Sexta-feira…

Ino estava feliz por ter conseguido um emprego na lanchonete de Jiraya, aquilo lhe dava algo para fazer agora que tinha tempo livre desde que teve que desistir das competições de natação. Algo para ocupar a mente.

Então ficou surpresa quando encontrou Sakura no dia seguinte após sua folga com o mesmo uniforme que o seu, fazendo o trabalho que era o seu. 

— O que tá acontecendo aqui? — perguntou confusa olhando ao redor. 

— Tô trabalhando – Sakura respondeu como se fosse óbvio, com um sorriso no rosto.

— Mais precisamente fazendo um teste – disse Jiraya, saindo de dentro da cozinha. – Mas devo confessar que me impressionou muito. Vai ficar com a vaga se continuar assim – ele a elogiou.

— Eu disse que posso ser bem simpática quando eu quero – Sakura sorriu de modo afável para ele.

— Você? Simpática? – Ino indagou chocada. – Essas duas palavras não combinam na mesma frase. 

— Isso também me chocou – Jiraya se voltou para Ino, o semblante contente no rosto. – Mas eu tava falando do seu currículo – apontou para Sakura. – É impressionante a quantidade de empregos que você teve em menos de três anos – disse surpreso.

— Você se surpreenderia com as coisas que faz por necessidade – Sakura respondeu misteriosa.

Então Hinata entrou na lanchonete, Suigetsu atrás dela. Sakura riu incrédula ao lado de Ino. 

— Coitada da Hinata – disse Sakura observando a expressão incomodada da garota de longos cabelos escuros antes de se sentar. – Desde o canto da sereia, o Suigetsu não larga do pé dela. Cadê o Naruto para afastar ele?

O canto da sereia era como eles chamavam o episódio de quando a Lua Cheia pegou Hinata e a fez cantar como uma sereia encantando os garotos que a escutavam.

— Ao trabalho, as duas – disse Jiraya. 

— Sim chefe – Sakura fez uma continência de brincadeira.

Jiraya sorriu satisfeito e animado.

Quem não ficou animada foi Ino, não gostou de saber que teria que dividir seu ambiente de trabalho com Sakura.

Mas não se preocupou, Sakura não era conhecida entre eles por ser paciente.

. . . 

As coisas iam de mal a pior. Para Ino.

— Eu tô chocado – disse Naruto quando Sakura parou para entregar o terceiro copo de suco para ele. 

— A satisfação do cliente é serventia da casa – disse a garota de cabelos rosa com um sorriso tranquilo no rosto. 

— Quem é você e o que fez com a Sakura? – perguntou Hinata, também chocada com o comportamento da garota.

Ino se sentia frustrada. Sakura tinha ido bem em todas as tarefas que lhe colocaram para fazer: atender clientes, preparar os pedidos, até lavar os banheiros e nada da garota de cabelos rosa fazer uma careta sequer ou qualquer tipo de reclamação.

Ino não tinha intenção, mas em uma das entregas de Sakura para uma mesa congelou o suco e o café que haviam pedido sem querer. Jiraya deu uma leve bronca em Sakura, mas relevou por ser apenas o primeiro dia da garota. Sakura lançou um olhar frio para Ino.

— É assim que vai ser? – Sakura a questionou baixinho quando passou perto dela.

Então quando foi a vez de Ino levar os pedidos, todos os líquidos estavam fervendo e os sorvetes derretidos. Isso deixou Ino furiosa.

E quando acabou o expediente, Sakura a confrontou: 

— Qual é o seu problema? 

— Qual é o meu problema? Qual é o seu problema? – Ino revidou. 

— Não se faz de sonsa, não fui eu quem começou – Sakura retrucou. 

— O que tá acontecendo aqui? – Jiraya escutou as duas. 

— Ino não quer que eu trabalhe aqui – respondeu Sakura. 

— Isso não é verdade! – Ino negou de prontidão. 

— Então você quer que eu trabalhe aqui? – Sakura perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

Ino ia responder, mas não conseguiu, se viu gaguejando e aquilo foi o suficiente para Sakura. 

— Isso é o bastante – Sakura respondeu magoada. – Obrigada pela ajuda Jiraya – ela o agradeceu enquanto desabotoava a camisa do uniforme, usava uma regata branca por baixo. 

— Achei que vocês fossem amigas – ele comentou confuso.

— É, eu também achei – Sakura murmurou antes de sair da lanchonete, sem nem olhar na direção de Ino. 

— Por que você fez isso? – Hinata perguntou sem entender nada antes de ir atrás de Sakura, Naruto foi logo atrás dela. 

— Eu também não sei – Ino respondeu exasperada e soltou um suspiro frustrado.

. . . 

No dia seguinte, sábado…

Ino acordou sentindo uma forte dor de cabeça.

Então se sentou devagar e calmamente foi absorvendo as coisas ao redor.

O sol nascia no horizonte e ela estava na praia. Por que estava na praia?

Não se lembrava de nada.

Olhou para o seu corpo e entrou em choque ao ver que estava nua, apenas coberta por uma camisa vinho escuro, de homem. 

E o pior, tomou consciência de que tinha um corpo atrás dela, um corpo grande e um braço forte que rodeava sua cintura.

