“Você vai embora amanhã.”

Alex sentou-se mais uma vez na poltrona de pelúcia, os pés cruzados como sempre. Lenore estava sentada em frente a ele, atrás da mesa, óculos empoleirados no nariz enquanto ela rapidamente anotava em uma pasta relativamente pequena. O menino assentiu, olhando para o tapete e notando pela primeira vez o piso bege claro. O redemoinho branco dançou graciosamente no fundo e Alex sorriu, de repente lembrando de um garoto dançando. Ele riu baixinho, uma leve bufada de ar, e balançou a cabeça. Ele estava no local há um ano e estava passando seus últimos momentos estudando o chão, mas ainda assim sorriu. Lentamente sua cabeça se levantou notando o sorriso suave no rosto de Lenore enquanto ela o observava.

“Você percorreu um longo caminho.”

Novamente Alex assentiu: “Eu sei.”

Por um momento ficou em silêncio, mas não o silêncio constrangedor normal que geralmente vinha junto com estar na pequena sala. Foi um silêncio pacífico enquanto os dois olhavam um para o outro, nada realmente passando por suas mentes, apenas silêncio.

Eventualmente, Lenore quebrou o contato visual, quebrando a quietude também, enquanto se afastava um pouco da mesa, puxando um bloco de notas amarelo e uma caneta. Alex assentiu para si mesmo, o bloco de notas familiar como tinha sido o que Lenore tinha escrito em todas as sessões que ele teve com ela, mas novamente desta vez foi diferente. Ao invés de colocar o bloco na mesa e perguntar a Alex sobre como ele estava se sentindo, ele o passou para o mais novo e acenou para ele, esperando Alex pegar dele.

Ele fez isso com um olhar de confusão em seu rosto, olhando para a folha de papel em branco e então de volta para o rosto de Lenore.

“Como foi?”

As sobrancelhas de Alex franziram quando ele se mexeu na cadeira, "O que você quer dizer?"

“Isso cabe a você decidir,” Lenore tirou os óculos, esfregando a ponta do nariz antes de coloca-lo de volta no rosto, “escreva o que parece certo, Alex. Não existe resposta errada."

Alex pegou a caneta, olhando fixamente para a página pautada, tentando entender os pensamentos que corriam em sua cabeça. Parecia que seu cérebro estava correndo uma maratona e de repente ele sentiu o familiar puxão de ansiedade em seu estômago.

“Mas e se eu não terminar?”

Lenore olhou para ele por cima das lentes antes de se recostar na cadeira e fechar os olhos.

"Leve o tempo que precisar."

Alex assentiu e pensou por mais um momento antes que as palavras começassem a sair dele.

A recuperação não é como correr em uma esteira. Você não pode decidir o quão lento ou rápido isso acontece, você não pode decidir o quão difícil é uma corrida, não é uma superfície lisa sem nada para tropeçar e cair. A recuperação é como correr por uma floresta, às vezes é fácil e você tem uma bela corrida completa em alta velocidade, mas depois tropeça em uma raiz de árvore que não viu e cai. Mas a questão é que você não pode ficar deitado aí, você tem que se levantar de novo e continuar andando, porque se você ficar deitado e não tentar se ajudar, então algo aparece e o devora.

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Alex estava preocupado, um sentimento que ele passou a reconhecer, enquanto se sentava no sofá da sala de recreação. Era uma manhã no início da primavera e Adrian não tinha vindo falar com Isaac. Ele olhou para o relógio e viu que faltavam cinco minutos para o café da manhã começar e a preocupação de Alex começou a crescer. Isaac também parecia preocupado, mas estava tentando não demonstrar enquanto enviava um sorriso para Alex.

“Tenho certeza que ele apenas dormiu demais, sim? Vocês ficaram acordados até tarde para o filme ontem à noite.”

Alex assentiu, mas o sentimento em seu estômago não desapareceu. Ele limpou a garganta antes de dizer: "Eu vou dar uma olhada nele", e correu pelo corredor antes que Isaac pudesse detê-lo.

Ele encontrou Adrian caído no chão, uma escova de dentes não muito longe dele como se tivesse sido jogada. Alex parou em seu caminho, o medo enchendo seu corpo enquanto ele se movia lentamente até o garoto. Pequeno. Tão pequeno. Muito pequeno. Lágrimas começaram a encher os olhos de Alex enquanto ele gentilmente sacudia o garoto, esperando alguma forma de resposta.

