Brigas de um Casamento escrita por Capuccino


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Esse projeto meu tem sido desenvolvivdo desde 2020, e só agora reuni coragem para publicá-lo. Espero que alguém leia e goste assim como eu gostei de escrever esse universo.



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Hermione desde sempre acreditou que as coisas mais importante da vida estavam contidas nos detalhes do cotidiano. A maneira que um raio de sol atravessava seu quarto bem quando ela acordava, a maneira única que os passarinhos cantavam na primavera, a maneira como a tinta impressa no papel formava palavras em seus livros. Afinal, as coisas mais essenciais da felicidade estavam nas minuciosidades das coisas.

Mas, naquele instante em específico, sua cabeça parecia focalizar em várias coisas ao mesmo tempo, sem conseguir se apegar em algum detalhes específico. Hermione respirava com dificuldade enquanto encarava seus pais, perplexa. Ela não sabia que era possível que sorrisos se alargassem tanto até ver aqueles em seus rostos reluzentes. De repente, cambaleando, ela sentiu a extrema necessidade de apoiar-se na cadeira mais próxima para se recompor; suas pernas estavam bambas e seus joelhos ameaçavam desmoronar a qualquer instante. Parecia que tudo ao seu redor havia decidido girar sem parar.

As palavras ainda ecoavam perfeitamente em sua mente, junto a um zumbido agudo constante:

''Você está noiva! Não é maravilhoso!?''

É de se imaginar que o anúncio de um noivado é digno de euforia e comemoração, um alvoroço e até talvez uma festa extravagante, afinal, qualquer mulher choraria de comoção ao ouvir tal frase e saber que, agora, teria um marido para compartilhar uma cama quente e um lar seguro, certo? Um companheiro para chamar de seu, muitas crianças, sua vida finalmente teria um sentido e ela finalmente poderia se considerar uma mulher por inteiro.

Entretanto, deve-se ter em mente que Hermione Granger estava longe de ser uma mulher convencional, e a prova concreta disso era a expressão de puro horror e desespero estampada em seu rosto. A ideia lhe causava náuseas, seu coração batia forte e ela sentia como se uma gaiola de grades de aço espessas estivesse se fechando ao seu redor. Uma claustrofobia sentimental sem igual, seus sentidos estavam paralisados, como se estivesse anestesiada por causa de alguma droga.

Na verdade, o leitor deve ter em mente que essa história mesmo se inicia no dia anterior a esse momento, na primavera do ano de 1890, em plena era vitoriana, em uma ruela londrina de classe média qualquer, na qual uma moça de cabelos cacheados selvagens – que sua mãe insistia em tentar domar com escovas importadas, sem sucesso – encontrava-se debruçada na grama úmida de seu jardim, ao lado de uma pilha de livros surrados. Seus cotovelos manchados de terra, e seus olhos fixos nas páginas amareladas a sua frente.

Seu nome, como dito anteriormente, era Hermione Granger, e ela adorava passar seus dias lendo, estudando e se maravilhando com o aprendizado e conhecimento que os livros tinham a lhe oferecer, apesar das severas críticas diárias dos seus pais.

''Moças na sua idade deveriam estar indo a bailes, não passando horas lendo.'' Seu pai resmungava.

''Moças como você deveriam aprender bons modos, como agradar o marido...'' Sua mãe repreendia. ''Não ficar com cara enfiada nos livros vinte e quatro horas por dia!''

Essas frases eram tão repetitivas que Hermione aprendera a ignorá-las, apenas revirando os olhos e bufando toda vez que escutava um comentário relacionado ao seu amor por livros e seu intenso desprezo por casamentos – recebendo, é claro, uma censura imediata logo em seguida. Como podia, uma moça como ela, negar uma união feita por Deus?

Hermione não tinha os modos convencionais de uma moça de classe, e isso era algo que os pais dela sempre tiveram que lidar. Com toda a certeza, o ápice de desaprovação e desprezo dos seus pais definitivamente foi quando, após retornar de uma viagem da França para visitar sua prima mais velha, ela estava vestindo, logo abaixo de seu longo vestido, nada mais nada menos que calças!

