Hinata estava preocupada. 

Preocupada com muitas coisas. 

Primeiro com Ino, o sol já tinha se posto há vários minutos e nada da amiga aparecer. 

Segundo, com a pobre baleia encalhada na praia, era só um bebê (como Sakura havia constatado mais cedo depois de nadar um pouco para se acalmar), um cardume de baleias estava próximo da costa, querendo o filhote de volta. O resgate realizado por uma equipe especializada na praia só havia conseguido manter o filhote vivo, mas não conseguiram levá-lo de volta para o mar. 

Terceiro, Naruto estava na Ilha esperando por elas em um pequeno acampamento que haviam montado, esperando os efeitos da Lua Azul terminarem, se é que ia terminar.

E, por último, estava preocupada com a família, tinha passado em casa para não preocupar os pais, mas eles não deixaram ela sair de novo com medo de que o temporal da noite anterior se repetisse, então precisou escapar escondida e conhecendo os pais, sabia que ficaria um tempão de castigo se eles descobrissem.

Sakura estava tempestuosa ao seu lado. Os dons dela já assustavam Hinata antes, agora com os raios… Mas era invejável como ela conseguia se controlar bem, Hinata se perguntava se o fato dela amadurecer cedo era uma questão decisiva nisso. Sakura parecia mais velha muitas vezes, mas gostava quando ela tomava atitudes impulsivas, como namorar Sasuke por exemplo, mostrava que ela ainda era uma adolescente.

— A Ino está atrasada – Sakura apontou.

O combinado era para que se encontrassem na Ilha antes do sol se pôr. 

— Melhor a gente começar sem a Ino? – Hinata sugeriu.

— Acha que consegue? – Sakura perguntou se virando para ela.

— Eu preciso conseguir – a garota de cabelos escuros afirmou. – O pobre filhote não vai sobreviver assim – suspirou.

Naruto abraçou a amiga de cabelos escuros e desejou:

— Boa sorte! Vou esperar por vocês bem aqui.

— Vai para o alto se parecer que água está subindo – Hinata pediu a ele, o abraçando forte de volta.

— Eu vou – ele prometeu no ouvido dela.

— Então vamos – a garota de cabelos rosa estendeu a mão para Hinata. – Vou estar ao seu lado o tempo todo – prometeu. 

Então, juntas, entraram no mar e nadaram em direção a baía onde o filhote se encontrava. Em suas formas de sereias era possível ouvir os lamentos do bichinho e os lamentos das baleias que o aguardavam também.

Hinata enxergou ao longe uma cauda familiar e chamou a atenção de Sakura para o mesmo local: era Ino e atrás dela parecia… um tornado?

Sakura trocou um olhar com Hinata e acenou para que ela iniciasse e foi o que a garota de cabelos longos fez: movimentou a água para que o nível do mar subisse. Enquanto isso, Sakura foi até a superfície e convocou raios, desse jeito, se houvesse alguém fora de algum abrigo, como casas ou comércios, teriam um aviso.

Mas Sakura se surpreendeu quando sentiu uma chuva gelada cair do céu ao mesmo tempo em que convocava os raios, Ino surgiu ao lado dela e gritou:

— Sou eu! – pegou um dos granizos nas mãos. – Eu não consigo parar!

— Respira! – Sakura mandou.

Mas Ino não conseguia se acalmar e chorava sem parar.

— O que aconteceu? – Sakura pegou as mãos da amiga, massageando calmamente.

— O Gaara – Ino soluçou. – Ele descobriu.

Aquilo bastou para Sakura entender toda a situação.

— O que foi que você foi fazer atrás dele? O combinado era só ir até os seus pais pra não deixar eles preocupados! – Sakura gritou se sentindo bem irritada, fazendo mais raios do que o necessário caírem.

— Gente? – Hinata emergiu. – O filhote?

— Tá! – Sakura gritou tentando se controlar. – Primeiro a gente resgata o filhote! – falou para Ino. – Depois a gente pensa no Gaara!

— O que aconteceu com o Gaara? – Hinata perguntou confusa.

Mas Sakura já tinha mergulhado de volta para o mar e Ino balançou a cabeça.

— Depois eu explico! – disse a loira. – Vamos resgatar o filhote.

Hinata mergulhou logo após as amigas e soltou todo o poder que esteve segurando o dia todo, fazendo ondas e mais ondas subirem e emergirem na praia, alcançando o filhote. Sakura convocou raios, fazendo a ondas se partirem em certo ponto e alcançarem o animal mais rápido. Ino foi até onde conseguia, guiando o filhote a seguir ela para o mar e juntas, nadaram até o cardume de baleias, levando de volta o filhote para onde ele pertencia.

. . . 