Um gemido.

"Adrian?!"

“Alex,” os olhos do garoto se abriram uma fração, absorvendo a expressão assustada antes de fecharem novamente, lágrimas escorrendo por baixo dos olhos fechados enquanto soluços silenciosos balançavam seu corpo.

“Alex,” saiu como uma criança assustada e culpada, “Alex. Eu sinto muito. Eu não sei o que aconteceu. Eu sinto muito. Eu sinto muito."

Ele ficou sentado lá, observando, tentando segurar suas próprias lágrimas enquanto esfregava as costas de Adrian. Passos soaram atrás dele e ele se virou para ver Isaac parado na porta, o rosto sem expressão enquanto ele acenava para si mesmo.

“Vá tomar café da manhã, Alex.”

Alex não viu Adrian por um tempo depois disso.

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Você tem que se levantar, você tem que se recuperar. Alguém muito especial me ensinou isso.

Às vezes você cai e dói, dói mais do que qualquer coisa que você já experimentou porque você está correndo por tanto tempo e você pode ver as árvores diminuindo e você pensa que está prestes a se libertar desta floresta apenas para descobrir é uma clareira na floresta e quando você chega nela você tropeça e fica no meio da clareira, olhando em volta por um longo tempo e tentando decidir qual é o melhor caminho a seguir.

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“E se as coisas ficarem ruins de novo? E se algo acontecer e eu parar de comer? E se meu instrutor disser algo sobre minha forma, mas disser errado e eu começar a me sentir mal novamente? E se-“

Alex beijou o garoto com força na boca, empurrando-o para baixo na cama, subindo por cima dele antes de se afastar e passar as mãos pelo lado dele.

“Nada disso vai acontecer, Adrian. E se for, você tem seu irmão lá para lembrá-lo por que você se esforçou tanto para sair disso.”

“Mas e se?”

Alex o beijou novamente, mais desta vez, as mãos vagando por baixo da camisa do outro, um gemido suave vindo na frente da menor. Ele se afastou quando precisava respirar, movendo a cabeça para o pescoço de Adrian e respirando seu cheiro.

“E se eu ficar triste porque sinto sua falta?”

Alex sorriu com isso, aninhando-se no pescoço do loiro.

"Então eu vou ter que trabalhar duro para sair, não é?"

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Às vezes você está correndo e correndo e correndo, rápido, forte, você não consegue respirar porque está trabalhando muito duro para sair. Ninguém sabe disso, ninguém vê o quanto você está correndo, exceto você mesmo e você se liberta e todos ficam tão surpresos ao ver você sair das árvores. Você nunca tropeçou, então você nunca sentiu, você pode ter tropeçado, mas ninguém viu. E você se liberta dos galhos e fica tão surpreso que nem pensa em contar a ninguém, todos eles só precisam descobrir.

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“Maria? O jantar está prestes a começar e não conseguimos encontrar — PUTA MERDA!”

Era difícil ver tudo, as costas de Camilla bloqueando a vista, mas qualquer um seria capaz de olhar ao redor do quarto, para os dois conjuntos de roupas no chão, os lençóis com babados que continham mais de uma forma, o gemidos de uma voz mais baixa que a da própria Camilla soando debaixo da garota, e saber exatamente o que estava acontecendo.

Camilla olhou por cima do ombro para Alex enquanto Maria gemia, o som diferente de antes, quase envergonhado, quando Adrian correu até a porta, tendo ouvido o grito de Alex, e olhou para dentro passando pelo garoto chocado. Seus olhos se arregalaram de surpresa, mas então ele riu e agarrou o garoto parado, puxando-o para longe.

“Apressem-se vocês duas. O jantar é em breve.”

Ele fechou a porta atrás dele Alex de volta pelo corredor até a sala de recreação .

"Elas-"

“Sim, Alex. Elas estão."

Alex encarou o garoto loiro, a boca ligeiramente aberta. Adrian riu e o beijou suavemente, sorrindo.

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Às vezes a floresta é assustadora. As árvores estão sempre lá e sempre estarão. E você não tropeça e não cai, mas simplesmente para de correr, porque não precisa mais correr, porque percebe que as coisas estão bem e sempre estiveram. Você só precisava perceber que nada estava te perseguindo e você está fugindo sem motivo.

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“Lenore disse que eu vou na semana que vem.”

Alex ergueu os olhos surpreso, vendo o olhar igualmente chocado de Camilla enquanto a garota se sentava do outro lado da mesa para almoçar.

