The good parts escrita por Alice


Capítulo 3
The good parts


Notas iniciais do capítulo

The good parts - Andy Grammer



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"Me conte sua história
Mas não deixe as partes boas de fora"

Smarkle puxou os talheres que se encontravam em cima do prato à sua frente. Colocou garfo e faca lado a lado, movendo a taça de água para ficar em paralelo ao pequeno vaso, enfeitado com uma suculenta, no meio da mesa. A toalha vermelha era feita de um tecido macio, provavelmente de algodão puro. O prato, assim como o vaso, era de porcelana branca, os talheres de ferro e a taça de vidro, material que refletia os raios do sol; raios que se tornavam suportáveis pela proteção de madeira acima deles.

Estavam sentados em um quintal de um restaurante italiano, poucas mesas espalhadas pelo local. O dono era um conhecido de Lucas, um cliente da clínica veterinária onde ele trabalhava. O som dos carros e buzinas se tornaram abafados assim que entraram na parte de trás do restaurante. Isadora sorriu agradecida para o amigo que espelhou seu sorriso. No momento estavam em um silêncio confortável, sua concentração sendo voltada para os detalhes ao seu redor antes de desviar a atenção da calçada de ladrilhos coloridos aos seus pés para os olhos amigáveis do homem à sua frente.

— Então. - Lucas tentou iniciar uma conversa, cruzando os braços acima da mesa para aparentar conforto, mas o suave vinco entre suas sobrancelhas o denunciou. - Farkle tinha me falado que você havia conseguido um emprego aqui. Como está indo?

Arqueou as sobrancelhas um pouco surpresa, pensou que a primeira pergunta que iria ser feita seria em relação à sua família. Esse era o caminho que muitos seguiam, principalmente seus amigos. Ficou parcialmente aliviada, não queria falar sobre tudo o que havia passado com Celina naquele momento. Smarkle balançou a cabeça, mordendo o interior da bochecha enquanto olhava para a sua esquerda. O muro estava se tornando totalmente coberto por uma planta trepadeira. Analisou as folhas e o caule, sorrindo orgulhosamente quando reconheceu sua espécie.

— Essa é uma Hedera Canariensis, um tipo de Hera. - informou, apontando para a planta enquanto ainda a observava. - Ela é tolerante à poluição local e seu plantio ajuda a diminuir a temperatura ambiente. Ela não pode ser cultivada em locais pintados com cal porque prejudica suas raízes, bom que aqui eles a colocaram perto de um muro de tijolos expostos. Os suportes aqui são feitos de madeira e ela se ramifica por eles... - afastou algumas folhas para que ele pudesse observar o suporte por baixo. - ... porque tendo um suporte elas se prendem nele, o que ajuda em seu crescimento.

— Você trabalha com isso? Com o estudo de plantas?

Negou, inclinando-se e pegando uma folha entre os dedos para sentir a textura.

— Trabalho em um laboratório de pesquisas independente, eles estão tentando conseguir um convênio com o governo para que possamos ter uma maior expansão de algumas pesquisas já em andamento. - o verde de algumas folhas era lindo. As nervuras se destacando à luz. - Ele é financiado por um oncologista e uma pesquisadora química. Meu primeiro dia será amanhã e estou muito animada.

O encarou com um enorme sorriso, notando que toda a atenção de Lucas estava sobre ela. Ele parecia genuinamente interessado e aquilo a desconcertou por alguns segundos. Recobrando o controle, soltou a folha e o deu total atenção.

— Terei pouco tempo livre nessa semana, então preciso organizar ao máximo o meu apartamento. Pensei que conseguiria fazer tudo durante esta manhã, mas o máximo que consegui foi comprar um sofá e uma mesa de centro. - praticamente resmungou, pescando de uma cestinha próxima à Lucas um pedaço de pão. Mastigou contente quando identificou o suave sabor de alho com queijo. - Preciso. - parou por um segundo, cobrindo a boca enquanto engolia. - Preciso ter ao menos uma cama para dormir hoje a noite, porém, cheguei a conclusão de que não sou uma pessoa eficiente ao se tratar de compras.

— Você pode comprar os móveis on-line. - o Friar opinou, apontando um pedaço de pão torrado na direção dela. - Chegaria tudo hoje e você não teria que se preocupar em não ter os móveis principais.