Seu coração acelerou.

Se voltou calmamente para olhar melhor quem é que estava atrás dela.

Era um cara ruivo, nu da cintura para cima, a pele bronzeada e cheio de sardas. Ele dormia tranquilamente e tinha um leve sorriso no rosto.

Ino colocou as mãos na boca chocada ao ver seu vestido favorito, de seda azul escura, em cima da cabeça do cara, reconheceu suas sandálias ao lado.

Ino respirou fundo, depois pensaria nas coisas que a apavoraram. Primeiro ia se vestir e depois ia andar calmamente até um lugar que conhecesse e aí veria o que faria.

E foi o que fez, passou o vestido por cima da cabeça, finalmente cobrindo seu corpo nu. Depois pegou suas sandálias e descalça começou a andar pela areia, quando fosse para o asfalto, as colocaria nos pés.

Ia andar o mais rápido que pudesse. 

— Ei! – uma voz a paralisou. – Espere! – era o cara ruivo.

Ino saiu correndo, apavorada com a possibilidade do cara a seguir.

Quando estava longe o bastante, calçou suas sandálias e entrou no mar. Iria nadar até a Ilha Mako, o único lugar em que se sentia segura no momento.

 . . . 

De manhã, casa da Hinata…

— Nada? – Sakura a questionou. 

— Nada – respondeu Hinata angustiada ao desligar o celular.

A noite anterior foi a de lua cheia, o combinado era que tanto Sakura quanto Ino iam passar a noite na casa de Hinata. Naruto também. Mas Ino não apareceu e isso deixou as outras duas preocupadas.

As meninas mandaram Naruto ir atrás de Ino, o garoto ficou a noite inteira fora a procurando, mas nem sinal da loira.

Então o celular de Sakura apitou.

— A lua cheia já foi – disse Sakura aliviada se levantando do sofá. 

— Vamos – Hinata também se levantou.

As duas nem tinham dormido de tanta preocupação.

— Aonde vai tão cedo, querida? – a mãe de Hinata perguntou ao descer as escadas. 

— Nadar – respondeu Hinata antes de sair. 

— Eu vou para Ilha e você vai para casa dela, ela pode já estar de volta – disse Sakura assim que estavam fora da casa da garota.

Hinata concordou e as duas se separaram.

A casa de Ino foi o primeiro lugar em que Naruto foi na noite anterior e quando os pais dela responderam que ela já tinha saído, ele deu uma desculpa esfarrapada para não os preocupar e manter o segredo das meninas em segurança.

Então Sakura nadou o mais rápido que pôde para a Ilha, entrando na caverna. 

— Ino? – chamou assim que saiu da água, a voz reverberando pelas paredes rochosas da caverna.

Ino estava em sua forma de sereia, encostada em uma das pedras que elas usavam para secar suas caudas e estava chorando. 

— Ino – Sakura a abraçou, aliviada por finalmente ver a garota.

— Me desculpa por ontem – Ino pediu com a voz chorosa. – Eu não devia ter agido daquele jeito com você, eu… 

— Esquece isso – Sakura a cortou. – O que aconteceu? Você tá bem? Por que não foi na casa da Hinata como combinado? 

Ino chorou abraçada ao pescoço de Sakura. 

— Eu não lembro de nada – disse Ino. 

— Tudo bem, calma, qual é a última coisa que você se lembra antes de acordar? – Sakura perguntou calmamente, tentando tranquilizar a garota.

— Eu tive uma discussão com a minha mãe assim que cheguei do trabalho – contou, se lembrando dos acontecimentos do dia anterior –, ela ainda tá me pressionando com o lance da natação. Aí eu fui tomar banho, pra relaxar, e… depois não me lembro de mais nada – disse Ino, a voz entrecortada.

Sakura aqueceu a água em volta delas, para tentar deixar Ino mais calma.

— Tudo bem, então você passou a noite aqui? – disse Sakura, o tom de voz incerto.

Ino negou com a cabeça, voltando a cair no choro.

— O que aconteceu? – Sakura perguntou baixinho.

— Eu acordei ao lado de um cara numa praia – Ino chorou mais uma vez. – Eu tava pelada – confessou.

Isso deixou Sakura em choque.

— Foi sua primeira vez? – Sakura perguntou em um sussurro.

— Eu não sei! – Ino chorou.

— Tudo bem, calma, respira – Sakura a abraçou mais uma vez. – Quando a gente perde a virgindade, a gente se sente diferente – começou a falar quando Ino se acalmou mais –, principalmente na parte de baixo, a gente sente um desconforto, uma queimação, você sentiu isso?

Ino pensou a respeito. Não tinha sentido nada de diferente com seu corpo quando acordou.

— Não – respondeu esperançosa. 

— Então não aconteceu nada – disse Sakura tentando aliviar a amiga. 

— Mas não é uma certeza, eu tava sob efeito da lua – disse Ino, enxugando as lágrimas dos olhos.

— Vamos falar com a Tsunade – Sakura deu a ideia. – Se a Hinata tem tanta certeza de que aquela senhora sabe de alguma coisa, ela pode nos explicar e nos ajudar a lidar melhor com isso.

— Certo – concordou Ino, já mais calma.