A melhor parte de mim escrita por Kaline Bogard


Capítulo 1
Capítulo 01 de 02


Notas iniciais do capítulo

Curtinha, mas com amor ♥



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— Isso parece gostoso, posso comer?

O questionamento soou pelo silêncio do quarto e trouxe à mente de Shino uma gama incontável de recordações. Foi uma pergunta exatamente como aquela que mudou todo o rumo de sua vida anos atrás. Talvez Kiba não soubesse ou não se lembrasse. Mas Shino sim.

Ele perdeu alguns segundos observando o Ômega recostado ao lado na cama, coçando a nuca em uma expectativa quase tocante, enquanto acariciava a barriga arredondada. Era a vigésima quarta semana de gestação, e Shino nunca imaginou que o companheiro ficaria tão dengoso.

— Pode? — a pergunta veio do pé da cama, onde Masako estava sentadinha.

A filha mais velha do casal não era fã de chocolate, mas vinha somar incentivo para que Kiba-touchan ganhasse o mimo.

Shino observou a caixa cheia de bombons recheados e barras de chocolates. Foi presente do próprio Kiba, que lhe entregou quando voltou do serviço, para que comemorassem a Páscoa. Não era tradição em Konoha, mas ele viu em algum programa de televisão e acreditou que seria bom aderir.

E fez o Alpha desconfiar que o agrado que recebeu foi muito mais para auto satisfação de Kiba do que o contrário. Às vezes o rapaz aplicava esses “golpes” e saía no lucro.

— Pode. — Shino assentiu, empurrando a caixinha na direção dele. — Fique à vontade.

— Oba! — Kiba esfregou as mãos e começou a revirar os doces na caixa. Havia bombons, barras, bolinhos... Tudo de chocolate. — Que difícil escolher!

— Este. — O Alpha se intrometeu, pegando uma trufa recheada de morango e estendendo ao companheiro. Morango era a fruta oficial do casal de Almas Gêmeas.

— Excelente!

Masako vibrou, como se aquele fosse o auge dos seus dois aninhos. Era uma Alpha e já respondia positivamente às reações de Ômega, podendo sentir pedacinhos de alegria pelo vínculo paterno. Sensação que a deixou satisfeita.

Enquanto assistia o outro devorar o petisco, Shino fez uma breve retrospectiva do relacionamento. Conhecia Kiba a quinze anos, estavam casados a dois. Não foi um amor de rompantes, Shino tinha muitas barreiras erguidas quando encontrou o futuro marido. Contudo, foi um sentimento conquistado e edificado no dia a dia, durante a exótica convivência com o outro.

Depois da formatura na faculdade, o casamento. Com o primeiro emprego sólido como professor, puderam dar um passo à frente e planejar uma gestação. O resultado era a menininha que engatinhou pela cama até alcançar a caixa de chocolates, escolhendo um para si. Afinal, Kiba-touchan comia com tanto prazer que aquilo devia ser diferente e especial, não?

A segunda gestação não foi nada planejada. Veio no susto, embora já fosse muito amada. E também viesse como um desafio na vida de Aburame Shino. Em um sentido que ele nunca imaginou; que o Ômega fosse se valer disso para ficar todo cheio de dengo, querendo mimos. Era uma configuração inesperada e muito diferente da primeira.

Contudo, Shino não reclamava, pelo contrário, sentia-se tão feliz com a família, com aquela união, que poderia dar todo o carinho do mundo que lhe era pedido. Carinho para dar era o que mais havia em seu coração!

Ainda que ninguém pudesse adivinhar, caso resolvesse julgar o livro pela capa. Shino era um Alpha alto desde a infância, cuja constituição foi se aprimorando com o tempo. Não era musculoso, embora exalasse força indiscutível. Costumava usar longos casacos com gola alta que escondiam a parte inferior do rosto, e proteger-se com óculos de sol. Uma figura que se compunha sinistra, quase sombria.

O Clã Aburame era conhecido pela manipulação de kikaichuu, pequenos insetos que moram sob a pele de seu hospedeiro. Dominavam jutsu poderosos, tinham um lugar firmado na Academia de Konoha e respeito total. Fatos que não evitava o preconceito, o medo, o julgamento.

Por um tempo a solidão foi a maior e mais fiel companhia que Shino conheceu. Até encontrar aquele Ômega que lambia os dedos sujos de chocolate enquanto olhava guloso para o próximo doce que iria ganhar. Inuzuka Kiba entrou em sua vida e foi o Ômega que mudou o jogo.

