Finja Até Ser Verdade escrita por Samyy


Capítulo 13
Força cármica


Notas iniciais do capítulo

Voltei?



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Na manhã seguinte, levo um tempo para assimilar a noite passada. 

Encaro o teto relembrando cada toque e cada sensação como um filme bem detalhado em minha mente. Não me recordo de me sentir tão à vontade e tão bem com alguém em outro momento da minha vida. É como se tudo estivesse no lugar. 

Suspiro ao perceber a cama vazia ao meu lado. Achei que… nem mesmo sei ao certo. 

Me obrigo a levantar, deixando o calor que o cobertor provoca, tomo banho e sigo as vozes e gargalhadas que vêm da cozinha. 

— Olha só quem apareceu! – Ginny diz assim que me vê. 

— Bom dia pra você também. – a abraço e cumprimento meus outros três amigos. 

Harry tem o braço atrás da cadeira de Ginny e Astoria está enroscada em Draco. 

Ron se aproxima de mim e o fica preso em meus pulmões. Preciso olhar alguns centímetros para cima para encontrar seus olhos. 

— Bom dia. – sou pega de surpresa por um beijo de bom dia. 

Acho que já quebramos toda e qualquer regra estabelecida semanas atrás, mesmo assim sinto minhas bochechas corarem. Agradeço a pele negra que não deixa transparecer tanto. 

— Bom dia – respondo ainda anestesiada. 

— Tudo bem? Dormiu bem? – em suas palavras fica implícito se está tudo bem entre nós. Como poderia não estar?

— Sim, sim. – não consigo emitir mais do que algumas palavras agora. 

— Aqui. – ele me guia até a mesa e me traz um prato com café da manhã. — Nós já comemos, não quis te acordar. 

Poxa, vida! Esqueci completamente que era nossa vez de preparar a comida. Não acredito que vacilei desse jeito, pelo menos Ron deu conta de tudo sozinho. Preciso, no mínimo, lavar a louça para compensar. 

Conversamos por alguns minutos enquanto como e aqui começa um dos dias mais agonizantes da minha vida: Ron simplesmente não tira os olhos de mim enquanto eu como. Ele observa cada movimento que faço como se fosse a coisa mais interessante do mundo. 

— Nós vamos nos arrumar. – nossos amigos se levantam, nos deixando a sós. 

Praticamente engulo o resto da comida, tudo para me livrar o mais rápido possível de seu olhar penetrante. 

Levo a louça até a pia e logo vejo que meu plano de compensar lavando a louça foi por água abaixo: alguém já o fez, restando apenas o que sujei. Não muito depois, sinto a presença de Ron bem atrás de mim. Não faço ideia do que ele está planejando, mas não reclamo quando sinto sua boca em minha nuca ou suas mãos em mim. 

Largo a caneca que lavava de qualquer jeito na pia e agarro as beiradas do balcão. Será que vai ser sempre assim? Ele me toca e eu desfaleço? Só ficamos uma vez, mas parece que ele já foi capaz de aprender e memorizar todos os meus pontos fracos – e descobrir, no caso, porque eu jamais poderia lhe contar. 

Sinto que estou à beira de um colapso e Ron não fez nada de mais. 

— Que bom que você dormiu bem. Essa será uma noite longa. – ele fala baixo e se afasta, o ar frio que entra pela janela arrepia minha pele. 

Solto um grito interno e minha barriga dá várias cambalhotas. 

Ah, Ron, não faça promessas que não pode cumprir porque depois que suas palavras são ditas, eu lembrarei para o resto de minha vida, e cobrarei. 

Quando me dou conta, estou completamente sozinha na cozinha. 

O que esse homem está fazendo comigo? E o que eu estou deixando que ele faça?

Lembro de minhas palavras antes da viagem, sobre descobrir o que o universo tem planejado para mim. Bom, nos últimos dias, tudo o que o universo parecia ter planejado para mim se assemelhava a dor e sofrimento. Machuquei o pé, fui obrigada a dividir o quarto com Ron, fui assediada… beleza, nem foi exatamente sofrimento pela maior parte do tempo… a questão é que os acontecimentos da última noite não parecem igualados, como se fossem bons demais para serem verdade e, em algum momento, uma força cármica cobrasse pela minha felicidade e diversão. 

Traduzindo, parece errado desfrutar. 

Sinceramente? Eu não sei de mais nada, nem mesmo acredito em carma. Só espero que essa nova configuração não torne tudo mais difícil ainda quando terminarmos esse namoro falso. 

Escolho lidar com isso mais tarde, é problema da Hermione do futuro. Querer racionalizar as coisas agora não vai fazer diferença nenhuma. Infelizmente, não tenho poder de decisão sobre o universo. 

Meu Deus, quem é você e o que fez com a Hermione Granger?

Respiro fundo e me recomponho. 

É sexta-feira, penúltimo dia de nossa escapada. Voltaremos domingo pela manhã. 

Hoje combinamos de dar uma volta pela cidade e conhecer um pouco desse lugar encantador. Vamos no jeep de Harry. Novamente me sento no colo de Ron, mas dessa vez me permito pensar em suas promessas para mais tarde. Estamos mais relaxados agora, suas mãos pousam em minha cintura para me dar mais equilíbrio e ao mesmo tempo me tiram o ar. 

A praia não é a única coisa de tirar o fôlego. A cidade onde ela fica localizada é a coisa mais fofa e bem planejada que eu já vi na minha vida. 

Eu quero visitar o comércio, não há nada mais legal no mundo do que ver as lojas e preços de um local onde você não mora. Meus amigos têm outros planos. 

