Sou igual sua dona, mas não sou ela. - a galinha mexeu o pescoço para o lado e emitiu um cacarejo. - Você sabe, não é? Você sabe que não sou ela.

Catarina se lembrou que nunca havia tido nenhum tipo de animal de estimação em sua infância, seu pai havia sumido com o gato que um dia apareceu em sua casa. Naquele momento olhando para a galinha, pensou que os animais enxergavam além dos humanos. Eles sentiam e entendiam coisas que nenhum ser humano era capaz de sentir, como o amor que aquela galinha tinha por sua dona, que não era ela. Começou a fazer carinho nas penas dela, apesar de ter medo de a bicar, estava agradecida por alguém a compreender naquela fazenda.

— …Eu estou confusa, sabe? Não, que não goste daqui, ou das crianças, mas eu nunca quis isso na minha vida, meus sonhos sempre foram outros e eu prometi a minha mãe que jamais me casaria ou confiaria em homem algum… - Carijó emitiu outro cacarejo. - Sei que parece loucura, mas é como se estivesse traindo toda confiança e promessa que fiz a ela nessa realidade alternativa em que vivo...

Ficou se confessando a galinha, também disse que se sentia culpada por causa de Bianca e lhe contou o sonho vívido que tinha acabado de ter. Por fim, colocou ela em seu colo sem medo e começou a folhear o diário buscando a palavra Bianca.

"...Bianca veio hoje na fazenda, estava tão triste por tudo o que papai anda exigindo dela, ela não quer se casar com Heitor porque ama o professor, ameacei papai de que Bianca começaria a morar comigo se ele não parasse de exigir um casamento sem amor. Eu, exigindo um casamento feliz e com amor para minha irmã. Eu! Eu que até ontem não acreditava em homem nenhum e muito menos num casamento com amor. Eu!... Petruchio ficou do meu lado e mesmo triste vendo Bianca ir embora obedecendo a papai, eu me senti agradecida. Até poucas horas estávamos tendo uma das nossas piores brigas, mas depois que ele me apoiou e demonstrou que defenderia Bianca e enfrentaria meu pai eu quis agradecê-lo. Sim, eu fui até ele e desejei que ele me beijasse. Foi a primeira vez que aproximei meu rosto do dele, foi a primeira vez que iniciei o beijo. Era como me auto sabotar, eu o beijando e sentindo seus braços me abraçando, nossas bocas dançando uma melodia harmônica e o desejo eclodindo dentro de mim. É uma fome que emana pelo corpo e faz desejar por mais, mais do que jamais experimentei. Quando dei por mim toda rendida eu enlouqueci. Claro que descontei nele e o acusei de abusar de minha dor, sei também que fui eu que iniciei o beijo dessa vez e o safado sabe bem que eu gostei. Eu vou enlouquecer! Juro que vou enlouquecer até esse casamento de fachada terminar…"

Catarina parou de ler e olhou o marido dormindo tranquilamente na cama. Fazia tanto tempo que tinha o beijado pela última vez, quase havia se esquecido da sensação de impotência e desejo enquanto a barba lhe roçava o rosto e sentia seus lábios suaves pressionarem os seus. Imaginar ela iniciando um beijo, era quase impossível. Abanou a cabeça e voltou a folhear o caderno. Queria informações sobre Bianca e não sobre beijos.

"...Bianca vai noivar hoje, está radiante, seu vestido é lindo, seu sorriso o mais sincero e sua felicidade contagiante e genuína. Vejo ela se preparando e imaginando um futuro e sinto que fiz algo certo em minha vida, se depender de mim, Bianca vai ser a pessoa mais feliz e completa do mundo e eu? Eu vou estar bem longe daqui. O bebê que está agora em meu ventre é meu presente em meio a um futuro incerto e solitário. Pelo menos tenho esse filho que nunca quis ter e agora não me vejo sem, a tristeza é saber que ele vai crescer longe do pai. Ainda não consigo acreditar que Petruchio tenha nos abandonado para ir atrás de Marcela, ele sempre quis ter filhos, ou talvez fosse somente uma fachada, algo que ele falava para me ludibriar e  convencer sobre um casamento que nunca quis ter. Me convencer sobre uma família que nunca quis ter. Eu sinto falta dele… todos os dias… sinto falta das brigas com ele, da forma como ele me olhava, sinto falta do tom de voz dele, da risada escandalosa e do cheiro dele, eu sinto falta até dos roncos dele! nunca imaginei que pudesse sentir falta de alguém assim. Meu peito dói e chorar é fácil. Nunca terei isso novamente em minha vida e nem pretendo. O amor dói, minha mãe sempre teve razão".