— Obrigado, sabe?! — A voz de Kiba trouxe Shino de volta à realidade.

— Por nada, pode pegar todos que quiser — indicou a caixinha.

— Não por isso — o rapaz desconversou, pegando uma pequena barra e abrindo a embalagem antes de entregar para a filhotinha. — Por me aceitar, sabe?

A revelação foi tão inesperada que fez Shino franzir as sobrancelhas em dúvida.

— Kiba...?

— Por isso tudo — ele indicou a cena com um gesto amplo, finalizando ao repousar a mão sobre a barriga redonda. — Por isso aqui também.

Notando os olhos brilhantes, Shino puxou o outro para se aconchegar contra o peito. No fundo não se surpreendeu pelas emoções expostas, pois os picos eram pontuais durante a gestação, desde a primogênita enfrentavam oscilações impressionantes de humor! E Shino não seria um professor tão bom caso não soubesse lidar com isso. Fazia um bom trabalho com os alunos, com o companheiro então? Era excelente!

O que surpreendeu de verdade foi o teor da confissão. Havia uma insegurança que nunca imaginou existir em Kiba. Sentiu que precisava explanar um pouco mais.

— Por que diz isso?

— Ué? Por que eu era uma peste na infância — sorriu contra o pijama do outro, pois Masako veio deitar-se grudadinha às suas costas, preocupada pela tristeza do papai. — Sou um partidão, Shino. Porém, a sociedade não está pronta para essa conversa. O Naruto era meu melhor amigo, e a maioria corria da gente por medo de encrenca.

— Isso é verdade. — Shino concordou e ganhou um soquinho do lado do corpo.

— Eu nunca liguei pra opinião de ninguém. Por mim, podiam enfiar as críticas bem fundo no- — o palavrão foi abafado por um abraço mais fortinho de Shino, sinalizando a filha de ambos. — Quando eu conheci você, me apaixonei, foi a primeira vez que alguém se importou. Tive medo que me julgasse como todo mundo fazia, sabe?

Shino ficou mais impressionado com cada palavra. Kiba estava traduzindo para um contexto pessoal todos os medos que ele mesmo sentia ao crescer. Ele não era um “peste”, mas era “sinistro”, “sombrio” e “assustador”. Acostumou-se a viver com as pessoas afastadas, olhando de longe por medo de se aproximar. Quando se deu conta de que amava aquele Ômega brilhante, cheio de vida e energia, sofreu demais. Seu coração encheu-se de uma certeza; nunca seria correspondido. Afinal, como alguém tão bonito e popular quanto Kiba, teria milhares de pretendentes! Armadilhas mentais trazidas pela insegurança que o impediram de ver a realidade tal qual ela era; um pestinha como Kiba vivia mais na lista negra do que na lista dos desejados!

E ali estavam eles se amando mutuamente, construindo uma família, realizando sonhos.

— Você é a melhor parte de mim, Shino — Kiba sussurrou. E foi a declaração mais valiosa que Shino jamais imaginou. Atingiu diretamente o vínculo, fazendo-o sentir mais do que ouvir, fazendo-o captar o amor, a entrega, a confiança.

Um dia Kiba aceitou confiar a mente, o corpo e o coração àquele Alpha que o abraçava. Uma oferta que Shino nunca se imaginou digno de receber. Como resposta afastou-se um pouco do companheiro, segurando-o com carinho pelo rosto. Usou os dois polegares para secar as lágrimas silenciosas. Elas vinham motivadas pela confusão de hormônios, porém eram sinceras e cheias de sentimentos. Ele quis acolhê-las, cuidá-las e protegê-las de qualquer infortúnio. Assim como queria fazer com a família que amava acima da própria vida.

— Digo o mesmo — sussurrou com amor. — A melhor parte de mim, Kiba, é você.

E inclinou-se de leve para beijar o companheiro. Ouviram um “oh!” surpreso, pois não eram de trocar carícias na frente da filhotinha. Aquela foi uma das raras exceções, seguindo um desejo expresso de ambos. O casal queria, precisava daquela intimidade depois do momento de revelações que os deixou mais frágeis.

Um beijo com gostinho de chocolate, firmando a certeza do amor e trazendo ainda mais felicidade.


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Notas finais do capítulo

o próximo é o último!!



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