— Sim, mas. - apoiou o cotovelo na mesa, seu queixo acima do punho e uma expressão resignada em seu rosto. - Não gosto de ficar sozinha com estranhos. Hoje pela manhã foi inquietante e assustador enquanto esperava os entregadores terminarem de colocar os móveis. Se eu pedir uma cama, cômoda, poltrona, mesa, cadeira, estante, colchão...

— Sim, entendi.

Ele a cortou gentilmente, baixando as mãos de Smarkle, que contava os itens nos dedos. Ela retraiu as mãos automaticamente ao seu toque, surpresa ao ter sentido o calor da pele estranha contra a sua provocar formigamentos. Percebeu quando o pescoço dele assumiu uma cor avermelhada e Lucas desviou o olhar momentaneamente do seu. Cruzou as mãos em seu colo, o encarando à espera do que ele iria dizer. Arranhando a garganta em óbvio desconforto, o Friar continuou.

— Eu posso esperar com você, se estiver tudo bem.

Ponderou a proposta. Fazia anos que não via Lucas, não sabia se sua personalidade havia mudado tanto ou ele continuava o mesmo cara simpático que a fazia, por vezes, sorrir como boba. Os anos mudam as pessoas, modificam suas personalidades, por mais que muitos tentem lutar contra isso, é inevitável. Smarkle mudou, parte de sua alegria e despreocupação em relação à certos pontos da vida praticamente desapareceram. Ela se tornou uma mulher focada e prática. Precisou se tornar. Os anos passados com sua família fizeram todos mudarem de alguma forma.

Encarou o rosto sincero à sua frente. A sombra da barba por fazer contornando o queixo e maxilar, os olhos mais cansados, porém, ainda brilhantes, o lábio inferior cheio e rosado... e Isadora estava divagando. Balançou a cabeça quando percebeu que deveria estar observando cada sinal dele, um em questão chamou sua atenção, em um marrom bem claro no canto de seu olho esquerdo. Por falar em olhos novamente, os deles se estreitavam provocando pequenas rugas quando ele sorria. O que Lucas estava fazendo no momento.

Isadora engoliu em seco, subitamente nervosa por ter sido tão transparente. Ela deveria estar pensando no quanto sua personalidade deve ter mudado e não em como ele conseguiu a proeza de ficar mais bonito. A antiga Smarkle iria sorrir e piscar em um flerte descarado, porém, a nova Smarkle se tornou um pouquinho insegura, detestavelmente nervosa e, em alguns casos, perdida. Soltou um suspiro baixo, era Lucas Friar, o garoto de ouro da John Quincy Adams, o príncipe encantado de Riley e sonho de consumo de tantas outras. Ele era confiável. Queria ter a plena certeza de que ele sempre seria confiável.

— Você pode me ligar assim que eles estiverem para chegar.

Levantou o olhar do prato composto por macarrão e um molho pesto à sua frente, nem tinha notado a comida sendo posta. Lucas a observava com cautela. Algo em seu semblante deve tê-la denunciado e agora ele agia com cuidado. Ficou parcialmente orgulhosa por conseguir ler sua expressão tão facilmente, todos aqueles livros e cursos sobre o comportamento humano serviram de algo afinal.

— Está tudo bem. - garantiu, enrolando uma porção de macarrão com o garfo. - Eu prefiro que você já esteja lá antes deles chegarem. Temos que trabalhar com a perspectiva de que você acabe por se atrasar e acabarei sendo deixada sozinha com provavelmente quatro homens estranhos.

Explicou seu receio. Lucas assentiu lentamente, comendo com calma o ravióli que havia pedido. O que se seguiu foi um silêncio menos confortável que o inicial. Parecia que algo estava imensamente errado e Smarkle se frustrou por não conseguir compreender o quê. Após o almoço, ele a levou até o início de sua quadra, uma distância considerável entre os dois sendo colocada desde a saída do restaurante e Isadora não soube o porque de ter achado aquilo, fazendo uso de um leve exagero, incrivelmente irritante.

— Bom, mais tarde estarei lá. - com as mãos escondidas nos bolsos da calça, Lucas sorria de maneira um tanto forçada.

— Claro.

Não sabia mais o que falar. Franzido a testa quando o viu inclinar o corpo para trás, como se mal estivesse se contendo para sair dali. Cruzou os braços defensiva, uma barreira entre si e o total desejo de fuga do homem à sua frente.