Ela adormeceu depois de ler mais páginas sobre Bianca, descobriu que ela havia casado com o professor e não com Heitor. Realmente a nova realidade estava lhe pregando uma peça, Bianca sempre foi louca por Heitor e de repente se casava com o professor?

Petruchio acordou e percebeu que ela ainda estava na fazenda. Comemorou sua realidade casado com ela ainda estar presente. Chegou perto da suposta esposa e a chamou suavemente.

— Catarina, oh Catarina… acorda. - ela começou a mexer lentamente a cabeça. - Acorda meu favo de mel.

Ela era tão linda dormindo, parecia até uma gatinha e não uma onça como costumava ser. Percebeu que Carijó estava em seu colo, a mão posicionada levemente em cima da galinha indicava que havia feito carinho nela. Petruchio sorriu pensando que de alguma forma, bem singelamente, as coisas estavam mudando.

— Catarina… - ele aproximou sua mão do rosto dela, começou a acariciar, Catarina mexeu mais um pouco. - Acorda meu favo de mel.

Ela então abriu os olhos, o rosto dele tão próximo do seu, não se assustou, nem gritou, olhou para os lábios dele, os lábios que lia no diário pouco tempo atrás, estavam tão perto… tão perto. Será que a Catarina da outra realidade permitiria beijar aqueles lábios sem culpa num bom dia normal da vida de casada?

Petruchio não saiu de perto de Catarina, percebeu que a mulher olhava para seu lábio e não resistiu, chegou perto da boca dela, encostou as testas uma na outra… os lábios se roçando, já partilhavam o mesmo ar…

Era tão absurdo se imaginar num mundo em que desejasse aqueles lábios que a primeira coisa que fez quando viu Petruchio quase concretizando o beijo, foi empurrá-lo com suas duas mãos. 

— O que pensa que está fazendo?! - disse brava se levantando da cadeira. Petruchio havia caído de bunda no chão tamanho a força que ela reuniu para empurrá-lo.

Ele fungou chateado, não queria brigar com ela. Mas era mais forte que ele.

— Eu ia te beijar!

— Sabe que não pode me beijar!

— Mas a gente é casado!

— Nessa realidade! Nunca me casaria com você em qualquer outra realidade!

Ele negou com a cabeça sorrindo, Catarina odiava aquela cara de safado que ele tinha.

— Da sua boca pode sair escorpiões, mas eu vi ocê toda molinha, mansinha, me desejando agora pouco!

Catarina começou a respirar forte, trancou os dentes nervosa e disse:

— Eu nunca te desejaria! Nunca te beijaria e nunca teria um casamento com você!

— Então ocê apagaria tudo isso? - ele aprontou para fora da fazenda. - Apagaria nossos filho? Assim, simplesmente porque ocê nunca quis se casar comigo?

Ela cruzou os braços na frente do corpo e terminou a discussão.

— Está proibido de me beijar! O dia que começar a entender isso nosso acordo começará a dar certo!

— É pra eu entender? Entendo! - ele disse bravo começando a calçar suas botas para sair do quarto, queria ficar longe dela. - Entendo sim! Onça!

Ela rugiu quando viu ele se levantar para sair, pegou um vaso e jogou nele, acertando a porta.