Suas pernas cobertas pelo tecido grosso das vestes não passaram despercebidas pelos pais, e muito menos pela vizinhança. É de imaginar o tamanho escândalo que foi, uma moça de classe e de uma família conservadora, vestindo calças! Sua mãe ficou pálida como uma vela e cera, e seu pai boquiaberto, sem palavras. As vestimentas que ela usava – chamadas de bloomer, que consistiam em vestes bufantes apertadas nos tornozelos por babados – eram permitidas apenas em atividades como andar de bicicleta, mas, para a desgraça dos pais, a garota insistia em usá-las quase o dia todo, mesmo sobre todos os olhares atravessados que recebia.

Hermione sentia-se livre vestindo calças, sentia-se como se tivesse asas e pudesse voar, ao contrário do uso dos espartilhos, que a apertavam e faziam seus pulmões funcionarem com dificuldade.

O fato é que, enquanto o maior medo dos pais de Hermione era que ela jamais casasse e se tornasse uma solteirona sem herdeiros, o desejo da jovem se consagrava exatamente nisso, uma vez que casar definitivamente não constava em nenhum dos seus planos desde que ela se conhecia por gente.

A família Granger jamais entenderam de onde veio tal influência negativa, mas internamente culpavam os tantos livros que ela devorava e a maneira como ela sempre se comportou, imaginando que, talvez, isso pudesse ter sido corrigido se ela tivesse sido enviada para um internato de garotas ou uma escola de bons modos quando ainda era criança. Mas agora ela já tinha quase vinte anos, e suas opiniões e maneira de se comportar já estavam formadas, por mais que eles tentassem insistidamente corrigir sua postura desleixada e inapropriada.

Por muitas vezes, houve tentativas desastrosas em tentar arranjar um noivo para Helen. Desde que ela completara seus quinze anos, seus pais levavam diversos jovens para conhecê-la e cortejá-la, rezando veementemente que algum deles fosse capaz de aturar o temperamento forte da filha.

A vez mais memorável – e que a jovem adorava contar, com um sorriso esmero de orgulho – foi quando eles estavam jantando com um rapaz loiro de cabelo lambido e nariz empinado, e este resolveu perguntar, ousadamente, se ela sabia cozinhar ensopado.

Hermione, que ocasionalmente acabava se irritando nesses encontros, não viu maldade nessa pergunta em específico e afirmou que não, ingenuamente.

O garoto, porém, se arrependeria com certeza, ao rir de sua resposta e dizer que ''para ser a sua esposa, ela deveria certamente aprender a cozinhar o seu prato favorito.''

A próxima coisa que ele viu foi uma enorme vasilha repleta de macarrão e almôndegas aterrissar em sua cabeça loira. Não precisa dizer que ela jamais ouvira falar do rapaz novamente.

Os pais dela sonhavam que ela seguisse o exemplo de sua prima mais velha Fleur – uma loira bonita e esbelta que morava na França. Mal sabiam eles que, por trás daquela voz graciosa e sotaque suave, se escondia uma moça com ideais também reformistas e que fora ela mesma quem influenciara Hermione durante todos esses anos.

Mesmo morando em outro país, as garotas sempre foram muito próximas desde crianças, conviviam uma com a outra como irmãs, e por isso Hermione sempre vira Fleur como um exemplo de mulher independente e forte.

Entretanto, ao contrário de Fleur - que dissimulava o papel de uma mulher fútil e frágil da época -, Hermione nem tentava acatar essa máscara e esconder seu repúdio pelos costumes patriarcais, ela fazia inclusive questão de mostrar seus ideais fortes e afrontar as tradições – embora nem sempre ela conseguisse vencer as discussões com seus pais.

Quando recebeu, há poucas semanas,  o convite de casamento da prima – um grosso envelope salmão com uma caligrafia recatada – Hermione custou a acreditar que fosse verdade. Fleur, a mulher que sempre lhe dissera que casamento era um contrato machista, algo ultrapassado, estava casando?

Hermione não pode deixar de se sentir um pouco traída. Fleur sempre disse que jamais abriria mão de sua liberdade por um homem e jamais se submeteria à podridão da constituição matrimonial, estava prestes a subir em um altar!

A morena ansiava que tudo não passasse de uma brincadeira da loira, ou que tudo não passasse de um grande mal entendido – talvez tratasse-se de outra Fleur, por quê não?

Mas agora lá estava ela, na véspera do casamento, deitada no jardim de sua casa enquanto tentava, sem sucesso, se concentrar em sua leitura, tendo que encarar a realidade; sua prima estava prestes a se casar. Seus pensamentos estavam atordoados há semanas desde que o noivado fora anunciado, ela não conseguia entender o motivo pelo qual Fleur poderia abrir mão de algo tão precioso quanto a liberdade.