— Então... até depois.

Assentiu em despedida, o ensaio de um sorriso educado antes de o dar as costas e começar a caminhar para longe. A barra de seu vestido fluía sobre seus joelhos a cada passo seu, seus pés presos em um tênis que mal usava e que começava a incomodar. Abria e fechava as mãos ao lado do corpo como se para liberar o que fosse que estivesse provocando um peso em seus ombros. A sensação inquietante não desapareceu, somente aumentou a medida que se afastava de Lucas. Será que havia dito algo que o incomodou? Teceu algum comentário mal intencionado e não tinha percebido? Teria que esclarecer tudo, não conseguiria ficar presas nas infinitas possibilidades pelo resto de seus dias.

◇•◇•◇•◇•◇

Abriu um sorriso gentil para as entregadores que saiam de sua casa. Alívio foi o mínimo que sentiu quando o interfone tocou anunciando a chegada de seu novo colchão e soube que eram duas mulheres que tinham ido fazer a entrega.

— Obrigada. - agradeceu, acenando para elas no corredor.

— Nós que agradecemos pelo lanche.

Uma delas, a mais alta e de cabelo amarrado em um coque firme, falou. Ela tinha um rosto tão calmo e centrado, o que fez Smarkle se sentir mais relaxada na presença delas. A outra entregadora, mais baixa e de cabelo cortado acima das orelhas, acenou para ela em resposta antes das portas do elevador se fecharem. Isadora morava no terceiro andar, preferia descer as escadas e subir de elevador, na maioria das vezes ela voltava para casa cansada. Resolveu ficar no corredor esperando por Lucas, não havia garantia de que os próximos entregadores também seriam mulheres.

Alguns poderiam dizer que ela estava exagerando, mas ela conhecia as estatísticas. Segundo o relatório da OMS, um terço das mulheres no mundo sofrem algum tipo de violência ao longo da vida, é o equivalente a 736 milhões de vítimas. E esses números não levam em conta os casos não registrados, aqueles que estão acontecendo a cada minuto e até mesmo as mudanças de cultura de cada região do planeta. E apenas 6% das mulheres a nível global, que foram vítimas de violência, relatam não terem sido abusadas por alguém que não fosse seu parceiro íntimo. Os dados eram assustadores e Smarkle estava praticamente sozinha em Nova Iorque. Inspirou profundamente.

Sabia que Lucas era bom. Confiava nele e se sentia confortável em sua presença, na maior parte do tempo. Menos quando começou a notar o quanto o seu toque a inquietava. Smarkle soltou o ar pesadamente. Respiração fraca, batimentos cardíacos acelerados, a sensação de calor se espalhando por seu corpo quando ele a tocou levemente, sem falar do quanto o sorriso do Friar a afetava. Não havia dúvidas, ela estava atraída fisicamente por ele. Quando se está no Espectro, nunca pensam que a pessoa terá a necessidade de qualquer contato físico mais íntimo com outro, mas eles eram seres humanos, todos que faziam parte do espectro podiam sentir amor, raiva, mágoa, tristeza, desejo, tesão...

Congelou à palavra a muito esquecida. Seus batimentos acelerando novamente somente em pensar que era isso que estava sentindo. A reação humana mais natural e primitiva. Tudo por causa de Lucas Friar. Seu último relacionamento não fora o melhor em muitos aspectos e a falta de desejo de Smarkle por seu antigo parceiro era frustrante e sufocante. Tornou tudo mais monótono e... chato se fosse ser sincera. Com Farkle eles eram jovens e descobriram quase tudo sozinhos, amaram e se amaram em sincronia. Ela era feliz, porém, naquele tempo percebeu que poderia ser mais feliz sozinha. Não queria ser fria ou uma bruxa, como muitos diziam. Ela só chegou a conclusão de que eles iriam se sair melhor sozinhos e não estava errada.

Puxou um fio solto da barra de seu vestido azul, atenta de mais a tudo que pensava e ao caminho que o fio fazia enquanto era descosturado que não notou os passos avançando pelo corredor. Levantou a cabeça quando se sentiu ser observada, piscando surpresa quando viu Lucas parado com os braços cruzados e um sorriso de canto. Um buraquinho leve perfurava sua bochecha esquerda, desceu o olhar pelo maxilar sombreado pela barba por fazer seguindo para os bíceps que se apertavam contra a blusa cinza de manga. Passou a língua pelos lábios subitamente secos.