Catarina passou a mão por seu rosto raivosa, desceu os dedos sem perceber para sua boca, segundos atrás estava sentindo a respiração de Petruchio perto de seus lábios, lembrou da descrição do beijo que ela deu em Petruchio no diário. Imaginou se naquela realidade ela sentiria vontade de iniciar um beijo com ele. Bagunçou seus cabelos tentando voltar a sua realidade. Olhou Carijó que estava empoleirada na janela.

— Se não sou a Catarina que é sua dona, não posso sentir como essa Catarina.

Imaginou sua outra versão, uma Catarina que iniciava um beijo com Petruchio, uma Catarina que galopava pela fazenda checando se tudo estava em ordem e contando o rebanho, uma Catarina que educava os filhos, principalmente um homem, para a sociedade, uma Catarina que escrevia para um dos principais jornais do país e era ouvida. Uma Catarina que nunca sequer chegou a imaginar que seria um dia.

— Mãe, o que eu faço? - olhou para o céu fora da janela. Não tinha respostas para os inúmeros questionamentos que passavam por sua cabeça.

— Mamãe, me ajude a colocar o sapato?

Catarina observou Clara entrar no cômodo com seu vestido amarelo todo desabotoado no corpo e um sapato preto a tiracolo.

— Por que está com esse vestido?

— Hoje é dia de missa mamãe, esqueceu? Mimosa e vô Calixto já tão pontos. E amanhã me deixou ir com o vestido amarelo na missa. Eu quero ir com ele.

— Ontem, não amanhã… - a corrigiu. - Mas eu não vou em missas. - nunca pisou numa igreja novamente depois da missa de sétimo dia de sua mãe, o lugar nunca lhe foi acolhedor.

Clara olhou para ela sem entender, mas começou a colocar sua meia sem esperar mais respostas da mãe, vendo a garota em apuros, Catarina começou a arrumá-la. Abotoou o vestido, calçou seus sapatos e começou a arrumar seus cabelos como se fizesse aquilo todos os dias e sem estranhamento algum. Parecia rotineiro. Clara balançava os pés no ar observando o rosto da mãe no espelho, ela parecia triste enquanto tentava definir seus cachos com os dedos e finalizava tudo com um arquinho no topo.

— Mamãe, depois a gente vai comer na casa do vovô, né?

Catarina olhou para ela confusa e não respondeu.

— Madrinha Bianca prometeu me trazer um presente hoje, lembra?

— Bianca? - Catarina olhou para a filha prestando atenção. - Sua tia Bianca estará nesse almoço?

— Mas toda vez que a gente vai na missa depois vamo na casa do vovô e a madrinha Bianca sempre tá lá. Hoje ela não pode tá lá?

— Vai sim! Ela vai estar lá sim. - sorriu pensando que era a oportunidade perfeita para ver a irmã, ainda mais depois de ler tanto sobre ela em seu antigo diário.

Foi até a cozinha e viu Petruchio cabisbaixo tomando seu café.

— Temos missa com as crianças, depois almoço na casa de papai. Vamos?

Petruchio estreitou os olhos sem entendê-la.

— A gente combinou de manter tudo na mais perfeita normalidade para que ninguém saiba que não lembramos de nada. Se recorda?

Logo estavam os quatro arrumados, Calixto e Mimosa tinham ido na frente de carroça, Petruchio, Catarina e os filhos de carro minutos depois. Catarina entrou na igreja e reparou em tudo, no altar perfeitamente arrumado e no padre que havia chegado até eles os cumprimentando.

Viu Dinorá com Cornélio na missa e cumprimentou ao longe sorridente, a amiga arregalou os olhos espantada pelo aceno dela, observou Serafim de mãos dadas com Dalva que estava muito bem arrumada, desta vez ela arregalou os olhos espantada.

Os gêmeos se comportaram mais que o normal para os dois na missa e ela imaginou se aquele passeio não era de fato algo rotineiro naquela realidade. Depois se encaminharam para a casa de seu pai.

A fachada continuava igual, o tempo havia descascado uma pintura ou outra, mas tudo parecia congelado no tempo em que vivia ali, observou Cosme no jardim que logo veio cumprimentá-los.