Quando Hermione abraçou sua pilha de livros para carregá-los para dentro de casa, coincidentemente ela esbarrou com a noiva.

''Hermione! Aí está você!'' Fleur disse, com um sorriso alegre no rosto.

"Fleur? O que você está fazendo aqui? Você não deveria estar arrumando as coisas para o casamento?'' Ela exclamou, arregalando os olhos. Ela sabia que a prima estava passando esse período pré casamento em sua casa – o noivo era inglês, e o casamento ocorreria em um terreno não muito longe dali –, mas a correria para organizar o casamento fora tão grande que só naquele momento elas conseguiram tempo para conversar.

"Já está tudo arrumado para amanhã, o casamento ocorrerá na propriedade da família de Bill e os parentes dele se encarregaram de organizar tudo.'' A francesa disse, sonhadora, antes de assumir uma expressão sombria no rosto. ''Mas eu queria conversar com você antes, querida.''

"Você não quer mais casar, é isso? Eu sabia que havia algo de errado! Te obrigaram a casar, não foi? Se for isso, posso dar um jeito de arranjar uma fuga e-'' Hermione desatou a falar, mas foi interrompida.

"Era sobre isso que eu queria conversar'' Ela colocou as mãos nos ombros da morena. "Hermione, viver como uma mulher reformista é complicado nos dias de hoje, e acho que você não entendeu ainda, mas... Eu quero casar.''

A morena ficou em silêncio, estática, encarando a loira como se ela tivesse dito algo absurdo.

''Mas você sempre me disse, desde cedo, que casar é uma bobagem patriarcal, usada para nos controlar!'' Ela falou, incrédula. ''Eu não entendo, Fleur!''

"Eu não espero que você entenda, Hermione, eu também não entendia até conhecer Bill...'' Ela disse, mordendo seu lábio inferior, apreensiva.

"Mas abrir mão da sua liberdade? Ter que ser submissa e obedecer um marido?" Hermione aumentou sua voz, nervosa.

"Eu sei que é difícil de entender, querida, eu sei... Mas não é fácil ser mulher em um país patriarcal, e quando crescemos, devemos abrir mão de alguns dos nossos... ideais.''

"Abrir mão dos nossos ideais? Fleur, você enlouqueceu?" A morena perguntou, não convencida.

"Hermione, um dia você se apaixonará e entenderá os meus motivos.'' Ela murmurou, meio chateada com a postura da prima. ''Eu só te peço que... Pense no que eu te falei. Seus pais me contaram que, todas as vezes em que tiveram pretendentes interessados em te cortejar, você agiu de maneira imprudente e inaceitável.''

A morena deu uma risadinha. ''Você chama aquilo de pretendentes? Homens que só estão interessados em alguém para servi-los e em me ter como troféu?" Ela debochou. ''Homens que, por assim dizer, não aceitam minha inteligência, e acham que mulheres não tem capacidade de opinar e pensar? Não, obrigada.''

A francesa suspirou, balançando a cabeça, ainda que um pequeno sorriso incontrolável se esboçasse levemente em seu rosto.

"O único conselho que me resta, é: Hermione, casar com alguém não necessariamente quer dizer que você abrirá mão de sua liberdade. Você pode muito bem, ser sua e de alguém.'' E se retirou com um suspiro, voltando para a casa com pressa para finalizar os últimos detalhes de seu casamento.

"Até parece, o conceito de casamento é exatamente esse, principalmente quando se é mulher.'' Ela resmungou para sim mesma.

—--

Então! Essa história minha de Romione foi pensada em 2020 quando eu acabei me interessando por fanfics de época e pensei: Por quê não escrever uma deles?

E assim surgiu minha história mais elaborada e comprida. Até então, só a guardei pra mim, com medo de errar esse projeto que venho escrevendo há um bom tempo com carinho. Espero, do fundo do meu coração, que consiga conquistar as pessoas assim como eu me conquistei pela ideia que me propus a apresentar.

Beijos, pretendo postar assim que possível ♥

 


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Notas finais do capítulo

É isso, se alguém gostar ou ler, ficaria muito feliz em publicar mais capítulos, então comentem o que acharam ♥



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