Elia nunca esqueceria o cheiro de carne humana queimada.

Ela mal conseguia manter algo no estômago, por que o cheiro de Rickard Stark morrendo estava embaixo de seu nariz e parecia nunca sair.

E a expressão de Brandon, o desespero para salvar o pai enquanto sufocava, isso era algo que ela nunca iria poder esquecer também, não importa quantos anos se passem e o quanto ela viva.

Elia via o desastre de longe.

Lewyn chegou até a sobrinha com os olhos arregalados.

—Céus! Tio o que aprontaram agora?

—O rei...

—O que o rei fez? -Elia perguntou com medo.

—Ele mandou uma carta a Jon Arryn.

Elia já estava apreensiva em como iria terminar a história.

—Ele exigiu as cabeças de Robert Baratheon e Eddard Stark.

Elia deixou o queixo cair.

—Ele matou o herdeiro de Jon Arryn e ainda exigiu as cabeças dos dois homens que o Lorde Arryn ama como filhos?

—Exatamente.

Elia olhou para o tio com tristeza.

—Isso é guerra. Isso é definitivamente guerra.

—Aerys queimou Lordes que tinham uma queixa legítima e todo o direito de ter sua parente devolvida. Quem vai ser o próximo? A Casa Targaryen cometeu quatro severas transgressões contra uma Grande Casa e mais duas transgressões para outras duas Grandes Casas. Um sequestro, dois assassinatos e a exigência injusta de assassinato contra a família Stark, assassinato contra um membro da família Arryn, e a exigência da cabeça do Lorde Baratheon. Se um suserano fere os direitos de seu vassalo de que ele vale? Por que esse vassalo continuaria a ter seus direitos violados sem reagir?

—Aerys quebrou o pacto entre suserano e vassalo. Isso quer dizer que...

—Que eles tem direito legal a se rebelar.

Elia estava cada vez mais frustrada.

A estupidez de Rhaegar e a crueldade e loucura de Aerys estavam empurrando a Casa Targaryen a beira de um abismo.

O quanto mais eles vão aguentar?

O nome Targaryen estava na lama!

E parecia que os Targaryen restantes queriam afundar ainda mais e arrastar todas as mulheres da família junto.

Esse pensamento a seguiu pelos próximos dias.

Jon Arryn asteou suas bandeiras, como era de se esperar.

Aerys gritou que eles eram traidores e que queimaria todos eles.

E aconteceu o que Elia temia, Doran e Tywin tendo seus exércitos convocados para lutar contra os rebeldes.

Aerys estava piorando rapidamente.

Ele ordenou que ladrões fossem trazidos para a sala do trono e colocou fogo neles ele mesmo com uma tocha.

Ele ficou "animado" e arrastou Rhaella para o quarto.

Elia e Cersei apenas ouviam os gritos da rainha, em silêncio, com lágrimas correndo pelo rosto.

Se sentiam impotentes, sem saber como ajudar, sem saber o que fazer para salvar Rhaella de seu irmão e marido cruel.

Jaime chegou até elas, tremendo.

O rei o obrigou a ficar de guarda.

O menino estava assombrado, seus olhos cheios de dor e culpa.

—Eu sou um cavaleiro. Eu sou um guarda real. Eu prometi ser sempre justo e salvar as mulheres e crianças mas eu não posso salvar uma pobre mulher de seu marido maligno. 

Jaime caiu de joelhos, chorando.

—Ela grita tanto para ele parar. E ele gosta quando ela implora. Ele faz doer mais.

Cersei e Elia o ajudam a se levantar, mas Jaime ainda tem o olhar torturado.

—Eu tinha medo dos monstros das lendas quando era criança. Mas agora eu vejo que um homem louco pode ser um pesadelo maior que qualquer história de assustar criancinhas.

As duas ficaram com ele enquanto Jaime se recompunha.

—Eu vou voltar ao meu dever em uma hora. Preciso manter a compostura.

Ele corre e vai embora.

Cersei também vai embora com um olhar culpado.

Lewyn chega até Elia com um olhar quase tão assombrado quanto o de Jaime.

—Sobrinha... As coisas pioraram.

—O que houve?

—Nosso espião está com muita dificuldade para se comunicar conosco. As mensagens dele estão demorando muito e desconfio que Varys possa estar atrasando a correspondência, o que faz com que eu tenha que recorrer a um mercador aliado nosso que tem que se deslocar até o castelo da pessoa mais próxima que tem corvos que se mantenha em silêncio.

—O que Rhaegar fez dessa vez?

—Rhaegar casou com a menina.

Elia o olhou sem conseguir levar aquilo a sério.

—Tio? Me diga que é piada!

—Sério. Ele casou com ela. Ele anulou o casamento com Cersei na ilha e se casou com Lyanna pela religião dos deuses antigos.

Elia ficou por um tempo parada, processando tudo.

—Em primeiro lugar, ele não pode simplesmente anular seu casamento e se casar com outra.

Lewyn revirou os olhos.

—Diga ao idiota.

—Em segundo lugar, para ele anular um casamento precisaria o Aerys concordar com isso. Rhaegar não é o chefe de sua casa, Aerys que é.

—Outro detalhe que ele esqueceu.

—Em terceiro lugar. Que eu me lembre Lyanna é uma menina de 15 anos, portanto nem é legalmente adulta. E mesmo que fosse como filha da Casa Stark o casamento dela tem que ser aprovado por Rickard Stark. Ou no caso, Eddard Stark como seu líder atual.

—Não me diga. -fala Lewyn com ironia, a mesma ironia que a sobrinha, pensando no inferno político que estão sendo jogados cada vez mais.

‐Em quarto lugar ela é noiva, em um contrato com Robert Baratheon, arranjado pelo pai. E nem ela nem Rhaegar tem direito legal de quebrar esse noivado. 

—Os dois idiotas não pensaram nisso.

—Em quinto lugar, a religião de Lyanna não aceita poligamia. Ela nunca vai ser vista como esposa legítima.

—Ha! Será bem feito!

—E em último lugar, Cersei é filha de Tywin Lannister.

—O que me fará rir muito quando Tywin pôr as mãos nele. Mesmo que vençamos a guerra... Rhaegar já está morto! Tywin é o homem das Chuvas De Castamere.

—Tio... Que saco de vermes!

—Um baita saco de vermes. -concordou Lewyn.

Eles foram chamados para mais uma demonstração de loucura de Aerys, queimando outra pessoa.

Elia desmaiou e Cersei vomitou.

—Vocês são fracas! Nunca devia ter misturado o sangue do dragão com o de vocês! -bradava Aerys.

Pycelle as examinava e interrompeu o rei.

—Meu rei, não é fraqueza. É uma feliz notícia para o senhor.

—Feliz notícia? Essas duas passando mal na minha frente e você diz que é uma feliz notícia.

—Meu rei... Princesa Cersei e Princesa Elia estão grávidas. O senhor será avô de novo.