— Dona Catarina, seu Petruchio, como vão?

Clara e Júnior entraram correndo na frente, ouviu Júnior dizer:

— Vovó Joana! Vovó Joana!

Ela estreitou os olhos desconfiada e não deixou de falar em voz alta.

— Vovó Joana?

Seu estômago começou a revirar, um ódio subindo em seu pescoço.

— Dona Joana ama tanto essas crianças que acho que nem se fossem netos de sangue a ligação seria tão forte. - Cosme comentou sorrindo fazendo ela confirmar sua desconfiança.

— Papai se casou de novo! Mas eu não permito isso! - começou a marchar rapidamente para o interior da casa. Petruchio correu em seu encalço e segurou nos braços dela fazendo ela o olhar.

— Se acalme Catarina, lembra que nois tem que fingir que sabe de tudo.

— Que fingir! Que fingir! Papai não tem o direito de colocar outra mulher nessa casa no lugar que foi de minha mãe!

Ela se soltou dele raivosa e entrou batendo os pés na sala de estar.

— Papai! Papai!

Observou Batista sorrindo ao lado de Júnior, que conversava consigo, enquanto Clara falava sem parar com uma mulher ao lado, ela lhe dava atenção enquanto fazia carinho em seus cabelos.

— …Fátima nunca me deixou relar em seus cabelos, sempre foi uma menina moleca. Que bom que tenho uma netinha que me deixa fazer carinho em seus cabelos.

Catarina quase gritou que Clara não era sua neta coisa nenhum, mas foi impedida pela chegada de Fátima.

— Oras mãe, não é pra tanto. - Fátima desceu as escadas. - Sempre deixei que cuidasse de meus cabelos.

Catarina arregalou os olhos observando a menininha que dava aula até dias atrás em seus jardins, ela estava enorme, reconheceria ela em qualquer lugar apesar da idade.

— Você odiava que eu simplesmente penteasse eles. - Joana remendou.

— Catarina que saudades minha irmã. - Fátima chegou perto dela e a abraçou. - Eu queria falar com você, acha que tenho condições de ir para fora estudar engenharia? Papai diz que é uma profissão masculina, mas estava esperando você para brigar com ele.

— Papai? - Catarina exclamou abalada. Pensou que da mesma forma que sua filha chamava a mulher de seu pai de avó, Fátima chamava Batista de pai.

— Sabe que daqui dois anos ninguém me segura no Brasil, nosso irmão Jorginho está em Portugal estudando para virar advogado. Eu tenho o mesmo direito que ele de estudar fora. Briga com nosso pai, por favor!

— Fátima o dia mal começou e já está me dando gastrite. Por favor. - Batista pediu relando em seu estômago que parecia pegar fogo.

— Só estou brigando com o senhor porque insiste nessa ideia machista de não me dar uma profissão que gosto porque considera masculina! - Fátima marchou para perto dele nervosa, pegou um vaso ao lado e jogou no chão raivosa. - Saio do país daqui dois anos nem que tenha que pedir esmolas no meio da rua na europa.

— Aí minha gastrite!

— Fátima! Deixe seu pai em paz hoje, seus sobrinhos estão aqui. Sem brigas.

As crianças começaram a rir diante da cena e Catarina não sabia o que falar ou pensar, eram tantas informações jogadas na sua frente que não sabia como reagir.

Claramente Fátima chamou seu pai de pai, mas como era possível ele ser o mesmo pai que o dela? Ou depois do casamento com a tal de Joana os filhos dela começaram a considerar seu pai como pai?

— …Mamãe sempre diz que não posso jogar vaso em casa, mas ela sempre joga, por que a tia Fátima joga vaso e ninguém briga com ela?

— Ela não pode jogar vasos também, mas a adolescência é uma fase terrível. - Joana explicou a Clara sua recente dúvida.

— Mas certeza que tá no sangue. - Petruchio começou a rir depois de assistir todos os recentes acontecimentos. - Que carma heim seu Batista. Aqui se faiz, aqui se paga.