Mais tarde, sexta-feira, Ilha Mako…

Tanto Naruto quanto Hinata e Sakura ficaram alguns minutos em silêncio, sentindo o peso da nova informação: Ino havia acabado de explicar tudo o que havia acontecido para que Gaara descobrisse que ela era uma sereia.

Estavam todos sentados ao redor de uma fogueira em que Sakura havia usado o poder, aparentemente o efeito da lua azul havia passado, elas ainda tinham os novos poderes, mas não se sentiam mais à beira de perder o controle.

— O que acha Naruto? – foi Hinata quem perguntou depois de um tempo.

— Sobre o Gaara? – o amigo perguntou surpreso.

— Acha que ele vai contar pra alguém?

Isso tirou um suspiro profundo de Ino.

— Eu vou falar com ele, vou convencer ele de que sou a única, ele não precisa saber de vocês.

— O Gaara não é burro, Ino – Sakura soltou em um sopro. – Quantas piadinhas já não soltamos uma pra outra e ele ouviu? É só somar dois mais dois.

— Ele sempre foi gente boa – acrescentou Naruto, tentando amenizar a situação. – E eu posso falar com ele também, se precisar – o amigo loiro ofereceu.

— Se conversas não funcionarem, eu parto pra ameaça, já vou logo avisando – disse Sakura. 

— Credo Sakura – Hinata repreendeu. – Até parece que o Gaara é como… – mas a morena se impediu de continuar ao perceber o que ia dizer

— Como o Sasuke? – Sakura completou por ela em um tom ácido. Um raio caiu não muito longe.

Talvez não estivessem tão no controle assim, mas a lua azul tinha sido na noite anterior, tinham esperanças de que logo conseguiriam ter total controle sobre os novos poderes.

— Por favor, sem brigas – Ino pediu.

— Vamos dormir – disse Naruto, tentando evitar que mais alguma confusão acontecesse. – Amanhã é um novo dia.

. . . 

No dia seguinte, sábado…

Ino fechou a porta atrás dela bem devagar e tentou subir as escadas que levava ao andar de cima sem fazer barulho, mas não pareceu funcionar quando sua mãe chamou por ela na cozinha.

— Onde você estava? – ela apareceu nervosa. – Tem alguma ideia do quanto seu pai e eu estávamos preocupados com você?

— Tá tudo bem mãe – Ino ergueu as mãos em um gesto de paz. – Eu tô bem.

— Não, chega – a mãe balançou a cabeça de um lado para o outro. – Você não tem estado bem há semanas e eu estou cansada de ver minha filha se autodestruir. Você vai a um psicólogo, eu vou marcar uma consulta agora mesmo.

— Eu não quero ir num psicólogo! – Ino ficou irritada com a sugestão da mãe.

— Mas você vai! – a mãe gritou.

— O que tá acontecendo aqui? – o pai desceu as escadas, ainda de pijama, Ino percebeu que o pai devia estar dormindo, ele devia ter feito plantão na noite anterior.

— A mamãe aconteceu – Ino respondeu. – Ela quer me obrigar a ir num psicólogo – suspirou. – Desculpa ter te acordado pai – a loira pediu timidamente.

— E qual é o problema de ir em um psicólogo? – o pai perguntou depois de abraçar a filha de lado.

— Eu não quero ir – Ino se indignou ao perceber que o pai tinha a mesma opinião da mãe. – Não podem me obrigar – deu um passo para trás.

O pai suspirou.

— E como vamos te ajudar se você não conversa mais com a gente? – a mãe exasperou.

— E o que tem pra conversar? – Ino cruzou os braços.

— Suas mudanças de comportamento, seus humores – a mãe foi listando –, você não era assim, minha filha e agora anda mentindo pra gente!

— E eu menti sobre o que?

— Sobre o seu namorado!

Aquilo chocou Ino.

— Gaara esteve aqui? – sua voz saiu em um ganido.

O pai suspirou e foi quem respondeu:

— Hoje de manhã, quando sua mãe e eu não fazíamos ideia de onde você podia estar e ele se desculpou pela hora errada para se apresentar, mas que se você estava sumida a culpa provavelmente era dele e que ele pedia desculpas por isso.

Ino engoliu em seco, nunca tinha visto seu pai tão sério em toda a vida, não com algo em relação a ela pelo menos.

— Quando ia nos contar que estava namorando? – o pai perguntou magoado.

— Esse final de semana – Ino respondeu em um fiapo de voz. – Os pais dele estão na cidade…

Então Ino começou a chorar e tanto a mãe quanto o pai a abraçaram.

— Se vocês brigaram, vão se resolver – a mãe disse no ouvido.

— Só não queríamos que você tivesse escondido que estava namorando – disse o pai do outro lado.

