Por favor, meu amor escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 5
Capítulo 5 – Esperança




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Capítulo 5 – Esperança

                Era estranho viver a mesma coisa duas vezes sem que ninguém além de mim percebesse. Peter também sabia, ele tinha muitos sonhos com ambas as realidades desde que isso aconteceu, comigo, pela primeira vez. Em muitos momentos ele ficava confuso com isso, tinha pesadelos, acordava chorando, traçava mil planos comigo para garantir que nada mudaria e ele não me perderia mais uma vez. Em muitas noites me vi o acalmando, ou sendo confortada por ele quando a situação se invertia, conforme aqueles sete anos se passavam e a data do ocorrido ficava mais próxima.

O que nos dava forças para não enlouquecer com isso era nosso anjinho. Na tarde que ela nasceu nós tivemos mais certeza ainda que eu não havia sido levada ao futuro e tido aquela chance por acaso, e mais certeza de que faríamos o impossível para que a realidade que tínhamos criado desde então continuasse a existir. Emily era a nossa chama de vida, e parecia ter um super poder de afastar instantaneamente qualquer temor quando sorria, desde o instante em que nasceu e abriu seus olhinhos verdes pela primeira vez, e sorriu para mim de onde estava encolhida em meu peito, enquanto Peter chorava junto comigo e acariciava seus lindos cabelos ruivos.

Naquela noite a deixamos com tia May, por precaução. Peter foi fazer sua patrulha como de costume, não fazendo ideia de onde o portal o puxaria para o futuro. Eu fiquei em casa, e mantivemos contato pelo celular 100% do tempo. Então de repente aconteceu. Estávamos conversando quando a ligação foi cortada, e antes que qualquer um de nós dois entendesse o que estava acontecendo, tivemos um vislumbre de passar por vários lugares estranhos ao mesmo tempo, e de repente nos vimos juntos de novo, no topo de algum prédio de uma outra versão de Nova York, embora muito semelhante à nossa. E tudo aconteceu.

Os irmãos de Peter, o amigo, e namorada de seu irmãozinho, não deram sinais de perceber que já tinham vivido aquilo, embora Ned e MJ tenham simpatizado comigo instantaneamente, sem saber porque. Optamos por não lhes contar o que sabíamos, não tínhamos ideia de como isso afetaria a realidade de cada um. Embora eu tivesse me afeiçoado a eles, e fosse adorar lhes dar um abraço, eu entendi porque não podia fazer isso, ao menos não ainda, e me contentei com Peter me abraçando e beijando minha bochecha, me deixando saber que entendia o que eu estava sentindo, depois que eles obrigaram Peter a andar pelo teto para provar que ele era o Homem Aranha, de novo, e dessa vez pude me divertir vendo isso.

— Nossa, achei que você correria em minha defesa quando ela jogou pão em mim – ele brincou quando já estávamos trabalhando no laboratório um tempo depois.

Eu gargalhei outra vez.

— Quando me contaram que isso tinha acontecido eu tava muito concentrada em cuidar de você pra achar engraçado, mas tive boas crises de riso imaginando isso quando voltei pra casa, e decidi que não queria perder a chance de ver se eu pudesse – respondi apenas para ele ouvir, rindo novamente.

— Gwen! – Ele exclamou baixinho, com um misto de indignação e diversão, me fazendo rir outra vez.

O Peter mais velho dos três me reconheceu de novo, e meu Peter novamente lhe perguntou sobre isso. Ouvi de novo sobre a passagem da Gwen da dimensão dele por sua vida, e que ela estava bem apesar de não se verem mais. Sorri outra vez ao ouvir novamente sobre Mary Jane e Maiden, sentindo um grande carinho pelas duas, apesar de não ter ideia se um dia nos encontraríamos ou não. O irmão mais velho do meu marido também ficou radiante ao saber sobre Emily, não tendo dúvidas de que ela e Maiden seriam boas amigas, e nos alertando sobre a possibilidade de Emily também ter poderes um dia, apesar de que apenas o tempo traria essa certeza, mas garantindo que conseguiríamos conviver bem com isso, como ele e sua esposa estavam fazendo. Apenas o irmãozinho e MJ ainda eram jovens demais para terem uma família como as nossas, mas o amor visivelmente forte entre os dois não nos dava dúvidas de que seguiriam o mesmo caminho um dia.