“Eu não esperava. Eu nunca tinha pensado em ir embora, mas ela disse que estou bem, pronto para ir.”

Alex largou o garfo, olhando para a mesa enquanto ria um pouco. "Uau, Camilla, isso é..."

Camilla assentiu, olhando para a mesa, nenhum dos dois sentindo muita fome.

“Acho que ela me manteve aqui por Maria. Acho que ela queria me mandar embora há muito tempo. Ela não escreve nada no meu arquivo há meses.”

Alec assentiu, engolindo em seco e sentando, olhando por cima da mesa para a garota.

"Onde você irá? De volta para casa.”

Ela balançou a cabeça e sorriu um pouco, “Eu tenho uma nova casa para ir. Uma melhor.”

Alex sorriu, "Sim. Sim você tem."

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E às vezes você realmente não sabe como saiu. Assim como você não sabe como entrou. Um dia a vida era normal e no outro era uma corrida sem parar, correndo de alguma coisa desconhecida para algum lugar desconhecido sem ideia de como ou por que começou ou quando terminaria. E quando termina você se sente feliz, tão feliz que acabou e você pode parar e descansar e recuperar o fôlego, mas você também está triste. Triste que algo que você vem fazendo por tanto tempo e trabalhando tão duro acabou sem um desfecho. Você se acostumou a fazer isso e, de repente, para e você se sente triste. Você sente que não acabou.

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Foi triste partir. A rotina havia se tornado algo confortável e Alex estava preocupado em como ele se ajustaria ao mundo exterior sem um horário conhecido para todos os dias. Mas foi emocionante. Seu irmão havia conseguido um pequeno apartamento de dois quartos para eles dois morarem juntos e Alex nunca mais teve que pisar naquele inferno que era a casa de seus pais novamente e ele estava feliz por isso. Ele não sabia como seria viver com Christian, mas ele estava animado para descobrir e sentia falta de seu irmão mais do que tudo.

Ele tinha uma pequena bolsa pronta, cheia principalmente de desenhos e as poucas peças de roupa que ele tinha no hospital. Olhando uma última vez para o pequeno quarto, ele suspirou antes de se virar e voltar pelo corredor até o posto de enfermagem. O cabelo ruivo de Isaac havia crescido com o passar dos meses e Alex não teve tempo suficiente para saber se ele preferia-o longo ou não, ele percebeu que não teria tempo para decidir e sentiu uma pontada aguda de tristeza em seu intestino.

Isaac olhou para cima quando Alex se aproximou e sorriu, uma pequena pitada de tristeza que era quase irreconhecível, mas Alex já tinha visto três vezes e conhecia aquele olhar. O homem ruivo se levantou e saiu de trás da mesa para ficar na frente de Alex, sorrindo para ele.

“Estou nervoso, Isaac.”

Isaac sorriu, os olhos brilhando de tristeza antes de voltar ao normal, “Todo mundo fica quando sai, mas todos ficam bem.”

“E se eu não ficar?”

"Você irá." Ele olhou para o relógio e depois de volta para Alex, estendendo a mão para bagunçar seu cabelo, "é hora de você ir."

Alex foi levado por uma enfermeira mais nova, uma que não estava lá para ver todos os altos e baixos dele, uma que não estava lá para conhecer Adrian, Maria ou mesmo Camilla. Ela desceu com ele no elevador e o acompanhou até a porta, sorrindo suavemente antes de deixá-lo sair sozinho.

Alex respirou fundo, olhando para a luz do sol antes de dar um passo para fora da porta. Ele se virou, olhando para o grande prédio e percebeu que nunca o tinha visto do lado de fora até então. Ele ouviu um tap tap tap semelhante, mas diferente , atrás dele e sorriu, virando-se para encarar um garoto sorridente com cabelo loiro comprido.

"Você fez isso. Você saiu.”

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Eu acho que realmente você nunca para. Você só desacelera. Sua corrida se transforma em uma corrida leve e depois em uma caminhada, mas você não para. Os bosques podem desaparecer, mas serão substituídos por prédios e carros ou pastagens ou topos de montanhas. Se você parar de se mover, você não consegue ver todas essas coisas e, mesmo que às vezes você tropece e talvez até caia, você verá coisas incríveis. Então você continua se movendo e continua se levantando quando cai, porque você chegou até aqui, então por que parar?

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"Sim. Eu saí."