— Você estava me esperando?

Assentiu em confirmação distraída, se forçando a encará-lo nos olhos. Um perceptível calor começou a se espalhar por suas bochechas quando viu a expressão intrigada e divertida de Lucas. Expirou o ar ruidosamente pelo nariz, cruzando seus próprios braços para que ele não notasse o efeito que causava nela. Se desencostou do portal da porta, dando um passo para o lado em sinal de passagem para ele. Lucas somente soltou uma rápida risada ao passar por ela, fazendo questão de se aproximar um centímetro a mais só para vê-la recuar.

Smarkle torceu a boca em irritação antes de entrar e fechar a porta atrás de si. O viu de costas para ela, observando a vista da cidade por sua janela ao lado da lareira. Tinha planos de colocar um banco acolchoado abaixo dela a fim de criar um espaço de leitura. A vista era composta de prédios ao redor do parque verde que se encontrava no centro. O Friar morava do outro lado, em um local que não era possível ver de seu apartamento por conta de morar em um andar mais próximo ao chão e ter a visão de quase toda a extensão do parque.

— Obrigada por vim. - se forçou a agradecer, até porque ele estava abrindo mão de um fim de tarde para estar ali.

— Sem problemas. É para isso que os amigos servem. - comentou, a encarando com um sorriso por cima do ombro.

A estranheza que ele emanava no almoço havia desaparecido. Isadora não gostou daquilo. Parecia que ele iria passar por cima, como sua irmã falava, e continuar agindo como sempre agiu. Caminhou decidida até parar ao seu lado, os braços cruzados em irritação e, para ser sincera, proteção. Estava cruzando tanto seus braços que provavelmente iria sentir seus músculos reclamarem depois pela repetição do movimento.

— Não aja assim. - disse, puxando a atenção para si. Por alguns segundos, quando ele a encarou com a luz do pôr do sol iluminando seu rosto, Smarkle esqueceu o que iria falar. Mas logo os segundos passaram quando ele mostrou confusão. - Não aja como se não tivesse estado estranho durante o almoço.

— Você também estava estranha. - apontou, imitando seu gesto e a encarando de frente.

— Eu sou estranha. - se defendeu, franzindo a testa e inclinando o corpo para trás quando ele fez menção de dar um passo para frente. - Você parou de falar, se afastou e começou a me encarar com aquele olhar...

— Aquele olhar?

— Aquele que parece que você precisa ir ao banheiro. - concluiu, sem saber muito bem como definir.

Lucas riu, uma risada leve e desconhecida para ela. Smarkle piscou levemente perdida, o som reverberando por seu corpo a fazendo notar o quão perto estavam.

— Senti falta da sua sinceridade. - comentou, ainda com um sorriso no rosto. - Mas você não está errada.

— Se você precisava ir ao banheiro era só ter me dito. - falou, provocando outra risada nele. Descruzou os braços, franzindo o nariz  quando ele começou a negar com a cabeça. - Eu iria entender. - garantiu, levantando as mãos em frustação quando ele recomeçou a rir. - É uma necessidade biológica humana, inferno!

Lucas parou as risadas aos poucos, uma mão apoiada na barriga e a outra se estendendo automaticamente para segurar o antebraço dela. Smarkle parou, a pele onde a mão do Friar tocava formigando e esquentando. Quis gemer inconformada, um simples toque e ela já parecia derreter. Nunca havia sentido algo assim com tanta intensidade. Sentiu falta quando ele retirou a mão ao perceber que a segurava.

— Eu não agi estranho por precisar ir ao banheiro. - declarou, continuando antes que ela pudesse abrir a boca. - Eu só queria dar um espaço à você, Smarkle. Quando você me contou que se sentia desconfortável perto de estranhos, eu percebi que somos praticamente isso, estranhos. Não nos vemos há anos e mesmo quando nos víamos, não tínhamos uma ligação. Não queria que você se sentisse desconfortável perto de mim.

— Não me sinto. - deixou claro, o encarando séria para ele entender que era verdade. - Na verdade eu me sinto extremamente confortável ao seu lado e é por isso que me sinto estranha. - confessou, afastando-se para sentar no sofá e sentindo ele sentar ao seu lado. Olhava para as mãos que puxavam outro fio solto da barra do vestido. Aquele era um tecido muito frágil. - Eu nunca me senti tão confortável com outra pessoa fora da minha família a não ser Farkle.