As próximas horas não foram muito diferentes, tudo aconteceu do mesmo jeito. Peter ainda se emocionou ao salvar MJ, imaginando como conseguimos evitar que aquilo acontecesse comigo, e vendo flashs de coisas ruins que, tecnicamente, ele tinha deixado de viver após minha primeira viagem ao futuro, ao que sempre seríamos gratos. Ele me abraçou com a mesma força, e eu o beijei com a mesma intensidade, querendo aterrissar seu coração num território seguro para ele. Ele ainda pareceu tonto quando nos afastamos, mesmo que nem fizesse tanto tempo que tínhamos trocado o último beijo, e lhe prometi mais uma vez que o esperaria em segurança com MJ e Ned.

Horas depois estava tudo acabado, e dessa vez eu também tive vários flashs de imagens misturadas e um pouco confusas como Peter costumava relatar, como se, agora, eu e meu próprio eu do passado tivéssemos feito juntas a alteração nos acontecimentos, tínhamos a mesma alma afinal. Vi nossos três aranhas se abraçarem, e o mais novo seguir para se despedir de MJ. Meu Peter abraçou o irmão restante, mas dessa vez conseguindo permanecer perto dele comigo já estando em seus braços para voltarmos para casa. Ele sorriu e acenou para nós quando a luz azul do transporte dimensional nos envolveu, e nós fizemos o mesmo, desejando do fundo do coração que Peter, MJ e Ned ficassem bem de alguma forma, e esperando, quem sabe, reencontrá-los em nossos sonhos. Há quem acredite que os sonhos também são portas para outras dimensões.

Respiramos fundo e apertamos mais a mão um do outro quando nos vimos no topo do prédio de onde Peter havia sido levado. Não entendemos porque dessa vez nos encontramos imediatamente, talvez por estarmos conectados pelo celular no momento, mas preferimos assim, e tínhamos conseguido voltar juntos também. Olhei para meu marido com várias coisas passando pela minha cabeça nesse instante, e decidindo não enlouquecer refletindo sobre elas sozinha.

— Não é doido...? Nesse exato momento, no passado eu tô fugindo do Duende Verde enquanto você me salva dele. E ao mesmo tempo estamos aqui juntos, por causa daquela noite.

Peter me encarou de volta, assentindo, seus olhos brilhantes de lágrimas, e sem dizer nada me puxou para um beijo, tão apaixonado e urgente quanto o que tínhamos trocado na ponte tantos anos atrás.

Eu ri baixinho quando nos separamos e ele não conseguia parar de beijar todo o meu rosto e segurar firme minhas mãos, antes de me puxar com força para seu peito enquanto mergulhava o nariz em meus cabelos.

— Graças a Deus você tá aqui – ele sussurrou.

— E você também. Eu te amo.

— Eu te amo, você é minha direção. Você e Emily.

Eu sorri e o abracei com mais força.

— Então vamos pra tia May, buscar nosso anjinho. Ou pelo menos vê-la já que ela deve tá dormindo agora. Podemos pegá-la de manhã.

— Tia May vai nos pedir pra dormir lá... Não nos ferimos, tem coisas nossas lá. Vamos descansar, querida.

— Vamos – concordei lhe dando um beijo rápido antes de nos posicionarmos para descer dali de teia.