Petruchio não parava de rir. A cabeça de Catarina trabalhando a mil, as dúvidas se multiplicando.

— Pois eu quero jogar também! - Clara pegou um vaso na mão.

— Ocê vai jogar vaso na casa do vovô? Mamãe vai te colocar de castigo. - Júnior avisou, mas Clara jogou o objeto no chão.

— Clara! O que é isso?! Jogando coisas sem motivo na casa de seu avô? - Catarina não resistiu em lhe dar a bronca, ser uma mãe, mesmo que sem querer, era mais forte. Petruchio começou a rir de novo.

Batista chegou perto do genro e bateu a mão nos ombros dele.

— Sim é de sangue Petruchio, boa sorte com sua gastrite.

— Arriégua! - ele exclamou pensando que não era uma boa ideia ter uma mini cópia de Catarina que viraria adolescente logo em breve.

Joana pediu para a empregada limpar os cacos e tudo começou a se normalizar, os gêmeos foram brincar no quarto de brinquedo da casa montado para eles e Petruchio decidiu ir atrás, Fátima voltou ao seu quarto para estudar e Joana foi para a cozinha ver como estava o preparo do almoço, quando percebeu estava sozinha na sala com seu pai.

— E então minha filha, como anda a fazenda?

— Como o senhor teve a coragem de colocar outra mulher no lugar que foi de minha mãe?! - ela estava enfurecida com o pai. - Ninguém pode ocupar o lugar de mamãe nessa casa!

— O que está acontecendo com você minha filha? Sempre gostou de Joana, foi a principal incentivadora para que eu largasse a política e me rendesse ao meu amor por ela.

— Eu incentivando o senhor a se render ao seu amor? - colocou a sua mão no peito indignada. - Ninguém é digno o suficiente para ocupar o lugar de minha mãe! O senhor deve estar louco!

— É claro que ninguém é! Para você ninguém substituí sua mãe. Mas Joana não é uma substituta dela, é uma pessoa única em nossas vidas, sabe disso. E além do mais sabe muito bem que não poderia fugir mais de minha responsabilidade como pai. Fátima e Jorginho precisavam de estudo, assim como você e Bianca, eles têm os mesmos direitos como meus filhos.

— Então é verdade, eles são seus filhos de sangue. - Catarina não conseguiu engolir aquela informação para si.

— O que está acontecendo com você minha filha? Parece outra pessoa.

Ela cruzou os braços fungando nervosa na frente do corpo.

— Talvez eu seja mesmo outra pessoa.

— Não fala que está com crise no casamento, sabe que não suporto filha separada. Filha separada é mau agouro.

Catarina lhe fuzilou com o olhar, seu pai podia ter largado a política e casado por amor, mas continuava o mesmo retrógrado de sempre. Ela ia lhe fazer um discurso, já estava na ponta da língua, foi quando a porta se abriu e ela viu Bianca entrar com Edmundo.

— Catarina! Papai! - ela estava feliz. Feliz não, radiante era a melhor palavra para definir sua irmã. E também grávida. Bianca estava com uma barriga enorme.

Sua irmã foi cumprimentar todo mundo, abraçou seus filhos e lhe entregou os presentes prometidos. Deu a Júnior um cavalo de madeira que era um balanço de chão e para Clara um livro de contos de fadas.

— …a sua mãe odiava quase todas as histórias desse livro e eu em contrapartida amava cada uma delas. - explicou a afilhada.

— É claro Bianca, é cada história besta de mocinha ficando com príncipe encantado, um mais péssimo que o outro.

— Sua mãe sempre odiando histórias românticas. - Bianca revirou os olhos.

— Bem sua cara não gostar de príncipe, depois ocê achou eu! Um perfeito príncipe num cavalo branco. - Petruchio comentou rindo fazendo Catarina se irritar mais.

— Na verdade eu me casei com um mondrongo isso sim.

— Mas era ocê mema que não gostava de príncipe. - ele chegou perto dela e sussurrou em seu ouvido para que só ela escutasse. - Já tá admitindo que se casou comigo. Ocê percebeu?