Ginny arrasta Harry para uma feirinha, Draco e Astoria se perdem entre a população local, não faço ideia de para onde vão. Ron me acompanha de perto o tempo todo e com perto quero dizer: andando colados um no outro, eu o abraço pela cintura e sua mão despretensiosamente pousada em meu quadril. 

Verifico as horas em meu celular, ainda é cedo demais. 

Andamos sem rumo e encontramos espaços encantadores. Tiramos muitas fotos em pontos turísticos e quase somos enganados por vendedores locais que pensam que somos estrangeiros. 

Apesar de ser manhã, tomamos duas bolas de sorte cada. Eu sujo o nariz de Ron com meu sorvete de chocolate e ele me retalia de pior forma possível. 

Ron se aproxima perigosamente de meu rosto, me segurando pelo cotovelo. Eu tenho certeza de que ele vai me beijar, seu olhar vacila entre meus olhos e lábios. Anseio seu toque que nunca acontece, em vez disso ele me suja de volta. 

Rio, mas quero chorar pelo beijo que não aconteceu. Aqui, à luz do dia, em volta de todos esses desconhecidos, minha coragem em dar o primeiro passo se esmiúça. 

Caminhamos mais um pouco, sempre rindo, compramos alguns souvenirs e nos reunimos com o pessoal por volta do meio dia para almoçar. 

Comemos em um restaurante a céu aberto enquanto cada um conta o que fez pela manhã. Cada um faz um pedido diferente para que possamos experimentar um pouquinho de cada prato e depois voltamos para casa. 

Assim que pisamos na praia percebo que alguma coisa que eu comi não me caiu bem. Ron percebe meu desconforto, mas eu trato de acalmá-lo alegando azia. Aquele maldito incômodo na barriga volta com tudo, de uma vez, mais forte que nas outras. Será que devo tomar outro comprimido? 

Todo esse remédio no meu organismo não me parece certo, mas não quero ninguém se preocupando comigo, já dei trabalho demais pra uma vida inteira. Acabo tirando um cochilo de meia hora e acordo com dor ainda. Começo a me preocupar porque o remédio não fez nem cócegas. Das outras vezes a reação foi praticamente imediata, levando no máximo 15 minutos. 

Pego os comprimidos restantes da cartela que Ron me deu e levo junto comigo para a praia. 

— Vocês animam um vôlei? – Draco sugere assim que eu alcanço o grupo. 

Meu Deus, eles só sabem jogar vôlei?

Recuso jogar na primeira hora, crente de que a dor vai diminuir. Me estico em uma espreguiçadeira com certa dificuldade, observando de longe. 

Em algum momento, Luna, Neville e Miguel aparece. 

Luna me faz companhia e o pessoal vai jogar. 

Nós duas conversamos um pouco e eu tenho a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre eles, porque Luna desata a falar e só para quando eu decido jogar. 

Os três são amigos desde sempre praticamente, se conheceram no primário e desde então são inseparáveis. Assim que o Ensino Médio terminou, Nev se declarou para Luna, o que os tornou mais inseparáveis ainda. 

Decido jogar porque Luna me deixa zonza com sua fala e animação. Ela é uma boa garota, não me levem a mal, mas minha bateria social possui um limite. 

A dor não passou completamente, vai e vem em ondas. Eu realmente não sei o que está acontecendo, mas não quero estragar o rolê de ninguém, por isso escolho ficar quieta. 

Me movo com dificuldade, mas me forço a jogar umas duas partidas. 

Por volta da terceira partida, dou um salto para defender nosso lado da quadra e sinto a pontada mais dolorida até aquele momento. Perco a bola, meu equilíbrio e ao aterrissar me curvo com as mãos na barriga. 

— Está tudo bem? – reconheço os pés de Ron bem a minha frente. 

— Sim, claro. – ele me ajuda a levantar e me apoio ofegante nele. Essa situação tira meu fôlego e sinto uma agitação dentro de mim. Não é mais apenas a dor, é um desconforto que não sei traduzir em palavras. 

— Não parece. – ele encosta a mão em minha testa. — Você está pegando fogo, Mione! 

— É só o sol. – abano a mão lhe garantindo que não é nada. 

— Então por que você está se segurando desse jeito? 

— Tá tudo bem, gente? – Astoria e Harry se juntam a nós. 

— Tá sim, é só uma dorzinha que tô sentindo. – confesso. — Vai passar. 

— Dor? Onde? – é isso que eu pretendia evitar. Ron me olha como se eu estivesse morrendo. 

Desta vez consigo identificar com mais precisão de onde vem essa dor: começa em meu umbigo e se estende para o lado direito de meu corpo. 

— Só uma dorzinha aqui – aponto para o local. — Já tomei remédio, só estou esperando passar. 

— Desde quando você está sentindo isso? – Ron entrou no modo pai, ou melhor, no modo mãe. 

Tenho dificuldades para focalizar seu rosto e começo a sentir que vou vomitar. 

— Ah sei lá... – tento pensar direito. Comecei a sentir isso desde o final de semana, antes da apresentação. — Mais ou menos uma semana. 

Ok, agora acho que a coisa está ficando séria. A dor se intensifica e o mundo ao meu redor começa a girar. 

Ron me segura pelos cotovelos. Ele também diz algo, mas sua boca se move e não sai som algum. 

— Acho que eu preciso me deitar um pouco. – tento andar em direção a nossa mesa. 

É a última coisa que digo, pois logo em seguida sou engolida pela escuridão.

 


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