******

                Até hoje não entendíamos exatamente o que aconteceu com o tempo e as dimensões desde que Gwen me contou o que ela viveu em outro universo na manhã seguinte a minha luta com Harry. Alguns momentos se mantiveram e deixaram de existir ao mesmo tempo, e isso era o mais confuso. Passamos sete anos nos perguntando o que aconteceria quando o transporte dimensional se abrisse pra mim, de novo, o que aconteceu há dois anos. E dessa vez fomos levados juntos, muito mais fortes e experientes em como lidar com todos os problemas que tínhamos enfrentado no início do nosso relacionamento, casados e morando em Nova York de novo, e com uma filha de três anos, que na noite em questão estava dormindo na casa de tia May. A possibilidade de uma nova linha ter surgido e ainda haver uma versão minha sofrendo sem Gwen em algum lugar do espaço tempo nos angustiava às vezes, mas não tínhamos como saber. Quando aconteceu de novo, continuava sendo só eu, meu irmão mais velho, e meu irmãozinho. Eu salvei a Gwen dele, e enquanto eu saltava atrás dela, flashs terríveis me vieram à cabeça, da minha Gwen caindo para a morte. Talvez isso fosse o tempo se cruzando, mudando... Eu tinha sonhado com isso, comigo matando vilões, e até morrendo em alguns pesadelos, várias vezes antes ao longo dos anos, e agora ter a certeza de que nos salvamos dessa realidade nos enchia de gratidão.

Quando estávamos seguros no chão, e MJ correu para Ned, que não parava de falar com ela, ainda em pânico pelo que tinha acabado de acontecer, eu não pude fazer outra coisa que abraçar e beijar minha esposa por tanto tempo quanto possível, até ela me encorajar a ajudar meus irmãos na batalha mais uma vez. Mais tarde ela me contou de como era estranho ter duas lembranças diferentes da mesma coisa, sem que ninguém mais percebesse isso, e que esperava do fundo do coração que agora eu fosse o mesmo Peter que ela encontrou da primeira vez, assim nenhum dos dois estaria sem o outro, e desejei o mesmo que ela, que eu fosse ele, apenas com minhas memórias e vivências diferentes de antes, mesmo sem lembrar, ainda que eu tivesse muitos sonhos com o que Gwen tinha me contado naquela época, porque, céus, eu sei que morreria sem ela! Mesmo que não fosse uma morte literal. E de alguma forma, esse momento tinha me trazido uma sensação de de ja vu.

Nossas famílias continuavam morando em Nova York conosco. Tia May e Helen agora mais velhas, e precisando de mais cuidados com a saúde, mas vivendo bem. Inusitadamente, tinham se tornado boas amigas e vez ou outra passavam a tarde toda juntas. Os irmãos de Gwen tinham crescido e estavam fazendo suas vidas. Simon e Philip ainda estudando. Howard já trabalhando e recém casado.

Vivemos tanto dentro de uma única vida, juntos e separados, que poderíamos passar mais outra vida só refletindo sobre tudo isso, mas não agora. Não enquanto Emily está nos puxando alegremente pelo Central Park na direção da estátua de Balto. Ela tem cinco anos e ama essa história desde os três, ela insiste para ter um cão um dia, e eu e Gwen já pesamos muito os prós e contras disso, conversando várias vezes com nosso amorzinho sobre a responsabilidade que isso significa, e que quando ela estiver mais velha e aprender mais, nós realmente pensaremos nisso. E felizmente, por mais que seu pequeno cérebro ainda saiba tão pouco sobre a vida, e ainda tenha suas birras infantis às vezes, Em herdou o dom da paciência e da compreensão de sua mãe, e prefere encontrar algo para brincar do que tomar seu tempo se chateando com nossa resposta.

Gwen me olha sorrindo enquanto nossa ruivinha de olhos verdes tagarela mais uma vez sobre a representação do cão lobo diante de nós. E é tão adorável, o amor que ela tem nas palavras por algo que realmente gosta, mesmo sendo ainda tão pequena, exatamente como Gwen. Mas quando ela se vira para nós, com seus olhos de cachorrinho carente e seu rosto adorável, querendo saber qual a surpresa da qual lhe falamos no café da manhã, ela é exatamente como eu, e é impossível resistir. Sentindo a emoção me tomar e olhando para os olhos verdes da minha esposa, os mesmos da nossa filhinha, e depois para sua barriga de poucos meses, começando a ficar pouco a pouco evidente, encaro Emily para finalmente lhe contar.

— É a mamãe que vai dar a surpresa. Por que não sentamos em um algum banco pra conversarmos?

— Por que? É algo sério? – Emily nos pergunta, tão afiada nas palavras e na inteligência quanto Gwen, às vezes parece até que é filha somente dela.