— Pensei que você tivesse namorado aquele professor universitário por um tempo.

Havia algo em seu tom que ela não conseguiu identificar. Isadora sentou com as pernas cruzadas abaixo do corpo e de frente para Lucas. O que viu nos olhos dele a relaxou, não sabia nomear, mas o que sentiu a fez continuar a falar.

— O Arthur era diferente no início do namoro. - começou, tombando o corpo para o lado e apoiando a lateral da cabeça no encosto. - Ele era um professor de Física na Universidade da cidade vizinha, assisti a uma aula dele uma vez e pode-se dizer que me apaixonei. Depois de Farkle não achei que iria me sentir assim novamente, mas ele conseguiu. Ele me fez cair de amores, como dizem.

— Você foi feliz?

A pergunta veio em um quase sussurro. Lucas apoiou a cabeça no encosto e ficou de frente para ela, seus rostos a quase meio metro de distância. A pergunta fez Smarkle respirar profundamente.

— No início sim. Achei que iríamos ter debates construtivos, teríamos um relacionamento desafiador igual eu possuía com o Farkle. Mas não. - franziu a testa com as lembranças. - Ele me tratou como uma aquisição. Se gabava para todos sobre o quão inteligente e única eu era. Sempre pensei que era porque ele realmente se orgulhava de mim, mas ele só estava procurando alguém diferente para mostrar aos amigos.

— Eu...

Entendeu a falta de palavras dele. Não sentia mais raiva pela traição, mas ainda machucava saber que algumas pessoas sempre a veriam apenas pelo espectro em que ela se encontrava e não por quem ela era.

— Eu sei. - murmurou compreensiva, apertando a mão dele e o vendo tentar disfarçar a surpresa. - Eu merecia mais e por isso terminei. Depois que percebi quem ele era, tudo se tornou monótono. Parecia que eu estava vivendo no automático só para ter algo a mais para fazer. Até o sexo era desprovido de qualquer emoção.

Lucas engasgou, se afastando ao tossir. Smarkle pulou do sofá, correndo para buscar um copo de água. Voltou rápido, observando preocupada o rosto avermelhado do homem enquanto o entregava o copo d'água. Começou a massagear suas costas, um gesto que sua mãe sempre fazia quando ela se engasgava, mesmo que não tivesse comprovação científica.

— Está melhor?

— Sim, hum, obrigada. - agradeceu sem jeito, ainda respirando com dificuldade.

Smarkle notou a vermelhidão em seu pescoço e bochechas quando ele a encarou, logo desviando o olhar sem jeito. Inclinou a cabeça, estreitando os olhos enquanto o analisava. Lucas se movimentou desconfortável, ainda sem encará-la. Um sorriso começou a se abrir em seu rosto quando compreendeu o porque dele estar tão envergonhado.

— Você está assim porque eu falei em sexo?

Lucas praticamente pulou à sua pergunta. Smarkle quis rir.

— Claro que não. - se defendeu rápido de mais. - Todo mundo faz... sexo... você não seria diferente.

— Claro que não. - se aproximou um pouco, mantendo a expressão neutra quando o viu se afastar alguns centímetros. - É um desejo inato a quase todos os seres humanos.

— Sim. - concordou em um tom baixo, escorregando para longe.

— De acordo com pesquisas, ao menos 1% da população não possui interesse em sexo. - informou, sorrindo abertamente quando ele ficou preso entre ela e o braço do sofá. - Você pensou que eu fazia parte dessa porcentagem?

Lucas estreitou os olhos desconfiado quando ela inclinou o rosto em sua direção. A realização do que ela estava fazendo finamente brilhou em seus olhos. Smarkle não esperava pelo sorriso divertido que ele abriu.

— Você é inacreditável. - declarou, balançando a cabeça em diversão. - E eu sei que você não faz parte desses 1%. Você estava praticamente me despindo com os olhos bem no meio do corredor.

Abriu a boca indignada, mas não encontrou uma defesa. A expressão presunçosa de Lucas a deixou levemente irritada, mas não pôde fazer nada por conta do som do interfone ecoando pelo apartamento no segundo seguinte. Fechou o rosto em uma expressão ameaçadora antes de se levantar, a gargalhada do Friar a seguindo por todo o caminho até a cozinha.


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