Ela ficou vermelha com a informação e lhe deu um tapa no ombro, não era bom sentir as palavras dele em seu pescoço, sua pele insistia em se arrepiar.

— Eu amei madrinha. Obrigada. - Clara não deixou de agradecer.

Logo todos foram almoçar. Catarina prestava atenção em cada detalhe lhe apresentado. A forma como a vida de seu pai se desenrolava, ele sendo cuidado o tempo todo por Joana. Ela mesma cozinhava suas comidas favoritas, a forma como ele falava sobre Jorginho que se destacava nos estudos na europa, como tinha orgulho da família que tinha e como não trocaria por sonho antigo algum de entrar na política. Reparou em Bianca, estava linda grávida, sua pele brilhava, seus cabelos pareciam mais cheios de cachos, seus olhos quase soltavam faíscas de felicidade. Percebeu a forma carinhosa que Edmundo cuidava dela, sempre checando para ver se ela estava sentada confortável, preparou seu prato de comida na mesa e não parava de acariciar sua barriga.

Depois das sobremesas, Catarina pediu para conversar com Bianca a sós, foram para seu antigo quarto, que agora era o quarto de Fátima. Tudo tão diferente. A cama não era mais a mesma apesar de ficar na mesma posição, os objetos eram todos diferentes, até o cheiro era outro.

Entrar naquele quarto a fez lembrar do pesadelo, olhar sua irmã na sua frente feliz e não mais uma voz amplificada dizendo que sua infelicidade era culpa dela lhe confortava.

— …Você é feliz assim, não é?

Bianca olhou confusa para ela diante da pergunta.

— Sou feliz sim. Por que?

Catarina abanou a cabeça sem saber o que lhe responder. Estava tão cansada depois do turbilhão de informações que aquela visita a seu pai tinha lhe proporcionado. Catarina ergueu seu pescoço e encarou a barriga dela pontuda. Pediu para tocar e começou a acariciar, o bebê chutou.

— …Eu sinto que é uma menina… e eu queria te pedir uma coisa.

— Pedir? - Catarina continuava a acariciar.

— Eu queria colocar o nome de nossa mãe nela. Você deixa? - Catarina olhou Bianca diante do pedido.

— Por que eu teria que deixar?

— Você conviveu com nossa mãe bem mais que eu, você lembra dela, de momentos com ela, eu não. Sei o quanto ela é importante até hoje para você.

Catarina olhou para o lado, uma lágrima caiu de seus olhos. Afinal, tudo era sua mãe. Pensando agora no nome de sua filha, começou a se perguntar o porquê de não ter colocado Laura, o nome da mãe.

— Guardei comigo quando me explicou porque colocou o nome Clara em sua filha. - Catarina voltou a encarar curiosa, quase implorando uma resposta. - Lembro que se encantou quando Petruchio lhe contou o quanto Santa Clara era importante para a fazenda e o fato de que quando ouviu o nome sair da boca dele você amou a sonoridade e sabia que o nome dela seria Clara. Como se ela tivesse lhe sussurrando da barriga que queria esse nome. E eu sinto isso, sinto que é menina e que ela me sussurra que seu nome é Laura. Deixa eu colocar esse nome?

Catarina suspirou sentindo as lágrimas voltarem a cair de seu rosto, acariciou o rosto da irmã e começou a imaginar se a menina seria parecida com ela e consequentemente parecida com sua mãe. É claro que Laura era o nome perfeito.

— Eu não tenho que autorizar nada. É o nome perfeito.

— Obrigada minha irmã. - Bianca se adiantou até ela a abraçando. - Também imaginei que estando grávida comigo poderia querer esse nome como opção. Então.

— Grávida? - Ela saiu do abraço voltando a encará-la.

— O doutor confirmou semana passada quando foi comigo ao médico, estava há meses tentando engravidar, ainda não contou pro Petruchio?

Catarina começou a respirar forte, sentiu sua cabeça girar, sua visão ficou preta: desmaiou.

 


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