                - Sim, meu amor – Gwen responde – Mas é bom.

                Sentamos num banco próximo à estátua, observando algumas pessoas passarem em volta, felizmente longe o suficiente para não tirar a privacidade do momento que é tão importante para nós.

                - Você ainda gosta da ideia de ter um irmãozinho? – Gwen pergunta enquanto acaricia as ondas ruivas de seu cabelo para longe dos olhos.

                - Sim! – Emily responde com empolgação, e Gwen leva uma de suas mãozinhas para a própria barriga.

                A expressão de Emilly muda ao sentir a diferença através do vestido da mãe, e o olhar que faz todos se derreterem por ela está lá de novo.

                - Wow...! – Ela fala, sem saber o que dizer, e nós rimos juntos com a fofura disso.

                - Você gostou? – Eu pergunto.

                - Eu amei!! – Ela ri, nos fazendo rir junto e abraça-la – Quando, mamãe?! Quando?!

                - Calma, docinho – Gwen respondeu ainda rindo – Mais cinco meses e meio até lá. Mas temos muito a fazer pra ele até chegar, você nem vai sentir o tempo passar.

                - É um menino?

                - Qual dos dois você queria? – Pergunto para nossa estrelinha.

                - Qualquer um.

                - Acho que isso é bom – Gwen responde, vasculhando em sua bolsa em busca da segunda surpresa, e entregando a Emily uma caixinha pequena, bege com um laço branco – Nós compramos isso pra seu irmão ou irmã, mas ele ainda nem nasceu... Você quer abrir pra ele?

                - Mas ele nem vai ver.

                Nos gargalhamos junto com Emily, amando sua capacidade de fazer comentários pertinentes e simultaneamente divertidos.

                - Mas logo ele vai poder ouvir. Então poderemos falar pra ele o que é.

                Emily puxou o laço, precisando da minha ajuda para desfazer completamente a fita, mas logo removendo a tampa da caixinha para revelar um par de sapatinhos e luvinhas azul claro, adornados com uma fita de cetim branca e um ursinho bordado no centro de cada item.

                - É menino! – Emily sorriu.

                - Você gostou? – Gwen lhe pergunta.

                - Sim! Sim! Ele vai ser bonito e grandão que nem o papai.

                Eu ri, não conseguindo conter a emoção que senti, e beijei a bochecha do nosso anjinho.

                - Você é linda desse jeito por causa da mamãe, ela é a mulher mais linda do universo – falei enquanto Gwen ria com alegria – Mas é um pouco por minha causa também.

                Emily sorriu, voltando a admirar o presente, ainda que não fosse exatamente para ela.

                - É bonito, ele vai ficar doido pra usar.

                Rimos juntos mais uma vez.

                - Vai ser a primeira coisa que ele vai usar junto com a fralda e o restante da roupa quando nascer – Gwen diz para ela.

                - Onde ele vai dormir?

                - Se você for uma boa irmã, deixamos ele dormir com você quando começar a crescer. Ele precisa ficar perto de mim e do papai nos primeiros meses – Gwen explica para ela.

                - Eu vou ser!

                - Nós sabemos que vai, querida – Gwen volta a responder, claramente emocionada – Você quer almoçar agora? Então depois podemos visitar suas avós, e contar pra elas e pra os seus tios.

                - Sorvete depois?!

                - Sim, hoje tem sorvete! – Lhe respondi sorrindo.

                Emily exclamou de alegria e nos levantamos junto com ela, segurando suas mãozinhas e olhando uma última vez a estátua que nossa pequena tanto gostava. Coincidentemente ou não, uma aranha surgiu tecendo sua teia para o chão a partir de algum ponto das plantas em volta da estátua.

                - Parece que ela dança – Emily comentou, admirando o pequeno aracnídeo.

                - Parece mesmo – eu concordei.

— Bonito, não é? – Gwen lhe disse.

                - Sim.

                Nos inclinamos para beijar as bochechas da nossa garotinha, e olhamos a aranha juntos mais uma vez, trocando um sorriso antes de finalmente caminharmos para longe.


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