— Eu não escondi, só queria fazer tudo direito – Ino respondeu com a voz embargada pelo choro. – Eu preciso falar com o Gaara – se afastou dos pais e pediu permissão a eles.

Ino sabia que tinha se afastado e muitos dos pais nos últimos tempos por conta de seu segredo, mas não queria ter toda a sua vida transformada por algo que não tinha controle, prometeu a si mesma que dali em diante ia ser o mais sincera possível com eles.

. . . 

Ino foi até o único lugar que sabia onde Gaara estaria naquela hora: trabalhando na lanchonete. Não queria ir até o trailer onde ele morava e dar de cara com a família dele.

A loira respirou fundo antes de pisar no deque até a entrada da lanchonete e parou quando viu o ruivo no balcão de atendimento. Será que era um erro?

Viu o momento em que o olhar dele se prendeu ao dela e pediu a Tenten para dar continuidade ao trabalho dele enquanto que ele faria uma pausa para o almoço.

— Você tá pronta pra conversar? – ele perguntou depois que se aproximou dela e pegou uma das mãos dela.

Ino assentiu sem soltar a mão dele.

Gaara a levou para a praia, mas Ino o guiou depois de um tempo. Precisavam ter aquela conversa em um local mais reservado, então foi até as pedras onde um dia foi o esconderijo do Naruto e acabou por ser um esconderijo para as amigas também.

— Acho que aqui ninguém vai ouvir a gente – ela disse baixinho. – Você deve ter muitas perguntas…

— Eu tive muito tempo pra pensar nisso e eu quero que saiba que eu jamais, jamais – reforçou – contaria a alguém, eu juro – ele ergueu a mão e tudo.

Ino respirou aliviada.

— Como aconteceu? Você sempre foi… – deixou a pergunta no ar.

— Não, um dia eu era normal e no outro…

— Certo – ele entendeu que ela não queria entrar em mais detalhes. – A Sakura e a Hinata? 

— Elas me ajudam – Ino respondeu prontamente. – Naruto também – acrescentou.

— Quero te ajudar também a partir de agora – ele apertou a mão dela, não tinha soltado em nenhum momento. 

— Isso não te assusta? – ela perguntou temerosa.

— Não – ele negou sorrindo de leve. – Você ainda é a Ino pra mim, mas explica muita coisa… – ele deu de ombros.

— Você foi na minha casa mais cedo…

Então Gaara suspirou.

— Fui e descobri que você nunca falou de mim pros seus pais.

E rápido assim o fato de Ino ser uma sereia não era nada comparado ao fato dela nunca ter comentado sobre ele para os pais.

— Eu queria apresentar você pra eles – ela falou um tanto confusa com a reação dele.

— Mas por que você nunca comentou sobre mim?

— Meus pais e eu não estávamos nos falando muito nas últimas semanas, eu tive que sair da natação e minha mãe não aceitou muito bem…

E foi falando para ele sobre tudo.

— Então aquela noite que a gente se conheceu… 

— Eu não tava bêbada, era a lua – Ino respondeu.

— Que perigoso – Gaara acusou olhando para o céu como se amaldiçoasse a lua.

— Não é nada, só tenho que tomar cuidado em noite de lua cheia, só isso – ela deu de ombros. – Você tem certeza que tá de boa com isso? – ela perguntou ainda sem acreditar que ele estava tranquilo.

— Depende… – ele colocou uma mão queixo, pensativo.

— Do que? – ela sussurrou. 

— Você vai me trocar por um tritão se parecer um? 

Ino caiu na gargalhada com o comentário dele.

Isso bastou para Gaara, ele tinha um sorriso leve no rosto quando a puxou para depositar um beijo nos lábios dela.

— Você não tem gosto de peixe – ele comentou depois de se afastarem um do outro. – Tô me sentindo ludibriado.

Ino revirou os olhos com a provocação dele.

— Então estamos bem? – ela perguntou.

— Nunca estivemos ruim – ele sorriu de lado.

A loira sorriu para ele.

— Meus pais querem que os seus venham almoçar na minha casa amanhã – ela comentou depois de um tempo, eles estavam em um quiosque enquanto almoçavam, ainda era o intervalo do ruivo.

— Uau – ele soltou.

— Muito sério e muito rápido, né? – ela suspirou.

— Por mim tudo bem – ele apertou a mão dela em cima da mesa. – Eu tenho certeza sobre você e espero que você também tenha certeza sobre mim.

— Eu tenho – ela apertou a mão dele de volta e sorriu feliz. – Você sempre torna as coisas tão fáceis – ela o agradeceu.

— É porque as coisas são fáceis, são as pessoas que complicam – ele respondeu prático.